Lição 5 - A Travessia Do Mar Vermelho


LIÇÕES BÍBLICAS - 1º Trimestre de 2014 - CPAD - Para jovens e adultos

Tema: Uma Jornada de Fé - A Formação do povo de Israel e sua herança espiritual


Comentário: Pr. Antônio Gilberto

TEXTO ÁUREO
 
“O Senhor é a minha força e o meu cântico; ele me foi por salvação; este é o meu Deus [...]”(Êx 1 5.2).

VERDADE PRÁTICA

Deus tirou o seu povo do Egito e o conduziu com zelo, proteção e provisão pelo deserto até a Terra Prometida.
 
LEITURA DIÁRIA

Segunda- Êx 1 3.17 Rumo à liberdade
Terça- Êx 1 3.19 Uma promessa é cumprida
Quarta- Êx 1 3.21 Deus protege o seu povo
Quinta- Ex 14.11 A murmuração do povo de Deus
Sexta- Êx 14.1 3,14 “Vede o livramento do Senhor”
Sábado - Êx 1 5.1 A celebração do povo de Deus

LEITURA BÍBLICA EM CLASSE Êxodo 14.15,19-26

15 - Então, disse o SENHOR a Moisés: Por que clamas a mim? Dize aos filhos de Israel que marchem. 19 - E o Anjo de Deus, que ia adiante do exército de Israel, se retirou e ia atrás deles; também a coluna de nuvem se retirou de diante deles e se pôs atrás deles. 20 - E ia entre o campo dos egípcios e o campo de Israel; e a nuvem era escuridade para aqueles e para estes esclarecia a noite; de maneira que em toda a noite não chegou um ao outro. 21 - Então, Moisés estendeu a sua mão sobre o mar, e o SENHOR fez retirar o mar por um forte vento oriental toda aquela noite; e o mar tornou-se em seco, e as águas foram partidas. 22 - E os olhos de Israel entraram pelo meio do mar em seco; e as águas lhes foram como muro à sua direita e à sua esquerda. 23 - E os egípcios seguiram-nos, e entraram atrás deles todos os cavalos de Faraó, os seus carros e os seus cavaleiros, até ao meio do mar. 24 - E aconteceu que, na vigília daquela manhã, o SENHOR, na coluna de fogo e de nuvem, viu o campo dos egípcios; e alvoroçou o campo dos egípcios, 25 - e tirou-lhes as rodas dos seus carros, e fê-los andar dificultosamente. Então, disseram os egípcios: Fujamos da face de Israel, porque o SENHOR por eles peleja contra os egípcios. 26 - E disse o SENHOR a Moisés: Estende a tua mão sobre o mar, para que as águas tornem sobre os egípcios, sobre os seus carros e sobre os seus cavaleiros.

INTERAÇÃO

O povo Hebreu teve que esperar 430 anos ate que finalmente foi liberto da escravidão pelo Todo Poderoso. Deus não se esqueceu das suas promessas que havia feito a Abraão. O Senhor jamais se esquece das suas promessas e seus planos não serão frustrados. Talvez você esteja esperando o agir de Deus em seu favor já há muitos anos. Não perca as esperanças. Sua hora chegará, assim como chegou o momento dos israelitas.
Na lição de hoje veremos que o Senhor não somente libertou o seu povo do cativeiro, mas os conduziu com cuidado e zelo pelo deserto. Deus é fiel, imutável e também cuidará de você até a sua chegada ao céu. Creia no poder providente e protetor do ,nosso Pai Celestial.

OBJETIVOS - Após esta aula, o aluno deverá estar apto a:

Analisar o significado da saída dos hebreus do Egito e a travessia do mar.
Conscientizar-se de que somente Deus merece o nosso louvor e adoração.
Compreender a proteção e o cuidado de Deus para com o seu povo.

ORIENTAÇÃO PEDAGÓGICA

Professor, reproduza o quadro da página seguinte. Utilize-o para introduzir o tópico II da lição.
Antes de apresentar o quadro faça a seguinte indagação: "O que podemos oferecer a Deus por todos os seus benefícios?” Ouça os alunos com atenção e incentive a participação de todos. Em seguida, explique que Moisés e alguns servos do Senhor ofereceram a Deus a sua adoração. Depois, apresente o quadro e leia as referências juntamente com os alunos. Conclua enfatizando que devemos oferecer a Deus o nosso louvor e gratidão.

ALGUNS CÂNTICOS NA BÍBLIA
LIVRO
PROPÓSITO
Êxodo 15.1 -21
Cântico de Moisés após Deus ter tirado Israel do Egito e repartido as águas do mar Vermelho.
Números 21.17
Cântico de Israel em louvor a Deus por terem recebido água no deserto.
Deuteronômio 32.1-43
Cântico de Moisés sobre a história de Israel com ações de graças e louvor enquanto os hebreus estavam prestes a entrar na Terra Prometida.
Apocalipse 1 5.3,4
Cântico de todos os remidos em louvor ao Cordeiro que os remiu.

Resumo da Lição 5 - A Travessia Do Mar Vermelho
I - A TRAVESSIA DO MAR
1. A saída do Egito (Êx 12.11,37)
2. A perseguição de Faraó (Êx 14.5-9).
3. A ruína de Faraó e seu exército (Êx 14.26-31).
II - O CÂNTICO DE MOISÉS
1. Moisés celebra a Deus pela vitória (Êx 15.1-19).
2. Miriã juntamente com as mulheres louvam a Deus (Êx 15.20,21).
3. Celebrando a Deus.
III - A PROTEÇÃO E O CUIDADO DE DEUS COM SEU POVO
1. Uma coluna de nuvem guiava o povo de Deus (Êx 13.21,22; 40.36,37).
2. Deus cuida do seu povo (Êx 16.4; Dt 29.5).

SINOPSE DO TÓPICO (1) - Deus retirou com mão forte os israelitas do Egito e os guiou rumo a Terra Prometida.

SINOPSE DO TÓPICO (2) - Moisés celebrou a Deus pela vitória com um cântico de louvor.

SINOPSE DO TÓPICO (3) - Deus guiou e protegeu seu povo durante a caminhada pelo deserto. Ele utilizou uma coluna de nuvem para conduzir os israelitas.

BIBLIOGRAFIA SUGERIDA

COHEN, Armando Chaves. Êxodo. 1. ed. Rio de Janeiro, CPAD: 1998.
RICHARDS, Lawrence O. Guia do Leitor da Bíblia: Uma análise de Gênesis a Apocalipse capítulo por capítulo. 1. ed. Rio de Janeiro: CPAD, 2005.

AUXILIO BIBLIOGRÁFICO I - Subsídio Teológico

“A morte dos egípcios (14.26-31)

Deus inverteu a ação das águas e as águas voltaram ao lugar. O texto não declara se houve uma reversão do vento. O retorno das águas foi tão súbito e forte que alcançou os egípcios quando tentavam fugir e os matou. As mesmas águas que serviram de muro para o povo de Deus tornou-se o meio de destruição para os egípcios.
Esta última disputa entre Deus e Faraó, resultando em vitória final e completa para o Senhor, impressionou fortemente os israelitas. A situação parecia desesperadora na noite anterior. Agora Israel viu os egípcios mortos na praia do mar. As águas turbulentas, ou a maré, levaram os corpos à praia. O Senhor salvara os israelitas; toda a prova necessária estava diante dos olhos deles.
Quando viu Israel a grande obra, temeu o povo do Senhor e creu. Este ato poderoso expulsou o medo que os atormentara e implantou um verdadeiro temor de Deus — um temor que conduziu a uma fé viva” (Comentário Bíblico Beacon. vol 1. 1. ed. Rio de Janeiro, CPAD, 2005, pp. 172-73).

AUXÍLIO BIBLIOGRÁFICO II - Subsídio Geográfico

“Mar Vermelho

Embora não pertença à Terra Santa, encontra-se o Mar Vermelho estritamente ligado à história do povo israelita. Ele é conhecido nas Sagradas Escrituras como ‘Yam Suph’, que significa Mar de juncos.
No Mar Vermelho encontra-se, em grande quantidade, a alga conhecida como trichodesmium erythaeum que, ao morrer, assume uma totalidade marrom-avermelhada, justificando assim o nome do mar.
O Mar Vermelho separa os territórios egípcios e saudita. Na parte setentrional, divide-se em dois braços pela Península do Sinai.
O braço ocidental é conhecido como Golfo de Suez. O oriental, Golfo de Akaba.
Com quase dois mil quilômetros de comprimento, entre o estreito de Bab al-Mandeb e o Suez, no Egito, e cerca de 300 quilômetros de largura, somando uma área de 450.000 km, o Mar Vermelho banha o Sudão, o Egito, e a Eritréia, a oeste; e a Arábia Saudita e o lêmem, a leste. Uma pequena faixa do Golfo de Aqaba banha Israel e a Jordânia.
No Mar Vermelho, encontramos o estreito de Bab al-Mandeb, que liga o extremo sul do mar ao oceano Índico. Esta passagem, que faz o Mar Vermelho uma rota entre a Europa e a Ásia, é mantida aberta por meio de explosões e dragagens.
O Êxodo do Povo de Israel
Israel deixou o Egito no século XV a.C. israelitas e egípcios voltariam a se enfrentar no tempo dos reis no chamado período Inter bíblico. Depois da formação do Estado de Israel, em 1948, houve pelo menos quatro guerras entre Israel e Egito: a Guerra da Independência, em 1948; a Guerra do Sinai, em 1956; a Guerra dos Seis Dias, em 1967; e a Guerra do Yom Kippur em 1973.
Em 1979, ambos os países assinaram um acordo de paz, em Camp David, nos Estados Unidos, possibilitando o término do estado de guerra e o estabelecimento de relações diplomáticas entre Cairo e Jerusalém.
A Bíblia garante que será de paz o futuro de ambas as nações (ls 19.23-25)” (ANDRADE, Claudionor. Geografia Bíblica: A geografia da Terra Santa é uma das maneiras mais emocionantes de se entender a história sagrada. 25 ed. Rio de Janeiro: CPAD, 2013, pp. 35-150).

Revista Ensinador Cristão CPAD, n° 57, p.38.

A saída do povo de Deus do Egito foi algo marcante, tanto para os israelitas como para os egípcios. O Egito ficou economicamente arrasado devido às pragas, porém o último flagelo marcou profundamente as famílias. Nos lares dos egípcios havia pranto, dor e morte, já nas casas dos israelitas, todos estavam prontos, festejando a Páscoa e com o coração repleto de alegria pelo livramento que o Senhor estava concedendo.
Os israelitas, ao deixarem o Egito não saíram com as mãos vazias. Eles despojaram os egípcios.
O coração de Faraó era mal. Depois de tudo que viu e enfrentou ainda não estava disposto deixar o povo de Deus partir (Êx 14.5). Ele reuniu seu exército e saiu em perseguição ao povo de Deus. O Inimigo não desiste facilmente, por isso precisamos buscar em Deus forças para resisti-lo. A Palavra de Deus nos ensina: "resisti ao diabo, e ele fugirá de vós" (Tg 4.7). Se você é um servo fiel ao Senhor, saiba que durante sua caminhada até o céu encontrará muitos "Faraós" que lhe resistiram. Você está preparado para enfrentá-los? Só conseguiremos vencer o Inimigo com Jesus Cristo.
Você consegue imaginar o desespero dos israelitas ao verem Faraó e seu exército vindo em sua direção? Os hebreus ficaram desesperados, pois parecia não haver saída. Eles estavam encurralados. O Inimigo não mudou suas táticas, ele está sempre tentando nos acuar. Porém, se esquece que conosco está o "varão de guerra": "O Senhor é varão de guerra; Senhor é o seu nome" (Êx 15.3).
Os israelitas clamaram ao Senhor (Êx 14.10) e Ele lhes ouviu. O Senhor ouve e responde às orações do seu povo (Jr 33.3).
Diante do perigo e da aproximação do inimigo a ordem do Senhor foi: "Dize aos filhos de Israel que marchem" (Êx 14.15). Marchar para onde? Para o mar? Parecia impossível, porém os israelitas obedeceram. Na obediência está a bênção de Deus. Aquele que obedece vê o impossível acontecer! Então, Deus enviou um vento e o mar se abriu para o povo de Deus passar.
O povo de Israel atravessou o mar e os egípcios quiseram imitá-los, mas o Senhor os derribou (Êx 14.27). O livramento era para o povo de Deus, não para os inimigos. Você pertence ao povo de Deus? Então, não tema. Há livramento para você.
Diante de tão grande livramento ninguém poderia ficar calado. Todos louvaram e exaltaram a Deus. Moisés celebrou ao Senhor com um cântico. Uma forma de agradecer a Deus pelos seus feitos. Tem você celebrado a Ele.

COMENTÁRIO/INTRODUÇÃO

Um dos textos bíblicos que mais denotam o cuidado de Deus para com o seu povo é, sem dúvida alguma, o relato da saída dos hebreus do Egito e da travessia miraculosa do Mar Vermelho. Não por acaso, esses episódios extraordinários da vida do povo judeu são relembrados constantemente pelos profetas e salmistas do Antigo Testamento para enfatizar o cuidado divino para com Israel (Js 24.5-7; SI 106.7-9; SI 136.13-15; Ne 9.9-12; etc.).
A Bíblia diz que, ao todo, saíram do Egito cerca de 600 mil homens a pé, sem contar mulheres e crianças (Êx 12.37). Ou seja, provavelmente 2 milhões de pessoas. Imagine a celebração na saída, depois de 430 anos nos quais, na maior parte desse tempo, os judeus viveram como escravos dos egípcios. Foi um momento de grande celebração.
Uma vez confirmada a saída, o Senhor Deus, que já havia libertado o povo com braço forte enviando as Dez Pragas, se dedicaria agora a cuidar dele também durante todo o trajeto rumo à Terra Prometida. E desde o início dessa caminhada se vê esse cuidado.
COELHO, Alexandre; DANIEL, Silas. Uma Jornada de Fé. Moisés, o Êxodo e o Caminho a Terra Prometida. Editora CPAD. pag. 45.
Uma Situação sem Saída
"Os que descem ao mar em navios, mercando nas grandes águas, esses veem as obras do SENHOR e as suas maravilhas no profundo" (SI 107:23-24). Quão verdadeiras são estas palavras! E contudo como os nossos corações covardes têm horror a essas "grandes águas"! Preferimos os fundos baixos, e, por consequência, deixamos de ver "as obras" e "as maravilhas" do nosso Deus; pois estas só podem ser vistas e conhecidas "no profundo".
É nos dias de provação e dificuldades que a alma experimenta alguma coisa da bem-aventurança profunda e incontável de poder confiar em Deus. Se tudo fosse sempre fácil nunca se poderia fazer esta experiência. Não é quando o barco desliza suavemente à superfície do lago tranquilo que a realidade da presença do Mestre é sentida; mas sim, quando ruge o temporal e as ondas varrem a embarcação. O Senhor não nos oferece a perspectiva de isenção de provações e tribulações; pelo contrário, diz-nos que teremos tanto umas como as outras; porém, promete estar conosco sempre; e isto é muito melhor que vermo-nos livres de todo o perigo. A compaixão do Seu coração conosco é muito mais agradável do que o poder da Sua mão por nós. A presença do Senhor com os Seus servos fiéis, enquanto passavam pelo forno de fogo ardente, foi muito melhor do que a manifestação do Seu poder para os preservar dele (Dn 3). Desejamos com frequência ser autorizados a avançar na nossa carreira sem provações, mas isto acarretaria grave prejuízo. A presença do Senhor nunca é tão agradável como nos momentos de maior dificuldade.
Assim aconteceu no caso de Israel, como vemos neste capítulo. Encontram-se numa dificuldade esmagadora—foram chamados a mercadejar "mas grandes águas"; veem esvair sê-lhes "toda a sua sabedoria" (Sl 107:27). Faraó, arrependido de os haver deixado sair do seu país, decide fazer um esforço desesperado para os trazer de novo. "E aprontou o seu carro e tomou consigo o seu povo; e tomou seiscentos carros escolhidos, e todos os carros do Egito, e os capitães sobre eles todos... E, chegando Faraó, os filhos de Israel levantaram seus olhos, e eis que os egípcios vinham atrás deles, e temeram muito; então, os filhos de Israel chamaram ao SENHOR" (versículos 6-10). Aqui estava uma cena no meio da qual o esforço humano era inútil. Tentar livrarem-se por qualquer coisa que pudessem fazer, era a mesma coisa que se tentassem fazer retroceder as ondas alterosas do oceano com uma palha. O mar estava diante deles, o exército de Faraó por detrás, e de ambos os lados estavam as montanhas; e tudo isto, note-se, havia sido permitido e ordenado por Deus. O Senhor havia escolhido o terreno para acamparem "diante de Pi-Hairote, entre Migdol e o mar, diante de Baal -Zefom". Depois, permitiu que faraó os alcançasse. E por quê1?- Precisamente para Se manifestar na salvação do Seu povo e na completa destruição dos seus inimigos. "Aquele que dividiu o Mar Vermelho em duas partes; porque a sua benignidade é para sempre. E fez passar Israel pelo meio dele; porque a sua benignidade é para sempre. Mas derribou a Faraó com o seu exército no Mar Vermelho, porque a sua benignidade é para sempre" (SI 136:13-15).
C. H. MACKINTOSH. Estudos Sobre O Livro De Êxodo. Editora Associação Religiosa Imprensa da Fé.
 
I - A TRAVESSIA DO MAR

1. A saída do Egito (Êx 12.11,37):

No começo do percurso de saída do Egito, já podemos notar o cuidado de Deus para com o seu povo: “E aconteceu que, quando Faraó deixou ir o povo, Deus não os levou pelo caminho da terra dos filisteus, que estava mais perto; porque Deus disse: Para que, porventura, o povo não se arrependa, vendo a guerra, e tornem ao Egito” (Ex 13.17 — grifo meu).
Eis o cuidado divino quanto aos detalhes! A saída do Egito era um momento de festa, a qual, dali em diante, deveria ser rememorada e comemorada todos os anos (Ex 12.42); por isso o cuidado divino para que, inicialmente, o povo não passasse por um caminho que evocasse em sua mente a possibilidade de perigo naquela empreitada, esfriando, assim, o ânimo e o clima de festa que deveria marcar a saída.
O “caminho da terra dos filisteus” era uma estrada internacional bem fortificada pelo exército egípcio. Os egípcios guardavam fortemente suas fronteiras e, em especial, esse trecho mais concorrido de entrada e saída de suas terras, onde havia um grande exército de prontidão. Logo, sabendo que se o povo passasse por ali, veria o grande exército egípcio e já imaginaria o pior — a guerra, a caçada e a matança que poderia sofrer — e, assim, arrepender-se-ia e voltaria para o Egito, Deus o faz sair não pelo caminho mais perto, que era este, mas pelo caminho mais longo, que evitaria essa visão de perigo. Ou seja, Deus se preocupa com o ânimo do seu povo.
Nós, seres humanos, somos, infelizmente, muito tendentes ao desânimo, a imaginarmos o pior diante do mínimo sinal de dificuldade, e Deus sabe muito bem disso, razão por que constantemente está a nos animar pela sua Palavra, pela instrumentalidade de irmãos em Cristo que se permitem ser usados por Ele, e através de circunstâncias e experiências que Ele nos proporciona.
Às vezes, Deus permite que andemos pelo “vale da sombra da morte”, mas sem deixar de nos animar em todo esse assustador percurso por meio da certeza latente em nosso coração de que Ele está conosco (SI 23.1). Mas, em outros momentos, geralmente na parte introdutória das estradas que trilhamos com Ele por sua graça, Deus prefere nos dirigir por caminhos menos desanimadores, para só depois nos conduzir em vitória por situações mais nevrálgicas, mais estressantes, que calejarão a nossa alma e nos ensinarão a confiar totalmente nEle.
"Inicialmente, o povo não deveria passar por um caminho que evocasse em sua mente a possibilidade de perigo naquela empreitada, esfriando, assim, o ânimo e o clima de festa que deveria marcar a saída."
SOBRE "O CAMINHO DA TERRA DOS FILISTEUS"
Uma curiosidade sobre essa passagem de Êxodo 13.17 envolve a questão da data exata da saída do povo judeu do Egito. Há duas datas em disputa: 1441 a.C. ou cerca de 1300 a.C. As duas são defendidas com argumentos plausíveis, e um bom resumo de toda essa discussão pode ser encontrado nas páginas 121 a 127 da obra Tempos do Antigo Testamento — Um Contexto Social, Político e Cultural (CPAD).
Bem, mas em que sentido o texto de Êxodo 13.17 tem a ver com essa questão?
É que se considerarmos como data do êxodo cerca de 1300 a.C., as expressões “o caminho da terra dos filisteus” e “vendo a guerra” significam, como afirma o Comentário Bíblico Beacon, que Deus levou o povo “por um percurso mais longo a fim de evitar o encontro com os filisteus bélicos”. Ora, os filisteus e os demais “Povos do Mar” chegaram à região do Egito, Palestina, Chipre e Síria no final do século XIV e início do século XIII, empreendendo várias batalhas contras essas nações. As duas maiores batalhas contra os egípcios aconteceram por volta de 1230 a.C. e 1190 a.C., quando finalmente foram derrotados por Ramasés III e se estabeleceram no sudoeste de Canaã, fundando as cidades de Asdod, Ecrom, Gaza e Gate.
Uma vez que “os filhos de Israel não eram treinados para a batalha e a fé em Deus ainda era fraca, eles poderiam se arrepender quando vissem a guerra [isto é, quando encontrassem os beligerantes filisteus no trajeto] e voltar para o Egito”.
Entretanto, se considerarmos a data do Êxodo 1441 a.C., estamos falando do século XV, quando os filisteus, provenientes de Creta, ainda não haviam chegado àquela região do mundo. Eles chegariam pouco tempo depois, mais precisamente algumas décadas depois da saída dos judeus do Egito. Então, considerando essa segunda hipótese, seria um anacronismo Moisés escrever “pelo caminho da terra dos filisteus” e, depois, ainda se referir àquela região como a “Filístia” em seu cântico (Êx 15.14).
Bem, se a segunda data hipotética da saída do povo do Egito for a correta (e ainda não sabemos se é ou não), mesmo assim haveria uma explicação lógica para o uso dessas expressões nessas passagens do livro de Êxodo: os escribas posteriores, ao fazerem cópias das Sagradas Escrituras, preferiram, para que as pessoas de seu tempo entendessem melhor a que estrada Moisés estava se referindo, chamá-la pelo nome que era mais conhecida em seus dias: “o caminho da terra dos filisteus”.
Tal alteração não fere as Sagradas Escrituras, já que a mensagem não fora alterada — apenas a linguagem usada fora atualizada. Grosso modo, é como se hoje, em vez de você dizer que o guerreiro Vercingetórix (72 a.C. a 46 a.C.) nasceu na Gália Transalpina, preferir, para ser mais bem entendido, afirmar que ele nasceu na França, porque a Gália Transalpina ficava onde hoje é o território da França. A nação França pode ter surgido quase mil anos depois de Vercingetórix, mas afirmar que ele nasceu na França não é errado, pois o que está se querendo dizer com isso é simplesmente que ele nasceu no território onde hoje é a França. A única diferença desse exemplo para o caso bíblico de Êxodo 13.17 e 15.14 é que a distância de anos não era de quase mil, mas de décadas.
Essa possível atualização dos escribas posteriores a Moisés não fere o texto bíblico, uma vez que quando os autores bíblicos asseveram, sob a inspiração divina, que as Escrituras não podem ser alteradas, o que está em foco, claramente, é a fidelidade à mensagem bíblica, a fidelidade ao sentido do que está sendo dito, e não uma atualização de linguagem. O que a Bíblia condena é a distorção do sentido do texto, seja por acréscimo ou por diminuição do conteúdo da mensagem (Dt 4.2; 12.32; Pv 30.5,6; Ap 22.18,19), e não uma atualização de linguagem ou paráfrases fieis ao sentido original.
Paráfrases, quando totalmente fieis ao que está consignado no texto bíblico, não tiram a sua inspiração. Se não fosse assim, nenhuma tradução da Bíblia seria inspirada, só o texto em hebraico do Antigo Testamento ou o grego neotestamentário. Os muçulmanos é que têm esse conceito distorcido de inspiração. Eles creem que a inspiração só se encontra na língua original em que o Alcorão foi escrito — o árabe — e que, justamente por isso, nenhuma tradução do Alcorão é inspirada, a não ser o texto na língua original, razão por que ensinam que o muçulmano deve aprender o árabe para ler o Alcorão em árabe. A mesma coisa acontece com o sânscrito no hinduísmo. A Bíblia, porém, não ensina isso.
Neemias, por exemplo, conta que a geração de judeus que retornou do cativeiro babilónico precisava de explicações orais para entender o texto bíblico que lhes era lido (Ne 8.8). É que esses judeus vindos do cativeiro falavam aramaico, que era a língua oficial do Império Babilónico, por isso não entendiam a Lei e os Profetas quando lidos, porque o texto lido estava em hebraico. Com o passar dos anos, essas traduções -explicações em aramaico foram escritas, criando os “Targumim”, que nada mais são do que traduções parafraseadas do Antigo Testamento hebraico para o aramaico. O primeiro Targum é o de Ônquelos, que contém o Pentateuco; e o segundo é o Targum de Jônatas, que contém os Profetas. Pois bem, em Êxodo 3.14 e em Deuteronômio 32.29, o Targum de Ônquelos parafraseou a expressão “Eu Sou” da seguinte maneira: “Aquele que é, e que era, e que há de vir”. Ora, essa mesma paráfrase aparece nada menos que cinco vezes em Apocalipse (Ap 1.4,8; 4.8; 11.17; 16.5). Isso mostra que as várias formas, estilos e construções gramaticais são válidas, contanto que o conteúdo do texto — isto é, seu sentido original — não seja de forma alguma corrompido.
Outro detalhe é que o próprio texto bíblico mostra que o trabalho dos escribas judeus no período em que o Cânon Sagrado do Antigo Testamento ainda não estava fechado era muito sério e aceito por todos. Por exemplo: Moisés escreveu Deuteronômio, mas só até o versículo 29 do capítulo 33. O capítulo 34 foi acrescido logo após a sua morte, uma vez que Moisés não poderia escrever sobre a sua própria morte depois da sua morte. Esse acréscimo foi feito por algum escriba do período em que o Cânon Sagrado do Antigo Testamento ainda não havia sido fechado — seja um escriba da época de Josué, seja de uma época posterior.
Outro exemplo: Jeremias morreu sem ver o cumprimento de todas as suas profecias. Suas profecias foram registradas, com a ajuda de seu secretário, o escriba Baruque, até o versículo 64 do capítulo 51 do seu livro. Ao final desse versículo, um escriba escreveu: “Até aqui as palavras de Jeremias”. Todo o capítulo 52, portanto, não foi escrito por Jeremias — e nem poderia, porque ele traz alguns cumprimentos de profecias de Jeremias que ele não viveu o suficiente para ver cumpridas. Quem escreveu esse capítulo ou foi Baruque, já idoso, ou algum outro escriba que, ainda no exílio ou logo após o exílio, acrescentou esse capítulo para mostrar o cumprimento das profecias de Jeremias. Esse capítulo é, inclusive, quase exatamente igual, em seus três primeiros versículos, a 2 Reis 24.18-20; e o restante do capítulo repete a história dos reis de Judá até 2 Reis 25.30.
O trabalho desses escribas — dentre eles o próprio sacerdote Esdras, que é autor do livro que leva o seu nome no Cânon do Antigo Testamento — foi valioso e totalmente inspirado. Aliás, foi o sacerdote Esdras quem organizou o Cânon do Antigo Testamento. E logo quando o Cânon Sagrado foi encerrado, não houve mais alterações. Flávio Josefo, historiador judeu e contemporâneo do apóstolo Paulo, falou da seguinte maneira sobre o Cânon do Antigo Testamento em seus dias: “... e pelos quais temos tal respeito, que ninguém jamais foi tão atrevido para tentar tirar ou acrescentar, ou mesmo mundificar-lhes a mínima coisa. Nós os consideramos como divinos”. Também no primeiro século d.C., encontramos o próprio Jesus considerando a organização do Cânon do Antigo Testamento pelos escribas pós-exílio como sendo a Palavra de Deus (Lc 24.44; Jo 5.39).
COELHO, Alexandre; DANIEL, Silas. Uma Jornada de Fé. Moisés, o Êxodo e o Caminho a Terra Prometida. Editora CPAD. pag.45-50.
Êx 12.11 Comê-lo-eis à pressa. Essa foi a instrução final. Israel estava com pressa para deixar para trás a servidão. O cordeiro pascal era comido estando as pessoas em pé, de sandálias e as vestes cingidas. Esses eram sinais externos da pressa que eles sentiam, por ordem de Deus. Esse foi um dos quatro elementos que não prosseguiram na observância da páscoa em tempos posteriores. O cajado e as sandálias eram objetos que as pessoas usavam fora da casa. Assim, apesar de estarem ainda dentro de suas casas, eles estavam preparados para sair delas, prontos para a jornada. Comiam vesti- dos para viajar. Já tinham estado no Egito por tempo bastante. Um novo lar e um novo destino esperavam por eles.
As sandálias usualmente eram tiradas por ocasião das festividades e dias santos. Ver Gên. 18.4,5; Luc. 7.44; João 13.5. Na páscoa, porém, essa situação era revertida. O cajado era companhia constante dos viajantes, seu apoio e ajuda, e, ocasionalmente, sua defesa contra algum animal ou bandido que porventura ata- cassem.
Êx 12.36 Generosidade e Saque. A combinação desses dois atos permitiu que Israel extraísse grandes riquezas dos aterrorizados egípcios. Uma pessoa fará quase qualquer coisa para salvar a sua vida. Os egípcios julgaram-se pouco mais do que pessoas mortas (vs. 33), pois Moisés poderia desfechar uma praga de modo súbito e generalizado. Assim, os antes escravizados israelitas receberam o seu salário, a paga pelas muitas décadas de cativeiro e trabalho árduo. “Israel arrancou deles suas riquezas e bens, suas possessões mais valiosas" (John Gill, in loc.). Artapano (apud Euseb. Praepar. Evan. 1.9 c. 27, par. 436) falou sobre as bacias de madeira, sobre ricos tesouros e sobre vestes que os israelitas receberam da parte dos egípcios, e a esse testemunho, Ezequiel, autor de tragédias teatrais, adicionou a sua palavra (apud Euseb., idem, c. 29, par. 443).
Somos informados de que primeiramente os hebreus saíram de Ramessés (ver as notas sobre Êxo. 1.11) e chegaram a Sucote (Êxo. 13.20). Foram necessários três meses de caminhada para chegarem ao Sinai Eles seguiram um roteiro muito usado pelos que viajavam até a Palestina (Êxo. 13.17). Tell el-Maskhuta é o local da antiga Sucote. Imediatamente a leste daquele lugar fica o lago Timsah, e tanto ao norte como ao sul dali há áreas pantanosas que o povo de Israel precisou atravessar, a fim de encontrar seu caminho para a liberdade.
Êx 12.37 Cerca de seiscentos mil a pé. Moisés especificou, “somente de homens, sem contar mulheres e crianças”. Essa estatística concorda, em termos gerais, com o trecho de Números 1.46. Mas ali o número é especificado como de homens de guerra, em idade de serviço militar. Se levarmos em conta as mulheres, as crianças e o “misto de gente” (vs. 38), ou seja, os que não eram descendentes de Abraão, então havia uma multidão de pelo menos três milhões de pessoas. Os críticos veem um grande exagero nesse número, pensando que a terra de Gósen não poderia ter sustentado tão grande número de pessoas, e que a manipulação e 0 sustento de tão grande número de pessoas, no deserto, durante quarenta anos, teriam sido impossíveis. Os eruditos conservadores, por sua vez, supõem que, para Deus, não há problemas sem solução.
“Se Moisés não contasse com a prova mais cabal de sua missão divina, ele jamais ter-se-ia posto à testa de tão imenso número de pessoas, as quais, não fosse a providência divina mais eficaz e especial, teriam simplesmente perecido por falta de alimentos” (Adam Clarke, in loc.).
Tipologia. O êxodo, sem a menor dúvida, serve de tipo da redenção do pecado e sua servidão, de que desfrutamos.
Deus Guia o Povo pelo Caminho
Um dos principais temas do Pentateuco inteiro é a providência de Deus (ver no Dicionário sobre esse assunto). Uma instância especial disso é a história de como Deus conduziu Israel para fora do Egito até o deserto, e ali preservou Israel, com vistas à entrada final na Terra Prometida. A rota mais curta atravessava o território dos filisteus na direção de Berseba e do Neguebe. Esse caminho seguia ao longo das margens do Mediterrâneo e era uma estrada militar utilizada pelos egípcios. Em Sua sabedoria, Yahweh guiou Israel por um caminho diferente, a saber, na direção sudeste, aproximando-se do Sinai, evitando qualquer confrontação possível com potências estrangeiras, incluindo o Egito. Não se sabe qual foi a rota exata, mas no artigo que há no Dicionário, chamado Êxodo (o Evento), sugiro o que se sabe sobre a questão. Também provi um mapa ilustrativo. Israel, ao confrontar-se com dificuldades, poderia ter retrocedido, especialmente se irrompesse guerra aberta. O vs. 18 diz-nos que Israel saiu armado para a batalha, uma frase acerca de cujo sentido os estudiosos não concordam. Algum método de resistência tinha sido provido. Israel não seria uma mosca morta no deserto.
Êx 13.17 Cobri quase todas as informações atinentes a este versículo na introdução anterior. Dificuldades encontradas no caminho poderiam ter feito Israel voltar ao Egito, incluindo algum ataque aberto por parte dos egípcios ou por parte de outro inimigo. Deus escolheu aquele roteiro que consolidaria as vantagens obtidas, ao levar 0 povo de Israel em segurança, ao deserto. Uma vez ali, outros planos poderiam ser feitos com antecedência. Mas Israel acabou vagueando por muitos anos, devido à sua incredulidade, pensando que lhe faltavam forças para enfrentar os formidáveis adversários que possuíam a Terra Prometida. O autor sagrado, pois, frisa aqui a orientação divina, uma questão de grande importância para todo homem espiritual.
Filisteus. Israel estava prestes a trocar um poderoso inimigo (o Egito), por vários inimigos menores, embora ainda assim temíveis (na Palestina). O termo “filisteus” é aqui usado em sentido geral, levando-nos a pensar em todos os adversários que enfrentariam Israel, em- bora sete nações cananeias distintas estivessem envolvidas. Ver as notas sobre Êxo. 3.5 e 13.5.
A rota que passava pelo mar Vermelho faria os israelitas passarem por Tânis e dai até Pelusium. Dali a Rhinocolura, então a Gaza, Asquelom e Asdode, cidades dos filisteus. A distância até a Terra Prometida, mediante essa rota, era apenas de trezentos e vinte quilômetros, e poderia ter sido coberta em menos de um mês. Porém, uma longa provação jazia à frente: quarenta anos de vagueação pelo de- serto. Nos dias de Josué, os filisteus tinham cinco cidades fortes: Gaza, Asquelom, Asdode, Gate e Ecrom (Jos. 13.3), e o povo de Israel não estava preparado para enfrentar esse poder ao tempo do êxodo. O Egito pode ter parecido um bom lugar para os cansados israelitas, quando os filisteus lançaram-se contra eles, com seus carros de combate e armas as mais variadas. Os filisteus eram dotados de grande poder de fogo, conforme se diz atualmente.
CHAMPLIN, Russell Norman, Antigo Testamento Interpretado versículo por versículo. Editora Hagnos. pag. 349; 353; 358.
Êx 12.37. Sucote. Provavelmente o nome egípcio tkw, que é apenas a transliteração de um termo semita que significa “ palhoças para gado” (cf Gn 33:17, evidentemente não se trata do mesmo lugar). Parece encontrar-se em ou perto das ruínas de Tell el-Maskhuta, próximo ao Lago Timsah, no extremo oriental do Wadi Tumilat. Os israelitas teriam, então, marchado por toda a terra de Gósen, atravessando-a em direção ao leste, se nossa identificação está correta.
Seiscentos mil. Números 11:21 apresenta o mesmo número, que parece muito elevado, pois implica um total de dois ou três milhões, contadas as mulheres e crianças. Alguns estudiosos modernos acham que estes dados se referem aos produzidos pelo censo realizado por Davi (2 Sm 24) ou outro censo posterior, quando tais cifras seriam possíveis, mas onde já encontramos dados completamente diferentes no texto bíblico. Podemos presumir, se assim o quisermos, que os dados foram erroneamente preservados (talvez por terem sido escritos, em dias mais remotos, em cifras e não por extenso), ou podemos aceitar a opinião de Petrie em sua convicção de que 'ele, “ mil” , realmente significava “ clã” em data mais remota. Seja qual for o caso, não podemos ter ideia do número exato envolvido. Era grande o suficiente para aterrorizar os moabitas (Nm 22:3), e no entanto pequeno o suficiente para acampar por longo tempo nos oásis em redor de Cades-Barnéia (Dt 1:46). Nenhuma questão teológica depende do número exato, e assim sendo o assunto é irrelevante. Quer houvesse seis mil ou seiscentos mil, sua libertação foi um milagre. Ao chegarem a Canaã já eram, certamente, uma horda (para usar o termo do historiador) de tamanho respeitável, a julgar pelo impacto arqueológico na civilização cananita.
R. Alan Cole, Ph. D. ÊXODO Introdução e Comentário. Editora Vida Nova. pag. 108-109.
Não só Faraó e seus servos, mas todos os egípcios apertavam ao povo israelita para que fossem logo embora. “Os egípcios pressionavam o povo para que se apressasse em sair do país” (NVI). Temiam que todos fossem mortos (33). A tradução de Moffatt do versículo 34 indica a pressa com que o povo de Israel saiu: “Assim o povo agarrou apressadamente a massa, antes mesmo de levedar, e embrulhou as amassadeiras nas roupas, levando-as nos ombros”. Já haviam pedido jóias dos egípcios em tamanha quantidade que os egípcios ficaram empobrecidos (35,36). Temos a impressão que muitos ajudaram Israel a se aprontar antes mesmo da Páscoa. Agora insistiam que fossem depressa. Foi assim que Israel fugiu da escravidão egípcia depois de espantosa noite de vitória. O verbo hebraico sha’el (“pediram”, 35) pode ser traduzido igualmente por “pediram” ou “exigiram”. Os hebreus tinham a receber quantia considerável em salários pelo trabalho involuntário e não pago.

A vitória de Deus para Israel trouxe “A Grande Salvação” observada nos versículos 26 a 36. 

1) O pré-requisito: Os filhos de Israel fizeram como o SENHOR ordenara, 26-28; 2) A proteção: O SENHOR passou sobre as casas dos filhos de Israel, 27,29,30 (cf. ARA); 3) A provisão: O SENHOR deu graça ao povo, 31-36.

1. A Partida do Egito (12.37-42)

a) O número dos que se puseram em marcha (12.37-39). No dia seguinte à noite da morte dos primogênitos dos egípcios, partiram os filhos de Israel para Sucote (37).
Não sabemos a localização certa deste lugar, embora fosse viagem curta de um dia de Ramessés para o leste em direção ao mar Vermelho (ver Mapa 3). Deve ter sido tarefa custosa levar este grande grupo a um ponto central; talvez tivessem feito um planejamento para quando o momento da vitória chegasse.
Muita controvérsia gira em torno da questão do número de israelitas que saiu do Egito. Os estudiosos liberais, pouco propensos a considerar providência milagrosa, recusam-se a aceitar um número alto como implica o montante de seiscentos mil homens.
Contestam a possibilidade de a população israelita aumentar tanto levando em conta o tempo decorrido e as condições adversas descritas. Também rejeitam a possibilidade de tantas pessoas sobreviverem no deserto. Existe a indicação de que a palavra hebraica que se refere a mil (elep) “possa ser traduzida por ‘clã’ ou ‘família’, como ocorre em outros lugares da Bíblia (e.g., Jz 6.15)”.16 Neste caso, o número total de 600 clãs seria bem menos.
Mas considerando a bênção especial de Deus, aceitamos que Israel crescera a uma população estimada de quase três milhões de pessoas.17 Sob o poder especial de Deus, as provisões no deserto teriam sido adequadas.
Leo G. Cox. Comentário Bíblico Beacon. Editora CPAD. Vol. 1. pag. 167.

2. A perseguição de Faraó (Êx 14.5-9).

Êx 14.5 Por Quê? Assim que os terrores das pragas foram esquecidos, foram capazes de perguntar um estúpido por quê. Os egípcios, aterrorizados, tinham expulsado os israelitas do Egito, temendo ter o mesmo que seus filhos primogênitos. Chegaram mesmo a doar-lhes muitas riquezas (Êxo. 12.31 ss.).
“Quando lemos artigos e livros sobre 0 arrependimento, impressiona-nos a dificuldade de distinguir entre um Faraó disposto a permitir que 0 povo de Israel se fosse, por estar temeroso de mais pragas, e um Faraó que realmente estava arrependido de sua crueldade tirânica” (J. Coert Rylaarsdam, in loc.). Um indivíduo assustado arrepende-se mais ou menos do mesmo jeito que um rato reage, aterroriza- do, diante de um gato. O homem realmente arrependido reage como uma criança que percebe que ofendeu seu pai. O verdadeiro arrependimento é 0 primeiro passo para 0 crescimento espiritual. O falso arrependimento é apenas a tentativa de escapar das consequências da própria maldade.
O grande motivo para a perseguição contra Israel era o dinheiro. Mais de seiscentos mil trabalhadores escravos seriam perdidos pela economia egípcia. Ver Núm. 1.46 quanto ao número dos filhos de Israel. O Faraó estava à cata de dinheiro, mas acabou sofrendo uma perda devastadora, sob a forma de vidas e equipa- mentos perdidos.
Êx 14.6,7 Seiscentos carros escolhidos. Eram carros de combate. Isso sem contar quantos outros carros. Capitães militares lideraram no ataque! O próprio Faraó se pôs à testa do exército, com seu próprio carro de combate.
Capitães. No hebraico, três ou terceiro. Os veículos de combate do Egito eram tripulados por somente dois homens, assim é melhor traduzir por tripulação, em vez de dizer “os três”, ou seja, os três homens que geralmente tripulavam os carros de combate de outros países. Posteriormente, os carros de combate dos assírios e dos hititas tornaram-se espaçosos o suficiente para transportar três homens. Um deles dirigia 0 veículo, outro era 0 escudeiro, e 0 terceiro, natural- mente, era quem atirava as flechas e dardos. É possível que o hebraico, aqui, reflita esta última circunstância.
Josefo diz que 0 número de militares egípcios era de cerca de cinquenta mil cavaleiros, além de duzentos mil infantes (Ant. 1.2 c. 15 see. 3), mas não temos como averiguar esses dados. Ezequiel, 0 autor de tragédias teatrais, fala em um milhão, um número fantástico (Apud Hottinger Smegma, pág. 464).
Ramsés II testificou que uma força de dois mil e quinhentos carros de combate foi lançada contra ele pelos inimigos hititas (Registros do Passado, vol. ii, pág. 69,71), o que mostra que os seiscentos carros deste texto estava dentro do escopo dos exércitos antigos. Os seiscentos mil carros”, referidos em I Sam. 13.5, devem conter algum erro numérico.
Êx 14.8 O perpétuo coração duro do Faraó sofreu ainda maior endurecimento. Israel tinha saído do Egito em atitude de desafio, conforme dão a entender algumas traduções, ou, então, com mão descoberta, ou seja, sem nenhum segredo, conforme diz o Targum de Onkelos. Ver Êxo. 12.33. Eles partiram com arrogância, e o Faraó saiu em perseguição deles para arrancar-lhes a arrogância.
Os filhos de Israel saíram afoitamente. Algumas traduções dizem aqui “saíram por meio de mão erguida”, aparentemente indicando a mão erguida de Yahweh. Israel contava com a proteção e o poder de Deus (Êxo. 3.19; 6.1; 14.31).
A ideia contida em nossa versão portuguesa, porém, parece ser que a saída de Israel do Egito deu-se de forma atabalhoada, sem um planejamento prévio suficiente; e isso parece completar a ideia do terceiro versículo deste capitulo, onde o Faraó comenta que Israel estava ‘desorientado”.
Êx 14.9 A perseguição prosseguiu até Pi-Hairote, perto de Baal-Zefom, quando, finalmente, Israel foi alcançado. O texto situa definidamente essas cidades (fortalezas?) do Egito perto do local onde houve a travessia do mar de Juncos (não mar Vermelho; ver as notas sobre Êxo. 13.8 e 14.1,2). Parece que esses lugares ficavam próximos do lago Timsah ou do lago Balah, a cerca de oitenta quilômetros ao norte do mar Vermelho. Alguns eruditos não concordam com essa avaliação, preferindo pensar em uma rota ao longo do mar Mediterrâneo, mas isso parece altamente improvável.
O exército do Faraó consistia, sem dúvida, em cavalaria, infantaria e carros de com bate, conforme era comum entre os exércitos antigos. E diante dessa força armada, o povo de Israel entrou em pânico.
Êx 14.10,11 Os filhos de Israel clamaram ao Senhor. O terror tomou conta deles, enquanto o poderoso exército egípcio se aproximava rapidamente. E os filhos de Israel deixaram a questão aos cuidados de Yahweh, em oração. No pânico em que caíram, puseram a queixar-se amargamente, lamentando que tivessem aceito o plano do êxodo.
A Murmuração de Israel. O mar estava à frente deles, e o exército do Faraó aproximava-se rapidamente por trás. A fé fugiu de todos os israelitas naqueles momentos. Essa foi a primeira das murmurações de Israel no deserto, o que é um tema constante do livro de Êxodo. Ver também Êxo. 15.24; 16.2,3; 17.3; 32.1-4,25; Núm. 11.4-6; 12.1,2; 14.2,3; 16.13,14; 20.2-13; 21.4,5. Nada tinham para elogiar os labores de Moisés, que os tinha trazido em segurança até ali, mas puderam mostrar-se sarcásticos. O Egito não tinha sepulcros em número suficiente, e essa teria sido a razão pela qual Moisés teria trazido os filhos de Israel ao deserto. Melhor seria ter permanecido na servidão. Moisés tinha-lhes feito um grande mal, de acordo com o parecer dos murmuradores.
Qualquer pessoa que tente fazer alguma coisa é vítima de observações mordazes, a seu respeito e de seu trabalho. Sempre haverá 0 ciúme profissional em operação; sempre haverá aqueles que ficam atônitos diante dos erros que cometemos, e amar- gos diante de nosso sucesso. Assim, sem importar se tivermos êxito ou não, as mesmas palavras de reprovação serão proferidas.
Jeremias (2.1-3) desligou-se conspicuamente da tradição judaica das rebeldias e murmurações no deserto.
O Targum de Jonathan, comentando sobre essa passagem, diz: Os ímpios daquela geração disseram a Moisés...”.
O temor distorceu as memórias e despertou as paixões negativas dos israelitas. O próprio tempo distorce a memória e faz as pessoas pensar nos “dias passados” como melhores ou piores do que de fato foram.
CHAMPLIN, Russell Norman, Antigo Testamento Interpretado versículo por versículo. Editora Hagnos. pag. 360.
Êx 14.5. Que o povo fugia. Melhor dizendo, “ burlava a sua vigilância” .
Isto não contradiz a permissão dada anteriormente por Faraó para que Israel partisse; somente agora ele compreendia o que significava sua decisão.
Nem sistema dependente de trabalho braçal por parte de uma classe ou grupo dessa sociedade, a perda de tal grupo é paralisante.
Êx 14.6. Aprontou Faraó o seu carro. Não se trata aqui de sua carruagem particular. O significado mais provável é “ força de carros de guerra” , um coletivo explicado no versículo seguinte.
Êx 14.7. Seiscentos carros escolhidos. Tal número, obviamente, era mais que possível para o Egito. Se considerarmos o número elevado, todavia, para uma simples captura de escravos, podemos considerar o número simbólico, correspondente aos “ seiscentos mil” de Israel, mencionados em 12:37. Por outro lado, o número seiscentos pode ser usado mais livremente no sentido de “ companhia” . Seiscentos parece ter sido o tamanho comum de um batalhão (2 Sm 15:18).
Todos os carros do Egito. A frase deve ser entendida no sentido geral utilizado em 9:6, e não no sentido estritamente matemático que seria estranho ao pensamento israelita. É evidente, no relato bíblico, que um batalhão de carros de guerra egípcios foi destruído no Mar dos Juncos; não há, entretanto, necessidade de se presumir que todo o exército egípcio pereceu ali.
Com capitães sobre eles. Etimologicamente este termo deve significar “ o terceiro homem” , talvez no carro de guerra. Ver Davies para uma discussão mais completa desta obscura palavra. “ Cavaleiros” seria uma boa tradução se não tivesse duplo sentido (cf 2 Rs 7:2). De fato, somente os hititas usavam carros de guerra que levavam três ocupantes, de acordo com nosso conhecimento atual.
Êx 14.9. Cavalarianos. Talvez usado como o vago equivalente poético de “ carros” . Os carros de guerra eram uma arma antiga no Egito ao passo que a cavalaria propriamente dita só foi empregada muito mais recentemente (Is 31:1). Aqui, todavia, não se tratava propriamente de guerra, e sim de uma operação policial, de modo que a cavalaria talvez tenha sido usada para explorar minuciosamente o deserto como batedores, à frente dos batalhões de carros de guerra. Muitos séculos depois, os carros e a cavalaria do Egito se tornaram proverbiais (Is 31:3).
R. Alan Cole, Ph. D. ÊXODO Introdução e Comentário. Editora Vida Nova. pag. 115-116.
A perseguição de Faraó (14.5-9). Irritados pela recente derrota e frustração causada pela perda de tantos trabalhadores (5), Faraó e seus servos (os conselheiros) mudaram de ideia. Pensando que Israel estava praticamente encurralado no deserto, o rei aprontou o seu carro e tomou consigo o seu povo (6; “exército”, NVI). Também tinha seiscentos carros escolhidos (7) e muitos outros que conseguira reunir sem demora (pensamento subentendido na expressão todos os carros).
 Com esta força militar humana, Faraó saiu apressadamente em perseguição dos israelitas. Seu coração duro ficou mais duro ainda, porque, para ele, estes escravos tinham saído com alta mão “afoitamente”, ARA; “triunfantemente”, NVI). Contraste esta condição com o grande medo que logo sentiriam (10). Foi a toda velocidade ao local onde estavam acampados junto ao mar (9; ver Mapa 3). Pi-Hairote significa “lugar de juncos, no lado egípcio do mar Vermelho”
Leo G. Cox. Comentário Bíblico Beacon. Editora CPAD. Vol. 1. pag. 170-171.

3. A ruína de Faraó e seu exército (Êx 14.26-31).

O Milagre Estava Prestes a Ocorrer. Chegara o tempo determinado por Deus (João 7.8). O grande momento não tardaria mais; o êxodo tornar-se-ia irreversível. Muitos perigos ameaçariam o povo de Israel, antes que ele entrasse na Terra Pro metida. Mas agora o Egito tomar-se-ia algo do passado. O prolongado exílio chegara ao fim, a servidão sobre a qual Abraão tinha sido avisado (Gên. 15.13). Os eventos no mar de Juncos foram uma intervenção histórica do poder de Deus, e isso garantia a posse final da Terra Prometida e o cumprimento do Pacto Abraâmico (ver as notas a respeito em Gên. 15.18). No tempo certo, 0 Messias surgiria dentre a tribo de Judá, e assim as provisões do pacto haveriam de envolver os gentios, e grandes dimensões espirituais tornar-se-iam uma realidade adicionada ao pacto abraâmico (ver Gál. 3.14 ss.).
A natureza, a história e o poder de Deus aliaram-se às margens do mar de Juncos. Deus opera através da história; Ele age por meio da natureza; mas também opera acima de ambas essas coisas, oferecendo-nos surpresas vindas das Suas mãos. O evento remidor do mar de Juncos tornou-se a base mesma da existência da nação de Israel. Foi um acontecimento poderoso e espantoso. Esse evento foi para o A. T., o que Jesus, o Cristo, foi para o N. T.- um ato revelador e redentor de Deus. Sim, porque Deus conferiu tão grande graça aos homens.
Êx 14.15 Dize aos filhos de Israel que marchem. Eles estavam clamando; mas deviam entrar em ação! Devemos orar sem cessar (I Tes. 5.17), mas há momentos em que a ação é mais importante do que a oração, pelo menos naquele momento. De outras vezes, a resposta já nos foi dada. Mas em nossa miopia, não a vemos ainda. No caso que ora consideramos, o poder de Deus estava presente, já tinha entrado em operação. Agora, o que se fazia mister era que Israel marchasse para atravessar o mar de Juncos. Quando molhas- sem seus pés, então o ato miraculoso de Deus tornar-se-ia evidente e operante.
Uma excelente citação de George Meredith ilustra este texto: “Quando o homem fica convencido de que está fazendo o que Deus mandou, quanto pode esperar que as forças naturais obedeçam à sua vontade? Duas respostas religiosas têm sido dadas a essa pergunta. No decorrer da história, santos têm crido que, sob a inspiração divina, há ocasiões em que são capacitados a alterar e mesmo vencer o curso da natureza. E em todos os séculos sempre houve aqueles que acreditam que as leis da natureza são constantes, não havendo exceções à regra nem mesmo para o crente, para melhor ou para pior, mesmo nos momentos mais críticos".
Ambas essas ideias, naturalmente, dizem uma verdade. E é a vontade de Deus, em Sua graça, sabedoria e misericórdia, que determina 0 que ocorrerá em cada caso particular.
CHAMPLIN, Russell Norman, Antigo Testamento Interpretado versículo por versículo. Editora Hagnos. pag. 361.
Israel Vitorioso e o Exército de Faraó Destruído
O fim do nosso capítulo mostra-nos Israel vitorioso nas praias do Mar Vermelho e o exército do Faraó submergido nas suas águas. Os temores dos israelitas e a jactância dos egípcios eram igualmente desprovidos de fundamento. A obra gloriosa do Senhor havia destruído tanto uns como os outros. As mesmas águas que serviram de muro aos remidos de Deus, serviram de sepultura para Faraó. É sempre assim: aqueles que andam por fé acham um caminho por onde transitar, ao passo que todos aqueles que tentam imitá-los encontram uma sepultura. Trata-se de uma verdade solene, que não é, de modo nenhum, diminuída pelo fato que Faraó atuava em hostilidade declarada e positiva contra Deus quando intentou atravessar o Mar Vermelho. Descobrir-se-á sempre a verdade que todos aqueles que intentam imitar as obras da fé serão confundidos. Felizes daqueles que, embora fracos, podem andar por fé.
Seguem por um caminho de bem-aventurança inflável—um caminho que, embora possa ser marcado por falhas e fraquezas, é, todavia, começado, prosseguido e acabado com Deus.
Possamos nós entrar mais e mais na realidade divina, calma elevação e santa independência desta senda.
Não devemos deixar esta parte do Livro do Êxodo sem nos referirmos à passagem da 1 Epístola aos Coríntios 10:1-2, em que se faz referência à nuvem e ao mar.
"Ora, irmãos, não quero que ignoreis que nossos pais estiveram todos debaixo da nuvem; e todos passaram pelo mar; e todos foram batizados em Moisés, na nuvem e no mar". Esta passagem encerra a instrução preciosa e profunda para o cristão, pois que o apóstolo continua, dizendo: "E essas coisas foram-nos feitas em figura" (versículo 6), dando-nos assim autorização divina para interpretarmos o batismo de Israel "na nuvem e no mar" de uma maneira simbólica; e nada, seguramente, pode ter uma significação mais profunda e prática.
Foi como povo batizado desta maneira que os israelitas empreenderam a sua peregrinação através do deserto, para qual foi feita provisão de "um manjar espiritual" e "uma mesma bebida espiritual" pela mão d'Aquele que é amor. Em suma: era simbolicamente um povo morto para o Egito e tudo que lhe dizia respeito. A nuvem e o mar foram para eles aquilo que a cruz e a sepultura de Cristo são para nós. Anuvem punha-os ao abrigo dos seus inimigos e o mar separava-os do Egito—da mesma maneira, a cruz protege-nos de tudo que podia ser contra nós, e nós achamo-nos do lado celestial da sepultura de Jesus. É aqui que começa a nossa peregrinação através do deserto. E aqui que começamos a saborear o maná celestial e a beber das correntes que brotam da "rocha espiritual", enquanto que, como povo de peregrinos, caminhamos para a terra do repouso da qual Deus nos tem falado.
Desejo aqui chamar a atenção do leitor para a importância de compreender a diferença entre o Mar Vermelho e o Jordão. Os dois acontecimentos têm o seu antítipo na morte de Cristo. Porém, no primeiro vemos separação do Egito; no último vemos introdução na terra de Canaã. O crente não somente está separado deste presente século mau, por meio da cruz de Cristo, como foi vivificado da sepultura de Cristo, ressuscitado juntamente com Ele e assentado nos lugares celestiais, em Cristo (Ef 2:5-6). Por isso, ainda que esteja rodeado pelas coisas do Egito, ele encontra-se, quanto à sua experiência atual, no deserto; enquanto que, ao mesmo tempo, é levado pela energia da fé àquele lugar onde Jesus está sentado à destra de Deus. Assim, o crente não só é perdoado de todos os seus pecados, como está associado com Cristo ressuscitado nos céus: não só é salvo por Cristo, como está unido a Ele para sempre.
Nada menos do que isto podia satisfazer o amor de Deus ou realizar os Seus propósitos a respeito da Igreja.
Prezado leitor, compreendemos nós estas coisas? Acreditamo-las? Manifestamos o poder delas?- Bendita a graça que as tornou invariavelmente certas para cada membro do corpo de Cristo, quer seja só um olho, uma pálpebra, uma mão ou um pé. A verdade destas coisas não depende, portanto, da sua manifestação por nós, nem de as realizarmos ou compreendermos, mas, sim, do "PRECIOSO SANGUE DE CRISTO", que cancelou toda a nossa culpa e lançou o fundamento de todos os desígnios de Deus a nosso respeito. Eis descanso verdadeiro para todo o coração quebrantado e toda a consciência sobrecarregada.
C. H. MACKINTOSH. Estudos Sobre O Livro De Êxodo. Editora Associação Religiosa Imprensa da Fé.
Os Egípcios Perecem no Mar (14.26-31)
Êx 14.26 A mão e a vara de Moisés novamente se estenderam, para que os muros de água do mar voltassem a fechar-se, tal como, pouco tempo antes, esse mesmo ato tinha feito abrir-se as águas do mar (vs. 16). Ver as notas sobre esse versículo acerca da vara de poder.
Israel já havia chegado do outro lado, em segurança; e foi 0 poder de Yahweh, e não alguma mudança na direção do vento que selou a sorte horrenda das forças egípcias. Se tudo fosse apenas um processo natural, seriam necessárias várias horas para que as águas voltassem ao seu lugar, talvez com a ajuda de um vento de direção contrária, como no caso dos gafanhotos.
Êx 14.27 Ao romper da manhã. Existe algo de profundamente significativo no fato de que a destruição do exército egípcio teve lugar quando ainda escuro (vss. 24), ao mesmo tempo em que a luz de Deus iluminava 0 povo de Israel, e, ao romper da manhã, tudo tinha voltado à calma. Israel, uma vez mais, fora livrado. O poder destruidor que os tinha perseguido, e isso pelo espaço de várias gerações, agora estava totalmente destruído. Temos aí um vivido e poético retrato da própria redenção da alma. Luz em meio às trevas; destruição em meio às trevas; paz, alegria e luz ao romper da manhã. Isso posto, Deus proveu um novo dia, uma Nova Era. Acabara de ser lançado um grande marco da história.
Quando a noite termina e as sombras passam,
E 0 alvorecer eterno expele os cuidados terrenos;
No Lar de Deus, descansarei afinal...
(A. H. Ackley)
O mar... retomou a sua força. E isso com efeitos devastadores para os militares egípcios. Os egípcios tentaram fugir, mas foi tudo em vão. O grande exército egípcio foi derrotado, sem que os israelitas tivessem tido de atirar contra eles uma única flecha. Assim, esse milagre desmotivo foi o mais potente de todos, chegando mesmo a ultrapassar, em poder de destruição, o golpe aplicado pelo anjo da morte, que em um único momento tirou a vida de todos os filhos primogênitos do Egito. Ver no Mas nossa curiosidade, se o Faraó pereceu ou não na ocasião, não é satisfeita. O que sabemos é que cessou, de uma vez por todas, a ameaça egípcia contra o povo de Israel, o qual, doravante, podia iniciar a conquista da Terra Prometida.
Êx 14.28 Embora já estivesse em terra seca e segura, 0 povo de Israel prosseguiu caminho, ao passo que os egípcios agonizavam, arrebatados pelas águas encrespadas do mar. Uma vez mais, pois, fora feita uma distinção entre 0 Egito e Israel. Ver as notas sobre Êxo. 14.20, último parágrafo. Josefo informa-nos de que o exército egípcio contava com cinquenta mil cavalarianos e duzentos mil infantes. Não sobrou um sequer deles. Os carros de combate que tinham usado, e que deveriam tê-los ajudado a obter a vitória, ficaram atolados na lama; e o armamento pesado que os soldados egípcios transportavam impediu que escapassem das águas que, de súbito, voltaram ao seu lugar. O próprio estratagema dos egípcios conduziu-os mais depressa à morte.
Êx 14.29 Este versículo reitera o que se lê no vs. 22, onde as notas expositivas a respeito devem ser examinadas, exceto pelo fato de que aqui é dito que a travessia de Israel, a pé enxuto, tinha sido um completo sucesso.
Êx 14.30 Israel viu os egípcios mortos. Os cadáveres dos soldados egípcios flutuavam sobre as águas e foram lançados à praia, servindo de horrendo testemunho do poder de Yahweh, que assim pôs fim à arrogância do Egito. Quem quer que tenha contemplado a cena, sem dúvida, jamais pôde esquecê-la. O relato deveria ser transmitido de geração em geração; e assim, os israelitas de gerações futuras poderiam dizer: “Eu vi, porque meus antepassados viram”.
Josefo ajunta que os israelitas se armaram com muitos instrumentos de guerra que os egípcios tinham trazido. Agora, pois, os israelitas estavam mais bem preparados para as muitas batalhas que os esperariam no seu futuro (Antiq. 1.2 c. 16, see. 6).
Êx 14.31 Flutuando Junto com as Circunstâncias. Ainda recentemente, os israelitas murmuravam contra Moisés (Êxo. 14.10). As murmurações do povo de Israel tornaram-se um dos temas mais constantes deste livro e do de Números, conforme vemos nas referências daquele versículo. “O povo, com frequência, flutuava entre a confiança e 0 espírito queixoso, entre a fé e a incredulidade (Êxo. 4.31; 5.21; 14.10-12,31; 15.24; 16.2-4; 17.2,3)" (John D. Hannah, in loc.). Cf. a adoração referida neste versículo e aquela referida em Êxo. 12.27. Temor e admiração levaram a outro ato de confiança e a outra aceitação da autoridade e da missão de Moisés. Mas não seria a última vez em que Israel teria de ser arrastado de volta a essa atitude. Por antecipação, admiramo-nos de como a fé dos israelitas poderia novamente cair em decadência. Mas então examinamos a nossa própria fé e descobrimos a resposta. Grandes coisas do passado não nos garantem a fé no futuro. Não obstante, vamos crescendo sem parar.
CHAMPLIN, Russell Norman, Antigo Testamento Interpretado versículo por versículo. Editora Hagnos. pag. 264.
Êx 14.27. Seu curso habitual. Paralelos em outras línguas semíticas (onde a palavra significa “ uma corrente que nunca seca” ) mostram que esta tradução deve ser preferida à da SBB, “ força” . A palavra enfatiza a natureza peculiar do acontecimento. O lugar da travessia não era um vau que ficasse normalmente exposto, mas que permanecia submerso. Derribou. A tradução literal seria “ sacudir” , ao passo que “ derrubar” é uma tradução livre (cf SI 136:15 e Ne 5:13). Para comentaristas judeus da Idade Média, este verbo sugeria a “ derrubada” dos construtores da torre de Babel em Gênesis 11:1-9. A etimologia popular do nome Sinear (Babilônia) vem deste mesmo verbo. A derrubada de Faraó fica implicitamente ligada não apenas à história de Babel, mas também à história do dilúvio, pelo uso da água no julgamento divino.
30. Mortos na praia do mar. Eis aqui um toque bem gráfico, um relato de testemunha ocular. Os soldados egípcios afogados representavam a velha vida de escravidão, encerrada para sempre. De algum modo, aqueles cadáveres eram um sinal concreto de que a salvação e a nova vida de Israel estavam asseguradas. Talvez parte deste conceito esteja presente no pensamento cristão de que o batismo simboliza tanto morte quanto vida (Rm 6:1-4). Foi sem dúvida este aspecto definitivo que deu ao milagre do Mar dos Juncos a posição de símbolo máximo de salvação no Velho Testamento (Is 51:9-11).
R. Alan Cole, Ph. D. ÊXODO Introdução e Comentário. Editora Vida Nova. pag. 118-119.

II - O CÂNTICO DE MOISÉS

1. Moisés celebra a Deus pela vitória (Êx 15.1-19).

O cântico de Moisés é o cântico mais antigo da Bíblia. Trata-se de um hino de gratidão a Deus pelo livramento milagroso que Ele proporcionou.
É uma celebração da intervenção divina em favor do seu povo, libertando-o e derrotando aqueles que oprimiam e perseguiam o povo de Deus.
Deus é chamado por Moisés nesse cântico de “minha força”, “meu cântico” (isto é, motivo do seu louvor), “salvação”, “Deus de meu pai”, “homem de guerra” e “Senhor”, além de incomparável e único Deus e aquEle que reinará para sempre (Ex 15.2,3,11,18).
Esse cântico pode ser dividido em três partes, onde vemos Deus como o Herói do seu povo (Ex 15.1-3), o Senhor supremo sobre todos (15.4-12) e o Rei de Israel (15.13-19). A razão de ser de todo o cântico, o seu resumo, está no versículo 19.
Deus deseja que sejamos gratos a Ele e que o reconheçamos como Senhor da nossa vida, como a razão do nosso viver. O cântico de Moisés nada mais é do que um reconhecimento da graça e do amor de Deus diante de uma intervenção espetacular de sua parte, uma manifestação sincera de gratidão ao Senhor pelo seu cuidado para com o seu povo. Não é todo dia que vemos uma intervenção desse porte, fisicamente falando, mas todos os dias Deus está agindo em nosso favor, quer percebamos, quer não. Devemos agradecer a Deus pelas suas intervenções visíveis e invisíveis sobre as nossas vidas, livrando-nos do mal.
COELHO, Alexandre; DANIEL, Silas. Uma Jornada de Fé. Moisés, o Êxodo e o Caminho a Terra Prometida. Editora CPAD. pag. 55-56.

Hino de Vitória (15.1-21)

Surpreendentemente, boa poesia tem caracterizado as raças humanas, antigas e modernas, as que vivem na barbárie e as civilizadas. De algum modo, o espírito humano é capaz de elevar-se acima de seus limites, quando a mente criativa é liberada nas composições poéticas. E mais surpreendente ainda é o fato de que mesmo cenas da maior violência sejam tão belamente descritas. Aquele que já leu obras de Homero maravilha-se diante da graça e da beleza de sua poesia, mesmo quando ele descreve as cenas mais bárbaras. Diante de nós, pois, temos esse tipo de poesia. Yahweh, o grande Destruidor, reduziu a nada o inimigo de Israel, e, em meio a grande matança, livrou o Seu povo e exaltou o Seu nome. Sócrates observou a habilidade e inspiração dos poetas, mas queixou-se de que, quando queria explicar seus discernimentos, com frequência, eles se mostravam mais deficientes do que qualquer pessoa que lesse as suas linhas. A mente humana é capaz de inspiração e transcendência, e a poesia é um dos meios mediante os quais essa inspiração e transcendência recebem expressão. Assim também na Bíblia, um livro inspirado pelo Espírito de Deus, não nos deveríamos admirar ao achar ótimos exemplares de obras poéticas.
O poema diante de nós é espontâneo e afogueado, mas exibe considerável planeja- mento e habilidade literária. Ensina a regra universal de Yahweh e como o povo de Israel achou posição privilegiada por andar segundo essa regra. O poema é uma espécie de hino que se tomou grande expressão de louvor e fervor religioso.
“A ode distingue-se de composições similares posteriores por meio de sua grande simplicidade de linguagem, e de um arranjo mais livre de arranjo rítmico. Temos ali o usual paralelismo de cláusulas da poesia dos hebreus, com suas três variedades de estilo antitético, sintético e sinônimo. Mas a cadência regular da composição é interrompida por uma frequência incomum de estâncias em tríadas, e o paralelismo é menos exato do que aquele que se vê em tempos posteriores” (Ellicott, in loc.).
“Antigas histórias poéticas comemoravam grandes e extraordinárias demonstrações de providência, de coragem, de força, de fidelidade, de heroísmo e de piedade” (Adam Clarke, in loc.).
“Os gemidos e clamores dos israelitas (Êxo. 14.10-12) transmutaram-se em adoração, conforme foram conduzidos por Moisés (Êxo. 15.1-18), e pela sua irmã, Míriã (vss. 19-21), em louvores triunfais ao Senhor” (John H. Hannah, in loc.).
Êx 15.1 Então entoou Moisés. O poema, na verdade, é um hino. São aqui combina- dos dois cânticos, ambos celebrando o livramento de Israel por intervenção de Yahweh, diante do mar de Juncos (cap. 14). O cântico de Moisés (vss. 1-18) foi introduzido mediante a citação de um antigo cântico de Míriã (vs. 21).
Há três cânticos atribuídos a Moisés no Antigo Testamento. Este, 0 de Deuteronômio 31.22 e 0 Salmo 90. Os deuses das nações pagãs continuavam sendo concebidos como existentes (nas mentes dos pagãos), mas Yahweh mostrava-se superior a todos eles quanto ao poder. Temos aí um grande passo na direção da fé que só aceita a existência de um Deus verdadeiro (vs. 11). Tal como todos os cânticos patrísticos, este poema fala sobre triunfos nacionais” (J. Coert Rylaarsdam, in loc).
O cântico começa comemorando 0 principal fato destacado no capítulo cator- ze: 0 exército egípcio foi derrotado e destruído no mar, mediante um poderoso ato de Yahweh. Ver as notas sobre Êxo. 12.26 ss. quanto a descrições.

Uma completa redenção tipificada no livramento efetuado no mar de Juncos, e celebrada neste hino, exalta o livro de Êxodo como um hino de redenção, ensinando-nos várias lições:

1. A redenção deve-se inteiramente a Deus (Êxo. 3.7,8; João 3.16).
2. A redenção é efetuada pelo poder de Deus (Êxo. 6.6; 13.14; Rom. 8.2).
3. A redenção é feita mediante o sangue (Êxo. 12.13,23,27; I Ped. 1.18,19).
4. Tudo isso nos faz lembrar da redenção que há em Cristo (Rom. 8.2; Efé. 2.2).

Tertuliano alegorizou esta passagem, fazendo os egípcios representar os inimigos espirituais que os crentes precisam enfrentar durante sua vida neste mundo; 0 Faraó seria 0 deus falso; os cavalarianos do Faraó seriam 0 poder de Satanás; os inimigos de Israel, os inimigos da alma (Contr. Marcion. 1.4 c. 20).
Êx 15.2 Achamos aqui uma citação extraída de Isa. 12.2 e de Sal. 118.14, embora alguns estudiosos afirmem que o que se deu foi precisamente o contrário, porquanto tentam assim preservar a data mais antiga do livro de Êxodo. Os críticos acham nisso outra razão para datarem o livro de Êxodo (e todo o resto do Pentateuco) em uma data posterior.
Este é o meu Deus... o Deus de meu pai. Um paralelismo, típico da poesia hebraica. Yahweh tinha derrotado todo 0 panteão do Egito, conforme ilustrei no gráfico das notas sobre Êxo. 7.14. Vemos ali que cada praga atingiu certos deuses falsos dos egípcios. Desse modo, Yahweh é celebrado no cântico. E Ele também era o mesmo Deus dos patriarcas. Ver sobre isso em Êxo. 3.6,13,15; 4.5. Ver também Gál. 4.6.
Ele me foi por salvação. Originalmente, a ideia é que Deus livrara os israelitas do poder do Faraó, estando em foco o livramento do exílio egípcio, a preservação de Israel no episódio do mar de Juncos, 0 tema mesmo do capítulo catorze do livro de Êxodo.
Somente mais tarde, já no tempo dos Salmos e dos Profetas, foi que a salvação da alma passou a ser expressa pela teologia dos hebreus.
Portanto, eu o louvarei. No coração, nas reuniões da assembleia de Israel, em lugares especiais de culto. Jarchi e vários Targuns dão esse sentido de louvor a essas palavras, o que transparece em muitas traduções modernas. Mas Onkelos e Aben-Ezra falam em “preparar uma habitação para Yahweh”. É verdade que o original hebraico pode suportar essa tradução. Mas a regra de paralelismo, na poesia dos hebreus, favorece a tradução que temos aqui, porquanto isso faz paralelo com a ideia de “exaltação”, que aparece no fim deste versículo.
Êx 15.3 Homem de guerra. Moisés usou aqui uma metáfora militar. Foi Yahweh quem produziu os milagres de destruição, foi Yahweh quem, no mar de Juncos, fez 0 exército egípcio perecer, e levou Israel a atravessar o mar a pé enxuto. Assim sendo, Yahweh é um guerreiro que confere vitória ao Seu povo, em tempos de aflição.
“.. .0 homem não participa ativamente nessa vitória” (Adam Clarke, in loc.). Ver no Dicionário os artigos chamados Yahweh e Deus, Nomes Bíblicos de. Foi Yahweh quem se tomou conhecido por causa dos prodígios efetuados no Egito, embora o Faraó tivesse dito que não 0 conhecia (Êxo. 5.2), mas que acabou conhecendo de forma forçada (Êxo. 7.5).
A Septuaginta diz aqui “esmagador de guerra”, e o Pentateuco Samaritano diz “poderoso em batalha”. Cf. Sal. 24.8.
Os intérpretes cristãos fazem-nos meditar sobre o trecho de Efésios 6.10, onde Paulo elabora uma metáfora militar e aplica a questão aos conflitos do crente com as forças do mal, externa e internamente, bem como alude à vitória que obtemos em Cristo, 0 qual é nosso Comandante.
Êx 15.4 Os vss. 4-10 recitam os feitos poderosos de Yahweh no mar de Juncos. Ver Sal. 78.12,13. Este versículo comemora o que foi descrito em Êxo. 14.17,24-28. A expressão já havia aparecido como introdução ao hino-poema, no vs. 1 deste capítulo. Os dez prodígios libertadores foram todos grandes em seus efeitos, visando ao bem comum. Mas o clímax de todos esses prodígios foi a intervenção divina no mar de Juncos, pelo que esse é o item mais celebrado neste poema. Cf. Apo. 1.18. Ver Êxo. 14.7 quanto aos “capitães”. A elite das forças armadas do Faraó pereceu porque estava resolvida a realizar uma missão desvairada, que somente Yahweh era capaz de fazer estancar.
Êx 15.5 Desceram às profundezas. Embora o mar de Juncos (ou, então, os lagos Timsah ou Bilah) fosse pouco profundo, e embora fosse chamado de mar, suas águas, mediante um “fiat” divino, elevaram-se formando muros (Êxo. 14.22,28). Poeticamente, as águas rasas do mar de Juncos são comparadas às profundezas do sheol, ameaçando morte e destruição, temível para os que ali se viram mergulhados. Veras notas sobre Êxo. 13.18 quanto ao mar de Juncos, e não mar Vermelho (uma variante introduzida pela Septuaginta).
“.. .como uma pedra de moinho, foram tomados por um anjo e lançados no mar, sofrendo ruína irrecuperável” (John Gill, in loc.). Cf. Apo. 18.21.
Êx 15.6 A tua destra. A mão que representa poder e posição de honra, uma metáfora comum nas Escrituras. Ver Êxo. 15.12; Sal. 16.8,11; 18.35; 21.6; 45.4; 73.23; 110.1; Mat. 25.34; 26.64; Col. 3.1; Heb. 1.3; I Ped. 3.22; Apo. 1.16. Yahweh, o homem de guerra (vs. 3), 0 Deus dotado da poderosa mão direita, aponta para uma metáfora antropológica.
Êx 15.7 Yahweh exibiu Seu poder no Egito, mediante as dez pragas e também no mar de Juncos. Ele espalhou destruição e assim livrou Israel de sua longa servidão aos egípcios. Foi depois de libertados que puderam iniciar sua marcha de volta à Terra Prometida. Nenhum homem poderia ter feito isso. Este versículo introduz, em termos gerais, o que se segue, de forma detalhada, nos vss. 8 ss. A ira do Senhor reduziu os formidáveis inimigos de Israel a nada, como se fossem restolho ou palha, que os israelitas tinham usado na massa para fabricar tijolos no Egito.

Elementos Enumerados:

1. Surgimento súbito dos ventos, uma força eficaz (vs. 8).
2. As águas acumulam-se em montões (vs. 8).
3. A arrogância dos egípcios não demoraria a ser humilhada (vs. 8).
4. Um segundo vento começa a soprar (vs. 9).
5. A volta das águas ao seu lugar, o que destruiu o exército egípcio (vs. 6). a Isa. 27.4; 51.24; Apo. 6.17.
Êx 15.8 O Vento Oriental É Mencionado (Êxo. 14.21). Foi como um grande resfolegar das narinas de Yahweh, o qual demonstrou Sua ira como se fosse um cavalo de batalha a relinchar. Ver Sal. 18.15. Houve algo de extraordinário naquele vento oriental, algo diferente de todo vento oriental que já havia soprado. Aquele vento foi impulsionado pelo poder de Deus. Tinha uma missão especial a realizar. Tal vento tinha um poder elevador e congelador, de tal modo que as águas se tornaram meio de escape para Israel, mas meio de destruição para o exército egípcio. Cf. II Tes. 2.8 no tocante ao esperado anticristo. Ver também Heb. 3.10. Encontramos aqui mais antropomorfismos poéticos.
Êx 15.9 O inimigo dizia. Os egípcios tinham-se mostrado arrogantes ao tentarem cumprir sua desvairada missão destruidora. Ver Êxo. 14.6 ss. Em pouquíssimo tempo já haviam esquecido todas as perdas que tinham sofrido. Israel tinha saído do Egito com muitas riquezas, quase todas doadas pelos egípcios (Êxo. 3.22; 11.2; 12.35,36). Antes, o povo de Israel estava reduzido à condição de escravos, mas tinha partido do Egito enriquecido. O arrogante exército egípcio, porém, saiu atrás dos israelitas, inclinado a matar e saquear. Ao avistarem o exército egípcio, os israelitas tinham ficado transidos de medo, e se puseram a clamar e a queixar-se, a duvidar e a desesperar (Êxo. 14.10 ss.). Naquele momento, nenhum homem poderia tê-los salvado. Foi mister outra intervenção divina, sob pena de a causa de Deus ter-se visto frustrada.
Já esquecidos das perdas sofridas, os egípcios começaram a indignar-se, a ponto de desejarem destruir os israelitas. E enviaram seu exército com espadas desembainhadas, armados de dardos, seus cavalos resfolegando, seus carros de combate ribombando, seus soldados gritando por vingança.
Êx 15.10 Sopraste com o teu vento. A destruição foi súbita. Sem a mínima cautela, eles se lançaram às águas, seguindo Israel pela vereda em seco. De repente, porém, os muros de água desabaram sobre eles, e o vento soprou-os ao total esquecimento, e afundaram como chumbo ao fundo do mar. O poder de Yahweh manifestou-se nos ventos e nas águas, e esse poder avassalou e destruiu totalmente o inimigo. Nenhum homem poderia ter feito tal coisa. Cf. essa destruição súbita com 0 quadro profético sobre o fim (I Tes. 5.3). O sopro do vento, que fez as águas desabar sobre os egípcios, não foi mencionado no relato do capítulo catorze, mas ajusta- se bem a ele, tal como no caso da praga dos gafanhotos, quando o vento oriental soprou e trouxe os gafanhotos, e, então, soprou o vento ocidental, e os levou para o mar (Êxo. 10.13,19).
Afundaram-se como chumbo. Um testemunho pessoal, dito por alguém que ficara impressionado diante da cena (vs. 5). Quão inesperadamente tudo sucedeu! Cf. Apo. 18.21.
Êx 15.11 Ó Senhor. Yahweh havia derrotado todo o panteão egípcio nas dez pragas, e, uma vez mais, no mar de Juncos. Alguns pensam que aqui deuses são mencionados como divindades reais, posto que inferiores, sobre os quais poderes triunfou Yahweh, o verdadeiro Deus. Mais provavelmente, temos aqui uma expressão da consciência monoteísta, de acordo com a qual esses deuses eram apenas imaginários, figuras fictícias criadas pelos homens. É patente que Deus fez Sua providência prevalecer durante todo o episódio.
“Este segmento do hino (vss. 11,12) aparece sob a forma de uma indagação negativa, um artifício litúrgico comum (cf. Sal. 35.10; 71.19; 89.7-9; 113.5,6). Estes versículos revelam como a fé generalizara o evento sobre o qual repousa. Visto que Yahweh se mostrara Senhor de Faraó, Ele está acima de todos os deuses? (J. Coerl Rylaarsdam, in loc.).
Glorificado em santidade. A ênfase recai sobre o aspecto moral. O Faraó e suas hostes serviram de emblemas dos tiranos cruéis e barbáricos que, por tanto tempo, cometeram injustiças contra o povo de Deus. Foi apenas apropriado, pois, que a ira de Deus (ver a esse respeito no Dicionário) retificasse, finalmente, toda a questão. Cf. Sal. 86.8.
Maravilhas. As dez pragas destruidoras e o golpe definitivo do mar de Juncos, exterminando 0 exército egípcio. Israel tinha confiado no poder miraculoso de Deus. Ocasionalmente, Deus fazia intervenção em favor de Israel, como medidas necessárias, a fim de dar livramento ao Seu povo.
Deus pode fazer melhor certas coisas através do julgamento do que através de qualquer outro meio. Contudo, esses juízos são medidas remediadoras: sempre têm algum propósito benéfico em mente, como atos disciplinadores severos e duros. A cruz do Calvário também foi um juízo, severo e terrível, mas visando a um bom propósito, de alcance universal. E o que acontece a todos os juízos impostos por Deus. Até mesmo a descida de Cristo ao hades teve um bom propósito.
Êx 15.12 Estendeste a tua destra. O braço de Deus é todo-poderoso. Ver as notas sobre o vs. 6 deste capítulo quanto à destra ou mão direita de Deus, a mão que representava poder, privilégio, provisão e glória. A terra tragou os egípcios, talvez uma referência ao sheol (ver sobre esse lugar no Dicionário), ou à sepultura, lugar de total destruição. Em outras palavras, do fundo do mar, eles passaram para o sheol. Contudo, não é provável que devamos ver aqui uma alusão direta a essa prisão da alma, naquele período tão remoto. Mais tarde, entre os israelitas, concebia-se que as almas vão para o sheol, por ocasião da morte física. Essa doutrina passou por um desenvolvimento, o que sucede à maior parte das pro- posições teológicas, conforme fica demonstrado naquele artigo. E provável que devamos entender aqui que a destruição total, iniciada pelas águas, terminou quando a terra do fundo do mar tragou os cadáveres dos egípcios como sua sepultura final. A metáfora é um tanto desajeitada, embora muito poderosa e impressionante.
Alguns estudiosos veem aqui um acontecimento físico, e não um quadro metafórico acerca do sheol. Nesse caso, teria havido um terremoto, que abriu uma fenda na terra, para onde desceram os cadáveres dos soldados egípcios. Ou, então, as águas do mar finalmente levaram seus corpos até a praia, e, então, eles foram sepultados por outros em valas comuns. Parece que o Salmo 77.18 indica que houve um terremoto associado ao evento, ou, então, também devemos entender metaforicamente todas essas descrições. Ou algo tão simples como 0 lodo do fundo do mar pode estar em foco. Esse lodo recebeu os cadáveres, como se fossem sepulturas. Ou, finalmente, as próprias águas do mar são aqui pintadas como se fossem sepulcros, porquanto tiveram essa função, na ocasião.
Êx 15.13 Guiaste o povo. Vemos aí o amor benevolente de Deus, em favor de Israel, ao mesmo tempo em que os ofensores egípcios pereceram em seus sepulcros de água.
O livro de Jonas é o João 3.16 do Antigo Testamento. Para Deus, os pagãos pareciam importantes o suficiente para Ele ter-lhes enviado um profeta de Israel; e até os rebanhos da Assíria eram importantes aos Seus olhos (Jon. 4.11). Por outro lado, a ira de Deus é um dedo de Sua mão amorosa, conforme explico nas notas sobre o versículo décimo primeiro, acima. Se a missão de Cristo alcançou os desobedientes dos dias de Noé, sem dúvida também alcançou os desobedientes e arrogantes do Egito. Ver I Pedro 3.18-4.6 e o artigo intitulado Descida de Cristo ao Hades, na Enciclopédia de Bíblia, Teologia e Filosofia.
Que salvaste. Naquele período tão remoto, estava em foco, acima de tudo, a libertação de Israel da servidão egípcia, e a subsequente entrada na Terra Prometida. O acontecimento histórico, porém, tomou-se um tipo da redenção espiritual.
... o levaste à habitação da tua santidade. Os filhos de Israel foram conduzidos por Deus da servidão no Egito à liberdade. A redenção foi de um estado para outro, tal como a redenção espiritual é da servidão ao pecado para a salvação eterna da alma.

Habitação da tua santidade. Um termo um tanto vago aqui e que tem recebido diversas interpretações:

1. Aquele lugar, no deserto ou em qualquer outra localização, onde os homens viessem a adorar, sentindo a presença de Deus: o lugar de adoração e ação de graças.
2. Ou está em foco a inteira Terra Prometida, como uma referência metafórica. Ver Sal. 78.54; Jer. 10.25; 25.30.
3. Ou, então, está em pauta, especificamente, o monte Sião, 0 que poderia ser uma visão retroativa, por parte do autor sagrado, que tinha consciência do que viria após a vagueação no deserto. O vs. 17 deste capítulo certamente sugere essa interpretação. Alguns eruditos aceitam essa terceira interpretação, mas pensando que temos aqui uma profecia do que ainda viria a acontecer. Ver Sal. 78.6-69. Mas, se temos aqui uma visão retroativa, então a forma final do poema só teve lugar nos dias de Salomão.
Êx 15.14 As notícias espalhar-se-iam, lançando o terror no coração dos inimigos de Israel. O próprio povo de Israel quedou-se admirado e temeroso, diante das obras de Yahweh.
Os povos. Mui provavelmente, temos aqui menção às tribos cananéias que habitavam na Palestina, conforme são alistadas em Êxo. 13.5 e outros trechos bíblicos. Ver as notas expositivas nessa referência. O autor sagrado escreveu tendo em vista a futura conquista da Terra Prometida; ou, então, olhando de volta a ela. Conforme alguns eruditos, ele sabia da conquista da Palestina, por- tanto este versículo seria pós-mosaico. Ou então, segundo outros insistem, ele previu, profeticamente, essa conquista, em consonância com o pacto abraâmico (Gên. 15.16). O pacto abraâmico, comentado em Gên. 15.18, prometia um terri- tório pátrio para Israel.
Êx 15.15 Ouvindo falar sobre 0 escape miraculoso de Israel da servidão egípcia, os habitantes da Palestina ficariam predispostos a temer (Deu. 2.25; Jos. 2.9-11; 5.1). Edom e Moabe fizeram tudo para evitar que Israel atravessasse seus territórios (Núm. 20.18-21; 21.13). Os habitantes da terra de Canaã não se renderam simplesmente, sem oferecer resistência, embora já estivessem virtualmente derrotados. Em seu fervor, o poeta foi além do que a história nos diz. Sobre os “príncipes de Edom”, ver Gên. 36.15 onde é usada a mesma expressão. Os eruditos liberais pensam que o autor sagrado escreveu esses versículos como um historiador, ao passo que os conservadores preferem pensar em uma declaração profética. O vs. 17 quase certamente alude ao monte Sião, o que aponta para um tempo bem posterior ao da morte de Moisés, talvez o tempo do ano 1000 A. C., 0 tempo de Salomão.
Êx 15.16 Espanto e pavor. Por três vezes (vss. 14-16), o autor sacro enfatiza o terror que os povos sentiriam ao tomarem conhecimento que eles mesmos, tal como sucedera aos egípcios, teriam de enfrentar Israel, liderado por Yahweh.
Pela grandeza do teu braço. A mesma ideia que temos em Êxo. 15.6, exceto pelo fato de que ali a menção é à “destra” do Senhor. O autor continua usando expressões antropomórficas.
Até que passe o teu povo. Os israelitas atravessaram o deserto e o rio Jordão. Ou, então, está em pauta sua entrada na Terra Prometida. Talvez devamos apenas pensar na fronteira, que foi cruzada pelos filhos de Israel.
O povo que adquiriste. Ou seja, os remidos da servidão no Egito. Esse é o tema central do livro de Êxodo. Todo o episódio da redenção de Israel retrata a redenção da alma.
Êx 15.17 Tu os introduzirás. Os verbos postos no futuro, como aqui, parecem indicar que o autor sagrado falava como profeta, e não retroativamente, como historiador. E isso é um ponto a favor da data anterior do Êxodo e, por via de consequência, do Pentateuco.
No monte da tua herança. Provavelmente está em foco a totalidade da Terra Prometida, uma região montanhosa que, na intenção de Deus, já pertencia ao Seu povo de Israel. Interpretando a passagem do ponto de vista cristão, devemos pensar no Reino de Deus, mormente na época do milênio, quando esse Reino (tendo como capital Jerusalém) se tornar a concretização de muitos aspectos do Pacto Abraâmico. No simbolismo bíblico, um “monte” é metáfora do reino de Deus. Ver Isa. 2.2; Dan. 2.35,44,45 etc. E isso parece confirmado pelo que diz 0 versículo seguinte.
No santuário. Temos aí um dos alvos da reentrada do povo de Israel na Terra Prometida, e não ainda um fato realizado. Mas, como se trata de algo decretado por Deus, “as mãos de Deus" já tinham “estabelecido” tal resultado. Metaforicamente, no milênio e no estado eterno, Deus será 0 santuário de Seu povo (Apo. 21.2-4). Teremos aí a concretização de todo o imenso drama da criação e do plano de redenção.
Êx 15.16 O Senhor reinará. Devemos pensar aqui que isso se concretizaria na teocracia em Israel, no coração dos piedosos, durante 0 milênio e, finalmente, no estado eterno. Cf. Sal. 10.16; 29.10; 145.13; 146.10; Luc. 1.31,33; Apo. 11.15 e 22.5. O hino de louvor a Deus, em comemoração à vitória do Senhor sobre os inimigos de Israel, termina neste versículo.
“As palavras expressam o domínio eterno de Deus não somente sobre o mundo, mas também sobre [e com a Igreja]; não somente sob a lei, mas também sob a graça do evangelho; não somente quanto ao tempo, mas também quanto à eternidade” (Adam Clarke, in loc.).
Êx 15.19 Este versículo reitera o que já havia sido dito em Êxo. 14.29,30 e 15.1, onde o leitor deve examinar as notas. Funciona como uma espécie de síntese do significado do poema inteiro de Moisés. Ver também o vs. 16. Este versículo serve de introdução ao cântico de Miriã, que se segue e faz conexão com o trecho final em prosa do capítulo catorze. Talvez se trate de uma adição feita por um editor, a fim de fazer a ligação entre o poema de Moisés e o poema de Míriã. Fornece-nos a mensagem essencial do livro de Êxodo: a redenção de Israel da servidão egípcia, mediante 0 grandioso prodígio do mar de Juncos, 0 qual levou à plena fruição os milagres anteriores das dez pragas.
CHAMPLIN, Russell Norman, Antigo Testamento Interpretado versículo por versículo. Editora Hagnos. pag. 364; 364; 368-369.
Observemos aqui as diferenças de apresentação entre as cenas que envolvem os mártires, aqui e no sexto capítulo do livro. Ali eles clamam pedindo vingança contra seus opressores. E então lhes é dito que descansem, até completar-se o número dos mártires (ver Apo. 8:3.4). Mas agora o seu número já se completou, e sua vitória final está bem próxima. Cruzaram em segurança o mar Vermelho da tribulação, e logo seus inimigos serão afogados no mar da cólera de Deus. Não admira, pois. Que tenham irrompido em um cântico de triunfo e ações de graças.
·...o cântico de Moisés... » Assim é chamado esse cântico, em memória de Êxo. 15:1 e ss., onde Moisés e os filhos de Israel entoaram o cântico de triunfo, por haverem sido libertos do Egito, quando, finalmente, atravessaram cm segurança o mar Vermelho. O cântico entoado, aqui e naquela ocasião não é realmente uma só coisa, mas a alusão àquela situação é evidente. No décimo quinto capítulo do Êxodo o cântico salienta a vitória sobre os inimigos de Deus. Neste caso temos, essencialmente, um cântico de louvor. Mas notemos, no quarto versículo, que os juízos divinos subjugarão às nações e portanto, apesar de não haver qualquer longa descrição acerca da queda desses adversários, tal como no décimo quinto capítulo do Êxodo, não há que duvidar que esse é o espírito do cântico, a
sua base fundamental.
·...servo de Deus...·No grego temos «doulos», «escravo·. Fica subentendida uma total dedicação.
«...o cântico do Cordeiro...» Esse cântico é o mesmo que o de Moisés. Não se deve pensar em dois cânticos separados, c nem se deve pensar que as palavras «o cântico de Moisés, servo de Deus», representam uma antiquíssima interpolação. (Esse cântico pode ser comparado ao que se lê em Apo. 5:9, o «novo cântico», que se repete em Apo. 14:3, no tocante aos mártires. Mui provavelmente o autor sagrado se utiliza de várias expressões para indicar uma só coisa: uma melodiosa expressão de louvor e triunfo, porquanto os homens ·atravessaram 0 martírio e chegaram aos lugares celestiais», onde receberam a vitória em Cristo e o descanso. Pode-se falar sobre o cântico que ·narra a história» da vitória cristã de variegadas maneiras. O intuito do autor sagrado é dizer-nos que. a despeito dos mais terríveis sofrimentos à face da terra, incluindo a própria morte, os mártires «triunfarão·!
O poder da música. Quão trágico e ultrajante é que a música dos clubes noturnos seja trazida às igrejas evangélicas! Mas isso é o que está sucedendo em nossos próprios dias. A música inspira estados metafísicos, e não deveria ser manuseada superficialmente. No presente contexto, fica implícito o contraste entre a degradação dos adoradores do anticristo e os adoradores santos do Cordeiro. A música é um elemento que pode dizer-nos o que é o quê. Não poderá haver música elevada e inspiradora da alma, no culto ao anticristo. Quão terrível é introduzir nas igrejas locais a música que exalta ideais ímpios, conferindo-lhes «palavras de cunho cristão. A música ímpia jamais poderá tornar-se o veículo de verdadeiras conversões, e nem a verdade cristã pode ser expressa por seu intermédio. O cântico que figura neste contexto glorifica a vitória de Cristo sobre o mal. Como se poderia usar música má para celebrar tal vitória?
«A grande redenção se consumará na forma de um cântico. E esse cântico reunirá em um todo o significado da antiga lei, mediante a qual os homens foram levados a apreender o caráter de Deus. Quando pensamos sobre os muitos hinários cristãos, que falam apenas de alguns aspectos de nossa experiência cristã, sentimo-nos prontos a pensar na nova apreciação com que correntes inteiras de experiência, entre os homens e Deus. serão mescladas no cântico dos santos vitoriosos, sobre o mar de vidro e fogo·.
(Hough, in loc.). (Quanto a notas expositivas completas sobre a «música·, como um dos instrumentos de adoração, ver Col. 3:16).
CHAMPLIN, Russell Norman, O Novo Testamento Interpretado versículo por versículo. Editora Candeias. Vol. 6. pag. 580.

A travessia do mar.

1. Cantarei a YHWH porque triunfou gloriosamente. A métrica é forte e ousada, e o pensamento simples, embora profundo, ao passo que a linguagem é cheia de arcaísmos. Tudo isto sugere uma data bem remota. Davies ressalta a importância da palavra “ porque” neste versículo. Normalmente, nos salmos de Israel essa palavra apresenta a razão por que Deus está sendo louvado (por exemplo SI 9:4). A natureza precisa do ato divino é explicada numa espécie de apêndice, escrito em prosa, no versículo 19.
Triunfou gloriosamente. Melhor traduzindo, “ levantou-se, subiu” (como uma onda). A palavra é usada tanto num mau sentido (descrevendo o orgulho) quanto no bom sentido (descrevendo um triunfo), como aqui. Em Ezequiel 47:5 a palavra é usada para um rio cujas águas sobem na enchente.

2. O SENHOR. Aqui o hebraico usa a forma abreviada, YH, em lugar da mais longa, YHWH, como nos versículos 1 e 3. Esta é a formado nome divino que aparece em nomes próprios, e na exclamação comum “ aleluia” , ou “ louvai a YH“ . Comparar com Salmo 118:14.
O meu cântico. Cross e Freedman traduzem zimrãt por “ defesa” ou “ defensor” , ao invés de “ cântico” . Esta outra tradução se encaixa melhor com o contexto, tem o apoio da LXX e é baseada num termo cognato em árabe. Caso correta, a mesma tradução se aplicaria ao Salmo 118:14, etc.
Eu o louvarei. Esta palavra não ocorre em nenhum outro lugar no Velho Testamento. A tradução é mera conjectura, baseada no paralelismo e em palavras semelhantes em outras línguas semíticas. Este é um dos muitos arcaísmos do cântico.

3. Homem de guerra. “ Guerreiro” seria a tradução em português cotidiano. Compare o título YHWH Sabaoth, “ SENHOR dos exércitos” ou “ SENHOR das hostes” .

5. Profundezas é uma palavra rara, descrevendo talvez com seu som o barulho e o borbulhar das ondas quebrando sobre os egípcios.
Quanto à símile, ver Jeremias 51:63,64: assim, Babilônia, inimiga de Deus, afundara como uma pedra.

8. Com o resfolgar das tuas narinas. Esta é a interpretação teológica do “ vento oriental” que Deus enviara para secar o mar (cf SI 18:15). Os antropomorfismos são comuns em toda espécie de poesia e a natureza poética da passagem nos adverte a não tomarmos literalmente a expressão “ amontoaram-se as águas” .

9. Perseguirei, alcançarei. A rima ternária deste versículo é ao mesmo tempo impressionante e primitiva em sua simplicidade; compare o cântico de Débora em Juizes 5.
A minha mão os destruirá. O forte termo hebraico empregado aqui com sua terminação arcaica significa realmente “ desapossar” , e é usado constantemente mais tarde para descrever a expulsão dos cananeus por Israel e a ocupação de Canaã. Na boca dos egípcios, o termo contém ironia poética, quando aplicado a Israel.

10. Afundaram-se. Melhor dizendo, “foram ao fundo borbulhando”, em meio aos redemoinhos mencionados acima (v. 5).
Chumbo assume aqui o lugar de “ pedra” na símile anterior (v. 5) como símbolo natural de peso.

11. Quem é como tu entre os deuses? Eis aqui a “monolatria” dos primeiros dias de Israel (a insistência no culto exclusivo a YHWH) que levaria mais tarde a um monoteísmo absoluto e dogmático (a negação absoluta de qualquer outro deus que não YHWH), como em Isaías 45:5. YHWH pertence a uma espécie diferente da dos outros deuses ou “ poderosos” , cuja existência não é afirmada nem negada, mas ignorada, para todos os efeitos práticos. Salmo 97:7 faz com que todos esses seres, caso existam, se curvem perante YHWH: em dias mais recentes, tais seres eram considerados simples poderes angélicos, subservientes a Ele.

12. A terra os tragou. Mais uma vez o sufixo verbal arcaico.. Tal como a fenda no deserto engoliria Coré, Data e Abirão (Nm 16:31), assim o mar engoliu o exército egípcio. Talvez eres, “ terra” , tenha aqui o sentido encontrado em ugarítico, “ mundo subterrâneo” : ver Hyatt.
15:13-18. A marcha para Canaã. Alguns estudiosos pensam que a segunda parte do cântico1 de Moisés foi escrita depois da ocupação de Canaã, de que trata. Especificamente, alguns entendem que os versículos 13 e 17 fazem referência ao Monte Sião e ao Templo de Salomão, mas tal inferência é desnecessária. Ambas as frases são arcaicas e existem paralelos bem mais antigos, na literatura de Ras Shamra. O tempo passado empregado em toda a seção pode ser “ perfeitos proféticos” , em que acontecimentos futuros são descritos como se já tivessem acontecido.
Tal uso do perfeito era comum em tempos remotos e particularmente comum nos livros proféticos do Velho Testamento.

13. Beneficência., Esta palavra, frequentemente traduzida por “ misericórdia” , é (juntamente com “ verdade” ) a grande expressão da aliança no Velho Testamento, descrevendo a infalível atitude de amor demonstrada por Deus para com Seu povo (34:7). Em troca, Deus exige
este mesmo amor de seu povo (Os 6:6).
Salvaste. Deus aparece aqui como o gõ êl, o “ parente resgatador” de Seu povo escolhido, Israel. Ver também o comentário de 6:6, acima.
Com a tua força. Devido à fraseologia, muitos comentaristas veem esta frase como uma referência à arca, símbolo da presença e da direção divinas, levada adiante do povo em sua marcha (Nm 10:33). Isso é possível, mas desnecessário; a mesrha palavra traduzida por “ força” é usada em relação a YHWH no versículo 2, onde qualquer referência à arca é impossível. Se a habitação da tua santidade se refere a Jerusalém e ao templo, isso demonstraria claramente uma data mais recente; a referência, todavia, pode ser simplesmente geral.1 É verdade que em 2 Samuel 15:25 a palavra se refere ao santuário, mas em Jeremias 25:30 o seu sentido é geral. O hebraico neweh significa “ pasto” , daí talvez aprisco e, mais geralmente, qualquer lar. Aqui, pode significar toda a terra de Canaã, para a qual Israel se destina.

14. Os habitantes da Filístia. O país não poderia ter sido conhecido por este nome senão depois da chegada dos filisteus em 1188 A.C., de modo que esta frase ao menos deve datar de depois da conquista. A lista de nações oferecida aqui vem em ordem aproximada, como quando
se vem do Egito em rumo nordeste.

15. Os príncipes de Edom. ’allüpim, “ chefes de clã” (ver 12:37 quanto ao possível significado “ clã” para a palavra ’ele, normalmente traduzida “ mil” ) é um termo técnico para designar os líderes edomitas (cf Gn 36:15-19). Eles parecem ter ocupado posição algo inferior à de um rei. É razoável, portanto, presumir que os poderosos de Moabe ( ’êlim, literalmente “ carneiros” ) é também um termo técnico. Outros veem uma referência aos grandes apriscos de Moabe (2 Rs 3:4).

16. Até que passe o teu povo. Ou “ atravesse” . A referência pode
ser à passagem de Israel pelos territórios de Edom e Moabe (Dt 2) ou,
mais provavelmente, à travessia do Jordão (Js 3), que levaria mais diretamente à ocupação de Canaã.
O povo que adquiriste. A palavra normalmente significa “ adquirir com dinheiro” . É uma palavra arcaica, usada em forma participial em Gênesis 14:22 como um título divino, traduzida na versão da SBB “ que possui” . Hyatt, com base nisso, prefere traduzir “ criaste” aqui.

17. Monte da tua herança. A frase pode significar “ a região montanhosa de Israel, tua herança” (para uma referência a Israel como herança de Deus, ver 34:9), mas em vista de paralelos na' literatura ugarítica a tradução da SBB deve ser preferida. Por causa dos paralelos, não há necessidade de presumir uma referência direta ao Monte Sião ou ao Templo de Salomão: a data pode ser coincidente com Moisés.
O lugar... para tua habitação. 1 Reis 8:13 usa esta terminologia em referência ao Templo: a referência pode ser a Siló, ou qualquer outro centro primitivo de adoração em Israel.
No santuário. Esta palavra é neutra e significa apenas “ lugar santo ” , embora em dias mais recentes fosse usada com relação ao Templo (como O grande lugar santo).
R. Alan Cole, Ph. D. ÊXODO Introdução e Comentário. Editora Vida Nova. pag. 119-122.
2. Miriã juntamente com as mulheres louvam a Deus (Êx 15.20,21).
Em seguida ao cântico de Moisés, temos a antífona de Miriã e das mulheres. Miriã, irmã de Arão e Moisés, era profetisa. Aliás, ela é a primeira profetisa mencionada na Bíblia.
Miriã, apesar de também irmã de Moisés, aparece na Bíblia mais associada a Arão do que a Moisés. Nessa passagem, ela aparece tocando um tamboril, ou seja, um pandeiro, e cantando e dançando com as mulheres, num momento de grande alegria pelo que Deus fizera. Obviamente, quando o texto bíblico diz que elas dançavam, não está se referindo a nenhum movimento corporal escandaloso, mas a atos e gestos alegres e solenes de louvor e adoração.
Provavelmente, quando o texto bíblico diz que Miriã “respondia” (Ex 15.21), está querendo dizer que ela cantava as palavras do seu refrão “como resposta a cada uma das partes do Cântico de Moisés”. Outro detalhe aqui é que vemos a profecia relacionada com a adoração, o que é comum também em outras partes do Antigo Testamento, como nos Salmos e no registro de 1 Crônicas 25.1.
COELHO, Alexandre; DANIEL, Silas. Uma Jornada de Fé. Moisés, o Êxodo e o Caminho a Terra Prometida. Editora CPAD. pag. 56-57.

O LOUVOR A DEUS

Sl 9.1,2 “Eu te louvarei, SENHOR, de todo o meu coração; contarei
todas as tuas maravilhas. Em ti me alegrarei e saltarei de prazer;
cantarei louvores ao teu nome, ó Altíssimo.”

A IMPORTÂNCIA DO LOUVOR. A Bíblia constantemente exorta o povo de Deus a louvar ao Senhor.

(1) O AT emprega três palavras básicas para conclamar os israelitas a louvarem a Deus: a palavra barak (também traduzida “bendizer”); a palavra balal (da qual deriva a palavra “aleluia”, que literalmente significa “louvai ao Senhor”); e a palavra yadah (às vezes traduzida por “dar graças”).

(2) O primeiro cântico na Bíblia, entoado depois de os israelitas atravessarem o mar Vermelho, foi, em síntese, um hino de louvor e ação de graças a Deus (Êx 15.2). Moisés instruiu os israelitas a louvarem a Deus pela sua bondade em conceder-lhes a terra prometida (Dt 8.10). O cântico de Débora, por sua vez, congregou o povo expressamente para louvar ao Senhor (Jz 5.9). A disposição de Davi em louvar a Deus está gravada, tanto na história da sua vida (2Sm 22.4,47,50; 1Cr 16.4 ,9, 25, 35, 36; 29.20), como nos salmos que escreveu (9.1,2; 18.3; 22.23; 52.9; 108.1, 3; 145). Os demais salmistas também convocam o povo de Deus a, enquanto viver, sempre louvá-lo (33.1,2; 47.6,7; 75.9; 96.1-4; 100; 150). Finalmente, os profetas do AT ordenam que o povo de Deus o louve (Is 42.10,12; Jr 20.13; Sl 12.1; 25.1; Jr 33.9; Jl 2.26; Hc 3.3).

(3) O chamado para louvar a Deus também ecoa por todo o NT. O próprio Jesus louvou a seu Pai celestial (Mt 11.25; Lc 10.21). Paulo espera que todas as nações louvem a Deus (Rm 15.9-11; Ef 1.3,6,12) e Tiago nos conclama a louvar ao Senhor (Tg 3.9; 5.13). E, no fim, o quadro vislumbrado no Apocalipse é o de uma vasta multidão de santos e anjos, louvando a Deus continuamente (Ap 4.9-11; 5.8-14; 7.9-12; 11.16-18).

(4) Louvar a Deus é uma das atribuições principais dos anjos (103.20; 148.2) e é privilégio do povo de Deus, tanto crianças (Mt 21.16; ver Sl 8.2), como adultos (30.4; 135.1,2, 19-21). Além disso, Deus também conclama todas as nações a louvá-lo (67.3-5; 117.1; 148.11-13; Is 42.10-12; Rm 15.11). Isto quer dizer que tudo quanto tem fôlego está convocado a entoar bem alto os louvores de Deus (150.6). E, se tanto não bastasse, Deus também conclama a natureza inanimada a louvá-lo — como, por exemplo, o sol, a lua e as estrelas (148.3,4; cf. Sl 19.1,2); os raios, o granizo, a neve e o vento (148.8); as montanhas, colinas, rios e mares (98.7,8; 148.9; Is 44.23); todos os tipos de árvores (148.9; Is 55.12) e todos os tipos de seres vivos (69.34; 148.10).
STAMPIS. Donald C. (Ed) Bíblia de Estudo Pentecostal: Antigo e Novo testamento. Rio de Janeiro: CPAD, 1995.
Êx 15.20 A profetisa. Essa é a primeira ocorrência desse vocábulo na Bíblia. Ver a respeito no Dicionário, como também os verbetes intitulados Profecia, Profetas e Dom de Profecia. Como profetisa, Miriã não era necessariamente alguém que predizia o futuro, mas alguém dotado de autoridade no culto a Yahweh, como auxiliar de seu irmão, Moisés. Talvez ela tenha sido investida de autoridade especial como líder das mulheres de Israel. Nós a vemos aqui a dirigir o coro feminino que efetuou uma dança comemorativa da vitória sobre o exército egípcio. Podemos supor que outras funções religiosas parecidas eram dirigidas por ela. Ver Miq. 6.4 e I Sam. 18.6,7.
Com danças.
Disse-me pessoalmente, de certa feita, um oficial judeu: “O povo de Israel é um povo de música, vinho e dança”. Nos cultos religiosos de Israel, a dança aparece como um dos elementos, posto que não obrigatoriamente, pois sempre se tratava de uma manifestação espontânea.
A menção ao tamborim faz-nos lembrar que os hinos litúrgicos, com frequência, mencionam esse instrumento, segundo se vê nos cabeçalhos de vários dos Salmos da Bíblia. Ver Sal. 33, 92, 98 e 150, como exemplos disso.
Outras Profetisas Mencionadas na Bíblia. Ver Juí. 4.4; II Reis 22.1; Isa. 8.3; Luc. 2.36. As diaconisas ocupavam posto similar, mas não idêntico (Rom. 16.1). Em Israel (tal como na Igreja cristã) havia 0 ofício ou dom de profetisas. Mas às mulheres era vedado 0 oficio sacerdotal. Sem dúvida isso deveria servir-nos de precedente quanto ao Novo Testamento. Em certos grupos evangélicos modernos encontramos “pastoras”. Mas isso está inteiramente fora de ordem, em face das Escrituras Sagradas. Ver I Tim. 2.12.
Êx 15.21 Este versículo é igual à Êxo. 15.1, que introduz o cântico de Moisés. Muitos eruditos supõem que, originalmente, tenha sido extraído do cântico de Miriã, a fim de introduzir o hino combinado dos dois.
Seja como for, os dois hinos-poemas vieram a ser vinculados. Mas talvez desde o começo tenha sido assim. Ver notas completas sobre isso em Êxo. 15.1. Alguns pensam que este versículo opera como uma espécie de refrão, uma síntese do que Moisés já havia dito, mostrando as ideias prioritárias da composição.
Ό cântico de Miriã, um dos mais antigos duos poéticos do Antigo Testamento, provavelmente foi composto por uma testemunha ocular do evento” (Oxford Annotated Bible, in loc).
CHAMPLIN, Russell Norman, Antigo Testamento Interpretado versículo por versículo. Editora Hagnos. pag. 369-370.
Êx 15:19-21. Resumo em prosa e cântico de Miriã. Conforme mencionado acima, o breve dístico do cântico de Miriã é sem dúvida arcaico: pode ser comparado ao cântico de Débora em Juízes 5. No entanto, nada acrescenta ao cântico de Moisés.

20. A profetisa. Tal como Débora (Jz 4:4). A palavra é muito menos comum que a forma masculina. Moisés, em dúvida, é considerado um profeta no Pentateuco (na verdade como o padrão da função é condição de profeta, Dt 34:10); o significado de “ profetisa” neste contexto não é claro. Em Números 12:2 Miriã reivindica ter falado pelo SENHOR, tal como Moisés; em Números 12:6 o profeta é definido como aquele que tem visões ou sonhos (embora Moisés seja colocado numa classe à parte). O fato de Miriã (o mesmo nome que aparece como “ Maria” no Novo Testámento) ser apresentada aqui como “ irmã de Arão” e não “ irmã de Moisés” levou alguns a concluir que ela e Moisés eram apenas meio-irmão. Não há qualquer evidência em favor desta hipótese, a não ser a evidência negativa da narrativa do nascimento de Moisés; a irmã mencionada ali, todavia, não é especificamente chamada pelo nome Miriã. O hebraico ’ãhôt pode significar tanto “irmã” quanto “ meia-irmã” .
Um tamborim. Apenas um tamborim ou pandeiro comum, sem o couro usado para percussão, ou talvez um pequeno tambor, como sugerido pela palavra onomatopaica. As mulheres normalmente cantavam e dançavam por ocasião de vitórias militares e não em cerimônias litúrgicas.
Para encontrar um exemplo de cântico de vitória, ver 1 Samuel 18:6: em Juizes 21:21, entretanto, as mulheres parecem estar dançando em um festival de outono, portanto litúrgico. Aqui em Êxodo, a música parece ser espontânea, não organizada, mas isso provavelmente se aplicava a toda música naqueles dias. Em tempos mais recentes, as mulheres desempenhavam um papel peculiar como cantoras fúnebres (Am 8:3; 2 Cr 35:25) e ainda mais recentemente os cantores do templo incluíam mulheres (Ed 2:65; Ne 7:67) e mulheres cantoras eram parte do tributo exigido a Ezequias pelos assírios. Algumas dessas cantoras, naturalmente, poderiam ser cantoras seculares e não religiosas, embora tal distinção fosse pouco provável em Israel, pelo menos nos primórdios de sua história.
R. Alan Cole, Ph. D. ÊXODO Introdução e Comentário. Editora Vida Nova. pag. 122-123.
Os Levitas Músicos (25.1-31)

Conteúdo do Capitulo:

1. Os líderes, cabeças dos levitas músicos, eram Asafe, Hemã e Jedutum (vss. 1 -6).

2. Os clãs (e descendentes) foram distribuídos por sortes, em vinte e quatro turnos, para servirem juntamente com os vinte e quatro turnos dos sacerdotes e levitas auxiliares (vss. 8-31). Ver a divisão dos levitas sacerdotais e ajudantes (não-aarônicos) em vinte e quatro turnos, no capitulo 24.
Caracterização Geral, “Davi organizou os músicos (vss. 1-8), correspondentes às vinte e quatro divisões dos sacerdotes (capitulo 24), e projetou vinte e quatro divisões dos músicos, arranjados sob os três grandes nomes, Asafe, Hemã e Jedutum. Cf. I Crô. 6.31-48; 15.16-24; 16.4-7,34-72; 23.5. Aqui Jedutum toma o lugar de Etã, o nome citados nas outras listas. De acordo com I Crô. 23.5, o número total de músicos era de cerca de 4,000; mas aqui (vs. 7) somente 288 (24 x 12) são considerados" (Oxford Annotated Bible, na introdução ao capitulo 25).
Músicos Proféticos. O versículo primeiro evidentemente significa mais do que os músicos acompanhavam o trabalho sacerdotal com cânticos e instrumentos. Quase certamente, devemos compreender que esses homens produziam declarações proféticas quando estavam em estado de êxtase, induzidos pela música rítmica. Esse uso da música è bem conhecido na tradição mística, e tem sido correntemente empregado, quer sem intenção, como no caso de místicos amadores, quer propositadamente, por místicos profissionais que conhecem o poder da música.
Esses profetas profissionais, que produziam em seu êxtase declarações proféticas por meio da música, faziam parte do pessoal do templo. Havia uma subdivisão da tradição profética Isso não significa, naturalmente, que todas (ou mesmo a maioria) de suas declarações fossem realmente inspiradas pelo Espirito de Deus. No misticismo ocorre toda espécie de coisas produzidas pelos poderes psíquicos dos homens, bons ou maus, aos quais não devemos ser tentados a chamar de divinos.
I Cro 25.1 Davi, juntamente com os chefes do serviço. O ministério do templo incluía, em base regular, o uso da música, tanto sob a forma de canto como sob a forma de instrumentos musicais. Na introdução ao capítulo, dou várias referências a este fato. Quatro mil músicos estavam envolvidos, mas 288 atuavam no templo (vs. 7). Cada turno tinha doze participantes, e podemos deduzir dai que estavam envolvidos vinte e quatro turnos, pois 24 x 12 = 288. Além disso, com base nos vss. 9 ss., é mencionado especificamente doze como o número dos participantes nos vinte e quatro turnos. Esses vinte e quatro turnos pertenciam a três grandes clãs musicais, cujos cabeças originais (e antepassados) foram Asafe. Hemã e Jedutum (vs. 1). Jedutum pode ter sido outro nome para Etã, citado nas outras listas que tratam do assunto. Ver I Crô. 15.7,19. Cf. I Crô. 23.2 e 24.6. Os vinte e quatro turnos dos levitas sacerdotais eram ajudados por vinte e quatro turnos de levitas profetas-músicos, e, sem dúvida, o lançamento de sortes era usado para selecionar e nomear cada grupo e o período de serviço.
Para profetizarem com harpas, alaúdes e címbalos. Isso implica mais do que dizer que eles entoavam cânticos espirituais com um conteúdo profético. O que acontecia era mais do que uma proclamação musical da revelação divina. Ver I Sam. 10.5; II Reis 3.15. Aqueles homens usavam a musica para induzir o êxtase e o transe, e, nessa condição, profetizavam ou davam supostas declarações inspiradas. Em outras palavras, eles formavam uma subdivisão da tradição profética,
O poder da música para produzir o transe e o êxtase é bem conhecido, sendo empregado, com esse propósito, por muitos ramos da tradição mística. Chico Xavier produz seus transes por meio da música; os crentes pentecostais fazem- no através de sua música rítmica e alta, acompanhada por palmas; os africanos pagãos recorrem a atabaques e cânticos; os hindus, assim como os budistas, também valem-se de cânticos. Além disso, no Brasil, temos vários ramos do espiritismo, especialmente os que sofrem a influência africana, que usam a música e a dança para induzir o transe e o êxtase. Quanto disso, no judaísmo, no cristianismo, nas religiões e culturas não-cristãs, pode ser atribuído a bons poderes espirituais, ao Espirito de Deus, a bons poderes espirituais inferiores, como o dos anjos, é algo aberto à questão. O transe e o êxtase podem ser postos a funcionar para promover toda espécie de expressão espiritual, boa ou má. Não é necessário supor que tudo quanto acontecia no judaísmo (dessa natureza) ou no cristianismo primitivo (ou dos nossos dias) fosse bom ou espiritual. Poderes psíquicos humanos e naturais podem produzir coisas realmente fantásticas. Algumas vezes o Espírito Santo está envolvido, mas com muita frequência é bastante arriscado tentar adivinhar. Ver no Dicionário o artigo intitulado Música, Instrumentos Musicais.
CHAMPLIN, Russell Norman, Antigo Testamento Interpretado versículo por versículo. Editora Hagnos. pag. 1625.
As famílias e os turnos de cantores (25.1-31). Os músicos também foram escolhidos por sortes e divididos em 24 turnos. Davi reconhecia, como Samuel, a importância da música na adoração. Profetizarem com harpas (1) era louvar a Deus com voz e instrumentos (1 Sm 10.5). O sorteio incluiu os mais velhos e os mais jovens, professores e alunos, talentosos, e nem tanto. Consequentemente, os quatro mil levitas indicados para o serviço do canto incluíam o que havia de melhor. Ao mesmo tempo, os jovens e não muito talentosos estudantes podiam tirar vantagem da sua oportunidade de melhorar e dar o melhor de si a Deus.
Robert L. Sawyer. Comentário Bíblico Beacon. Editora CPAD. Vol. 2. pag. 437

3. Celebrando a Deus.

MOTIVOS PARA LOUVAR A DEUS. Por que o povo louva ao Senhor?

(1) Uma das evidentes razões vem do esplendor, glória e majestade do nosso Deus, aquele que criou os céus e a terra (96.4-6; 145.3; 148.13), aquele a quem devemos exaltar na sua santidade (99.3; Is 6.3).

(2) A nossa experiência dos atos poderosos de Deus, especialmente dos seus atos de salvação e de redenção, é uma razão extraordinária para louvarmos ao seu nome (96.1-3; 106.1,2; 148.14; 150.2; Lc 1.68-75; 2.14, 20); deste modo, louvamos a Deus pela sua misericórdia, graça e amor imutáveis (57.9, 10; 89.1,2; 117; 145.8-10; Ef 1.6).

(3) Também devemos louvar a Deus por todos os seus atos de livramento em nossa vida, tais como livramento de inimigos ou cura de enfermidades (9.1-5; 40.1-3; 59.16; 124; Jr 20.13; Lc 13.13; At 3.7-9).

(4) Finalmente, o cuidado providente de Deus para conosco, dia após dia, tanto material como espiritualmente, é uma grandiosa razão para louvarmos e bendizermos o seu nome (68.19; 103; 147; Is 63.7; ver o estudo A PROVIDÊNCIA DIVINA ).
STAMPIS. Donald C. (Ed) Bíblia de Estudo Pentecostal: Antigo e Novo testamento. Rio de Janeiro: CPAD, 1995.
Salmos 100.1 Celebrai com júbilo ao Senhor. Ver o Salmo 98,4, quanto a uma declaração virtualmente idêntica, a qual, de acordo com algumas traduções, diz “todas as terras” (como é o caso de nossa versão portuguesa), em lugar de “todas as nações”. O culto dos hebreus era ruidoso, pois o coro cantava, os instrumentos tocavam, as trombetas sopravam e as mulheres dançavam. Sal. 98.5-8 fornece uma descrição completa, pelo que não repito aqui a informação. O povo seguia em cortejo na direção do templo de Jerusalém (vs. 2) e cantava o tempo todo. Eles entoavam hinos dentro dos portões do templo, realizavam sacrifícios e apresentavam votos nacionais e pessoais. Entrementes, prosseguiam o ruído elevado e as ações de graças. Ver no Dicionário os verbetes chamados Alegria; Louvor e Ações de Graças. Cf. também Sal. 96.1, um tanto mais elaborado, porém idêntico em essência. Este salmo não se refere diretamente à entronização de um rei, nem menciona especificamente a entronização anual de Yahweh por ocasião da festa do Ano Novo, mas atua como uma doxologia para a pequena coletânea que se pautava pelo tema (ver Salmos 93 e 95 a 99).
Todas as terras. Ver Sal. 96.1; 97.1 e 98.4. A universalidade do culto a Yahweh é enfatizada aqui, tendo o Senhor se tornado o Rei de todas as nações. Este é um dos principais temas dos salmos de entronização. Foi também um tema muito repetido do judaísmo posterior, e podemos supor com segurança que este salmo seja pós-exílio.
CHAMPLIN, Russell Norman, Antigo Testamento Interpretado versículo por versículo. Editora Hagnos. pag. 2366.
Este breve cântico é semelhante ao Salmo 95, e pode ter sido cantado na procissão dos adoradores à medida que se aproximavam do Templo com suas ofertas de gratidão.
Perowne considera este salmo uma doxologia do grupo de salmos que inicia com o Salmo 95. Ele cita Delitzsch: “Entre os Salmos de triunfo e ações de graça este se sobressai, como que elevando-se até o ponto mais alto de alegria e majestade”.28
1. As Obras do Senhor (100.1-3)
Deus deve ser glorificado por suas obras criativas com júbilo (1), com alegria e com canto (2). A obrigação de louvar é universal — todos os moradores da terra (1). O que identifica O Senhor de Israel como o verdadeiro Deus é que foi ele, e não nós, que nos fez povo seu (3). Não existem, na verdade, homens “feitos por si próprios”. O versículo 3 é paralelo a Salmos 95.6-7 (q.v.).
W. T. Purkiser, M.A.. Comentário Bíblico Beacon. Editora CPAD. Vol. 3. pag. 264-265.

II - A PROTEÇÃO E O CUIDADO DE DEUS COM SEU POVO

1. Uma coluna de nuvem guiava o povo de Deus (Êx 13.21,22; 40.36,37).
O Anjo de Deus e a Coluna de Nuvem
"E o Anjo de Deus, que ia diante do exército de Israel, se retirou, e ia atrás deles; também a coluna de nuvem se retirou diante deles e se pôs atrás deles. E ia entre o campo dos egípcios e o campo de Israel; e a nuvem era escuridade para aqueles e para estes esclarecia a noite; de maneira que em toda a norte não chegou um ao outro" (versículos 19- 20). O Senhor colocou-Se exatamente entre Israel e o inimigo—isto era verdadeira proteção. Antes que Faraó pudesse tocar num cabelo da cabeça de Israel, teria que atravessar o pavilhão do Todo Poderoso —, sim, o Próprio Todo-Poderoso. É assim que Deus sempre Se interpõe entre o Seu povo e todo o inimigo, de forma que "toda a ferramenta preparada contra" eles "não prosperará" (Is 54:17). Ele pôs-Se entre nós e os nossos pecados, e é nosso privilégio encontrá-Lo entre nós e todo aquele ou coisa que possa ser contra nós. Este é o único meio de encontrarmos tanto a paz de coração como a paz de consciência. O crente pode buscar os seus pecados com ansiedade e diligência sem conseguir encontrá-los. Por quê? Porque Deus está entre ele e os seus pecados. O Senhor lançou para trás das Suas costas todos os nossos pecados; enquanto que, ao mesmo tempo, faz brilhar sobre nós a luz do Seu semblante.
Da mesma maneira, o crente pode buscar as suas dificuldades, e não as encontrar, porque Deus está entre ele e as dificuldades. Se, portanto, em vez de nos determos com os nossos pecados e as nossas dores, nos apoiássemos somente em Cristo, o cálice amargoso seria adoçado e muitas horas negras seriam iluminadas. A verdade é que muitas vezes descobrimos que nove décimos das nossas dores e provações se compõem de males antecipados ou imaginários, que só existem no nosso espírito desordenado, porque é incrédulo. Deus permita que o leitor conheça a paz inabalável tanto do coração como da consciência, que resulta de ter a Cristo, em toda a Sua plenitude, entre si e todos os seus pecados e todas as suas dores.
É, ao mesmo tempo, solene e interessante notar o aspecto duplo da "coluna de nuvem", neste capítulo. E a nuvem era escuridão para os egípcios, mas para Israel "esclarecia a noite".
Que semelhança com a cruz de nosso Senhor Jesus Cristo! Verdadeiramente, essa cruz tem, do mesmo modo, um duplo aspecto. Constitui a base da paz do crente; e, ao mesmo tempo, sela a condenação de um mundo culpado. O mesmíssimo sangue que purifica a consciência do crente e lhe dá paz mancha este mundo e consuma o seu pecado. A mesmíssima missão do Filho de Deus, que despojou o mundo da sua capa e o deixa inteiramente sem desculpa, veste a Igreja de um manto formoso de justiça e enche a suaboca de louvor incessante. O próprio Cordeiro de Deus que encherá de terror, com a grandeza da Sua ira, todas as tribos e povos da terra, conduzirá pela Sua mão bondosa o rebanho que comprou com o Seu precioso sangue através de verdes pastos e a águas tranquilas (comparem-se Ap 6:15 -17 com 7:17).
C. H. MACKINTOSH. Estudos Sobre O Livro De Êxodo. Editora Associação Religiosa Imprensa da Fé.
Êx 13.21 Coluna de nuvem... coluna de fogo. A coluna de nuvem servia para proteger os israelitas do calor do dia e para guiá-los pelo caminho; a de fogo conferia-lhes calor, conforto e orientação durante a noite. O autor continuava a salientar a providência de Deus questão importantíssima do Pentateuco, abordada no Dicionário com esse título. Conforme diz um antigo hino: “Deus guia Seus filhos ao longo do caminho”.
As nuvens eram emblema da presença de Deus com os filhos de Israel, de dia e de noite. Deus nunca está distante, embora para nós possa parecer assim. Algumas vezes, Israel jornadeava durante a noite, a fim de evitar o calor estorricam-te do deserto. Ver Núm. 9.21.
O Senhor. Chamado de Anjo do Senhor em Êxo. 14.19 e 23.20.
A nuvem representa Cristo (Apo. 10.1). Os estudiosos usam muito a sua imaginação, ao tentarem descrever o que isso significaria. Assim, eles dizem que o fogo era a lei esfogueada, um presente protetor que Deus teria usado para envolver os Seus filhos. Cristo é a Luz, não nos devemos olvidar. Uma excessiva cristianização dos textos do Antigo Testa- mento, com frequência, nos desvia da correta interpretação. Mas se considerarmos que esses detalhes eram simbólicos apenas, não encontraremos dificuldades. Cf. Sal. 105.39 e Isa. 45; e ver Núm. 9.16-18. “A coluna era, ao mesmo tempo, um sinal e um guia. Quando a nuvem se movia de lugar, 0 povo a seguia. Quando a nuvem estacava, 0 povo parava e se acampava (Êxo. 40.36-38)” (Ellicott, in loc.).
Êx 13.22 Nunca se apartou... a nuvem. Vemos aí a constância do Senhor. Desde o começo, a nuvem acompanhou os filhos de Israel, enquanto estiveram fora da Terra Prometida. “Isso prosseguiu até terem atravessado o deserto e chegado às fronteiras da terra de Canaã, quando ela não mais era necessária; e então a nuvem os deixou; pois, quando atravessaram o rio Jordão, a arca ia adiante deles (Jos. 3.6” (John Gill, in loc.). Cf. Êxo. 40.38; Núm. 9.16 e 10.34.
O texto sagrado é valioso quanto a sentidos metafóricos e simbólicos, visto que, em cada geração, pessoas espirituais precisam da constante orientação de Deus. Outros sim, algumas vezes essa orientação assume uma forma miraculosa.
CHAMPLIN, Russell Norman, Antigo Testamento Interpretado versículo por versículo. Editora Hagnos. pag. 359.
Êx 13. 21. Numa coluna de nuvem. O hebraico significa, literalmente, “ algo que permanece em pé” . Pode-se argumentar que esse conceito sugere a presença contínua de Deus. Este símbolo da presença divina tanto podia guiar e iluminar o caminho (como aqui) quanto proteger dos inimigos (14:19,20). Às vezes a nuvem aparece descendo sobre a tenda da congregação, quando o Senhor falava com Moisés (33:9). Em outras ocasiões a nuvem aparece pairando sobre a tenda, até chegar a hora de Israel levantar acampamento, quando ela então se moveria (40:34-38). Nuvem e fogo frequentemente estão associados a Deus como símbolos; é assim que Deus fala a Moisés no Monte Sinai do meio da nuvem e do fogo (19:18; cf Mt 17:5 e Atos 1:9 como paralelos no Novo Testamento). O simbolismo do fogo é bem claro: a nuvem provavelmente simboliza o mistério de Deus, como a escuridão. Se nos perguntarmos que método Deus usou para produzir tal efeito, podemos apenas nos aventurar a fazer suposições, que podem ser incorretas, sem rejeitar, de maneira alguma, e interpretação da fé. Este fato era, portanto, uma simples manifestação sobrenatural, uma visão produzida na mente dos homens, ou então um objeto natural usado por Deus como símbolo da Sua presença. Nesta última hipótese, pode ter sido uma espécie de redemoinho do deserto (tal como o vento chamado “ willywilly’ ’ do deserto australiano) que pode produzir colunas girantes de fina areia que pairam e se movem sobre o deserto; pode ainda ter sido a coluna de fumaça que subia no ar puro do deserto dos sacrifícios e do incenso oferecidos à frente da tenda da congregação, iluminada à noite com o reflexo do fogo sacrificial. Fosse o que fosse, Deus o usou para simbolizar Sua própria presença entre os israelitas.
R. Alan Cole, Ph. D. ÊXODO Introdução e Comentário. Editora Vida Nova. pag. 114-115.
Manifestação de Divina Aprovação (40.34-38)
Êx 40.34,35 “O livro de Êxodo termina em um tom glorioso, com a descida da presença do Todo-Poderoso sobre a casa levantada pela habilidade e devoção do povo de Israel. Temos aí o cumprimento da promessa feita em Êxo. 25.8: Έ me farão um santuário para que eu possa habitar no meio deles'. O povo havia feito a parte que lhe cabia: e agora Deus fazia a Sua parte, e a nuvem, de dia, e a coluna de fogo, de noite, testificavam que Ele estava, verdadeiramente, vivendo no meio deles” (J. Coert Rylaarsdam, in loc).
Não nos basta ler a Bíblia e orar. Precisamos também cio toque místico, de manifestações da presença de Deus.
A nuvem. Temos aí a mesma nuvem que tinha acompanhado o povo de Israel e que os tinha dirigido pelo caminho desde Sucote (Êxo. 13.20-22). Diz um antigo hino: “Por todo o caminho o Senhor me guia, sobre o que tenho que pedir". A brilhante aparição da nuvem, que viera repousar sobre o tabernáculo, anunciou-lhes que todo o labor deles tinha sido eficaz. “Agradou a Deus manifestar assim Sua intenção de cumprir Sua promessa de ir com 0 povo (Êxo. 33.17)” (Ellicott, in loc).
“E habitarei no meio dos filhos de Israel, e serei o seu Deus” (Êxo. 29.45). “A nuvem, que simbolizava a presença do Senhor, tinha enchido a tenda temporária, fora do acampamento, apenas ocasionalmente (Êxo. 33.7-11). Agora, porém, descera para encher o tabernáculo. De fato, o próprio Moisés, que já havia contem- piado algo da glória de Deus (Êxo. 33.18-22), foi incapaz de entrar no tabernáculo" (John D. Hannah, in loc).
Na dispensação do Novo Testamento, a glória de Deus manifestava-se em Cristo (Heb. 1.3; João 1.14; Col. 2.9). E em Cristo, o próprio crente toma-se habitação da presença de Deus (I Cor. 3.16). Essa presença nos transforma (II Cor. 3.18). Ver também Efé. 2.19 ss.
Êx 40.36,37 A nuvem tornou-se o mecanismo assinalador que dizia a Israel quando deve- ria partir e quando deveria parar. Quando a nuvem baixava, eles descansavam. Quando a nuvem se elevava, eles seguiam caminho. Isso prosseguiu por quase quarenta anos, até terem terminado as jornadas pelo deserto. Isso serve de emblema da direção direta imprimida pelo Espírito de Deus. Todos os homens estão em um deserto espiritual, enquanto buscam um país celeste (ver Heb. 11.16). Na maior parte do tempo, por nossa própria sabedoria e entendimento, podemos discernir a vereda certa pela qual nos convém enveredar. Algumas vezes, porém, carecemos da presença divina para ajudar-nos em nossas decisões. Oh, Senhor, concede- nos tal graça!
O texto presente com Núm. 9.17-23 e Eze. 1.19-21. Ver Êxo. 13.21, um trecho diretamente paralelo a este: as duas nuvens guiavam 0 povo de Israel. As notas, ali, acrescentam detalhes. Ver também, no Dicionário, 0 artigo chamado Coluna de Fogo e de Nuvem. Cf. a glória que desceu sobre 0 templo de Jerusalém, alguns séculos mais tarde (I Reis 8.11; II Crô. 4.15; 7.2).
Êx 40.38 Este versículo faz-nos lembrar que, além da nuvem, também havia 0 fogo, e que essas duas colunas contribuíam para dar orientação a Israel. Há completas descrições sobre a questão no artigo mencionado no vs. 37. Esse versículo frisa a natureza permanente dessa manifestação. Não aparecia e desaparecia. Agora a presença de Deus estava sempre ali, pois o tabernáculo era o ponto focal de sua manifestação. E a perpetuidade dessa manifestação também foi enfatizada em Êxo. 13.21,22 e Nee. 9.19. “.. .sem importar se de noite ou de dia, pois nos países quentes muito se viaja à noite. A nuvem era tanto uma proteção para 0 calor do sol, durante o dia, como uma seta orientadora quanto ao caminho; e, à noite, o fogo desempenhava a mesma função orientadora, como também servia para espantar as feras do deserto, as quais têm medo de fogo, a fim de que Israel caminhasse em segurança. Tudo isso serve de emblema da orientação, da proteção, da luz, da alegria e do consolo que a Igreja de Deus recebe da presença graciosa do Senhor, enquanto se acha no deserto deste mundo. Ver Isa. 4.5,6” (John Gill, in loc.).
Ό livro termina com uma nota fortemente positiva: Deus estava com eles, e os estava guiando até à Terra Prometida” (John D. Hannah, in loc).
O livro de Êxodo diz-nos como o povo de Israel foi libertado de uma potência estrangeira; como foi conduzido ao deserto; como recebeu sua organização religiosa e suas leis; como lhe foi provida a presença de Deus, naquela organização religiosa, a qual os conduziu à independência, à terra que Deus havia prometido a Abraão. Desse modo, estava tendo cumprimento, passo a passo, o Pacto Abraãmico (ver as notas sobre Gên. 15.18). Esse pacto culminou no Messias, Jesus Cristo, e na Nova Fé que Ele trouxe, e que a antiga fé apenas tinha prefigurado.
“Abre-se a porta para o mundo interior e invisível para aqueles que seguem os marcos visíveis que Deus pôs diante de seus pés, por toda a sua jornada” (J. Coert Rylaarsdam, in loc).
“Disse Agostinho que, a principio, as Escrituras divertem e atraem as crianças, mas que, no fim, quando se tenta compreendê-las, Ele cuida para que até mesmo os sábios se tornem tolos. Pois ninguém é dotado de mente tão simples que não possa achar ali o seu nível. Mas também ninguém é tão sábio, quando tenta sondar as Escrituras, que não descubra que elas estão muito além da profundidade dele" (Meister Eckhart, I, 257). Assim acontece à fé religiosa. O exemplo deixado por Israel no deserto demonstra claramente como precisamos da ajuda constante da presença divina, a fim de que nossa jornada seja plena de êxito, desde o berço até o túmulo.
CHAMPLIN, Russell Norman, Antigo Testamento Interpretado versículo por versículo. Editora Hagnos. pag. 471.
Nos versículos 36 a 38, o escritor antecipa o plano de Deus para o futuro. A nuvem e o fogo descansavam sobre o tabernáculo como características permanentes. Sempre que a nuvem se movia, o tabernáculo tinha de pôr-se em movimento; sempre que a nuvem ou o fogo parava, a casa de Deus tinha de parar (36,37). Este padrão se seguiu em todas (38) as jornadas de Israel. Pelo visto, mais tarde a intensidade da glória (35) se limitou ao Lugar Santíssimo, pois os sacerdotes tinham de ministrar no Lugar Santo.
A partir de então os israelitas podiam se alegrar na certeza de que o favor de Deus voltara. O caminho de volta a Deus depois de pecarem fora longo e árduo. Por certo tempo ficaram, talvez, entregues à própria sorte, mas agora sabiam que Deus estava com eles em misericórdia. Com esta observação gloriosa de perdão perfeito e aceitação divina, o Livro de Êxodo, uma narrativa do plano redentor de Deus, chega ao fim. Nestes versículos finais, vemos “A Salvação Perfeita de Deus”. 1) Feita pela obediência implícita de quem o busca, 33; 2) Entrada instantânea à glória divina, 34,35; 3) Presença ininterrupta do Espírito Santo (36-38).
R. Alan Cole, Ph. D. ÊXODO Introdução e Comentário. Editora Vida Nova. pag. 238-239.

2. Deus cuida do seu povo (Êx 16.4; Dt 29.5).
Isto é verdadeiro a nosso respeito em cada fase da nossa história. E verdadeiro quando, como pecadores, sob o sentimento desconcertante que o pecado produz na consciência, somos tentados a recorrer aos nossos próprios feitos, com o fim de conseguirmos alívio. E então que, verdadeiramente, devemos estar "quietos" de forma a podermos ver "a salvação de Deus". Pois que poderíamos nós fazer no caso da expiação pelo pecado? Poderíamos nós ter estado com o Filho de Deus na cruz1?- Poderíamos nós ter descido com Ele ao lago horrível e charco de lodoi (SI 40:2). Teríamos nós podido abrir caminho até essa rocha eterna sobre a qual, na ressurreição, Ele firmou os Seus pés? Todo o espírito reto reconhecerá imediatamente que um tal pensamento seria uma atrevida blasfémia. Deus está só na redenção; e quanto a nós, só temos que "estar quietos e ver a salvação de Deus". O próprio fato de ser a salvação de Deus prova que o homem nada tem a fazer nela. O preceito é verdadeiro a nosso respeito, uma vez que temos entrado na carreira cristã.
Em cada nova dificuldade, quer seja pequena ou grande, a nossa sabedoria consiste que estamos quietos —renunciar às nossas próprias obras e achar o nosso doce repouso na salvação de Deus. Tampouco podemos estabelecer categorias entre as dificuldades. Não podemos dizer que há dificuldades tão insignificantes que podem ser evitadas por nós; ao passo que noutras nada senão a mão de Deus nos pode valer. Não, todas estão de igual modo fora do nosso alcance.
Somos tão incapazes de mudar a cor de um cabelo como de remover uma montanha, de formar uma folha de erva como de criar um mundo. Todas estas coisas são igualmente impossíveis para nós, e todas são igualmente possíveis para Deus. Portanto, devemo-nos abandonar, com fé sincera, Aquele "que se curva para ver o que está nos céus" (SI 113:6). Às vezes sentimo-nos transportados de uma maneira triunfante através das maiores provações, enquanto que noutras ocasiões desanimamos, trememos, e sucumbimos sob as circunstâncias normais da vida. E por quê? Porque no primeiro caso somos constrangidos a alijar o nosso fardo sobre o Senhor; enquanto que no último caso intentamos, loucamente, levá-lo nós próprios. O cristão é, em si próprio, se ele apenas o compreender, como um receptor esgotado, no qual uma moeda e uma pena têm o mesmo ímpeto.
O SENHOR é Quem Peleja
"O SENHOR pelejará por vós, e vos calareis".
Que bendita segurança! Quão própria para tranquilizar o espírito em face das dificuldades mais aterradoras e dos maiores perigos! O Senhor não só se coloca entre nós e os nossos pecados, como também entre nós e as nossas circunstâncias. No primeiro caso dá-nos paz de consciência; enquanto que no segundo dá paz aos nossos corações. Estas duas coisas são perfeitamente distintas, como muito bem sabe todo o cristão experimentado. Muitos têm paz de consciência, sem terem paz de coração. Acharam, pela graça e mediante a fé, Cristo, na eficácia divina do Seu sangue, entre eles e todos os seus pecados; mas não podem, do mesmo modo simples, vê-Lo na Sua sabedoria, amor e poder, entre eles e as suas circunstâncias. Disto resulta uma diferença essencial na condição prática das suas almas, bem como no caráter do seu testemunho. Nada pode contribuir tanto para glorificar o nome de Deus como aquele repouso tranquilo de espírito que dimana do fato de termos entre nós e tudo que pode ser causa de ansiedade para os nossos corações. "Tu conservarás em paz aquele cuja mente está firme em ti; porque ele confia em ti" (Is 26:3).
Mas, pode perguntar-se, não devemos fazer nada? A resposta pode ser dada com outra pergunta, a saber: que podemos nós fazer1?-Todos os que realmente se conhecem têm de responder: Nada. Se, portanto, nada podemos fazer, não será melhor que permaneçamos "quietos?" Se o Senhor está atuando por nós não será melhor ficarmos detrás d'Ele? Correremos adiante d'Ele? Devemos importunar com a nossa atividade a Sua esfera de ação e intrometermo-nos no Seu caminhou É inútil que dois trabalhem quando um só é competente para fazer tudo. Ninguém pensaria em trazer uma vela acesa par acrescentar brilho ao sol do meio-dia: e todavia o homem que tal fizesse podia ser tido na conta de sábio em comparação com aquele que pretende ajudar Deus com a sua atividade precipitada.

A Ordem de Deus para Marchar

Contudo, quando Deus, na Sua muita misericórdia, abre o caminho, a fé pode andar nele; então deixa o caminho do homem, para nadar no caminho de Deus. "Então, disse o SENHOR a Moisés-. Por que clamas a mim4 Dize aos filhos de Israelque marchem" (versículo 15). É quando aprendemos a estar "quietos" que podemos, efetivamente, ir para diante. Tentar ir para diante sem termos aprendido a estar "quietos" é ter a certeza de cairmos no ridículo da nossa loucura e fraqueza. E, portanto, verdadeira sabedoria, em todas as ocasiões de dificuldade e perplexidade, permanecermos tranquilos—esperando unicamente em Deus, que certamente nos abrirá um caminho; e então poderemos "marchar" em paz e tranquilidade. Não existe a incerteza quando é Deus quem nos abre o caminho; pelo contrário, todo o caminho de nossa própria invenção será um caminho de dúvida e hesitação. O homem natural pode avançar, com certa aparência de firmeza e decisão, no seu próprio caminho; porém, um dos elementos da nova natureza é a desconfiança em si própria, em contraste com a confiança em Deus como seu próprio elemento. É quando os nossos olhos têm visto a salvação de Deus que podemos seguir este caminho; contudo não poderemos vê-lo claramente antes de sermos convencidos da inutilidade dos nossos próprios e fracos esforços.
A expressão "verei a salvação de Deus" encerra beleza e força peculiar. O próprio fato de sermos chamados para ver a salvação de Deus é prova de que a salvação está completa.
Ensina-nos que a salvação é uma obra realizada e revelada por Deus, para ser vista e gozada por nós. Não é uma obra em parte de Deus e em parte do homem. Se fosse assim, não poderia ser chamada a salvação de Deus. Para poder ser chamada a salvação de Deus é preciso que seja desprovida de tudo que pertence ao homem. O único efeito possível dos esforços humanos será obscurecer aos nossos olhos a salvação de Deus.
"Dize aos filhos de Israel que marchem".
O próprio Moisés parece ter ficado perplexo, como se depreende da interrogação "Por que clamas a mim?" Moisés podia dizer ao povo "estai quietos e vede o livramento do SENHOR", enquanto o seu próprio espírito clamava a Deus angustiado. Todavia, de nada vale clamar quando devemos atuar; do mesmo modo que de nada servirá atuar quando devemos estar em expectativa. E contudo tal é sempre o nosso método. Intentamos avançar quando devemos estar quietos, e ficamos quietos quando devemos avançar. No caso de Israel, podia perguntar-se: "Para onde devemos ir" Segundo as aparências, havia uma barreira instransponível no caminho a qualquer movimento. Como poderiam eles atravessar o mar1?- Esta era a dificuldade que a natureza jamais poderia resolver. Contudo, podemos estar certos que Deus nunca dá um mandamento sem, ao mesmo tempo, comunicar o poder para lhe obedecermos.
O verdadeiro estado do coração pode ser posto à prova pelo mandamento; porém a alma que, pela graça, estiver disposta a obedecer receberá poder do alto para o fazer. Quando Cristo mandou ao homem com a mão mirrada que a estendesse, ele poderia naturalmente ter dito: "Como posso eu estender um braço que está morto para mim?" Contudo, ele não levantou nenhuma objeção, porque com o mandamento, e da mesma origem, veio o poder para obediência.

Deus Abre o Caminho para a Fé

Assim, também, no caso de Israel, vemos que com o mandamento para marcharem veio o suprimento da graça. "E tu, levanta a vara, e estende a tua mão sobre o mar, e fende-o, para que os filhos de Israel passem pelo meio do mar em seco" (versículo 16). Eis aqui a senda da fé. A mão de Deus abre o caminho para podermos dar o primeiro passo, e isto é tudo que a fé sempre precisa. Deus não dá nunca direção para dois passos ao mesmo tempo. Devemos da um passo, e então recebemos luz para o segundo. Deste modo o coração é mantido em permanente dependência de Deus. "Pela fé, passaram o Mar Vermelho, como por terra seca" (Hb 11:29). E evidente que o Mar não foi dividido em toda a sua extensão de uma só vez. Se assim tivesse sido, eles teriam sido conduzidos "por vista" e não "por fé". Não é preciso fé para se empreender uma viagem quando se vê o caminho em toda a sua extensão; mas é necessária fé para alguém se pôr ao caminho quando não vê mais do que o primeiro passo. O Mar divida-se à medida que Israel avançava, de forma que, para cada novo passo, eles dependiam de Deus. Tal era o caminho por onde marchavam os remidos do Senhor, guiados pela Sua mão. Passaram pelas grandes águas da morte e descobriram que estas águas "foram lhes como muro à sua direita e à sua esquerda" (versículo 22).
Os egípcios não puderam avançar num caminho como este. Entraram nele porque o viram aberto — para com eles era uma questão de vista e não de fé — "...o que intentando os egípcios se afogaram" (Hbll:29).Quando as pessoas tentam fazer aquilo que só a fé pode conseguir, encontram a derrota e a confusão. O caminho pelo qual Deus faz marchar o Seu povo é um caminho que nunca pode ser trilhado pela natureza — "... carne e sangue não podem herdar o Reino de Deus" (1 Co 15:50); tampouco podem caminhar pelo caminho de Deus. A f é é a grande regra característica do reino de Deus, e é só pela fé que podemos andar nos caminhos de Deus. "Sem fé é impossível agradar a Deus" (Hb 11:6). Deus é grandemente glorificado quando avançamos com Ele com os olhos vendados, por assim dizer, porque esta é a prova de que temos mais confiança na Sua vista do que na nossa. Se sei que Deus vela por mim, posso muito bem cerrar os olhos e avançar em santa calma e segurança. Nas ocupações humanas sabemos que quando a sentinela está no seu posto, os outros podem dormir tranquilos. Quanto melhor podemos nós descansarem perfeita segurança quando sabemos que Aquele que não tosqueneja nem dorme tem o Seu olhar fixo em nós (SI 121:4) e os Seus braços eternos em volta de nós!
C. H. MACKINTOSH. Estudos Sobre O Livro De Êxodo. Editora Associação Religiosa Imprensa da Fé.
Êx 16.4 Farei chover do céu pão. “O Alicerce Histórico. Um suco doce, pegajoso, tipo mel, exsuda em pesadas gotas, em maio ou junho, de um arbusto encontrado no deserto perto de onde os israelitas estavam acampados. Dissolve-se sob o calor do sol, depois de ter caído sobre o solo com a forma de grãos. Tem o sabor do mel. Trata-se de um suco natural daquele arbusto; mas os árabes acreditavam que caía do céu, juntamente com o orvalho. Samuel Johnson, em seu dicionário, disse: ‘Apenas ultimamente o mundo ficou convencido sobre o erro de pensar que o maná era um produto aéreo, cobrindo as árvores durante a estação do maná” (J. Coert Rylaarsdam, in loc.). Josefo (Antiq. III 1.6) referiu-se à natureza aérea do fenômeno.
Colherá diariamente. “É provável que desse versículo se tenha originado a petição da oração do Pai Nosso: “ O pão nosso de cada dia dá-nos hoje...” (Mat. 6.11). Metaforicamente, temos expressado a necessidade da nutrição espiritual diária, a leitura e o estudo dos documentos sagrados, da oração, da meditação etc. sobre uma base diária regular.
Cada pessoa só podia recolher maná suficiente para aquele dia o maná não podia ser guardado para o dia seguinte. Se o fosse, apareciam bichos e ele se corrompia (vs, 20). Essa necessidade diária de provisão testava a fé de Israel no poder de Yahweh prover para eles o necessário. Alguns intérpretes insistem sobre a natureza absolutamente miraculosa do maná, assim a provisão diária de maná foi um milagre contínuo, durante quase quarenta anos.
CHAMPLIN, Russell Norman, Antigo Testamento Interpretado versículo por versículo. Editora Hagnos. pag. 372.
Êx 16.4. Pão do céu. Se pão for tomado em seu sentido antigo de “ comida” (que deve ter sido o significado original de leljem), então esta promessa se refere tanto ao maná quanto às codornizes.
Colherá diariamente a porção de cada dia. A provisão diária feita por Deus para as necessidades dos israelitas pode ser a fonte do pedido encontrado no “ Pai Nosso” com respeito ao “ pão nosso de cada dia” (Mt 6:11).
Para que eu ponha à prova. Esta frase deve estar ligada à necessidade de dependência diária de Deus para obter alimento, ou com a ordem de não colher maná no sétimo dia. No sexto dia devia-se colher porção dupla, conforme é explicado nos versículos 25 e 26.
R. Alan Cole, Ph. D. ÊXODO Introdução e Comentário. Editora Vida Nova. pag. 126.
Dt 29.5 Quarenta anos vos conduzi pelo deserto. As provisões especiais, durante os quarenta anos de perambulação pelo deserto, incluíram até milagres. Assim, o elemento miraculoso acompanhou Israel do começo ao fim. Isso deveria tê-los inspirado à obediência e à coragem espiritual. Cf. Deu. 8.4, um paralelo direto deste versículo. Deus provê aquilo que para o homem é difícil ou mesmo impossível de obter. O resto Ele deixa para nós desenvolvermos, usando nossas capacidades e habilidades, embora essas também nos tenham sido conferidas pela graça geral de Deus. Nas andanças pelo deserto, roupas e sapatos não podiam ser obtidos por meio do comércio. Por isso, a objetos dessa natureza foi conferido pelo Senhor um grande poder de permanência.
CHAMPLIN, Russell Norman, Antigo Testamento Interpretado versículo por versículo. Editora Hagnos. pag. 866.
Dt 29.5,6. O modo de expressão muda a esta altura e Javé fala na primeira pessoa do singular. Na linguagem hiperbólica, tão característica do Oriente Próximo, a maravilha do cuidado providencial de Javé é descrita: Quarenta anos vos conduzi pelo deserto, etc. Observar linguagem semelhante em 8: 24. Estritamente falando, muito poucos daqueles que se achavam presentes em Moabe haviam conhecido as experiências do êxodo e apenas alguns haviam presenciado os acontecimentos do deserto, pois a geração mais velha havia toda falecido (Nm 14: 28-35). Daí termos que entender o vós como o Israel corporativo. Todavia, Israel em qualquer época era parte do Israel corporativo e podia compartilhar das experiências do passado procurando identificar-se com o Israel do passado.
Daí Javé poder dizer, em sentido corporativo: Quarenta anos vos conduzi . . . pão não comestes . . . para que soubésseis que eu sou Javé vosso Deus. No entanto, a rebelião e a desobediência impediriam que Israel, em qualquer época, discernisse a mão providencial de Deus em sua vida nacional. Em seus anos de peregrinação pelo deserto Israel não comera pão feito por mãos humanas, sendo sustentado pelo maná. Tampouco bebera vinho nem bebida forte, produtos do esforço humano, mas fora saciado pela água da rocha (cf 8: 3). O cuidado providencial de Deus tinha como propósito demonstrar que Ele era realmente Deus. A expressão para que soubésseis ocorre frequentemente no Velho Testamento (Êx6:7; 7:5; 14:4; 16:12; 29:46; cerca de cinquenta vezes em Ezequiel, etc.). Para o homem obediente havia abundância de provas do cuidado de Deus para com Israel. Para o desobediente os próprios fatos da atividade divina deixariam claro o poder de Deus.
J. A. Thompson, M.A., M. SC., B.D., B.ED., PH.D.. DEUTERONÔMIO Introdução e Comentário. Editora Vida Nova. pag. 268.
«...de maneira alguma te deixarei...» Não há aqui qualquer citação direta, embora os trechos de Gên. 28:15; Jos. 1:5 e Deut. 31:6 expressem sentimentos similares. O autor sagrado parece combinar diferentes passagens na memória. Entretanto, há um paralelo bem próximo em Filo, «Confus. Lign.» §32, e é perfeitamente possível que o autor o tenha citado. Ou a declaração pode ser uma ditado judaico popular, adaptado ao texto presente pelo autor, e que também foi usado por Filo. Essas palavras afirmam a fidelidade e os cuidados de nosso Criador. A melhor passagem neotestamentária que temos sobre esse princípio é a de Mat. 6:25 e jj ., onde se vê que até os animais irracionais são objetos dos cuidados do Pai. (Ver também Mat. 10:29,31 quanto ao mesmo ensino do grande interesse de Deus pelos homens). «...nunca jamais te abandonarei...» Os leitores originais da epístola sofriam perseguição. Estavam familiarizados com os sofrimentos causados pela pervertida vontade humana. Todavia, tinham á certeza da vitória final mediante a presença e as bênçãos divinas. Suas propriedades tinham sido confiscadas; haviam sido reduzidos à pobreza, por ações injustas e ilegais; contudo, possuíam a riqueza de espírito, que nos é dada mediante a fé em Cristo, e também a promessa da recompensa e terna. Tinham sido fisicamente assaltados; mas o seu espírito não fora atingido, e nem mesmo poderia sê-lo. Portanto, poderiam sentir-se contentes com toda a razão.
CHAMPLIN, Russell Norman, O Novo Testamento Interpretado versículo por versículo. Editora Candeias. Vol. 5. pag. 659.
Incredulidade dos Israelitas e a Nossa
Talvez nos sintamos admirados com a linguagem de Israel na ocasião que estamos a considerar. Podemos ter dificuldade em a compreender; porém quanto mais conhecemos os nossos corações incrédulos, tanto mais compreendemos como somos maravilhosamente semelhantes a eles. Parece que haviam esquecido a recente manifestação do poder de Deus em seu favor. Haviam presenciado o julgamento dos deuses do Egito e visto o poder desse país abatido com o golpe da mão onipotente do Senhor. Haviam visto a mesma mão despedaçar as cadeias da escravidão do Egito e apagar os fornos de tijolo. Haviam visto todas estas coisas, e logo que aparece uma nuvem escura no horizonte a sua confiança é perdida e os seus corações fraquejam: e então pronunciam a sua incredulidade nestas palavras: "Não havia sepulcros no Egito, para nos tirares de lá... melhor nos fora servir aos egípcios do que morrermos neste deserto" (versículos 11 -12). É assim que a cega incredulidade erra sempre e esquadrinha em vão os caminhos de Deus. A incredulidade é a mesma em todos os tempos; é a mesma que levou David a dizer, um dia mau: "Ora, ainda algum dia perecerei pela mão de Saul; não há coisa melhor para mim do que escapar apressadamente para a terra dos filisteus" (1 Sm 27:1).
E qual foi o resultado1?- Saul caiu na montanha de Gilboa; e o trono de David foi estabelecido para sempre. A incredulidade levou Elias, o tisbita, num momento de profundo abatimento, a fugir para salvar a sua vida das ameaças coléricas de Jezabel. E qual foi o resultado"? Jezabel morreu estatelada no solo, e Elias foi levado para o céu num carro de fogo.
O mesmo aconteceu com Israel no seu primeiro momento de provação. Pensaram verdadeiramente que o Senhor havia tanto trabalho para os libertar do Egito apenas para os deixar morrer no deserto.
Imaginavam que, se haviam sido preservados pelo sangue do cordeiro da páscoa, era apenas para que pudessem ser sepultados no deserto. Assim raciocina sempre a incredulidade; induz-nos a interpretar Deus em presença da dificuldade, em vez de interpretar a dificuldade na presença de Deus. A fé coloca-se através da dificuldade e encontra Deus ali, em toda a Sua fidelidade, amor e poder. O crente tem o privilégio de estar sempre na presença de Deus: foi introduzido ali pelo sangue do Senhor Jesus Cristo, e nada que possa tirá-lo dali deve ser permitido.
Nunca poderá perder aquele próprio lugar, porquanto o seu chefe e representante, Cristo, o ocupa em seu nome. Porém, embora não possa perder esse lugar, pode perder, com muita facilidade, o gozo do lugar, a experiência e o poder de o possuir. Sempre que as dificuldades se interpõem entre o seu coração e o Senhor, não está, evidentemente, gozando a presença do Senhor, mas sofrendo em presença das suas dificuldades. O mesmo sucede quando uma nuvem se interpõe entre nós e o sol, privando-nos, por um pouco de tempo, da alegria dos seus raios de luz. A nuvem não impede que o sol brilhe, apenas impede gozarmos dele. Acontece precisamente assim sempre que permitimos que as provações e dores, as dificuldades e perplexidades, ocultem das nossas almas os raios resplandecentes do semblante do nosso Pai celestial, os quais brilham com fulgor invariável na face de Jesus Cristo.
Não existe dificuldade grande demais para o nosso Deus; pelo contrário, quanto maior é a dificuldade, tanto mais lugar há para Ele agir no Seu caráter de Deus de toda a graça e poder. Sem dúvida, a posição de Israel tal como se acha descrita nos primeiros versículos deste capítulo, era de grande provação—esmagadora para a carne e o sangue. Porém, a verdade é que o Criador dos céus e da terra estava ali, e eles apenas tinham que recorrer a Ele. Contudo, prezado leitor, quão depressa falhamos quando chega a provação! Estes sentimentos soam agradavelmente aos ouvidos, e têm uma aparência agradável sobre o papel; e, graças a Deus, são divinamente verdadeiros; porém, a questão mais importante é praticá-los quando chega a oportunidade. E quando são postos em prática que se pode experimentar o seu poder e a sua bem-aventurança. "Se alguém quiser fazer a vontade dele, pela mesma doutrina, conhecerá se ela é de Deus" (Jo 7:17).
C. H. MACKINTOSH. Estudos Sobre O Livro De Êxodo. Editora Associação Religiosa Imprensa da Fé.
 
ELABORADO: Pb Alessandro Silva.
 



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