1° LIÇÃO 2° TRIMESTRE 2015 O EVANGELHO SEGUNDO LUCAS




1° LIÇÃO 2° TRIMESTRE 2015 O EVANGELHO SEGUNDO LUCAS


TEXTO ÁUREO
"Para que conheças a certeza das coisas de que já estás informado." (Lc 1.4)

VERDADE PRÁTICA
O cristão possui uma fé divinamente revelada e historicamente bem
fundamentada.

LEITURA DIÁRIA
Segunda - Lc 3.1,2             O cristianismo no seu cenário histórico
Terça - Lc 1.1-4                 O cristianismo se fundamenta em fatos
Quarta - Lc 16.16              O cristianismo no contexto bíblico
Quinta - Lc 2.23-28           O cristianismo em seu aspecto universal
Sexta - Lc 1.35; 5.24          O cristianismo e a deidade de Jesus
Sábado - Lc 4.18                O cristianismo e o Ministério do Espírito

LEITURA BÍBLICA EM CLASSE Lucas 1.1-4

1 - Tendo, pois, muitos empreendido pôr em ordem a narração dos fatos que entre nós se cumpriram,
2 -  segundo nos transmitiram os mesmos que os presenciaram desde o princípio e foram ministros da palavra,
3 - pareceu-me também a mim conveniente descrevê-los a ti, ó excelentíssimo Teófilo, por sua ordem, havendo-me já informado minuciosamente de tudo desde o princípio,
4 - para que conheças a certeza das coisas de que já estás informado

OBJETIVO GERAL
Apresentar um panorama do Evangelho de Lucas.


OBJETIVOS ESPECÍFICOS
Abaixo, os objetivos específicos referem-se ao que o professor deve atingir em cada tópico. Por exemplo, o objetivo I refere-se ao tópico I com os seus respectivos subtópicos.

1.      Apresentar o terceiro Evangelho.
2.      Conhecer os fundamentos e historicidade da fé cristã. 
3.      Afirmar a universalidade da fé cristã.
4.      Expor a identidade de Jesus, o Messias esperado.

INTERAGINDO COM O PROFESSOR
Prezado professor, neste segundo trimestre estudaremos a respeito do terceiro Evangelho, cujo autor é Lucas, o médico amado. Seu relato é um dos mais completos e ricos em detalhes a respeito do nascimento e infância do Salvador. Lucas era um gentio, talvez por isso, em sua narrativa, procure apresentar a Jesus como o Filho do Homem. Ele apresenta o Salvador como o Homem Perfeito que veio salvar a todos, judeus e gentios.
O comentarista deste trimestre é o pastor José Gonçalves - professor de Teologia, escritor e vice-presidente da Comissão de Apologética da CGADB.
Que mediante o estudo de cada lição você possa conhecer mais a respeito do Filho de Deus, que se fez homem e habitou entre nós.
Tenha um excelente trimestre.

COMENTÁRIO 01

INTRODUÇÃO 01
       O Evangelho de Lucas é um dos livros mais belos e fascinantes do mundo. De fato, o terceiro Evangelho se distingue pelo seu estilo literário, pelo seu vocabulário e uso que faz do grego, considerado pelos eruditos como o mais refinado do Novo Testamento. Mas a sua maior beleza está em narrar a história da salvação (Lc 19.10). O autor procura mostrar, sempre de forma bem documentada, que o plano de Deus em salvar a humanidade, revelado através da história, cumpriu-se cabalmente em Cristo quando Ele se deu como sacrifício expiador pelos pecadores (Jo 10.11). Deus continua sendo Senhor da história e o advento do Messias para estabelecer o seu Reino é a prova disso. Lucas mostra que é através do Espírito Santo, primeiramente operando no ministério de Jesus e, posteriormente na Igreja, que esse propósito se efetiva.

I - O TERCEIRO EVANGELHO

1. AUTORIA E DATA. Lucas, "o médico amado" (Cl 4.14), a quem é atribuída a autoria do terceiro Evangelho, é citado no Novo Testamento três vezes. Todas as citações estão nas epístolas paulinas e são usadas no contexto do aprisionamento do apóstolo Paulo (Cl 4.14; Fm 24; 2 Tm 4.11). Embora o autor do terceiro Evangelho não se identifique pelo nome, isso não depõe contra a autoria lucana. Desde os seus  primórdios, a Igreja Cristã  atribui a Lucas a autoria do terceiro Evangelho. A crítica contra a autoria de Lucas não tem conseguido apresentar argumentos sólidos para demover a Igreja de sua posição. A erudição conservadora assegura que Lucas escreveu a sua obra (aproximadamente) no início dos anos sessenta do primeiro século da era cristã.
2. A OBRA. Lucas era historiador e médico. Ele escreveu sua obra em dois volumes (Lc 1.1-4; At 1.1,2). O terceiro Evangelho é a primeira parte desse trabalho e é uma narrativa da vida e obra de Jesus, enquanto os Atos dos Apóstolos compõem a segunda parte e narram o caminhar espiritual dos primeiros cristãos da Igreja Primitiva.
3. OS DESTINATÁRIOS ORIGINAIS. O doutor Lucas endereçou seu Evangelho a Teófilo, certamente uma pessoa importante que devia ocupar uma alta posição social, sendo citado como "excelentíssimo". Pode se dizer que além deste ilustre destinatário, Lucas também escreveu aos gentios. O terceiro Evangelho pode ser classificado como sendo de natureza soteriológica e carismática. Soteriológica, porque narra o plano da salvação, e carismática porque dá amplo destaque ao papel do Espírito Santo como capacitador do ministério de Jesus Cristo.

PONTO CENTRAL
O plano da salvação do cristianismo pode ser localizado com precisão dentro da história.

SÍNTESE DO TÓPICO I
Lucas, o médico amado, é o autor do terceiro Evangelho, que foi endereçado a Teófilo, um gentio.

SUBSÍDIO BIBLIOLÓGICO
"Lucas inicia seu Evangelho com uma declaração especial: ele mesmo havia se 'informado minuciosamente de tudo [sobre a vida de Jesus] desde o princípio' (1.1-4). Dessa forma, o Evangelho de Lucas é um relatório cuidadoso e historicamente exato do nascimento, ministério, morte e ressurreição de Jesus. Contudo, ao lermos Lucas percebemos que a sua obra não é uma repetição monótona das datas e ações. A escrita de Lucas é vívida, nos atraindo para dentro dos eventos que ele descreve. A escrita de Lucas também exibe uma fervorosa sensibilidade quanto aos detalhes pessoais íntimos" (RICHARDS, Lawrence O. Comentário Histórico-Cultural do Novo Testamento. 1.ed. Rio de Janeiro: CPAD, 2007, p. 133).

A fé cristã não se trata de uma lenda ou fábula engenhosamente inventada. São fatos históricos.
CONHEÇA MAIS
*Como o  Evangelho de Lucas Retrata a Cristo

      "No Evangelho de Lucas, Cristo é retratado como o Homem Perfeito e de grande empatia. A genealogia é rastreada desde Davi e Abraão até Adão, nosso antepassado comum, apresentando-o, deste modo, como alguém da nossa raça". Para conhecer mais leia Introdução ao Novo Testamento, CPAD, p. 77

II - OS FUNDAMENTOS E HISTORICIDADE
DA FÉ CRISTÃ

1. O CRISTIANISMO NO SEU CONTEXTO HISTÓRICO. Lucas mostra com riqueza de detalhes sob que circunstâncias históricas se deram os fatos por ele narrados. Vejamos: "E, no ano quinze do império de Tibério César, sendo Pôncio Pilatos governador da Judeia, e Herodes, tetrarca da Galileia, e seu irmão Filipe, tetrarca da Itureia e da província de Traconites, e Lisânias, tetrarca de Abilene, sendo Anás e Caifás sumos sacerdotes, veio no deserto a palavra de Deus a João, filho de Zacarias" (Lc 3.1,2). Esses dados têm um propósito claro: mostrar que o plano da salvação no cristianismo pode ser localizado com precisão dentro da história. A fé cristã, portanto, não se trata de uma lenda ou fábula engenhosamente inventada. São fatos históricos que poderiam ser testados e provados e, dessa forma, podem ser aceitos por todos aqueles que procuram a verdade.
2. DISCIPULADO ATRAVÉS DOS FATOS. A palavra grega katecheo, traduzida como "informado" ou "instruído" no versículo 4, deu origem à palavra portuguesa catequese. Esse vocábulo significa também: doutrinar, ensinar e convencer. Nesse contexto possui o sentido de "discipular". Lucas escreveu o seu Evangelho para formar discípulos. O discipulado, para ser autêntico, deve fundamentar-se na veracidade dos fatos da fé cristã. Nos primeiros versículos do seu Evangelho, Lucas revela, portanto, quais seriam as razões da sua obra (Lucas 1.1-4). O terceiro Evangelho foi escrito para mostrar os fundamentos das verdades nas quais os cristãos são instruídos.

SÍNTESE DO TÓPICO II
A veracidade dos fatos narrados por Lucas pode ser comprovada pela história.

SUBSÍDIO BIBLIOLÓGICO
       "Lucas presta bastante atenção aos eventos que ocorreram antes do nascimento de Jesus, uma atenção maior que aquela que os outros evangelistas dedicaram ao assunto" (RICHARDS, Lawrence O. Comentário Histórico-Cultural do Novo Testamento. 1.ed. Rio de Janeiro: CPAD, 2007, p. 134).

O discipulado, para ser autêntico, deve fundamentar-se na veracidade dos fatos da fé cristã.

III - A UNIVERSALIDADE DA SALVAÇÃO

1. A HISTÓRIA DA SALVAÇÃO. A teologia cristã destaca que Lucas divide a história da salvação em três estágios: o tempo do Antigo Testamento; o tempo de Jesus e o tempo da Igreja. O terceiro Evangelho registra as duas primeiras etapas e o livro de Atos, a terceira (Lc 16.16). No contexto de Lucas a expressão a "Lei e os Profetas" é uma referência ao Antigo Testamento, onde é narrado o plano de Deus para o povo de Israel. A frase "anunciado o Reino de Deus" se refere ao tempo de Jesus que, através do Espírito Santo, realiza e manifesta o Reino de Deus. O tempo da Igreja ocorre quando o Espírito Santo, que estava sobre Jesus, é derramado sobre todos os crentes.
2. A SALVAÇÃO EM SEU ASPECTO UNIVERSAL. O aspecto universal da salvação, revelado no terceiro Evangelho pode ser facilmente observado pelo seu amplo destaque dado aos gentios. O próprio Lucas endereça a sua obra a um gentio, Teófilo (Lc 1.1,2). A descendência de Cristo, o Messias prometido, vai até Adão, o pai de todos, e não apenas até Abraão, o pai dos judeus (Lc 3.23-38). Fica, portanto, revelado que os gentios, e não somente os judeus, estão incluídos no plano salvífico de Deus (Lc 2.32; 24.47). Destaque especial é dado para os samaritanos (Lc 9.51-56; 10.25-37; 17.11-19). Há ainda outras particularidades do Evangelho de Lucas que mostram o interesse de Deus por toda a humanidade, especialmente os pobres e excluídos (Lc 19.1-10; 7.36-50; 23.39-43; 18.9-14).

A descendência de Cristo, o Messias prometido, vai até Adão, o pai de todos, e não apenas até Abraão, o pai dos judeus.

SÍNTESE DO TÓPICO III
Todos estão incluídos no plano salvífico de Deus: gentios e judeus.

SUBSÍDIO BIBLIOLÓGICO

"A Verdadeira Identidade do Filho

         Os aspectos-chave na vida de Jesus ajudaram os primeiros cristãos a perceber, de uma forma nova e única, que Ele era o 'Filho de Deus'.
        O A encarnação.  Jesus foi concebido pelo poder do Espírito Santo de Deus, e não por um pai humano. De forma consistente, também falou de como saiu 'do Pai' para vir 'ao mundo' (Jo 16.28). Enquanto, para outros seres humanos, o nascimento é o início da vida, o nascimento de Jesus era uma encarnação - Ele existia como o Filho de Deus antes de seu nascimento humano. Jesus, de forma distinta dos governantes pagãos, não era um filho adotado dos deuses, mas sim o eterno Filho de Deus.
       O reconhecimento por Satanás e pelos demônios. Enquanto a identidade verdadeira de Jesus, durante seu ministério terreno, estava velada para seus discípulos, ela foi reconhecida por Satanás (Mt 4.3,6) e pelos demônios (Lc 8.28).
       O A ressurreição e ascensão. Jesus foi morto por afirmar que falava e agia como o Filho de Deus. A ressurreição representou a confirmação de Deus de que Jesus falava a verdade sobre si mesmo. Paulo apontou a ressurreição como a revelação ou declaração da verdadeira identidade de Jesus como Filho de Deus (Rm 1.4). Depois da ressurreição, Jesus retornou ao Pai para ficar no lugar de honra, à direita de Deus" (Guia Cristão de Leitura da Bíblia. 1 ed. Rio de Janeiro: CPAD, 2013, pp. 34,35).

IV - A IDENTIDADE DE JESUS, O MESSIAS ESPERADO

1. JESUS, O HOMEM PERFEITO. No Evangelho de Lucas, Jesus aparece como o "Filho de Deus" (Lc 1.35) e Filho do Homem" (Lc 5.24). São expressões messiânicas que revelam a deidade de Jesus. A primeira expressão mostra Jesus como verdadeiro Deus enquanto a segunda, que ocorre 25 vezes no terceiro Evangelho, mostra-o como verdadeiro homem. Ele é o Filho do Homem, o Homem Perfeito. Ao usar o título "Filho do Homem" para si mesmo, Jesus evita ser confundido com o Messias político esperado pelos judeus. Como Homem Perfeito, Jesus era obediente a seus pais. Todavia, estava consciente de sua  natureza divina (Lc 2.4-52). É como o Homem Perfeito que Jesus enfrenta, e derrota, Satanás na tentação do deserto (Lc 4.1-13).
2. O MESSIAS E O ESPÍRITO SANTO. Lucas revela que Jesus, o Messias, como Homem Perfeito, dependia do Espírito Santo no desempenho do seu ministério (Lc 4.18). Isaías, o profeta messiânico, mostra a estreita relação que o Messias manteria com o Espírito do Senhor (Is 11.1,2; 42.1). O Messias seria aquele sobre quem repousaria o Espírito do Senhor, tal como profetizara Isaías e Jesus aplicara a si, na sinagoga em Nazaré (Lc 4.16-19; Is 61.1).

SÍNTESE DO TÓPICO IV
        Lucas apresenta Jesus como o Filho de Deus e o Filho do Homem, ressaltando tanto a sua humanidade quanto a sua divindade.

SUBSÍDIO BIBLIOLÓGICO
         "Lucas descreveu como o Filho de Deus entrou na História. Jesus viveu de forma exemplar, foi o Homem Perfeito. Depois de um ministério perfeito, Ele se entregou como sacrifício perfeito pelos nossos pecados, para que pudéssemos ser salvos.
Jesus é o nosso Líder e Salvador perfeito. Ele oferece perdão a todos aqueles que o aceitam como Senhor de suas vidas e creem que aquilo que Ele diz é a verdade" (Bíblia de Estudo Aplicação Pessoal. Rio de Janeiro: CPAD, p. 1337).

         O terceiro Evangelho é considerado a coroa dos Evangelhos sinóticos. Enquanto o Evangelho de Mateus enfoca a realeza do Messias e Marcos o poder, Lucas enfatiza o amor de Deus. Lucas é o Evangelho do Homem Perfeito; da alegria (Lc 1.28; 2.11; 19.37; 24.53); da misericórdia (Lc 1.78,79); do perdão (7.36-50; 19.1-10); da oração (Lc 6.12; 11.1; 22.39-45); dos pobres e necessitados (Lc 4.18) e do poder e da força do Espírito Santo (Lc 1.15,35; 3.22; 4.1; 4.14; 4.17-20; 10.21; 11.13; 24.49). Lucas é, portanto, o Evangelho do crente que quer conhecer melhor o seu Senhor e ser cheio do Espírito Santo.

REVISTA ENSINADOR
          Ao longo da História da Igreja, algumas indagações acerca dos Evangelhos foram feitas por cristãos sinceros: (1) Como os Evangelhos surgiram? (2) Como obra literária, de que maneira devemos entender os Evangelhos? (3) O que os Evangelhos nos contam sobre Jesus?
Sabemos que pessoas, inspiradas pelo Espírito Santo, escreveram os quatro primeiros livros do Novo Testamento. Entretanto, de acordo com as perguntas acima, queremos saber como os autores dos Evangelhos obtiveram as informações sobre a vida e o ministério de Jesus; Por que os Evangelhos são tão parecidos e, ao mesmo tempo, tão diferentes?
Sem a pretensão de respondermos essas questões no presente espaço (é impossível tal empreendimento), podemos perceber que o Evangelho de Lucas, dentre os quatro, tem uma particular contribuição para compreendermos a formação dos Evangelhos que falam do nosso Senhor. Leia o seguinte texto:
"Tendo, pois, muito empreendido pôr em ordem a narração dos fatos que entre nós se cumpriram, segundo nos transmitiram os mesmos que os presenciaram desde o princípio e foram ministros da palavra, pareceu-me também a mim conveniente descrevê-los a ti, ó excelentíssimo             Teófilo, por sua ordem, havendo-me já informado minuciosamente de tudo desde o princípio, para que conheças a certeza das coisas que já estás informado" (Lc
1.1-4). Agora correlacione essa passagem com a de Atos 1.1,3:
"Fiz o primeiro tratado, ó Teófilo, acerca de tudo que Jesus começou, não só a fazer, mas a ensinar, [...] aos quais também, depois de ter padecido, se apresentou vivo, com muitas e infalíveis provas, sendo visto por eles por espaço de quarenta dias e falando do que respeita ao Reino de Deus".
          Podemos dizer que o evangelista Lucas é o autor sacro que dá as pistas da história das origens cristãs, pois as introduções do seu Evangelho e do Livro de Atos revelam que: (1) Lucas selecionou e pôs em ordem os fatos narrados no Evangelho; (2) Esses fatos foram transmitidos pelas testemunhas oculares de Cristo e pelos ministros, os apóstolos, da Palavra que "transmitiam" verdades sobre Jesus; (3) haviam outros escritos sobre Jesus, mas coube a Lucas organizar e relatar o dele.
Com isso, fica claro que o médico amado, doutor Lucas, é o autor do Evangelho considerado o mais histórico e cronológico dentre os quatro Evangelhos. Um tratado extraordinário sobre Jesus e a sua obra!
Revista Ensinador Cristão - CPAD, nº 62, p. 37.

COMENTÁRIO 02

INTRODUÇÃO 02
           Lucas, o médico amado, não foi um apóstolo nem tampouco foi uma testemunha ocular da vida de Jesus, todavia deixou uma das mais belas obras literárias já escritas sobre os feitos do Salvador e os primeiros anos da comunidade cristã. A narrativa de Lucas descreve, com riqueza de detalhes, o ministério terreno de Jesus, como ele nasceu, cresceu, libertou os oprimidos, formou os seus discípulos, morreu pendurado em uma cruz e ressuscitou dos mortos.
O terceiro Evangelho possui uma forte ênfase carismática. Mais do que qualquer outro evangelista ou escrito do Novo Testamento, Lucas dá amplo destaque à pessoa do Espírito Santo durante o ministério público de Jesus até sua efusão sobre os cristãos primitivos. Nesse aspecto, a obra de Lucas deve ser entendida como um compêndio de dois volumes, onde o segundo volume, Atos dos                 Apóstolos, é entendido a partir do primeiro, o terceiro Evangelho, e vice-versa.
Um erro bastante comum cometido por vários teólogos, principalmente aqueles que não creem na atualidade dos dons espirituais, é tentar “paulinizar” os escritos de Lucas. Por não entenderem o pensamento lucano, não o vendo como teólogo como de fato ele era, mas apenas como um historiador, tentam interpretá-lo à luz dos escritos de Paulo. Evidentemente que toda Escritura é inspirada por Deus e que o princípio da analogia é uma das ferramentas básicas da boa exegese, todavia isso não nos dá o direito de transformar Lucas em mero coadjuvante da teologia paulina. Em outras palavras, Paulo deve ser usado para se compreender corretamente Lucas, mas também Lucas deve ser consultado para se quer entender, de fato, o que Paulo escreveu.
Esse entendimento se torna mais ainda relevante quando aplicamos essa metodologia em relação aos carismas do Espírito narrado no terceiro Evangelho, em Atos dos Apóstolos e nas epístolas paulinas. Se Paulo foi um teólogo, possuindo independência para falar dos dons do Espírito, Lucas da mesma forma também o foi e seu pensamento é tão relevante quanto o de Paulo. Nesse aspecto Lucas não deve ser entendido apenas como um narrador de fatos históricos, mas como um teólogo que escreveu a história.
           Este livro mostra facetas dessa abordagem metodológica na interpretação de Lucas, mas não segue o modelo adotado nos comentários de natureza puramente expositiva como são, por exemplo, as obras de Leon Morris, William Hendriksen, Fritz Rienecker, J.C. Ryle e outros. Isso tem uma razão de ser — o presente texto não é um comentário versículo por versículo do evangelho de Lucas, nem mesmo capítulo por capítulo. Antes, é uma abordagem temática dos principais fatos ocorridos durante o ministério público de Jesus, como por exemplo, seu nascimento, crescimento, morte e ressurreição. Tendo sido escrito como texto de apoio às Lições Bíblicas de Jovens e Adultos da Escola Dominical esse tipo de abordagem permite trazer um comentário mais exaustivo sobre cada tema, mas, sem dúvida, limita um estudo mais expositivo do texto bíblico. Isso explica, por exemplo, o porquê de determinados textos, mesmo sendo importantes dentro do contexto da teologia lucana, não terem sido abordados aqui.
José Gonçalves. Lucas, O Evangelho de Jesus, o Homem Perfeito. Editora CPAD. pag. 11-12.
           O Evangelho de Jesus Cristo segundo Lucas é conhecido como “a mais bela obra do mundo”. Os que conhecem, intimamente, a Mensagem do livro e a maneira de Lucas a apresentar não querem contestar essa opinião. A destra pena do escritor, para introduzir a transcendente história, leva-nos a presenciar a visita de Deus ao lar de Zacarias e Isabel, na região montanhosa de Judá. Conta também como Ele visita a estrebaria, em Belém, e narra como nos campos de Belém aparece a multidão da milícia celestial, aclamando com inefável júbilo o nascimento do Salvador. Como se diz acerca desse livro: “A dulcíssima história está narrada de maneira dulcíssima”.
O Quarto Evangelho
Fala-se em “quatro Evangelhos”, apesar de, realmente, existir um só, justamente como há sete arcos, cada um de cor diferente, em um só arco-íris. Pode-se dizer, também, que os quatro Evangelhos são como os quatro muros da Nova Jerusalém, que João viu em visão. Todos esse muros, com suas três respectivas portas, olham em sentidos diferentes, contudo todos cercam e guardam uma só cidade de Deus. Assim os quatro Evangelhos olham, também, em sentidos diferentes.
            Cada um tem seu próprio aspecto e inscrição, e todos juntos descobrem um só Cristo, “que é, que era, e que há de vir, o Todo-Poderoso”. “Há diversidades de operações”, também, em escrever Evangelhos, “mas é o mesmo Espírito que opera tudo em todos”.
Mateus descrevera Jesus como Rei, salientando Sua majestade. Marcos O apresentara como o Servo do Senhor, dando ênfase a Seu poder. Lucas, então, apresentou-O como o Filho do homem, destacando Sua humanidade. João focalizou-O, depois, como Deus, chamando nossa atenção para a Sua divindade.
Orlando S. Boyer. Espada Cortante 2. Editora CPAD. pag. 14-15.
            O evangelho de Lucas foi chamado o livro mais encantador do mundo. Uma vez um americano pediu a Denney que lhe recomendasse um bom livro sobre a vida de Cristo, ao que este respondeu: "Você já leu o que escreveu Lucas?"
Existe uma lenda segundo a qual Lucas era um hábil pintor; até há um quadro da Maria em uma catedral espanhola que se diz ser dele. Certamente captava muito bem as coisas vivas. Não seria muito desacertado dizer que o terceiro evangelho é a melhor vida de Cristo que se escreveu.
BARCLAY. William. Comentário Bíblico. LUCAS. pag. 4

I - O TERCEIRO EVANGELHO

1. AUTORIA E DATA.
            Como veremos mais adiante, a tradição que atribui autoria lucana para o terceiro Evangelho é muito antiga. No texto bíblico, as referências ao “médico amado” são Colossenses 4.14; 2 Timóteo 4.11 e Filemon 24. Todavia assim como outros escritos do Novo Testamento, o terceiro Evangelho também não traz grafado o nome de seu autor.
Evidências internas da autoria lucana
Diferentemente de outros livros neotestamentários que são anônimos, o terceiro Evangelho deixou pistas que permitiram à igreja atribuir a Lucas, o médico amado, a sua autoria. Alguns desses indícios internos listados pelos biblistas são:

1. Tanto o livro de Lucas como o livro de Atos são endereçados a uma pessoa identificada como Teófilo. “Tendo, pois, muitos empreendido pôr em ordem a narração dos fatos que entre nós se cumpriram, segundo nos transmitiram os mesmos que os presenciaram desde o princípio e foram ministros da palavra, pareceu-me também a mim conveniente descrevê-los a ti, ó excelentíssimo Teófilo, por sua ordem, havendo-me já informado minuciosamente de tudo desde o princípio” (Lc 1.3), “Fiz o primeiro tratado, ó Teófilo, acerca de tudo que Jesus começou, não só a fazer, mas a ensinar, até ao dia em que foi recebido em cima, depois de ter dado mandamentos, pelo Espírito Santo, aos apóstolos que escolhera; aos quais também, depois de ter padecido, se apresentou vivo, com muitas e infalíveis provas, sendo visto por eles por espaço de quarenta dias e falando do que respeita ao Reino de Deus” (At 1.1-3).

2. Como vimos, o livro de Atos se refere a um outro livro que fora escrito anteriormente (At 1.1), que sem dúvida alguma trata-se do terceiro Evangelho. Quem escreveu Atos dos Apóstolos, portanto, escreveu também o terceiro evangelho.

3. O estilo literário e as características estruturais de Lucas e Atos apontam na direção de um só autor;

4. Muitos temas comuns ao terceiro Evangelho e Atos não são encontrados em nenhum outro lugar do Novo Testamento. Por exemplo, a ênfase na ação carismática do Espírito Santo sobre Jesus e seus seguidores (Lc 24.49; At 1.4-8). Devemos observar ainda, como destaca Walter Liefeld, dentro dessa perspectiva, que o autor de Lucas-Atos não foi uma testemunha ocular dos feitos de Jesus, mas um cristão da segunda geração que se propôs a documentar a tradição existente sobre Jesus e o andar dos primeiros cristãos. Na passagem de Atos 16.10-17, a referência à primeira pessoa do plural (nós) além de revelar que Lucas era um dos companheiros de Paulo na segunda viagem missionária mostra também que era ele quem documentava esses registros:
“E, logo depois desta visão, procuramos partir para a Macedônia, concluindo que o Senhor nos chamava para lhes anunciarmos o evangelho. E, navegando de Trôade, fomos correndo em caminho direito para a Samotrácia e, no dia seguinte, para Neápolis; e dali, para Filipos, que é a primeira cidade desta parte da Macedônia e é uma colônia; e estivemos alguns dias nesta cidade. No dia de sábado, saímos fora das portas, para a beira do rio, onde julgávamos haver um lugar para oração; e, assentando-nos, falamos às mulheres que ali se ajuntaram. E uma certa mulher, chamada Lídia, vendedora de púrpura, da cidade de Tiatira, e que servia a Deus, nos ouvia, e o Senhor lhe abriu o coração para que estivesse atenta ao que Paulo dizia. Depois que foi batizada, ela e a sua casa, nos rogou, dizendo: Se haveis julgado que eu seja fiel ao Senhor, entrai em minha casa e ficai ali. E nos constrangeu a isso. E aconteceu que, indo nós à oração, nos saiu ao encontro uma jovem que tinha espírito de adivinhação, a qual, adivinhando, dava grande lucro aos seus senhores. Esta, seguindo a Paulo e a nós, clamava, dizendo: Estes homens, que nos anunciam o caminho da salvação, são servos do Deus Altíssimo” (At 16.10-17).
Essas evidências internas, sem sombra de dúvidas, apontam a autoria lucana do terceiro Evangelho. A propósito, em 1882 o escritor W.K. Hobart em seu livro: A Linguagem Médica de Lucas demonstrou a existência de vários termos médicos usados no terceiro Evangelho, o que confirmaria a autoria lucana. Posteriormente a obra O Estilo Literário de Lucas, escrita por H. J. Cadbury tentou mostrar que não somente Lucas usou termos médicos em sua obra, mas que outros escritores, mesmo não sendo médicos, fizeram o mesmo. Mas como bem observou William Hendriksen, quando se faz um paralelo entre Lucas e os demais Evangelhos Sinóticos observa-se a peculiaridade do vocabulário médico empregado por Lucas. Hendriksen comparou, por exemplo, Lucas 4.38 com Mateus 8.14 e Marcos 1.30 (a natureza ou grau da febre da sogra de Pedro); Lucas 5.12 com Mateus 8.2 e Marcos 1.40 (a lepra); e Lucas 8.43 com Marcos 5.26 (a mulher e os médicos). Ainda de acordo com Hendriksen, pode-se acrescentar facilmente outros pequenos toques. Por exemplo, somente Lucas declara que era a mão direita que estava seca (6.6, cf. Mt 12.10; Mc 3.1); e entre os escritores sinóticos, somente Lucas menciona que foi a orelha direita do servo do sumo sacerdote a ser cortada (22.50; cf. Mt 26.51 e Mc 14.47). Compare também Lucas 5.18 com Mateus 9.2, 6 e Marcos 2.3, 5, 9; e çf. Lucas 18.25 com Mateus 19.24 e Marcos 10.25. Além do mais, conclui Hendrinksen, embora seja verdade que os quatro Evangelhos apresentam Cristo como o Médico compassivo da alma e do corpo, e ao fazê-lo revelam que seus escritores também eram homens de terna compaixão, em nenhuma parte é este traço mais abundantemente notório que no Terceiro Evangelho.

Evidências externas da autoria lucana
           Além dessas evidências internas, há também diversas evidências externas, que fazem parte da tradição cristã, atestando a autoria lucana para o terceiro Evangelho. Uma delas, o cânon muratoriano, escrita em cerca de 180 d.C., confirma a autoria de Lucas: “o terceiro livro do Evangelho, segundo Lucas, que era médico, que após a ascensão de Cristo, quando Paulo o tinha levado com ele como companheiro de sua jornada, compôs em seu próprio nome, com base em relatório”. Em cerca de 135 d.C., antes portanto do Cânon muratoriano, Marcião, o herege, também atesta a autoria de Lucas para o terceiro Evangelho. Testemunho confirmado posteriormente por Irineu (Contra as Heresias, 3.14-1) e outros escritores posteriores.

Data de Composição da Obra
         A data da composição do terceiro evangelho é melhor definida pelos biblistas quando se leva em conta alguns fatores. Por exemplo, se Lucas valeu-se do Evangelho de Marcos como uma de suas fontes, nesse caso é preciso situá-lo em data posterior ao escrito de Marcos que foi redigido alguns anos antes do ano 70 d.C. Segundo, se Lucas é o primeiro volume de uma obra em dois volumes (Lucas-Atos), como se acredita que é, fica bastante evidente que o terceiro Evangelho foi compilado antes dos Atos dos Apóstolos. Nesse caso será preciso primeiramente datar o livro de Atos. Os eruditos acreditam que, levando-se em conta uma análise detalhada do livro de Atos dos Apóstolos, a data para sua redação está entre 61 a 65 d.C. Em Terceiro lugar, a data para a redação de Lucas dependerá também de como se interpreta o sermão feito por Cristo sobre a destruição de Jerusalém (Lc 21.8-36). Nesse caso, argumentam os críticos, Lucas escreveu depois da destruição de Jerusalém no ano 70 visto ter feito referência aos fatos ocorridos nessa data. Esse argumento é fraco, visto que Cristo proferiu uma profecia sobre os eventos do fim e que tiveram início na destruição de Jerusalém. E o que os teólogos denominam de vaticinium ex eventu, isto é, uma profecia que é feita antes que o evento ocorra. Em quarto lugar, muitos críticos argumentam em favor de uma data mais tardia para Lucas, porque segundo eles, algumas situações mostradas nas obras de Lucas demonstrariam situações que ainda não existiam nos anos 60 e 70 d.C. Mas esse é um argumento que não se sustenta pelas mesmas razões já expostas anteriormente.6 Em resumo, Lucas redigiu sua obra entre os anos 60 e 70, sendo que alguns estudiosos opinam para a primeira parte dessa década enquanto outros pela segunda. Seja como for, isso em nada altera aquilo que Lucas escreveu.
José Gonçalves. Lucas, O Evangelho de Jesus, o Homem Perfeito. Editora CPAD. pag. 14-16.

O autor do quarto Evangelho
            Lucas, “o médico amado”(Cl 4.14), a pena que o Espírito Santo usou para escrever este livro, não era um dos apóstolos, como se diz comumente. Nem era discípulo, quando Cristo andava neste mundo. (Compare Lc 1.1,2). Mas, depois de se converter, foi colaborador e amigo íntimo e amado do apóstolo Paulo, acompanhando-o na maior parte das viagens missionárias. Foi-lhe, também, fiel companheiro na prisão de Cesaréia e depois na de Roma, Cl 4.14; Fm 24. Lucas era de descendência judaica. O bom estilo do grego que escreveu indica que era judeu da dispersão. Conforme a tradição era judeu de Antioquia, como Paulo o era de Tarso. Entre os escritores antigos, somente Gregório afirma que Lucas morreu mártir.

A data do livro de Lucas
         Foi, talvez, durante o tempo da prisão em Roma, que Lucas teve vagar para escrever seu Evangelho e, também, Atos dos Apóstolos. Os eruditos, geralmente, concordam que foi entre os anos 63 e 68. Quanto a Igreja deve às prisões pelos preciosos escritos que possui atualmente!
Orlando S. Boyer. Espada Cortante 2. Editora CPAD. pag. 16.
O autor de Atos se refere ao Evangelho especificamente como “o primeiro tratado,” (At 1.1), e ambos são dirigidos a Teófilo (Lc 1.3; At 1.1). Ele fala de si mesmo em ambos os livros como “eu” na frase “pareceu-me” Kajaol, Lc 1.3) e [Eu] fiz eu o At 1.1. Ele se refere a si mesmo com outros termos como “nós”, como em Atos 16.10, e nas seções “nós” de Atos. A unidade de Atos é presumida aqui até que a sua autoria seja discutida no volume 3. O mesmo estilo aparece no Evangelho e em Atos, de forma que a pressuposição é forte em apoio à afirmação do autor. É bem possível que a Introdução formal ao Evangelho (1.1-4) se destinasse também a ser aplicada em Atos que possui apenas uma oração introdutória. Plummer argumenta que supor que o autor de Atos tenha imitado o Evangelho intencionalmente é supor um milagre literário. Até mesmo Cadbury, que não está convencido da autoria de Lucas, diz: “Em meu estudo de Lucas e Atos, a sua unidade é um axioma fundamental e inspirador.”2 Ele acrescenta: “Elas não são meramente duas escrituras da mesma caneta; elas são uma obra única e contínua. Atos não é um apêndice nem uma reflexão posterior. É provavelmente uma parte integral do plano e propósito originais do autor.”

A DATA DO EVANGELHO
             Existem dois fatos extraordinários para marcar a data deste Evangelho de Lucas. Foi depois do Evangelho de Marcos, visto que Lucas faz uso abundante dele. Foi antes de Atos dos Apóstolos, visto que ele definitivamente se refere a ele em Atos 1.1. Infelizmente a data precisa de ambos termini é incerta. Ainda existem alguns estudiosos que defendem que o autor de Atos mostra conhecimento do livro Antiguidades de Josefo e que a sua data é, portanto, posterior a 85 d.C., uma posição errada, na minha opinião, mas um ponto a ser discutido quando chegarmos á análise do livro de Atos. Ainda outros defendem mais plausivelmente que Atos foi escrito depois da destruição de Jerusalém e que o Evangelho de Lucas possui uma clara alusão àquele acontecimento (Lc 21.20ss), que é interpretado como uma profecia post eventum em vez de uma predição de Cristo, com uma geração de antecedência. Muitos que aceitam este ponto de vista defendem a autoria de Atos e do Evangelho como sendo de Lucas.
Há muito tempo defendo este ponto de vista, não tão habilmente defendido por Hamack, de que Atos dos Apóstolos termina da maneira que termina pelo motivo simples e óbvio de que Paulo ainda estava preso em Roma. Se Lucas quis que Atos fosse usado no tribunal em Roma, o que pode ter acontecido ou não, não é a questão. Alguns argumentam que Lucas contemplava um terceiro livro que cobriria os eventos do tribunal e a carreira posterior de Paulo. Não há prova deste ponto de vista. O fato impressionante é que o livro termina com Paulo já prisioneiro por dois anos em Roma.
             Se Atos foi escrito por volta de 63 d.C., como eu acredito ser o caso, então obviamente o Evangelho vem antes; quanto tempo antes, não sabemos. Acontece que Paulo era prisioneiro há pouco mais de dois anos em Cesareia. Este período deu a Lucas uma abundante oportunidade para o tipo de pesquisa do qual ele fala em Lucas 1.1-4. Na Palestina ele poderia ter acesso a pessoas familiares com a vida e os ensinos terrenos de Jesus e a quaisquer documentos que já estivessem produzidos a respeito destas questões. Lucas pode ter produzido o Evangelho durante o final da estada de Paulo em Cesareia ou durante a primeira parte da primeira prisão romana, em algum ponto entre 59 e 62 d.C.
O outro testemunho diz respeito à data do Evangelho de Marcos que já foi discutida no volume 1. Não há uma dificuldade real no caminho da data inicial do Evangelho de Marcos. Todos os fatos que são conhecidos admitem, e até mesmo favorecem uma data próxima a 60 d.C. Se Marcos escreveu o seu Evangelho em Roma, como é possível, certamente seria antes de 64 d.C., a data em que Nero pôs fogo em Roma. Há estudiosos, porém, que defendem uma data muito anterior para o seu Evangelho, chegando a 50 d.C.
A. T. ROBERTSON. COMENTÁRIO LUCAS À Luz do Novo Testamento Grego. Editora CPAD. pag. 14; 17-18.
               A tradição tem sempre crido que Lucas é o autor e não temos nenhum escrúpulo em aceitar a tradição neste caso. No mundo antigo era comum atribuir os livros a nomes famosos; ninguém via mal nisso. Mas Lucas nunca foi uma figura famosa na igreja primitiva. Se não tivesse escrito o evangelho é mais que seguro que ninguém o tivesse atribuído como autor. Lucas era um gentio; e tem a distinção de ser o único autor do Novo Testamento que não é judeu. Era médico de profissão (Colossenses 4:14) e possivelmente esse mesmo feito lhe conferisse a grande simpatia que possuía.
Tem-se dito que um pastor vê o melhor dos homens; um advogado vê o pior, e um médico os vê tal como são. Lucas via os homens e os amava. O livro foi escrito para um homem chamado Teófilo. É chamado excelentíssimo Teófilo, tratamento que geralmente se dava aos altos funcionários do governo romano. Sem dúvida Lucas o escreveu para contar mais a respeito de Jesus a uma pessoa muito interessada; e teve êxito em dar a Teófilo um quadro que deve ter aproximado seu coração ainda mais ao Jesus do qual tinha ouvido.
BARCLAY. William. Comentário Bíblico. LUCAS. pag. 4

2. A OBRA.
Data de Composição da Obra

            A data da composição do terceiro evangelho é melhor definida pelos biblistas quando se leva em conta alguns fatores. Por exemplo, se Lucas valeu-se do Evangelho de Marcos como uma de suas fontes, nesse caso é preciso situá-lo em data posterior ao escrito de Marcos que foi redigido alguns anos antes do ano 70 d.C. Segundo, se Lucas é o primeiro volume de uma obra em dois volumes (Lucas-Atos), como se acredita que é, fica bastante evidente que o terceiro Evangelho foi compilado antes dos Atos dos Apóstolos. Nesse caso será preciso primeiramente datar o livro de Atos. Os eruditos acreditam que, levando-se em conta uma análise detalhada do livro de Atos dos Apóstolos, a data para sua redação está entre 61 a 65 d.C. Em Terceiro lugar, a data para a redação de Lucas dependerá também de como se interpreta o sermão feito por Cristo sobre a destruição de Jerusalém (Lc 21.8-36). Nesse caso, argumentam os críticos, Lucas escreveu depois da destruição de Jerusalém no ano 70 visto ter feito referência aos fatos ocorridos nessa data. Esse argumento é fraco, visto que Cristo proferiu uma profecia sobre os eventos do fim e que tiveram início na destruição de Jerusalém. E o que os teólogos denominam de vaticinium ex eventu, isto é, uma profecia que é feita antes que o evento ocorra. Em quarto lugar, muitos críticos argumentam em favor de uma data mais tardia para Lucas, porque segundo eles, algumas situações mostradas nas obras de Lucas demonstrariam situações que ainda não existiam nos anos 60 e 70 d.C. Mas esse é um argumento que não se sustenta pelas mesmas razões já expostas anteriormente. Em resumo, Lucas redigiu sua obra entre os anos 60 e 70, sendo que alguns estudiosos opinam para a primeira parte dessa década enquanto outros pela segunda. Seja como for, isso em nada altera aquilo que Lucas escreveu.
José Gonçalves. Lucas, O Evangelho de Jesus, o Homem Perfeito. Editora CPAD. pag. 17.
           As narrações de Lucas nos arrebatam por seu interesse humano. São histórias de eventos na vida  humana, eventos comoventes, eventos cheios de alegria e de tristeza, cheios de cânticos e de lágrimas, de louvor e de oração.
E só Lucas que escreve o nascimento e a meninice de Jesus Cristo e de Seu precursor, lançando um grande e significativo halo de glória sobre a infância de todos nós.
O livro de Lucas é notável pelos cânticos registrados. Há, ao menos, seis: A Maria do anjo Gabriel, 1.28. A Beatitude de Isabel, 1.42. A Magnificai, de Maria, 1.46-55. O Benedictus, de Zacarias, 1.68-79. O Glória in excelsis, dos anjos, 2.14. O Nunc-dnnittis, de Simeão, 2.29-32.
E Lucas que marca as datas mais plenamente. (Vede cap. 1.5,26,36; 2.1,2,21,22,36,37,42; 3.1,2.)
Lucas é que dá mais atenção à glória do sexo feminino, esboçando o grupo imortal de mulheres que andavam com jesus: Isabel, a virgem mãe, a idosa Ana, a viúva de Naim, a viúva que ofertou tudo que possuía, as irmãs de Betânia, a pecadora penitente, a mulher curvada por Satanás, as mulheres santas que seguiam a Jesus de aldeia em aldeia, as “filhas de Jerusalém” que, chorando, O acompanharam até a cruz,...
 Lucas fala mais nas orações de Cristo do que Mateus, Marcos ou João (Vede cap. 3.21; 5.16; 6.12; 9.18,29; 11.1; etc.)
É só Lucas que dá a parábola de 1) Os dois devedores (7.41-43), 2) 0 bom samaritano (10.25-37), 3) 0 amigo importuno (11.5-8), 4) O rico insensato (12.116-21), 5) Os servos vigilantes (12.35-40), 6) O mordomo (12.42-48), 7) A figueira estéril (13.6-9), 8) A grande ceia (14.16-224), 9) A construção de uma torre (14.28-33), 10) A moeda perdida (15.8-10), 11) O filho perdido (15.11-32), 12) O administrador infiel (16.1.13), 13) O rico e Lázaro (16.19-31), 14) O senhor e seu servo (17.7-10), 15) A viúva importuna (18.1-8), 16) O fariseu e o publicano (18.10-14), 17) As dez minas (19.12-27).
              Lucas é o Evangelho do lar. É esse livro que nos dá um olhar momentâneo para a vida no lar em Nazaré, da cena na casa de Simeão, da hospitalidade de Maria e Marta, da refeição com os dois discípulos em Emaús, da parábola do amigo importuno à meia noite, da mulher varrendo a casa, em procura da dracma perdida, e do pródigo, que volta ao lar paterno.
            O livro de Lucas é, também, o Evangelho dos pobres e dos humildes como se descobre no cântico de Maria, no nascimento do Rei dos reis em uma estrebaria, na vida do precursor do Rei no deserto, na parábola do néscio rico, na história do rico e Lázaro e no óbolo da viúva.
Grande e eterna é a perda daqueles que não conhecem intimamente 0 Evangelho segundo Lucas. Que o Espírito Santo abra nossos olhos para ver a admirável beleza da “mais bela obra do mundo”! Então podemos levar os alunos de nossa Escola Dominical, e os membros de nossa igreja, a contemplarem praticamente a beleza que é verdadeira, que é eterna e que nos encanta mais. “Se vós estiverdes em mim, e as minhas palavras estiverem em vós, pedireis tudo o que quiserdes, e vos será feito” (Jo 15.7).
Orlando S. Boyer. Espada Cortante 2. Editora CPAD. pag. 17.

            Os textos de Lucas estão entre os mais literários dos livros do Novo Testamento, distintos no original por seu estilo fluente e belo. Lucas é o único dos autores a escrever uma seqüência — o Livro de Atos — que conta a história da igreja primitiva e sua disseminação. Diferentemente dos outros Evangelhos, cujo conteúdo pode ser traçado a partir do passado pelas narrativas das testemunhas oculares da vida de Jesus compartilhada com seus discípulos, Mateus, João e Pedro (a fonte do Evangelho de Marcos), Lucas desenvolve sua narrativa através do que poderíamos chamar, hoje, de “reportagem investigar iva”. Na introdução, Lucas nos conta (1.1-4) que seu trabalho é fruto de cuidadosa pesquisa, no estilo de “uma narrativa ordenada” com o objetivo de levar o leitor “para que conheças a certeza das coisas de que já estás informado”. E muito provável que Lucas tenha realizado a maior parte de sua pesquisa durante os anos em que Paulo esteve preso em Cesaréia, aguardando julgamento (cf. At 23-27).
A exemplo de outros escritores do Evangelho, Lucas tem em mente determinada audiência. Para tanto, moldou seu material para reforçar temas de especial interesse a esse público e aos seus leitores em geral. Muitos concordam que Lucas escreve para os helenistas, com raízes na cultura grega, cujo ideal é arete, “excelência”. Lucas, sempre ciente da divindade de Jesus, também o considerava como o ser humano ideal, capaz de redefinir a excelência.
           A “excelência” em Jesus, é vista não como uma superioridade pessoal em detrimento dos outros, mas uma superioridade pessoal expressa na preocupação com os outros. Os demais valores de Jesus são sutilmente desprezados pela sociedade: a mulher, o pobre, o excluído. A confiança de Jesus na oração e no Espírito Santo revela a humanidade em sua íntima relação com o universo, dependente de um Deus que, embora exista além de nós, nos ama de tal maneira que decidiu se envolver inteiramente em nossa vida. Tudo isro faz de Lucas talvez o mais caloroso e sensível dos quatro Evangelhos e nos proporciona o mais atraente dos retratos de Jesus Cristo.
RICHARDS. Lawrence O. Guia do Leitor da Bíblia. Uma análise de Gênesis a Apocalipse capítulo por capítulo.Editora CPAD. pag. 649.

3. OS DESTINATÁRIOS ORIGINAIS.
           E inegável que Lucas, como um teólogo, demonstrou um grande interesse pelos fatos históricos quando redigiu sua obra. O prólogo, escrito a Teófilo, que se acredita ser um gentio de alta posição social, atesta isso. “Tendo, pois, muitos empreendido pôr em ordem a narração dos fatos que entre nós se cumpriram, segundo nos transmitiram os mesmos que os presenciaram desde o princípio e foram ministros da palavra, pareceu-me também a mim conveniente descrevê-los a ti, ó excelentíssimo Teófilo, por sua ordem, havendo-me já informado minuciosamente de tudo desde o princípio, para que conheças a certeza das coisas de que já estás informado” (Lc 1.1-4).
José Gonçalves. Lucas, O Evangelho de Jesus, o Homem Perfeito. Editora CPAD. pag. 19.
            O próprio autor declara peremptoriamente um dos propósitos que teve, ao escrever a sua obra, no prefácio deste evangelho (1:1-4). Muitas pessoas haviam escrito a respeito de Jesus e sua vida admirável, talvez de maneiras incompletas e quiçá contraditórias; e Lucas desejava suprir uma narrativa em ordem e digna de confiança para Teófilo (que evidentemente era um alto oficial romano, possivelmente recém-convertido ao cristianismo). Todavia, também é possível que Teófilo não fosse o único destinatário porque Lucas pode ter tido o interesse de suprir um evangelho em ordem e completo para leitores não-judeus. E Lucas também queria esclarecer, ao governo imperial de Roma, que os cristãos não eram alguma seita sediciosa e subversiva, e nem mera facção do judaísmo; pelo contrário, que a sua mensagem é universal, e, por isso mesmo, importante para todos os povos. Também desejava apresentar um Salvador universal, um grande e compassivo Médico, Mestre e Profeta, que viera aliviar os sofrimentos humanos e salvar as almas dos homens.
CHAMPLIN, Russell Norman, O Novo Testamento Interpretado versículo por versículo. Editora Candeias. Vol. 2. pag. 1-2.
                Entre os evangelhos sinóticos: Mateus escreveu para os judeus, Marcos para os romanos, Lucas para os gentios. Tanto o terceiro Evangelho e Atos refletem um enorme interesse em difundir o cristianismo aos não-judeus. No Evangelho de Lucas, por exemplo, a fé do centurião Jesus disse foi superior ao de qualquer judeu é contada; a história do Bom Samaritano, onde Jesus religiosidade quase irônico dos judeus.
               Destinatários-leitores, apenas um é mencionado: uma Teófilo, o epíteto krátistos 2903 , também se aplica ao governador romano Félix (Atos 24: 3) (. Atos 26:25) e Festus, e serve para questionar a noção que Teófilo é simplesmente um termo genérico para todos os crentes como "amado do Senhor", que é o que o nome-e que indica uma pessoa de alguma posição (comp. 1 Coríntios. 1:26). No entanto, é possível que, apesar de ser especificamente destinada a um possível patrono rico do trabalho, o objetivo geral são precisamente aqueles considerados-o probe "amado de Deus" (como visto abaixo no comentário) . Mas esta maneira de abordar esta convertido gentio, Teófilo é realmente uma dedicação. FF Bruce afirma que o título de "Excelência", se usado com precisão apontar o que um membro da Ordem Equestre da sociedade romana; mas poderia ser usado de forma mais geral, como um título de cortesia. Pode notar-se aqui o paralelo com a dedicação feito por Josephus na sua obra Contra Apion a mais excelente Epaphroditus.
               Pode muito bem ser esperado que Theophilus apoiaria a publicação do livro de Lucas. O que está claro é que você tinha em mente para os leitores gentios. Por exemplo, deve-se notar o cuidado Lucas para informar seus leitores sobre pontos palestiniana relacionados à geografia, mesmo a mais simples, e isso contrasta com o fato de que seus leitores eram judeus. Por outro lado, Lucas deliberadamente evita o uso de Aramaisms comorabi ; ou semitismos como hosana . Isso explica mais uma vez que Lucas escolheu um monte de material sobre os bandidos da sociedade judaico-romano, incluindo a "leitura de Nazaré", porque ele queria enfatizar que o ministério de Jesus foi ungido pelo Espírito do Senhor, que completamente desconhecido para os crentes gentios.
Daniel Carro; José Tomás Poe; Ruben O. Zorzoli. Comentário bíblico mundo hispano. Editora Mundo Hispanico. Casa Batista de Pulblicaiones.

II - OS FUNDAMENTOS E HISTORICIDADE DA FÉ CRISTÃ

1. O CRISTIANISMO NO SEU CONTEXTO HISTÓRICO.
            Como um escritor inspirado e um teólogo cristão, Lucas mostra que o tempo do cumprimento das promessas de Deus, preditas nos antigos profetas, havia chegado. Fica claro para ele que o advento do cristianismo foi precedido pela renovação do Espírito profético. O último profeta, Malaquias, havia silenciado cerca de quatrocentos anos antes. Esse hiato entre os dois testamentos é conhecido como período inter-bíblico. Agora esse silêncio é rompido, primeiramente pelo anúncio feito a Zacarias, pai de João Batista (Lc 1.13) e posteriormente a Maria, a mãe de Jesus (Lc 1.28). É, contudo, no ministério de João Batista, que Lucas mostra a restauração da antiga profecia bíblica: “E, no ano quinze do império de Tibério César, sendo Pôncio Pilatos governador da Judeia, e Herodes, tetrarca da Galileia, e seu irmão Filipe, tetrarca da Itureia e da província de Traconites, e Lisânias, tetrarca de Abilene, sendo Anás e Caifás sumos sacerdotes, veio no deserto a palavra de Deus a João, filho de Zacarias” (Lc 3.1-2).
Essa restauração da antiga profecia bíblica, como veremos em capítulos posteriores, é importante no contexto da teologia carismática de Lucas. Já foi dito que Lucas escreveu uma obra em dois volumes e esse é um fato importante porque essa homogeneidade nos ajuda compreender a ação do Espírito Santo na teologia Lucas-Atos. No Evangelho, Lucas mostra o Espírito atuando sobre o Messias e capacitando-o para realizar as obras de Deus como havia sido prometido nas profecias (Lc 4.18; Is 61.1). Por outro lado, no livro de Atos está o cumprimento da promessa do Messias de derramar esse mesmo Espírito sobre os seus seguidores (Lc 11.13; 24.49; At 1.8). Em outras palavras, o mesmo revestimento de poder que estava sobre Jesus Cristo e que o capacitou a curar os enfermos, ressuscitar os mortos e expulsar os demônios seria também dado a seus seguidores quando ele fosse glorificado. “De sorte que, exaltado pela destra de Deus e tendo recebido do Pai a promessa do Espírito Santo, derramou isto que vós agora vedes e ouvis” (At 2.33); “nós somos testemunhas acerca destas palavras, nós e também o Espírito Santo, que Deus deu àqueles que lhe obedecem” (At 5.32).
José Gonçalves. Lucas, O Evangelho de Jesus, o Homem Perfeito. Editora CPAD. pag. 20.
Tetrarca (v.l): Governador de uma das quatro partes em que se dividiam alguns estados.
Herodes (v.l): Herodes, o Grande, era rei dajudéia, de 39 a 4 AC. Seu filho, Herodes Antipas, que degolou João Batista, era tetrarca da Galiléia, 4 AC a 39 AD.
Herodes Agripa I, que matou a Tiago (At 12) era rei de 27 a 44 AD.
Eis a negra lista dos que governavam no lugar de Davi! Tibério, Pôncio Pilatos, Herodes, Filipe (irmão de Herodes), Anás e Caifás eram homens acerca dos quais sabemos muito pouco, a não ser que eram cruéis, pérfidos, traiçoeiros e sem escrúpulo.
E suficiente isto para salientar o fato de haver chegado o tempo da imperiosa necessidade de João Batista iniciar sua obra.
             Nunca nos convém cair no desespero por causa das nuvens sombrias e ameaçadoras que pairam mais e mais sobre a humanidade. Como no tempo de João Batista, a hbertação dos céus pode estar mais perto do que pensamos. Num momento Deus pode tornar as trevas da meia noite no clarão do meio dia.
Sendo Anás e Caifás sumos sacerdotes (v. 2): No início, os judeus reconheciam apenas um sumo sacerdote. Mas depois, parece o costume de ter dois sumos sacerdotes 2 Rs 25.18. Tanto Zadoque como Abiatar, exerciam o ofício de sumo sacerdote no tempo de Davi, 2 Sm 15.29. Apesar de Anás ter sido deposto por Pilatos, ele continuava a ter grande influência e exercer muito do poder de seu genro Caifás. (Vedejo 18.13; At 4.6.)
Veio no deserto a palavra de Deus a João (v. 2): João, sem dúvida, permanecia no deserto, onde, separado dos homens, podia discernir melhor a vontade do Senhor.
O tempo que gastamos dentro de nosso quarto, com a porta fechada e a sós com Deus, não é tempo perdido.
            Somente aqueles chamados por Deus, aqueles em que o fogo divino arde, devem pregar. Como pode um homem anunciar as verdades que ele mesmo nunca experimentou? Como pode testificar de um Salvador que nunca viu? Como pode pregar a Palavra de Deus se essa Palavra nunca lhe veio? E percorreu... (v. 3): João Batista não foi desobediente à visão celestial, do v. 2. Produzi pois frutos dignos de arrependimento (v. 8): João discriminava praticamente os frutos que deviam produzir: 1) A multidão (v. 10), 2) Aos publicanos, vv . 12,13. 3) Aos soldados, v. 14. Isso nos ensina que 1) O Evangelho é muito prático.
2) Não todas as pessoas têm as mesmas tentações, que há certos pecados que nos apegam mais que outros. (Vede Hb 12.1.)
Orlando S. Boyer. Espada Cortante 2. Editora CPAD. pag. 53.

1. Lucas começa com datas pormenorizadas, não no início do ministério de Jeuss, mas, sim, no início daquele de João. Reflete, assim, a importância crítica do reavivamento da profecia. E coloca aquilo que se segue firmemente no contexto da história secular. Visto que Augusto morreu em 19 de agosto de 14 d.C., o décimo-quinto ano do reinado de Tibério César foi de agosto de 28 d.C. até agosto de 29 d.C. Alguns argumentam que a contagem deveria começar com a co-regência de Tibério com Agusuto, 11-12 d.C.; mas nenhum exemplo pode ser citado de alguém que em qualquer tempo calculasse a data a partir de então. As datas sempre são a partir do tempo em que Tibério veio a ser imperador. Outros sustentam que Lucas está usando o método sírio mediante o qual o ano começava em 1 de outubro. 0 período de 19 de agosto até 30 de setembro seria contado como o primeiro ano do reinado, e o segundo ano começaria em 1 de outubro. Assim, chegaríamos ao ano que começou em 1 de outubro de 27 d.C. Se fosse seguir um sistema judaico semelhante, o ano seria aquele que começava em 1 de Nisã (março-abril) de 28 d.C.9 Não parece que possamos chegar mais perto de cerca de 27-29 d.C.
              Sendo Pôncio Pilatos governador. Esta palavra tem significado muito geral, mas uma inscrição mostra que seu título era “prefeito” (e não “procurador,” conforme muitas vezes tem sido sustentado). A Judeia fazia parte da região distribuída por Herodes Magno a Arqueleu, mas este reinou tão mal que seus súditos dirigiram uma petição aos romanos para que o removessem. Fizeram-no, e instalaram seu próprio governador em 6 d.C. Pilatos deteve este cargo em 26-36 d.C .Herodes é Herodes Antipas, filho de Herodes Magno. Ficou sendo tetrarca da Galiléia e da Peréia na ocasião da morte do seu pai em 4 a.C., e deteve o cargo até 39 d.C. Destarte, reinou durante a maior parte da vida de Jesus sobre o território em que a maior parte do tempo de Jesus foi passada. A palavra tetrarca significa, a rigor, um soberano sobre uma quarta parte de uma região, mas veio a ser empregada para qualquer príncipe insignificante (Herodes Magno, na realidade, dividiu seu reino em três partes). O irmão de Herodes, Filipe, reinou sobre sua tetrarquia (que ficava ao nordeste do Mar da Galiléia) de 4 a.C. até 33 ou 34 d.C. Lisânias é um problema. Josefo menciona um homem com este nome que governou um território extenso a partir da sua capital de Cálquis até sua morte em 36 (ou 34) a.C. (Antiguidades xv.92) e alguns tiraram a conclusão de que Lucas enganouse.
Há, porém, inscrições que se referem a um Lisânias num período posterior que reinou como tetrarca de Abilene, que fica ao norte das demais regiões mencionadas (ver a Nota Adicional em Creed). Parece melhor sustentar que Lucas independe de Josefo e que escreve acerca deste Lisânias posterior. Nada mais se sabe acerca deste homem.
               2. Lucas passa a acrescentar uma data de especial importância aos judeus, a saber: a referência aos sumos sacerdotes. Anás era sumo sacerdote em 6-15 d,C., quando, então, o governador romano Grato o depôs. Cinco dos seus filhos vieram a ser sumos sacerdotes no decurso do tempo, e Caifás, que deteve o cargo de 18 até 36 d.C., foi seu genro. Lucas emprega o singular, que demonstra que sabia que havia um só sumo sacerdote. Parece que quer dizer que Caifás era o detentor oficial do cargo, mas que Anás ainda exercia grande influência, e talvez que ainda fosse considerado por muitos judeus como o verdadeiro sumo sacerdote (cf. At 4:6).
Talvez valha a pena indicar que quando Jesus foi preso, foi trazido primeiramente a Anás (Jo 18:13).
               Na ocasião definida de modo tão impressionante, pois, veio a palavra de Deus a João. A expressão é muito semelhante àquela que se emprega na LXX acerca da maneira de os profetas receberem sua mensagem (cf. Jí 1:2). Provavelmente visa colocar João na sucessão profética verdadeira. 3. Ele percorreu toda a circunvizinhança do Jordão parece significar que João viajava muito no vale do Jordão. Diferentemente de Mateus e Marcos, Lucas nada diz acerca da aparência e dos hábitos dietéticos de João. Vai diretamente à mensagem dele. João pregava batismo de arrependimento para remissão de pecados. Trata-se de um batismo que segue o arrependimento e que é sinal dele, João conclamava as pessoas a se voltarem dos seus pecados, A aceitação do batismo era um sinal que assim fizeram.
O propósito era o perdão. o batismo era um rito de purificação em certo número de religiões. Parece certo que neste tempo os judeus usavam o batismo dos proséütos. Consideravam impuros todos os gentios, de modo que os batizavam quando se tomavam prosélitos (além de circuncidar os homens). O ferrão que havia na prática de João era que aplicava aos judeus a cerimônia considerada apropriada para os gentios impuros. Muitos judeus esperavam que no julgamento Deus tratasse duramente com os pecadores gentios, mas que os judeus, os descendentes de Abraão, o amigo de Deus, estariam seguros. João denuncia esta atitude e remove a imaginada segurança.
Leon L. Morris. Lucas. Introdução e Comentário. Editora Vida Nova. pag. 89-91.
No versículo 1, Lucas faz menção de várias regiões políticas nas quais o país dos judeus fora dividido e que existia quando João começou seu ministério público.
Os seis itens cronológicos aos quais Lucas faz menção serão comentados na ordem 2, 3, 4, 5, 6, 1. Essa seqüência será seguida porque, como este autor a vê, o sexto item lança luz sobre a compreensão correta do item 1.
              2. A palavra de Deus veio a João, filho de Zacarias, “sendo Pôncio Pilatos governador da Judeia”. Veja o esquema dado no comentário sobre Lucas 2.1.0 que sucedeu foi o seguinte: Herodes o Grande elaborou um testamento que foi por ele revisado várias vezes. No momento de sua morte (em ou antes de 4 de abril do ano 4 a.C.), o governo romano permitiu que a última revisão fosse reconhecida. Conseqüentemente, Arquelau, um filho que Herodes o Grande teve com Maltace, foi feito etnarca da Judeia, Samaria e Iduméia. Veja o gráfico da árvore genealógica de Herodes na página 268, vol. 1, de C.N.T. sobre Mateus. Devido, porém, ao fato de Arquelau ter sido um governante cruel (veja novamente C.N.T. sobre Mateus, vol. 1, pp. 265, 266 para obter detalhes), ele foi deposto no ano 6 d.C. O imperador designou então um “governador” para substituir Arquelau, e a tríplice região, que então passou a chamar-se província da Judeia, passou a ser uma divisão da prefeitura da Síria, de modo que o governador ficasse, em alguma medida, subordinado ao legado da Síria. Não obstante, na própria Judeia, o governador exercia autoridade irrestrita.
              Os governadores seguiam uns aos outros em rápida sucessão. A província da Judeia não foi uma exceção. Pôncio Pilatos foi o quinto desses “governadores”. Nessa qualidade, ele governou de 26 a 36 d.C. E óbvio que as duas teorias mencionadas antes - ou seja, (a) e (b) - são compatíveis com essas datas.
             3. “Herodes, tetrarca da Galiléia.” Esse homem, comumente conhecido como “Herodes Agripa”, era irmão de Arquelau. O mesmo fato que fez Arquelau um “etnarca”, fez Herodes Antipas um “tetrarca” da Galiléia (e Peréia). Este permaneceu em sua posição de 4 a.C. a 39 d.C., quando foi banido para Lião, na Gália. Para os fatos que o levaram a seu desterro, veja C.N.T. sobre Mateus, vol. 2, p. 125. Algum tempo depois o domínio que lhe fora tirado foi agregado ao reino de Herodes Agripa I, o Herodes a que faz referência Atos 12.
Herodes Antipas é o “Herodes” que encontramos nos Evangelhos (com exceção de Mt 2.1-19 e Lc 1.5, onde a referência é a seu pai, Herodes I, o Grande). É evidente que o longo reinado como tetrarca deixa amplo espaço às teorias (a) e (b).
              4. “Seu irmão Filipe, tetrarca da região de Ituréia e Traconite.” Filipe era um filho de Herodes I com Cleópatra de Jerusalém (não confundir com a Cleópatra egípcia). A informação que temos dele devemos, em sua grande parte, a Josefo, Antigüidades XVIII106-108. Filipe foi quem ampliou e embelezou a cidade de Paneas, situada próximo à nascente do Jordão, e a chamou Cesaréia. Para distinguir esse lugar da Cesaréia no Mediterrâneo, começou a ser chamada “Cesaréia de Filipe” (Mt 16.13). Ele também ampliou Betsaida, isto é, a Betsai- da localizada próximo à confluência setentrional do lago da Galiléia e do rio Jordão, e a chamou Betsaida Júlia, em honra de Júlia, filha do imperador Augusto, supramencionada (veja p. 192). Segundo Josefo, esse Filipe foi um homem de excelente caráter, alguém que teve cuidado especial por seu povo. Ele governou de 4 a.C. até sua morte, em 34 d.C. No que se refere a seu reinado, tanto a teoria (a) quanto a (b) podem ser corretas.
                5. “E Lisânias, tetrarca de Abilene.” A afirmação de Lucas já não está só, como sucedeu durante muitos anos. Foi confirmada por uma inscrição numa rocha a oeste de Damasco.165 Essa inscrição afirma que Lisânias realmente foi governador dessa região, e num tempo em que novamente não apresenta nenhum problema a ambas as teorias (a) e (b).
6. “E sendo sumos sacerdotes Anás e Caifás.” Anás (ou “Ananus”, como Josefo o chama) fora designado sumo sacerdote por Quirino no ano 6 a.C., e foi deposto por Valério Grato em cerca do ano 15 d.C. Mas, embora deposto, ele continuou sendo por longo tempo o espírito predominante do Sinédrio. Cinco filhos e um neto o sucederam no sumo sacerdócio; também um genro, o mesmo mencionado por Lucas, a saber, Caifás. Este último manteve o ofício sumo sacerdotal de 18 a 36 d.C. O Novo Testamento se refere a Caifás nas seguintes passagens (além de Lc. 3.2): Mateus 26.3, 57; João 11.49; 18.13, 14, 24, 28; e Atos 4.6; a Anás, também em João 18.13, 24; Atos 4.6.
                Pode parecer estranho que Lucas identifique o começo do ministério de João Batista com o sumo sacerdócio não só de Caifás, mas “de Anás e Caifás”. Anás, afinal de contas, foi deposto de seu ofício em 15 d.C., bem antes de o ministério de João Batista começar, segundo as teorias (a) e (b). Podemos compreender que Lucas identifique o começo do ministério de João com o sumo sacerdócio de Caifás (18-36 d.C.), mas por que o de Anás?
Não obstante, Lucas está certo. Ele está pensando na situação real, não unicamente oficial. A verdadeira situação era que tanto Anás quanto Caifás eram os condutores durante todo o período do ministério de João e durante o tempo que durou o ministério de Cristo; Anás, com a mesma autoridade de Caifás - talvez com mais autoridade ainda que Caifás. Para mais informação acerca desses dois homens, veja C.N.T. sobre João 11.49-52; 18.13, 19-28. Também aqui as teorias (a) e (b) podem estar certas.
               1. Voltamos agora ao primeiro item cronológico dado por Lucas, a saber, “No ano décimo quinto do império de Tibério César... a palavra de Deus veio a João, filho de Zacarias ...”
Há quem argumente dizendo que, já que João começou seu ministério “no ano décimo quinto de Tibério César”, e já que Tibério começou a reinar quando da morte do Imperador Augusto em 19 de agosto do ano 14 d.C., o ministério de João deve ter-se iniciado no ano 28 ou, talvez, em 29 d.C. Para uma defesa da teoria (b) e nossos contra-argumentos.
HENDRIKSENWilliam. Comentário do Novo Testamento. Lucas I. Editora Cultura Cristã. pag. 269-272.

2. DISCIPULADO ATRAVÉS DOS FATOS.
             Lc 1.4. O verbo instruído ê freqüentemente usado para a instrução dos convertidos cristãos ou os interessados {katècheõ; ver Atos 18:25; 1 Co 14:19, etc.). Alguns deduzem que Teófilo era crente, e apoiam esta ideia com o argumento de que dificilmente teria sido o patrocinador literário de Lucas se não o fosse. Contra a ideia, no entanto, insiste-se que provavelmente teria sido chamado “irmão” se fosse crente. De qualquer maneira, o verbo pode ser usado de um relatório tanto hostil como errado (e, g. Atos 21:21, 24), de modo que devamos conservar aberta a possibilidade de que não passasse dalguém de fora que estava interessado. Certamente sabia alguma coisa acerca da fé cristã, e Lucas quer que ele saiba as verdades dela. Ne d B. Stonehouse entende que a verdade é especialmente importante no Prólogo. O “impacto principal” do Prólogo é “que o cristianismo é verdadeiro e é capaz de confirmação mediante o apelo aquilo que acontecera.”
Leon L. Morris. Lucas. Introdução e Comentário. Editora Vida Nova. pag. 63-64.
Lc 1.4. Para que conheças, um segundo subjuntivo aoristo ativo, “plenitude de conhecimento”, além do conhecimento que ele já tem.
A certeza sem deslizar (tropeçar ou cair, e a negação). Lucas promete uma narrativa confiável. “Teófilo saberá que a fé que ele abraçou tem uma inexpugnável fundação histórica”.
Das coisas, literalmente, palavras, os detalhes das palavras na instrução.
Estás informado um primeiro indicativo aoristo passivo. Ele não é encontrado no Antigo Testamento, e é raro no grego antigo, mas aparece nos papiros. A palavra é a nossa palavra eco; (repetir, instruir, dar instrução oral. (Cf. 1 Co 14.9; At 21.21,24; 18.25; G1 6.6). Os homens, que davam o ensinamento, eram chamados catequistas e os que recebiam a instrução eram chamados catecúmenos. Se Teófilo era ainda um catecúmeno, não se sabe. Este prefácio, escrito por Lucas, está em Koivf| literário esplêndido, e não é superado por nenhum autor grego (Heródoto, Tucídides, Políbio). É inteiramente possível que Lucas estivesse familiarizado com este hábito dos historiadores gregos de escrever prefácios, uma vez que ele era um homem culto.
A. T. ROBERTSON. COMENTÁRIO LUCAS À Luz do Novo Testamento Grego. Editora CPAD. pag. 27.
                Observe por que Lucas enviou o Evangelho a “Teófilo”: Eu lhe escrevi estas coisas não para que você possa dar reputação ao trabalho, mas para que você possa ser edificado por ele, (v. 4): “Para que conheças a certeza das coisas de que já estás informado.” 1. Está implícito que Teófilo fora instruído sobre estas coisas, antes do seu batismo, ou logo depois, ou ambas as hipóteses, de acordo com a lei, Mateus 28.19,20. Provavelmente Lucas o batizara, e sabia o quão instruído ele estava; peri hon katecheth.es - a respeito daquilo com que você fo i catequizado-, esta é a palavra; os cristãos de maior conhecimento começavam sendo catequizados (ou discipulados). Teófilo era uma pessoa de qualidade, talvez de família nobre; e mais esforços devem ser empreendidos com tais pessoas quando são jovens, para ensiná-las os princípios dos oráculos de Deus, para que possam ser fortalecidas contra as tentações, e capacitadas para as oportunidades, sim, aos que têm uma elevada condição no mundo. 2. A intenção era que ele conhecesse a certeza destas coisas, compreendendo-as mais claramente e crendo mais firmemente. Existe uma certeza no Evangelho de Cristo, existe algo sobre o que podemos edificar; e aqueles que são bem instruídos nas coisas de Deus quando são jovens, mais tarde devem procurar diligentemente conhecer a certeza de tais coisas – conhecer não somente aquilo em que cremos, mas saber por que cremos nisto, para que possam ser capazes de dar “a razão da esperança” que há em nós.
HENRY. Matthew. Comentário Matthew Henry Novo Testamento MATEUS A JOÃO Edição completa.Editora CPAD. pag. 509.

III - A UNIVERSALIDADE DA SALVAÇÃO

1. A HISTÓRIA DA SALVAÇÃO.
            A história da Salvação no terceiro Evangelho é revelada em seu aspecto particular e universal. Sem dúvida a ênfase maior está na universalidade da Salvação. Jesus veio para os judeus, mas não somente para estes, ele veio também para os gentios. A Salvação é para todos! Esse princípio teológico de Lucas fica em evidência quando se observa o lugar que os excluídos ocupam nos seus registros. No anúncio do nascimento de Jesus feito pelos anjos aos camponeses foi dito: “Vos trago boa-nova de grande alegria, que o será para todo o povo” (Lc 2.10).
José Gonçalves. Lucas, O Evangelho de Jesus, o Homem Perfeito. Editora CPAD. pag. 21.
No primeiro enunciado (v. 16), Jesus declara que a lei e os profetas duraram até João. João Batista é ao mesmo tempo o fim da antiga era e o início da nova. Ele havia recebido o ministério de preparar o povo para a chegada do Messias (v. 1:57-80; 3:120).
Desde então (desde o Batista) é anunciado o reino de Deus, a saber, o reino é pregado por Jesus e seus apóstolos (v. a nota abaixo, a respeito da última parte do v. 16). Conforme vimos na Introdução (v. a p. 22ss.), Lucas 16:16 é um versículo importante para que se entenda o conceito do evangelista a respeito da obra redentora de Deus na história. Parece que Lucas entendia que a história era formada de três eras, ou épocas (v. Fitzmyer, p. 185). A primeira época é mencionada em Lucas 16:16a, que vai da criação ao aparecimento de João Batista. E o período da “lei e dos profetas”. Com o surgimento de João Batista, encerra-se esse período e inaugura-se outro. Esse segundo período, mencionado no v. 16b, é o período de Jesus na terra, quando o Senhor proclamou “as Boas Novas do reino de Deus. A terceira época é o período da igreja, como se pode verificar em Atos 1:6-8; nesse tempo os seguidores de Jesus pregam a fé da páscoa (v. Atos 2:16-39). Durante esse tempo a igreja tem a ordem de pregar as Boas Novas por todo o mundo (Atos 1:8).
Craig a. Evans. Comentário Bíblico Contemporâneo. Lucas. Editora Vida. pag. 278.
O Senhor Jesus passou a se dirigir aos publicanos e pecadores como os candidatos que mais provavelmente seriam os objetos da operação do seu Evangelho, do que aqueles fariseus avarentos e presunçosos (v. 16): “A Lei e os Profetas duraram até João, e a dispensação do Antigo Testamento, que estava limitada a vós, judeus, continuou; até que João Batista apareceu a vós, que parecíeis ter o monopólio da justiça e da salvação, e estais envaidecidos com isto, e isto vos confere uma elevada estima entre os homens, que vos consideram como os maiores estudantes da lei e dos profetas.” Mas, desde que João Batista apareceu, o Reino de Deus é anunciado. Esta é a dispensação do Novo Testamento, que não avalia os homens por serem doutores da lei, mas todo homem entra no reino do Evangelho, gentios bem como judeus, e nenhum homem se considera tão bom ou merecedor de tamanha misericórdia a ponto de deixar que suas qualidades passem adiante de si, ou de permanecer até que os príncipes e os fariseus o conduzam por este caminho. Esta não chega a ser uma constituição nacional política como era o governo judaico, quando a salvação era somente dos judeus; mas é como uma preocupação pessoal específica. E, assim, todo homem que está convencido de que tem uma alma para salvar, e uma eternidade para a qual deve se preparar, se esforça para entrar, para que o seu acesso ao céu não seja barrado por causa de alguma ninharia ou lisonja”. Alguns dão este sentido a esta palavra; eles zombavam de Cristo ou falavam com desprezo das riquezas, porque pensavam da seguinte forma: Não havia muitas promessas de riquezas e outras coisas temporais boas na lei e nos profetas? E grande parte dos melhores servos de Deus não era composta por muito ricos, como Abraão e Davi? “E verdade,” disse Cristo, “assim foi, mas agora que o Reino de Deus começou a ser anunciado, as coisas tomam um novo rumo: agora bem-aventurados são os pobres, os que choram, e os que são perseguidos.” Os fariseus, para retribuírem ao povo pela opinião elevada que tinham deles, permitiam que tivessem uma religião insignificante, fácil e formal. “Mas,” disse Cristo, “agora que o Evangelho é anunciado, os olhos das pessoas são abertos. E como não podem ter, agora, uma veneração pelos fariseus, como vinham tendo, eles não podem se satisfazer com tal indiferença na religião, como haviam sido instruídos, mas se lançam com uma santa violência para dentro do Reino de Deus”. Observe que aqueles que querem ir para o céu devem padecer, devem lutar contra a corrente, devem produzir uma forte impressão na multidão que está indo na direção contrária.
HENRY. Matthew. Comentário Matthew Henry Novo Testamento MATEUS A JOÃO Edição completa.Editora CPAD. pag. 664.
A vinda de Jesus marcava uma linha divisória. Até então, a revelação de Deus tinha sido feita na lei (a rigor: os livros de Gênesis até euteronômio) e os profetas. A expressão combinada representa a totalidade do Antigo Testamento. Operava bem até aos tempos de João Batista. Conzelmann atribui muito significado a esta passagem. Entende que “o período de Israel” durou até este ponto, inclusive o ministério de João. Enfatiza isto mais do que as palavras de Lucas exigem, mas há, sem dúvida, uma ênfase sobre a nova situação causada pela vinda de Jesus. Agora, vem sendo anunciado o evangelho do reino de Deus. O reino é o tópico predileto de Jesus no Seu ensino (ver sobre 4:43). Representa o domínio de Deus na totalidade da vida.
Leon L. Morris. Lucas. Introdução e Comentário. Editora Vida Nova. pag. 235-236.

2. A SALVAÇÃO EM SEU ASPECTO UNIVERSAL.
         Todo o povo, e não apenas os judeus, era objeto da graça de Deus. E inegável a atenção que se dá aos pobres, excluídos e marginalizados no Evangelho de Lucas. O Espírito Santo estava sobre Jesus para “evangelizar os pobres” (Lc 4.18). É interessante observarmos que a palavra grega ptochoi, traduzida como pobres, significa alguém que possui alguma carência. E exatamente esses carentes que Jesus irá priorizar em seu ministério. Ele dará grande atenção aos publicanos, pecadores, mulheres e aos samaritanos que eram discriminados naquela cultura (Lc 5.32; 7.34-39;9.51-56; 10.3; 15.1; 17.16; 18.13; 19.10).
Essa Salvação predita pelos profetas, anunciada pelos anjos e declamada em forma poética pelo sacerdote Zacarias e Maria, mãe de Jesus, é também de natureza escatológica. A teologia lucana mostra João anunciado a chegada do Reino e Jesus estabelecendo-o durante o seu ministério. Todavia esse Reino inaugurado pela manifestação messiânica (Lc 4.43; 8.1; 9.2; 17.21) ainda não está revelado em toda a sua extensão. Já podemos, sim, viver a sua realidade no presente, mas a sua plenitude somente na sua parousial (At 1.6-11).
Essa é a nossa esperança!
José Gonçalves. Lucas, O Evangelho de Jesus, o Homem Perfeito. Editora CPAD. pag. 21.
          Apesar de suas origens judaicas, todavia, o cristianismo deveria ser reputado como religião universal, porque não reconhecia qualquer limitação racial ou cultural. O evangelho de Lucas traça a genealogia de Jesus até A dão, e não até Abraão; e esse fato, por si mesmo, é extremamente significativo, porquanto subentende universalidade. Jesus foi declarado pelo profeta Simeão como «...luz para revelação aos gentios, e para glória do teu povo de Israel» (Lucas 2:32). No evangelho de Lucas, em seu sermão inaugural, Jesus asseverou que Elias não fora enviado às muitas viúvas de Israel, e, sim, a Sarepta, na terra de Sidom, ao passo que Eliseu não purificou nenhum dos muitos leprosos que havia em Israel, mas tão-somente a Naamã, o sírio. Um samaritano, e não um judeu, é o herói de uma das mais coloridas parábolas do evangelho de Lucas. Quando Jesus curou os dez leprosos, apenas um, um agradecido samaritano, regressou para louvar a Deus e dar-lhe graças. Além desses fatos, também devemos notar que o próprio evangelho de Lucas prepara o caminho para o livro de Atos, que é, bem definidamente, uma descrição sobre a evangelização universal, feita pelos cristãos primitivos.
            E é assim que ouvimos Pedro a pregar: «Reconheço por verdade que Deus não faz acepção de pessoas; pelo contrário, em qualquer nação, aquele que o teme e faz o que é justo lhe é aceitável» (Atos 10:34,35). E é ali, igualmente, que encontramos as palavras de Paulo e Bamabé: «Eu te constituí para luz dos gentios, a fim de que sejas para salvação até aos confins da terra » (Atos 13:46,47). Por conseguinte, pode-se ver claramente que um dos grandes temas deste evangelho é a—universalidade—da mensagem cristã.
CHAMPLIN, Russell Norman, O Novo Testamento Interpretado versículo por versículo. Editora Candeias. Vol. 2. pag. 2.
           A medida que o evangelho se espalha, torna-se aguda a questão de como os gentios se enquadram no plano redentor de Deus. Visto que muitos gentios na verdade creram e se uniram à igreja, que crescia rapidamente, ergueu-se, como seria natural, a questão: o que os gentios tinham que ver com um movimento religioso predominantemente judaico, enraizado em Israel, com suas promessas escriturísticas? Para Lucas a resposta tinha aspectos tanto positivos quanto negativos. De modo positivo, o evangelho do reino deveria ser oferecido a todos. O livro de Atos registra a divulgação do evangelho primeiro entre os judeus (Atos 2:5—7:60), depois aos samaritanos, que eram judeus “mestiços” (Atos 8:2-24), depois aos gentios “tementes a Deus” (algumas traduções dizem “piedosos”) que haviam recebido instruções anteriores na fé judaica (Atos 10:1 — 11:18) e finalmente a gentios que jamais haviam tido contato com o judaísmo (Atos 13:2—28:31). O hábito de Paulo durante suas viagens missionárias de entrar primeiro nas sinagogas para pregar a seus compatriotas judeus (v. Atos 13:16-41; 14:1-3; 17:1-3, 10-12; 18:2-4) reflete esse padrão e exprime-se por essa filosofia de evangelização bem conhecida: “primeiro do judeu, e também do grego” (Romanos 1:16; 2:10). Outra evidência positiva da legimitidade dos gentios como membros participantes do movimento judaico messiânico foi o fato de os gentios receberem o batismo do Espírito Santo.
            A semelhança dos apóstolos judeus (Atos 2:2-4), samaritanos e gentios também receberam o Espírito Santo (Atos 8:14-17; 10:44-47; 11:15-18). Nas palavras de Paulo, os primeiros cristãos, independentemente de identidade étnica, foram “batizados em um só Espírito... e a todos nós foi dado beber de um só Espírito” (ICoríntios 12:13).
Lucas também oferece uma resposta negativa à questão gentílica. Houve uma razão explícita para o fato de os missionários se voltarem para os gentios: a incredulidade dos judeus e sua rejeição do evangelho. Que a liderança religiosa judaica se opunha ao ensino apostólico se evidencia logo de início no registro de Atos (Atos 4:1-22; 5:17-42). Essa oposição representa apenas a continuação da descrença que Jesus havia encontrado previamente (Lucas 19:47,48; 20:1-8,19,20; 22:47,23:25), a qual era característica do renitente Israel (Lucas 13:34). De fato, Lucas vai à origem da descrença dos fariseus na pregação de João Batista: “Mas os fariseus e os doutores da lei rejeitaram o conselho de Deus quanto a si mesmos, não tendo sido batizados por ele” (Lucas 7:30). A mudança formal da evangelização dirigida primordialmente aos judeus para uma evangelização voltada para os gentios encontra-se no sermão temático de Paulo em Atos 13:16-47. Paulo adverte seus compatriotas judeus a que não endureçam o coração à pregação do evangelho e cita uma profecia ominosa de Habacuque: “Vede entre as nações, e olhai, e maravilhai-vos, e admirai-vos, porque realizo em vossos dias uma obra, que vós não crereis, quando vos for contada” (Habacuque 1:5, citada em Atos 13:41). Exatamente como Paulo temera, os judeus começaram a encher-se “de inveja, e, blasfemando, contradiziam o que Paulo falava” (Atos 13:45). Então, Paulo declara: “Era necessário que a vós se pregasse primeiro a palavra de Deus. Mas, visto que a rejeitais, e não vos julgais dignos da vida eterna, voltamo-nos para os gentios” (Atos 13:46).
             Como justificativa dessa nova estratégia Paulo cita Isaías 49:6, de que Simeão havia mencionado parte (Lucas 2:32), ao contemplar o menino Jesus; aquele ancião reconhecera o significado de Jesus para o mundo: “Eu te pus para luz dos gentios, a fim de que sejas para salvação até os confins da terra” (Atos 13:47). Diferentemente dos judeus rebeldes e incrédulos, os gentios se regozijaram e reagiram demonstrando fé (Atos 13:42,43,48).
Essa mudança de judeus para gentios tem origem no próprio cerne do ensino de Jesus, com respeito a como ser membro do reino de Deus. Não é, portanto, uma solução repentina e provisória, diante de uma circunstância inesperada. Em numerosas passagens, algumas das quais encontram-se apenas no evangelho de Lucas, Jesus declara que certas pessoas, cuja aparência sugeriria serem as mais prováveis receptoras do favor de Deus, e segundo os padrões humanos seriam consideradas merecedoras desse favor divino, nem sempre se mostram receptivas à presença de Deus. Muita gente “confiante” em sua salvação e em suas recompensas vir-se-á um dia sob julgamento. E outros indivíduos, que pareceriam menos religiosos, que teriam recebido menos bênçãos nessa vida, poderão vir a ser recompensados e abençoados. O exemplo clássico dessa ideia se encontra na parábola do rico e Lázaro (Lucas 16:19-31). O rico gozou de todas as boas coisas que essa vida poderia oferecer. Vestia-se bem e alimentava-se bem, morando numa bela mansão. Lá fora, na rua, todavia, jazia o pobre Lázaro, esfarrapado, subnutrido, doente e desabrigado. Contrariando a crença popular da Palestina do primeiro século, Lázaro foi para o céu e o rico para o inferno. Por que a história terminou dessa maneira, e por que tal fim contrariou a expectativa popular? NãO se lê que Lázaro fosse pessoa virtuosa; tampouco somos informados de que o rico era homem perverso (embora, por inferência, entendamos que fosse bastante insensível às necessidades daquele seu pobre semelhante). O rico vai para o inferno não por ter sido rico, nem porque desprezou a Lázaro; de modo semelhante, Lázaro foi para o céu, não por ter sido pobre e doente. A ênfase que o Jesus traçado por Lucas coloca nessa parábola é que as aparências, a posição social e os padrões de vida não dão indicação segura da posição que a pessoa ocupa perante Deus.
Leon L. Morris. Lucas. Introdução e Comentário. Editora Vida Nova. pag. 22-24.
             Este Evangelho apresenta a Jesus como o Homem ideal e como o Salvador de todos os tipos de homens. Aqui vemo-Lo passar por todos os estágios de uma vida humana normal, da infância, através da meninice, até adulto amadurecido. Aqui Ele é visto atingindo a vida humana em todos os seus lados, entrando na vida doméstica do povo e movendo-Se entre todas as classes da sociedade. Lucas torna claro que a simpatia de Jesus dirigiu-se especialmente para com os pobres, os quais compõem a grande maioria da humanidade, e para com as mulheres, as quais eram desprezadas tanto pelos judeus como pelos gentios naquele mundo antigo.
O evangelho universal que Paulo pregava daria a Lucas a base para o retrato que ele pinta do Salvador, e a própria denominação que Lucas tinha como o “médico amado” dar-lhe-ia uma compreensão simpática da natureza e necessidades do homem.
DAVIDSON. F. Novo Comentário da Bíblia. Lucas. pag. 3-4.

IV - A IDENTIDADE DE JESUS, O MESSIAS ESPERADO

1. JESUS, O HOMEM PERFEITO.
              Seu nome é Filho de Deus não por causa de quaisquer façanhas extraordinárias ou por causa de uma graça que posteriormente se derrama sobre Ele, mas por ter sido em essência e desde a eternidade o Filho perpétuo de Deus – por isso ele também continuou sendo o Filho de Deus no momento de se tornar humano, em virtude de sua maravilhosa geração, ocorrida a partir de Deus por intermédio do Espírito Santo. Cristo é verdadeiro Deus, porém da mesma maneira verdadeiro ser humano. Jesus é o único ser humano que certamente precisava nascer, mas não renascer.
Fritz Rienecker. Comentário Esperança Evangelho de Lucas. Editora Evangélica Esperança.
«Filho de Deus». Embora esse apelativo tenha uma aplicação mais ampla do que apenas o nome de «Cristo», e talvez nao contenha qualquer idéia de deidade, dependendo do contexto em que se encontra, aparece aqui para indicar uma relação toda especial com Deus—provavelmente a participação na mesma essência—assim ensinando indiretamente a divindade de Cristo.
Foi atribuído, sob diferentes circunstâncias a Israel, a reis e a sacerdotes, como título. Em algumas referências, quando Cristo está em foco, não há qualquer intenção de destacar essa relação especial com Deus ou com a natureza divina de Jesus. Se acompanharfnos o uso dessa expressão pelas páginas sagradas, haveremos de encontrar as seguintes declarações:

1. Jesus é identificado com o personagem profético do Messias davídico do V.T.

2. Reivindica uma relação especial, existente entre Jesus e Deus Pai.

3. Às vezes indica a natureza divina de Jesus, e até mesmo a perfeita união com o Pai (João 5:19,30; 16:32; Heb. 1:3,4).

4. Embora tenha sido inicialmente aplicada ao Messias davídico, posteriormente assume qualidades transcendentais e se torna um título de Jesus Cristo, com o intuito de indicar a sua natureza divina.
CHAMPLIN, Russell Norman, O Novo Testamento Interpretado versículo por versículo. Editora Candeias. Vol. 2. pag. 16.
             Este é o primeiro emprego que Lucas faz da expressão o Filho do homem, que empregará, ao todo, vinte e seis vezes. É a designação predileta de Jesus para Si mesmo, e acha-se mais de 80 vezes nos Evangelhos, e isto em todos os estratos que os críticos discernem em todos os quatro Evangelhos. É empregada somente por Jesus (excetuando-se Estêvão em At 7:56). Parece ser Sua maneira de referir-Se ao Seu messiado com o emprego de um termo que não despertaria as associações erradas nas mentes dos homens. O Filho do homem, pois, falou a palavra da cura e ordenou o paralítico que tomasse seu leito e fosse para casa.
Leon L. Morris. Lucas. Introdução e Comentário. Editora Vida Nova. pag. 112.
Filho do homem. Expressão hebraica que significa, principalmente, uma posição humilde, depravação, ou ausência de privilégios especiais. Por cerca de oitenta vezes essa expressão é usada para indicar Jesus, e não é usada com referência a algum profeta por vir, como al^ns supõem. Mat. 16:13-15 mostra que embora Jesus tivesse falado na terceira pessoa, o termo se refere a ele mesmo.Essa expressão podecontér dois sentidos principais: 1. Apresentação de Jesus como ser humano típico, isto é, representante da raça humana. Esse é o significado comum dos termos que contêm a expressão «filho de». 2. Identificação que Jesus fez de si mesmo com a personagem profética de Dan, 7:13,14. Isso fica claro em I Crô. 16:13-17. Tudo indica que Jesus usou esse termo com ambos os sentidos. Sua missão usualmente é implícita, incluindo até a sua missão futura, ambas em um segundo advento (Mat. 10:23), e como juiz universal (João 5:22-27). Neste versículo, a ênfase recai sobre a idéia de sua posição humilde, como homem, idéia de aviltamento.
CHAMPLIN, Russell Norman, O Novo Testamento Interpretado versículo por versículo. Editora Candeias. Vol. 2. pag. 343.

2. O MESSIAS E O ESPÍRITO SANTO.
             O Espírito do Senhor é sobre mim, pois me ungiu para... (v.18): Notem-se os cinco ofídos com que o Espírito Santo habilitoujesus: 1) Evangelista, “pois me ungiu para evangelizar os pobres”. Uma das marcas mais notáveis da divindade do ministério de Cristo, em grande contraste a qualquer outra obra no mundo, foi a de evangelizar “a toda criatura”, inclusive aos pobres e desprezados. 2) Médko, “enviou-me a curar”.Jesus, ao voltar do deserto, iniciou Sua investida tríplice contra o reino de Satanás (Mt 4.23): O diabo dominava os pensamentos dos homens, Jesus os livrara ensinando. O mesmo inimigo escravizava a vontade dos homens, Jesus a libertava pregando o Evangelho. Satanás afligia os corpos e as almas dos homens por meio de doenças e demônios, Jesus os curava. 3) Libertador, “a apregoar liberdade aos cativos”. Jesus é o verdadeiro Emancipador, rompendo o poder do mal sobre a vida dos homens. 4) Uurrúna/hr, “dar vista aos cegos”. Sua obra de restaurar vista aos cegos servia como símbolo de Ele restaurar vista, também, aos olhos espirituais. Note-se como Cristo primeiramente abriu os olhos físicos ao cego de nascença (Jo 9) e depois seus olhos espirituais. Ele é que ilumina, pois é a Luz do mundo, Jo 9.5. 5) Restaurador, “anundar o ano aceitável do Senhor.” (Comp. 2 Co 6.2.) Isto é, Cristo anundava a chegada da era de grandes favores dos céus para os homens. Refere-se primeiramente ao ano do jubileu. (Vede Lv 25.8-22.) De cinqüenta em cinqüenta anos o sacerdote tocava a trombeta anundando a vibrantíssima notída de que chegara o dia 1) de todos os escravos ficarem livres, 2) de todas as terras reverterem aos seus primeiros proprietários, 3) de perdão generoso de dívidas.                     O Senhor pregava, proclamando, o jubileu espiritual, quando os cativos de Satanás foram soltos, quando a dívida do pecado foi cancelada, e quando a herança perdida pelo primeiro Adão, foi restaurada pelo segundo Adão.
Orlando S. Boyer. Espada Cortante 2. Editora CPAD. pag. 61.
             Em primeiro lugar, como O Senhor Jesus foi qualificado para o trabalho: O Espirito do Senhor é sobre mim. Todos os dons e graças do Espírito foram outorgados a Ele, não por medida, como a outros profetas, mas sem medida, João 3.34. Ele veio pela virtude do Espírito, v. 14. Em segundo lugar, Como Ele foi comissionado: Pois que me ungiu e enviou-me. A sua qualificação extraordinária elevou-se a uma comissão; o fato de ter sido ungido significa ser adequado para a tarefa como também chamado para ela. Deus unge aqueles que Ele elege para qualquer serviço: Uma vez que Ele me enviou, Ele enviou o seu Espírito comigo. Em terceiro lugar, qual era a sua obra. Ele foi qualificado e comissionado: 1. Para ser um grande profeta. Ele foi ungido para pregar; isto é mencionado três vezes aqui, pois esta era a obra que Ele agora estava iniciando. Observe: (1) A quem Ele deveria pregar: aos pobres; àqueles que eram pobres no mundo, a quem os doutores judeus desdenhavam, não os ensinavam, e falavam deles com desprezo; aos que eram pobres de espírito, aos mansos e humildes, e àqueles que estavam verdadeiramente tristes pelo pecado: por eles o Evangelho e a graça serão bem recebidos, e eles os terão, Mateus 11.5. (2) O que o Senhor Jesus deveria pregar. Em geral, Ele deve pregar o Evangelho. Ele é enviado euangelizesthai - para evangelizá-los; não só para pregar a eles, mas para tornar esta pregação efetiva; para trazer o evangelho não só aos seus ouvidos, mas aos seus corações, e moldá-los conforme o seu propósito. Três coisas que Ele deve pregar:
[1] Liberdade aos cativos. O evangelho é uma proclamação de liberdade, como aquela que beneficiou Israel no Egito e na Babilônia. Pelos méritos de Cristo, os pecadores podem ser libertados das cadeias da culpa, e pelo seu Espírito e pela sua graça da servidão da corrupção. É uma libertação da pior das escravidões pela qual serão beneficiados todos aqueles que estiverem desejosos de fazer de Cristo a sua Cabeça, e de serem governados por Ele.

[2] Dar vista aos cegos. Ele veio não só pela Palavra de seu Evangelho para trazer luz para aqueles que estavam nas trevas, mas pelo poder da sua graça, para dar vista aos cegos; não só ao mundo gentílico, mas a toda alma pecadora que não está somente na servidão, mas em cegueira, como Sansão e Zedequias. Cristo veio para nos dizer que Ele tem um colírio para nós; para termos este colírio só é necessário que o peçamos. Se a nossa oração for: Senhor, que os nossos olhos possam ser abertos, a sua resposta será: Receba a tua visão.

[3] O ano aceitável do Senhor, v. 19. Ele veio para deixar o mundo saber que Deus, a quem eles haviam ofendido, estava disposto a se reconciliar com eles, e a aceitá-los em novos termos; que ainda havia uma maneira de tornar o serviço deles aceitável a Ele; que há agora um tempo de boa vontade para com os homens. Esta bênção faz alusão ao ano da libertação, ou do jubileu, que era um ano aceitável para os servos, que estavam agora sendo colocados em liberdade; aos devedores, contra os quais todas as ações foram anuladas; e para aqueles que haviam hipotecado as suas terras, porque então retornariam a elas. Cristo veio para tocar a trombeta do jubileu; e bem-aventurados foram aqueles que ouviram o som festivo, Salmos 89.15. Era um tempo aceitável, porque era um dia de salvação.

2. Cristo veio para ser um grande Médico; porque Ele foi enviado para curar os quebrantados de coração, para consolar e curar as consciências aflitas, para dar paz àqueles que estavam perturbados e humilhados pelos pecados, e sob o medo da ira de Deus contra eles por causa desta situação. O Senhor veio para trazer descanso para aqueles que estavam cansados e oprimidos sob o fardo da culpa e da corrupção.

3. Para ser um grande Redentor. Ele não só proclama a liberdade aos cativos, como fez Ciro aos cativos na Babilônia (Quem quer que desejar, poderá subir), mas o Senhor coloca em liberdade aqueles que são oprimidos. Ele, pelo seu Espírito, os inclina e capacita para fazerem uso da liberdade concedida, como até então nenhum deles havia feito, exceto aqueles cujo espírito Deus despertou, Esdras 1.5. Ele veio em nome de Deus Pai para pagar a dívida dos pobres pecadores que eram devedores e prisioneiros da justiça divina. Os profetas só puderam proclamar a liberdade; mas Cristo, como alguém que possui autoridade, como alguém que tinha poder na terra para perdoar pecados, veio para colocar o povo em liberdade; portanto, esta frase é acrescentada aqui. O Dr. Lightfoot pensa que os judeus permitiram que os seus leitores comparassem Escritura c
om Escritura, em sua leitura, para que tivessem a explicação exata do texto. Cristo a acrescentou a partir de Isaías 58.6, onde foi expresso o dever do ano aceitável, que consistia em permitir que os oprimidos fossem postos em liberdade, e a frase que a Septuaginta usa é a mesma desta.
HENRY. Matthew. Comentário Matthew Henry Novo Testamento MATEUS A JOÃO Edição completa.Editora CPAD. pag. 550.
«O Espírito do Senhor está sobre m im ...» A maior parte dessa seleção é extraída da versão LXX do trecho de Is. 61:1,2, e de um trecho de Is. 53:6, que diz: «...proclamar libertação aos cativos...», também baseado na LXX. A citação original expressava certa consciência post-exílica do profeta, acerca de uma missão especial. Essa passagem é considerada—messiânica— em seu sentido e aplicação mais amplos, pelo que Jesus a aplicou a si mesmo, o que demonstra que tinha consciência de estar cumprindo o ofício de Messias. Essa mesma passagem evidentemente sublinha as palavras que Jesus proferiu ante os mensageiros de João Batista, conforme se lê em Luc. 7:22 (ver também Mat. 11:5), a respeito da pergunta de João sobre a identidade de Jesus como Messias.
A frase empregada por Lucas, «...me ungiu...» sem dúvida tem por intenção servir de referência ao batismo de Jesus e à sua unção com o Espírito Santo. Lucas também salientou especialmente a missão de Jesus, de pregar as boas novas aos «pobres». (Ver também Luc. 6:20). O cativeiro referido nestes versículos pode ser reputado como um cativeiro morai e espiritual. Jesus não se referia aqui a prisões físicas, e, sim, em libertar individuos das prisões invisíveis mas perfeitamente reais da dúvida, do temor, do pecado e da depravação. Existe o cativeiro da carne, do erro, da inaptidão e da frustração. As im a s em cativeiro são apenas meias-almas. Lemos no livro de Erich Fromm,:«Escape from Freedom», que as pessoas procuram deliberadamente entregar suas personalidades a sistemas, a fim de escaparem da carga de terem de fazer escolhas. Por isso é que milhões de alemães cederam ao nazismo fanático, e muitos milhões cedem atualmente ao comunismo, pois em ambos os casos as pessoas podem seguir a «linha do partido», livrando-se da carga de dirigirem os seus próprios destinos, como deveriam fazer. Prisões têm existido e continuam existindo em grande número, e são individuais e sociais; e nas Escrituras o pecado é pintado como o pior de todos os carcereiros, porquanto por causa do pecado ficamos separados de Deus e da busca espiritual apropriada pela verdade e por Deus. Jesus, pois, proclamou uma liberdade da qual todos podem participar, porque esse é o sentido do seu ministério.
CHAMPLIN, Russell Norman, O Novo Testamento Interpretado versículo por versículo. Editora Candeias. Vol. 2. pag. 49-50.
JESUS E O ESPÍRITO SANTO

Lc 11.13: “Pois, se vós, sendo maus, sabeis dar boas dádivas aos vossos filhos, quanto mais dará o Pai celestial o Espírito Santo àqueles que lho pedirem?”
Jesus tinha um relacionamento especial com o Espírito Santo, relacionamento este importante para nossa vida pessoal. Vejamos as lições práticas desse relacionamento.
AS PROFECIAS DO ANTIGO TESTAMENTO. Várias das profecias do AT sobre o futuro Messias afirmam claramente que Ele seria cheio do poder do Espírito Santo (ver Is 11.2 nota; 61.1-3 nota). Quando Jesus leu Is 61.1,2 na sinagoga de Nazaré, acrescentou: “Hoje, se cumpriu esta Escritura em vossos ouvidos” (4.18-21; ver Jo 3.34b).

          O NASCIMENTO DE JESUS. Tanto Mateus quanto Lucas declaram de modo específico e inequívoco que Jesus veio a este mundo como resultado de um ato milagroso de Deus. Foi concebido mediante o Espírito Santo e nasceu de uma virgem, Maria (Mt 1.18,23; Lc 1.27). Devido à sua concepção milagrosa, Jesus era um “santo” (1.35), i.e., livre de toda mácula do pecado. Por isto, Ele era digno de carregar sobre si a culpa dos nossos pecados e expiá-los (ver Mt 1.23 nota).
Sem um Salvador perfeito e sem pecado, não poderíamos jamais obter a redenção.
            O BATISMO DE JESUS. Quando Jesus foi batizado por João Batista, Ele, que posteriormente batizaria seus discípulos no Espírito, no Pentecoste e durante toda a era da igreja (ver Lc 3.16; At 1.4,5; 2.33,38,39), Ele mesmo pessoalmente foi ungido pelo Espírito (Mt 3.16,17; Lc 3.21,22). O Espírito veio sobre Ele em forma de uma pomba, dotando-o de grande poder para levar a efeito o seu ministério, inclusive a obra da redenção. Quando nosso Senhor foi para o deserto depois do seu batismo, estava “cheio do Espírito Santo” (4.1). Todos os que experimentarem o sobrenatural renascimento espiritual pelo Espírito Santo, devem, como Jesus, experimentar o batismo no Espírito Santo, para lhes dar poder na sua vida e no seu trabalho (ver At 1.8 notas).
             A TENTAÇÃO DE JESUS POR SATANÁS. Imediatamente após o batismo, Jesus foi levado pelo Espírito ao deserto, onde foi tentado pelo diabo durante quarenta dias (4.1,2). Foi pelo fato de estar cheio do Espírito Santo (4.1) que Jesus conseguiu resistir firmemente a Satanás e vencer as tentações que lhe foram apresentadas. Da mesma maneira, a intenção de Deus é que nunca enfrentemos as forças espirituais do mal e do pecado sem o poder do Espírito. Precisamos estar equipados com a sua plenitude e obedecer-lhe a fim de sermos vitoriosos contra Satanás. Um filho de Deus propriamente dito deve estar cheio do Espírito e viver pelo seu poder.
O MINISTÉRIO DE JESUS. Quando Jesus fez referência ao cumprimento da profecia de Isaías acerca do poder do Espírito Santo sobre Ele, usou também a mesma passagem para sintetizar o conteúdo do seu ministério, a saber: pregação, cura e libertação (Is 61.1,2; Lc 4.16-19). (1) O Espírito Santo ungiu Jesus e o capacitou para a sua missão. Jesus era Deus (Jo 1.1), mas Ele também era homem (1Tm 2.5). Como ser humano, Ele dependia da ajuda e do poder do Espírito Santo para cumprir as suas responsabilidades diante de Deus (cf. Mt 12.28; LC 4.1,14; Rm 8.11; Hb 9.14). (2) Somente como homem ungido pelo Espírito, Jesus podia viver, servir e proclamar o evangelho (At 10.38). Nisto, Ele é um exemplo perfeito para o cristão; cada crente deve receber a plenitude do Espírito Santo (ver At 1.8 notas; 2.4 notas).
              A PROMESSA DE JESUS QUANTO AO ESPÍRITO SANTO. João Batista profetizara que Jesus batizaria seus seguidores no Espírito Santo (Mt 3.11; Mc 1.8; Lc 3.16, ver nota; Jo 1.33), profecia esta que o próprio Jesus reiterou (At 1.5; 11.16). Em 11.13, Jesus prometeu que daria o Espírito Santo a todos quantos lhe pedissem (ver nota sobre aquele versículo). Todos estes versículos acima referem-se à plenitude do Espírito, que Cristo promete conceder àqueles que já são filhos do Pai celestial — promessa esta que foi inicialmente cumprida no Pentecoste (ver At 2.4 nota) e permanece para todos que são seus discípulos e que pedem o batismo no Espírito Santo (ver At 1.5; 2.39 nota).
                A RESSURREIÇÃO DE JESUS. Mediante o poder do Espírito Santo, Jesus ressuscitou dentre os mortos e, assim, foi vindicado como o verdadeiro Messias e Filho de Deus. Em Rm 1.3,4 lemos que, segundo o Espírito de santificação (i.e., o Espírito Santo), Cristo Jesus foi declarado Filho de Deus, com poder, e em Rm 8.11 que “o Espírito... ressuscitou dos mortos a Jesus”. Assim como Jesus dependia do Espírito Santo para sua ressurreição dentre os mortos, assim também os crentes dependem do Espírito para a vida espiritual agora, e para a ressurreição corporal no porvir (Rm 8.10,11).
                A ASCENSÃO DE JESUS AO CÉU. Depois da sua ressurreição, Jesus subiu ao céu e assentou-se à destra do Pai como seu co-regente (24.51; Mc 16.19; Ef 1.20-22; 4.8-10; 1Pe 3.21,22). Nessa posição exaltada, Ele, da parte do Pai, derramou o Espírito Santo sobre o seu povo no Pentecoste (At 2.33; cf. Jo 16.7-14), proclamando, assim, o seu senhorio como rei, sacerdote e profeta. Esse derramamento do Espírito Santo no Pentecoste e no decurso desta era presente dá testemunho da contínua presença e autoridade do Salvador exaltado.
A COMUNHÃO ÍNTIMA ENTRE JESUS E SEU POVO. Como uma das suas missões atuais, o Espírito Santo toma aquilo que é de Cristo e o revela aos crentes (Jo 16.14,15). Isto quer dizer que os benefícios redentores da salvação em Cristo nos são mediados pelo Espírito Santo (cf. Rm 8.14-16; Gl 4.6). O mais importante é que Jesus está bem perto de nós (Jo 14.18). O Espírito nos torna conscientes da presença pessoal de Jesus, do seu amor, da sua bênção, ajuda, perdão, cura e tudo quanto é nosso mediante a fé. Semelhantemente, o Espírito atrai nosso coração para buscar ao Senhor com amor, oração, devoção e adoração (ver Jo 4.23,24; 16.14 nota).
                A VOLTA DE JESUS PARA BUSCAR SEU POVO. Jesus prometeu voltar e levar para si o seu povo fiel, para estar com Ele para sempre (veja Jo 14.3 nota; 1Ts 4.13-18). Esta é a bendita esperança de todos os crentes (Tt 2.13), o evento pelo qual oramos e ansiamos (2Tm 4.8). As Escrituras revelam que o Espírito Santo impulsiona nosso coração a clamar a Deus pela volta do nosso Senhor. É o Espírito quem testifica que nossa redenção permanece incompleta até a volta de Cristo (cf. Rm 8.23). No final da Bíblia, temos estas últimas palavras que o Espírito Santo inspirou “Ora, vem, Senhor Jesus” (Ap 22.20).
STAMPIS. Donald C. (Ed) Bíblia de Estudo Pentecostal: Antigo e Novo testamento. Rio de Janeiro: CPAD, 1995.

ELABORADO: Pb Alessandro Silva.