Lição 2 - O Evangelho da Graça



Lição 2 - O Evangelho da Graça
3º trimestre de 2015 - A Igreja E O Seu Testemunho - As Ordenanças De CRISTO Nas Cartas Pastorais
Comentarista da CPAD: Pr. Elinaldo Renovato de Lima
Complementos, ilustrações, questionários e vídeos: Ev. Luiz Henrique de Almeida Silva

TEXTO ÁUREO
"[...] contanto que cumpra com alegria a minha carreira e o ministério que recebi do Senhor JESUS, para dar testemunho do evangelho da graça de DEUS." (At 20.24).

VERDADE PRÁTICA
O evangelho da graça de DEUS é por excelência o evangelho da libertação do homem através do sacrifício salvífico de JESUS CRISTO.

LEITURA DIÁRIA
Segunda - 1 Tm 1.7 - Falsos doutores da lei que não compreendiam o que ensinavam
Terça - 1 Tm 1.9,10 - A Lei não foi feita para os justos, mas para os injustos
Quarta - 1 Tm 1.17 - A DEUS honra e glória para sempre
Quinta - 1 Tm 1.20 - Entregues a Satanás para que aprendam a não blasfemar
Sexta - 2 Tm 4.7 - Combatendo o bom combate da fé cristã
Sábado - Gl 1.15 - Paulo foi chamado pela graça de DEUS
 
LEITURA BÍBLICA EM CLASSE - 1 Timóteo 1.3-10
3 - Como te roguei, quando parti para a Macedônia, que ficasses em Éfeso, para advertires a alguns que não ensinem outra doutrina, 4 - nem se deem a fábulas ou a genealogias intermináveis, que mais produzem questões do que edificação de DEUS, que consiste na fé; assim o faço agora. 5 - Ora, o fim do mandamento é o amor de um coração puro, e de uma boa consciência, e de uma fé não fingida. 6 - Do que desviando-se alguns, se entregaram a vãs contendas, 7 - querendo ser doutores da lei e não entendendo nem o que dizem nem o que afirmam. 8 - Sabemos, porém, que a lei é boa, se alguém dela usa legitimamente, 9 - sabendo isto: que a lei não é feita para o justo, mas para os injustos e obstinados, para os ímpios e pecadores, para os profanos e irreligiosos, para os parricidas e matricidas, para os homicidas, 10 - para os fornicadores, para os sodomitas, para os roubadores de homens, para os mentirosos, para os perjuros e para o que for contrário à sã doutrina.

OBJETIVO GERAL
Explicar o que é o evangelho da graça de DEUS

OBJETIVOS ESPECÍFICOS
Abaixo, os objetivos específicos referem-se ao que o professor deve atingir em cada tópico.
Mostrar porque as falsas doutrinas corrompem o evangelho da graça.
Conscientizar-se de que a graça superabundou com a fé e o amor.
Compreender o significado do bom combate.

INTERAGINDO COM O PROFESSOR
Paulo foi escolhido e enviado pelo Senhor para anunciar e ensinar o verdadeiro significado da graça. No Antigo Testamento apenas Israel era o povo eleito de DEUS. Porém, como prova do seu amor altruísta, DEUS enviou seu filho JESUS CRISTO para morrer na cruz por toda a humanidade. JESUS veio trazer salvação a todos. Em CRISTO não há judeu, gentio, servo, livre, homem ou mulher (Gl 3.28). O evangelho da graça, diferente do judaísmo, não exclui ninguém. Todos são alvos do favor de DEUS. Somos salvos não pelas obras da Lei, nem pelas obras que realizamos, mas recebemos o presente da salvação unicamente pela graça. Que você, juntamente com seus alunos, louvem a DEUS por sua infinita e abundante graça.

PONTO CENTRAL

Os falsos ensinos corrompem o Evangelho da graça de DEUS.

Resumo da Lição 2 - O Evangelho da Graça

I -AS FALSAS DOUTRINAS CORROMPEM O EVANGELHO DA GRAÇA
1. O evangelho da graça.
2. As falsas doutrinas (v.3).
3. O "fim do mandamento" e a finalidade da Lei.

II - A GRAÇA SUPERABUNDOU COM A FÉ E O AMOR
1. Gratidão a DEUS.
2. Humildade.

III - UM CONVITE A COMBATER O BOM COMBATE (vv. 18-20)
1. A boa milícia.
2. A rejeição da fé e suas consequências (1 Tm 1.5).

SÍNTESE DO TÓPICO I - Paulo alerta a respeito das falsas doutrinas, pois elas acabam corrompendo o evangelho da graça.
SÍNTESE DO TÓPICO II - Paulo reconhece que a graça de JESUS superabundou com a fé e o amor que há em JESUS CRISTO.
SÍNTESE DO TÓPICO III - Paulo convida Timóteo a combater o bom combate, mesmo diante das dificuldades.

SUBSÍDIO BIBLIOLÓGICO top 1
"Sete anos antes de Paulo escrever esta epístola, advertira os presbíteros de Éfeso de que os falsos mestres procurariam distorcer a verdadeira mensagem de CRISTO. Agora que isso já estava acontecendo, Paulo exorta Timóteo a confrontá-los com coragem. Este jovem pastor não devia transigir com esses falsos ensinos que corrompiam tanto a lei quanto o evangelho. Ele deveria travar contra eles o bom combate mediante a proclamação da fé original, conforme o ensino de CRISTO e dos apóstolos (2 Tm 1.13,14). A expressão 'outra doutrina' vem do grego heteros e significa 'estranha', 'falsificada', ' diferente'" (Bíblia de Estudo Pentecostal, CPAD, p. 1864).

SUBSÍDIO BIBLIOLÓGICO top 2
"Não obtemos por boas obras (a essência da religião legalista) o direito à libertação do pecado e da morte. Jamais! Graça significa que tudo começa e termina com DEUS. A salvação é, então, um presente de nosso Criador. Nós criamos a nossa própria ruína, mas nele reside nosso socorro. O Criador restaura com as próprias mãos sua obra-prima arruinada. Enquanto a graça é a origem ou fonte da nossa salvação, a fé é o seu meio ou instrumento. A fé não faz reivindicações, para que não seja dito que foi por 'mérito' ou 'obra'"(Comentário Bíblico Beacon. 1. ed. Vol. 9. Rio de Janeiro: CPAD, 2006, p. 136).
"Como salvos em JESUS CRISTO, não temos mais prazer no pecado. Aquele que ainda tem prazer no pecado, não experimentou o novo nascimento".

SUBSÍDIO BIBLIOLÓGICO top 3
"Conforme Timóteo 1.18, houve profecias concernentes à vontade de DEUS para o ministério de Timóteo na igreja (1 Co 14.29). Paulo exorta a Timóteo a permanecer fiel àquela vontade revelada para sua vida. Como pastor e dirigente da igreja, Timóteo devia permanecer leal à verdadeira fé apostólica e combater as falsas doutrinas que estavam penetrando insidiosamente na igreja.
Paulo adverte Timóteo várias vezes a respeito da terrível possibilidade da apostasia e abandono da fé" (Bíblia de Estudo Pentecostal, CPAD, p. 1865). 

CONHEÇA MAIS

*A graça divina
"O apóstolo Paulo foi o principal instrumento humano para transmitir o pleno significado da graça em CRISTO. O Novo Testamento oferece a graça a todos, ao contrário do Antigo Testamento, que geralmente restringe a oferta de graça ao povo eleito de DEUS, Israel. A graça em sua mais completa definição é o favor imerecido de DEUS ao nos dar seu Filho, que oferece a salvação a todos, e dá àqueles que o recebem como Salvador pessoal uma graça acrescentada para esta vida e uma esperança para o futuro."
Leia mais em Dicionário Bíblico Wycliffe, CPAD, p. 876.

PARA REFLETIR
A respeito das Cartas Pastorais:

Segundo a lição, o que é o evangelho da graça?
É o evangelho libertador de CRISTO.
Como eram apresentadas as falsas doutrinas?
Eram apresentadas como fábulas ou genealogias.
De acordo com a lição, cite uma característica marcante do caráter de Paulo?
Sua gratidão a CRISTO.
O ministério de Timóteo havia sido confirmado mediante o quê?
Havia sido confirmado por profecia.
Segundo a lição, qual o resultado da rejeição à fé?
O resultado é o naufrágio na fé.
 
Comentários de diversos autores com algumas modificações do Ev. Luiz Henrique

A PRIMEIRA EPISTOLA A TIMÓTEO - J. N. D. Kelly - Novo Testamento - Vida Nova - Série Cultura Cristã.
1. ENDEREÇO E SAUDAÇÃO. 1:1-2
As cartas gregas antigas tinham fórmulas padronizadas de abertura que consistiam no nome do remetente, o nome do endereçado, e uma breve saudação — usualmente apenas “Saudações.” Paulo, embora se conformasse' com este padrão, introduz modificações relevantes dele próprio. Escreve, por exemplo, na primeira pessoa, tende a passar algum tempo falando da posição dele mesmo e dos seus correspondentes como sendo cristãos, e dá aos bons desejos, usualmente sem colorido, um conteúdo especificamente cristão. Sua fórmula revisada desenvolveu-se no decurso dos anos; conforme aparece nas Pastorais, ainda está passando por desenvolvimento, mas ao mesmo tempo reflete fielmente as etapas que atingira na sua correspondência anterior.

1. Seguindo sua praxe regular desde Gálatas (excetuando em Filipenses e Filemom, onde não tinha preocupação em apelar para a sua autoridade) Paulo começa com a lembrança de que é apóstolo de CRISTO JESUS. Com isso quer dizer que não é mero representante de uma igreja local (para “apóstolo” usado neste sentido, cf. 2 Co 8:23; Fp 2:25), mas, sim, o embaixador do Senhor, pessoalmente escolhido por Ele, encarregado de testificar da Sua ressurreição e proclamar o Seu evangelho. Esta insistência é importante aos seus olhos por acrescentar peso à sua mensagem. Tem sido questionado se um colega leal tal qual Timóteo precisaria de tais lembranças, mas têm razão de ser se a carta foi escrita tendo em vista sua leitura pública diante da congregação em Éfeso, onde havia muitas pessoas que não o queriam bem. O direito de Paulo ao título tem sido frequentemente contestado, mas aqui, como noutros lugares (e.g. Rm 1:1 e 5; G1 1:1) declara que lhe foi dado divinamente; fora pelo mandato de DEUS, nosso Salvador, e de CRISTO JESUS, nossa esperança. Usualmente, refere sua posição apostólica à “vontade” de DEUS (1 Co 1:1; 2 Co 1:1; Ef 1:1; Cl 1:1; 2 Tm 1:1), mas sua linguagem aqui é mais enfática. “Mandato” (Gr. epitagê) conota uma ordem, e é freqüentemente usada de mandamentos reais que devem ser obedecidos. Transmite vividamente a consciência de Paulo de que, longe de ser apenas um privilégio, o apostolado envolve responsabilidade; o apóstolo é um homem sujeito às ordens de DEUS. A comissão viera a ele, presumivelmente na ocasião da sua conversão, da parte de DEUS e CRISTO, entre cujas ações não faz distinção. A descrição de DEUS como Salvador é característica das Pastorais (1 Tm 2:3; 4:10; Tt 1:3; 2:10; 3:4) e fora delas é achada no N.T. somente em Lc 1:47 e Jd 25. Nas raras ocasiões em que Paulo emprega o termo alhures (Fp 3:20; Ef 5:23; 2 Tm 1:10; Tt 3:16), aplica-o a CRISTO (ver 2 Tm 1:10). O A. T. forneceu precedentes abundantes para chamar DEUS de “nosso Salvador” ou “meu Salvador” (e.g. SI 25:5; 27:1, 9; Hc 3:18; Is 12:2; Eclo. 51:1), e o uso feito por Paulo aqui está claramente baseado na prática devocional judaica. Não há, portanto, nenhuma necessidade de considerá-lo uma correção cristã do crescente costume de saudar o imperador como salvador. A expressão inteira, conforme CRISTO JESUS, nossa esperança confirma, tem uma orientação escatológica. DEUS é nosso Salvador porque, na vinda de JESUS, inaugurou um processo de redenção que consumará para Seus escolhidos no último dia. CRISTO é nossa esperança
(a) de um modo geral, porque nEle colocamos nossas esperanças (cf. Cl 1:27: “CRISTO em vós, a esperança da glória”), e
(b) mais precisamente, porque ansiosamente antegozamos Sua “manifestação” (1 Tm 6:14), quando a salvação da qual desfrutamos um antegozo será outorgada em plena medida.

2. Ao chamar Timóteo de verdadeiro filho (o substantivo grego é íntimo: teknori) na fé Paulo está ressaltando seu relacionamento de confiança e afeição, e também, provavelmente, está relembrando que ele mesmo convertera e ordenara (2 Tm 1:6) seu jovem colega. Sobre seu encontro e cooperação, ver a Introdução, pág. 9 . A implicação de verdadeiro (lit. “legítimo,” “nascido de um casamento lícito”) é que nada há de espúrio no cristianismo deste último. Por na fé Paulo não quer dizer “dentro da fé”, que daria um sentido demasiadamente concreto. A força da expressão pode ser instrumental, “pela fé,” enfatizando que é como resultado da sua fé que Timóteo é o filho espiritual de Paulo: cf. 1 Co 4:15. Ou pode denotar a esfera do seu relacionamento, e neste caso 1 Co 4:17 (“meu filho amado e fiel no Senhor”) fornece um paralelo. Fora das Pastorais, a saudação regular de Paulo é “graça a vós e paz. . .” Aqui e em 2 Tm 1:2 encaixa misericórdia e, provavelmente por causa do ritmo, exclui “a ti.” “Graça” (Gr. charis) é uma versão cristianizada da palavra pagã “Saudações” (Gr. chairein). “Paz,” do outro lado, era a saudação judaica usual, e há evidência (Tob. 7:12 no texto S; 2 Bar. lxxviii. 2) de uma bênção judaica “misericórdia e paz,” que o próprio Paulo adapta emG1.6:16. Seu emprego, aqui e em 2 Tm l:2(em nenhum outro lugar) de uma saudação judaica, revisada num sentido cristão, é provavelmente deliberado, e indica o pano de fundo mútuo de pensamento e linguagem que, como judeus, ele e Timóteo tinham em comum. Paulo escreve da parte de DEUS Pai e de CRISTO JESUS, nosso Senhor em lugar da sua expressão costumeira “de DEUS nosso Pai e do Senhor JESUS CRISTO.” £ um erro considerar que esta mudança e as demais mencionadas supra denunciam que o parágrafo não é da parte dele. A inferência contrária é mais plausível, pois um imitador teria tomado o cuidado de modelar suas saudações exatamente segundo a fórmula nas cartas que tinha diante dele.

2. UMA ADVERTÊNCIA CONTRA FALSOS MESTRES. 1:3-11.
Esta passagem imediatamente levanta a questão dos movimentos recentes de Paulo. Conforme a interpretação usual, ele mesmo estava trabalhando lado a lado com Timóteo em Éfeso, e tendo deixado a cidade, agora está repetindo, de modo formal e oficial, a essência das instruções que anteriormente lhe dera verbalmente. Para muitos, tem parecido incrível que ele tivesse feito assim, especialmente porque sua comunicação verbal deve ter sido mais pormenorizada e impressionante. Indicaram, portanto, que a linguagem do Apóstolo não requer, rigorosamente falando, que Éfeso tenha sido seu ponto de partida, mas, sim, é consistente com sua viagem para a Macedônia a partir de, e.g., o ocidente, sendo que suas instruções originais tomaram a forma de notas resumidas às quais agora está acrescentando pormenores. Semelhante viagem, argumentam eles, está mais de conformidade; com 3:14 e 4:13, onde o Apóstolo fala em ir (não voltar) a Éfeso. Embora não seja de modo algum impossível, esta reconstrução dos eventos é, no cômputo geral, menos provável do que aquela que geralmente se aceita. Não há menção de instruções escritas em 3, e a interpretação mais natural deste versículo é que Paulo as dera pessoalmente a Timóteo. Obtemos também« a impressão de que Paulo tem conhecimento em primeira mão da situação e das personalidades em Éfeso. De qualquer maneira, os que apoiam esta segunda reconstrução exageram as dificuldades do ponto de vista comum, olvidando não somente o caráter oficial da carta como também os motivos de Paulo em escrevê-la. Espera que seja lida publicamente em Éfeso, e provavelmente noutras localidades do distrito em derredor também, e depois, que seja preservada nos arquivos da igreja. Seleciona para a repetição, portanto, aspectos da sua instrução original que considera úteis para o aproveitamento geral. Ao mesmo tempo, visto que está ansioso por fortalecer a autoridade de Timóteo, adapta o tom inteiro da carta com este fim em mira. ,
3. No original, a primeira frase começa: “Como te roguei. . .” que é um anacoluto desajeitado, conforme não é infrequente com Paulo (e.g. Rm 2:17ss; 5:12ss.; 9:22ss.), sendo que seu pensamento corre na frente de modo tão precipitado que passa para uma segunda frase antes de completar devidamente a primeira. Nada sabemos acerca da viagem referida em Quando eu estava de viagem, rumo da Macedônia (i.é, a província romana com este nome, que abrangia a parte setentrional da Grécia, e que incluía Filipos, Tessalônica, e Beréia entre suas cidades principais), a não ser que não pode ser encaixada na carreira de Paulo conforme a conhecemos com base em Atos e nas cartas anteriores. Como os demais eventos imediatamente contemplados nas Pastorais, deve pertencer ao período obscuro subsequente à sua soltura da primeira prisão em Roma. Ver a Introdução, págs. 14-18. Éfeso era a cidade principal da Ásia Menor, a sede do governador da província e um centro religioso de grande importância. Podia jactar-se do famoso templo de Ártemis ou Diana (At 19:23ss.), e o novo culto estava fortemente estabelecido ali. A fundação da sua comunidade cristã pode ser atribuída a Áqüila e Priscila, aos quais Paulo deixou em Éfeso quando passava apressadamente por ali no seu caminho para Cesaréia (At 18:19), mas ele mesmo trabalhou ali por bem mais de dois anos (At 20:31). Não menos por causa do sistema de comunicações, que irradiava dali, a cidade era um ponto-chave na estratégia da igreja,
e facilmente entendemos o afã de Paulo no sentido de ter um homem da sua confiança colocado ali como líder. Há uma sugestão no verbo permanecer (Gr. prosmeimí) que Timóteo tivesse desejado uma mudança; daí a insistência do Apóstolo de que sua continuada presença é indispensável. A comissão de Timóteo é imediatamente definida; é para admoestares a certas pessoas a fim de que não ensinem outra doutrina. Noutras palavras, deve tomar posição firme contra a disseminação de ensinos errôneos. O verbo traduzido admoestar (Gr. paraggelleiri) é um termo militar que significa “dar ordens rigorosas”. A posição de Timóteo, nota- mos, é de autoridade; é nada menos do que um delegado apostólico, e, como tal, pode se dar o luxo de assumir uma linha dura. Visto que a carta é semi-pública, a identidade dos principais mestres do erro não é revelada. Como em 1:6, 19;6:10, 21 (cf. 1 Co 4:18; 2 Co 10:2;G11:7; Fp 1:15), são referidos, de modo vago porém com mau presságio, como certas pessoas, mas podemos ter certeza de que havia pouca dúvida na mente de Timóteo ou da congregação em geral, quanto à identidade deles.

4. O falso ensino é descrito primeiramente em termos gerais como sendo “novidades”: o verbo (Gr. heterodidaskalein), cunhado pelo Apóstolo (ou pelo seu secretário), literalmente significa “ensinar uma doutrina diferente,” i.é, diferente daquela de Paulo, e sugere que há uma norma aceita para o ensino apostólico. Passa, depois, a ser definido mais especificamente como fábulas e genealogias sem fim. Estas palavras chegam quase a revelar o conteúdo da heresia, mas a interpretação delas está longe de ser clara. Muitos comentaristas modernos, seguindo Irineu e Tertuliano (que supunham que o Apóstolo estava refutando Valentino de antemão), explicam-nas como sendo uma referência ao gnosticismo do tipo plenamente desenvolvido que florescia em meados do século II. Por fábulas entendem os mitos elaborados através dos quais os pensadores gnósticos procuravam solucionar o problema do mal, e por genealogias as famílias de emanações, ou eons, em ordem descendente, mediante as quais ligavam o abismo entre o DEUS supremo, que não pode ser conhecido, e a ordem material. Contra isto devemos notar:
(a) que os sistemas gnósticos de eons nunca, pelo que saibamos, foram chamados de genealogias;
(b) que se o escritor os tivesse em mente, teríamos esperado que tivesse entrado mais plenamente no conteúdo deles ao invés de satisfazer- se com uma alusão passageira com pouca precisão;
(c) que também deveríamos ter esperado uma crítica muito mais contundente e de maior alcance do que aquela que diz que encorajam especulações ociosas e contendas; e
(d) que as fábulas são expressamente rotuladas de judaicas” em Tt 1: 14, ao passo que em Tt 3:9 as “genealogias” são mencionadas juntamente com os “debates sobre a lei.” A implicação clara desta última alusão é que o pano de fundo do falso ensino era judaico. Tem sido sugerido, portanto, que as fábulas e genealogias devem ter tido algo a ver com as interpretações alegóricas ou lendárias do A.T., centralizando-se nas árvores genealógicas dos patriarcas. Boa parte da Hagadá rabínica consistia exatamente neste tipo de reescrever as Escrituras de modo imaginativo; o Livro dos Jubileus e o Liber antiquitatum biblicarum do Pseudo-Filo, com sua mania de árvores genealógicas, são exemplos aplicáveis. Tem sido demonstrado, também, que no judaísmo pós-exílico havia um interesse intenso pelas árvores genealógicas, e que estas desempenhavam um papel nas controvérsias entre os judeus e os cristãos judaicos. Visto nesta luz, os mestres do erro são judaizantes que se concentram em minúcias forçadas da exegese rabínica, em detrimento ao evangelho. Nenhuma interpretação, no entanto, pode ser inteiramente satisfatória se deixar de reconhecer que a heresia não era exclusivamente judaica ou gnóstica, mas, sim, uma mistura das duas. A própria fórmula fábulas e genealogias, que tinha sido um chavão grego desde os tempos de Platão, confirma seu caráter sincretista. No presente contexto provavelmente denota as especulações gnósticas baseadas no A.T., e Jeremias pode ter razão em vinculá-las, no que diz respeito às fábulas, com a história da criação. Do outro lado, parece provável que as duas palavras devam ser tomadas em estreita conexão entre si, sendo que a última define a primeira, e que por genealogias Paulo queira dizer “árvores genealógicas” no sentido rigoroso. Na sua descrição da seita gnóstica conhecida como os ofitas (fizer. i. 30, 9), Irineu dá um exemplo interessante de como as árvores genealógicas em Gênesis podiam ser trabalhadas até formarem mitos, e é possível que Paulo tivesse em mente algo deste tipo. Parece infrutífero, no entanto, tendo em vista a completa falta de evidência, procurar definir sua referência com mais precisão. Tudo quanto podemos inferir do seu tom geral é que estes esforços judaicos gnósticos de fazer exegese não tinham o alcance cosmológico ou implicações cristológicas de, por exemplo, a heresia colossense; as idéias por detrás deles eram provavelmente mais simples e mais elementares. Mesmo assim, Paulo não está satisfeito com o modo dos mestres do erro tratarem o A.T., que, no conceito dele, somente leva a especulações vãs. A palavra tem um som pejorativo, mas ao usá-la, não está negando, conforme os críticos às vezes supõem, o direito do cristão, e seu dever, de refletir a respeito da sua fé. Pelo contrário, está condenando a massa de pseudo-problemas que a exegese dos heréticos engendra. A finalidade real do estudo bíblico deve ser uma apreensão do “plano salvífico de DEUS” (tradução do autor). O substantivo grego assim traduzido (oikonomian: melhor atestado do que oikodomén, i.é, “edificação”) originalmente conota a gerência (“serviço,” ARA) de um lar ou de uma casa, mas com Paulo refere-se ou ao propósito redentor realizado na história (Ef 1:10; 3:9), ou à responsabilidade, ou mordomia, que DEUS confia aos Seus delegados escolhidos para zelar pela sua realização (1 Co 9:17; Cl 1:25; Ef 3:2). Se este último sentido se aplica aqui, Paulo está querendo dizer que a exegese dos mestres do erra deixa de promover o desempenho fiel do serviço de DEUS. O primeiro sentido, no entanto, parece preferível, visto que faz um contraste mais eficaz com as fantasias puramente imaginárias das quais as cabeças dos falsos mestres estão repletas. Se isto for correto, o plano divino “opera pela fé” no sentido de que é apreendido, e assim se toma eficaz, mediante a fé da parte daqueles que aceitam a CRISTO.

5. O intuito último da admoestação de Paulo, assim como ocorre em toda a pregação moral cristã, não é meramente negativo. Se seu propósito inicial é frear o erro, tem o alvo adicional, mais positivo, de estabelecer o amor na congregação de Éfeso em lugar do espírito da contenda que os mestres do erro semearam ali. Esta mútua caridade somente pode brotar de coração puro e de consciência boa e de fé sem hipocrisia. A menção que Paulo fez de um coração puro relembra a sexta Bem-aventurança, bem como numerosas passagens do A.T. (e.g. Gn 20; 5-6; Jó 11:13; SI 24:4; 51:10) em que a pureza de coração é aplaudida. Na Escritura, o coração é o centro e a fonte da totalidade da atividade mental e moral do homem; se ali faltar pureza, obviamente não pode irradiar o amor cristão. Nem pode assim fazer a não ser que sua consciência seja boa, i.é, não somente livre de auto-repreensão como também orientada pelo ESPÍRITO SANTO. Precisa, também, de uma fé em CRISTO que não envolve fingimento mas, sim, expressa-se em aceitação positiva da Sua maneira de viver (cf. G1 5:6 “a fé que atua pelo amor”). Tem sido objetado que Paulo nunca poderia ter qualificado a fé como sendo sem hipocrisia, pois não pode haver questão de insinceridade no relacionamento direto entre a alma e DEUS. Isto, porém, é tirar uma distinção delicada demais; Paulo pode falar (Rm 12:9; 2 Co 6:6) de “amor sincero,” a despeito do fato de que amor que é insincero não é mais amor do que a fé insincera seja o artigo genuíno. A ideia é que, embora a própria fé em si não possa ser insincera, é possível que alguém engane a si mesmo ou aos outros no sentido de possuí-la. “Consciência” (Gr. suneidêsis) ocorre duas, ou talvez três vezes na LXX; no N.T., à parte de Jo 8:9 (assim na maioria dos MSS), Hebreus, e 1 Pedro, é achada somente nas cartas paulinas e em discursos atribuídos a Paulo (At 23:1; 24:16). O termo, e a ideia por detrás dele, eram populares entre os estoicos, e também com Filo; parece que Paulo o tomou emprestado do seu meio-ambiente gentio. Seu significado básico é a percepção interior que o homem tem da qualidade moral das suas próprias ações (e.g. Rm 2:15; 9:1; 2 Co 1:12), mas a consciência também pode fazer pronunciamentos sobre as ações doutras pessoas (1 Co 10:28-29; 2 Co 4:2; 5:11). Passagens tais como Rm 13:5 e 1 Co 8:10 sugerem que Paulo pensava nela como sendo um guia para a vida, e fica claro em 1 Co 8:7-12 que reconhecia que podia ser imperfeitamente informada. Nas Pastorais, aprofunda a noção. Ao falar da consciência de hereges rebeldes como sendo “cauterizada” ou “ferreteada” (1 Tm 4:2) ou “corrompida” (Tt 1:15), descreve a dos cristãos fiéis como sendo “boa” (1 Tm 1:15, 19)ou “pura” (l Tm3:9;2Tm 1:3). Nas passagens em Atos registra-se que refere à sua própria consciência como sendo “boa” ou “pura”; cf. também Hb 9:14; 10: 22; 13:18; 1 Pe 3:16, 21. Há pouca evidência para este uso na literatura grega do século I, embora Filo (De spec. leg. i. 203) tem a expressão “de uma consciência pura.” A ocorrência do equivalente em Latim (bom, al mala, conscientia) era muito mais frequente em escritores tais como Cícero e Sêneca, e alguns detectaram aqui a influência crescente de idéias e expressões idiomáticas ocidentais sobre o Apóstolo nos seus anos posteriores. Primariamente, uma consciência boa ou pura é uma que está livre de sentimentos de culpa. Nos escritores cristãos, no entanto, contém também implicações de maior alcance. A consciência está estreitamente vinculada com a fé, visto que pelo batismo o cristão recebeu perdão pelos seus pecados, e pelo influxo do ESPÍRITO SANTO passa por aquela “renovação da mente” que o capacita a “experimentar qual seja a . . . vontade de DEUS” (Rm 12:2), além de colocá-la em prática. Destarte, em Rm 9:1, Paulo protesta que sua consciência lhe dá testemunho “no ESPÍRITO SANTO”, i.é, o ESPÍRITO é o princípio que a informa e inspira. Seu uso de “uma boa consciência” nas Pastorais, com a sugestão de que faz parte da dotação do homem de fé e que não pode ser possuída por alguém que não tem fé verdadeira, é apenas a extensão lógica deste conceito subjacente.

6. É por desviar-se destas coisas, destas qualidades indispensáveis, que os falsos mestres, na opinião de Paulo, perderam-se do caminho certo, e acabaram chegando àquilo que nada mais é do que uma massa de loquacidade frívola. O primeiro destes verbos (Gr. astochein: cf. 6:21; 2 Tm 2:18) pode ter o sentido mais positivo de “deixar de visar,” conforme é sugerido pela descrição do caráter dos mestres do erro em 6:3-5; cf. Eclo. 8:9. É característico de Paulo nas Pastorais (6:20; 2 Tm 2:16; Tt 1:10) considerar os ensinos deles como loquacidade frívola (Gr. mataiologia aqui). Estas duas palavras ocorrem somente nas Pastorais (embora para esta última cf. Rm 1:21), ao passo que “perder-se” (Gr. ektrepesthai) ocorre somente nelas (5:15; 6:20; 2 Tm 4:4) e em Hb 12:13, Todas as três pertencem ao koirtê superior, e ilustram sua influência sobre estas cartas.

7. O caráter judaico do falso ensino, e também provavelmente sua preocupação com a exegese das Escrituras, ressaltam-se na declaração de que seus expoentes desejam ser mestres da lei. Este é um título honroso no N.T., e em At 5:34 é aplicado a Gamaliel. Paulo o joga de volta contra eles com ironia, pois no seu modo de ver, o uso que fizeram dos seus métodos exegéticos mal-orientados comprova que não compreendem, todavia, nem o que dizem, nem os assuntos sobre os quais fazem ousadas asseverações. Não é que sejam judaizantes do tipo, por exemplo, atacado em Gálatas, que desejam impor sobre os cristãos a plena lei cerimonial. O que fazem é extrair da lei, i.é, a porção legal do A.T., mitos fantásticos e preceitos ascéticos (cf. 4:3) que serve para demonstrar que não perceberam a lição do próprio A.T. nem do evangelho. 8-10. Isto leva o Apóstolo a uma digressão característica acerca do lugar e da função da lei. O tom de desprezo da sua referência aos mestres da lei pode dar a impressão de refletir desfavoravelmente contra a própria lei. Destarte, apressa-se a assegurar Timóteo, e aqueles diante dos quais a carta deve ser lida, que naturalmente “Nós”, i.é, os cristãos bem informados, sabemos que a lei é boa (para a fórmula concessiva “estamos bem conscientes. . .” cf. Rm 2:2; 3:19; 8:28; 1 Co 8:1, 4; 2 Co 5:1), se alguém dela se utiliza de modo legitimo. Seu argumento é que os cristãos que aceitaram o evangelho e vivem pelo ESPÍRITO plenamente estimam o lugar da lei e dos seus preceitos na elaboração do propósito de DEUS; conforme observa em Rm 7:12 e 14, é “santa” e “espiritual” (cf. também 2 Tm 3:15-17). Ao mesmo tempo, suas limitações também devem ser reconhecidas; ainda que seja a lei dada a Moisés por DEUS, não é o evangelho, mas permanece sendo uma espécie de lei. E devemos reconhecer que a lei, i.é, lei de qualquer tipo, não se promulga para quem é justo, mas para pessoas que ainda estão debaixo do domínio do pecado. Embora a abordagem seja diferente, a atitude para com a lei exposta aqui está em plena harmonia com aquela que é exposta em Rm 7:7-25 e G1 5:13-26. Nesta última passagem, por exemplo, está claramente subentendido que os que- estão sob a influência e que seguem os ímpetos dela na sua vida têm a lei aplicada a eles. Muitos pensam que Paulo, com sua reverência para com a lei, nunca poderia ter sido responsável pela declaração de que ela não é para os justos. A rudeza da declaração, no entanto, é grandemente reduzida se observarmos
(a) que é à lei em geral (inclusive, naturalmente, a lei mosaica) à qual se refere, e
(b) que justo não significa, simplesmente, “de caráter honesto e respeitável,” mas, sim, conota o cristão que vive pela fé (Rm 1:17; 5:19; G1 3:11; Hb 12:23). Tais transições de um sentido de lei para outra são bastante comuns em Paulo (e.g. Rm 2:14; 7:23; G1 5:14, 23). A aspereza da sua linguagem aqui é, até certo ponto, condicionada pela posição dos mestres do erro que, segundo parece, estão selecionando e torcendo preceitos do A.T. de acordo com suas idéias arbitrárias. Paulo procede a elaborar seu argumento por meio de enumerar tipos de pessoas para as quais, em contraste com os cristãos, a lei em geral e a lei de Moisés em particular, tem relevância muito direta. Se ele nos dá a impressão de escolher exemplos desnecessariamente chocantes, devemos lembra-nos de que é uma característica dele empregar cores lúridas, sombrias quando está retratando a conduta humana à parte do evangelho (e.g. Rm 1:24-32; G1 5:19-21). Sua lista toma a forma de um catálogo de vícios de um tipo que ocorre freqüentemente (às vezes com um catálogo paralelo de virtudes) no N.T.: e.g. Rm l:28ss.; 1 Co 5:10-11; 2 Co 12:20-21; G1 5:19-23.
Catálogos semelhantes eram usados pela seita de Cunrã e também por círculos contemporâneos helenísticos e judaico-helenísticos. As listas cristãs provavelmente seguiam o modelo destes, e isto explica os termos gerais em que usualmente se expressam. Exibem considerável grau de coincidência parcial, e é evidente que a igreja primitiva logo amontoou uma coletânea substancial de matéria exortativa que podia ser colocada em jogo na ocasião apropriada. O que é especialmente interessante na presente lista é que se baseia, em grande medida, no Decálogo. Destarte, começa com seis epítetos um pouco gerais, dispostos em pares — transgressores e rebeldes, irreverentes e pecadores, ímpios e profanos — que abrangem os delitos contra DEUS, e podem talvez ser entendidos como uma representação da primeira tábua do Decálogo. Depois fustiga separadamente os violadores dos cinco primeiros mandamentos da segunda tábua. Parricidas e matricidas representam exemplos flagrantes da quebra do Quinto Mandamento, homicidas, do Sexto. Impuros e sodomitas são transgressores do Sétimo, que era interpretado como abrangendo o vício sexual em todas as suas formas, e raptores de homens, do Oitavo, visto que na exegese rabínica entendia-se que o furto incluía o tráfico de seres humanos (cf. Êx 21: 16; Dt 24:7). Mentirosos e perjuros claramente transgridem o Nono. Paulo completa seu catálogo, de modo semelhante a Rm 13:9 e G1 5:21, com a expressão que a tudo abrange: e para tudo quanto se opõe à sã doutrina. Vindo no fim de um inventário dos delitos mais grosseiros, alguns acharam este clímax grosseiro, mas na realidade reflete vividamente o contraste entre as obras da carne e o fruto do ESPÍRITO. Este é o primeiro aparecimento da expressão sã doutrina (Gr. hugiainousa didaskalia) que é característica das Pastorais (2 Tm 4:3; Tt 1:9; 2:1; para a mesma ideia, cf. 1 Tm 6:3; 2 Tm 1:13; Tt 1:13; 2:2, 8), mas não é achada em qualquer outra parte do N.T. Para muitos, é um sinal convincente do cristianismo “burguês” das cartas, e revela uma abordagem racional à ética que é estranha ao espírito de Paulo. Do outro lado, um imitador não tem probabilidade de ter tão repetidamente atribuído a ele uma expressão idiomática que não é achada em nenhuma das suas cartas reconhecidas, ao passo que nada é mais comum para um homem, numa certa etapa na sua vida, repentinamente adotar unja fraseologia que lhe parece apta, e depois usá-la até esgotá-la. O Apóstolo tira a presente metáfora do jargão filosófico em voga, em que “são” tinha a conotação de “sadio” ou “razoável,” e aplica-a aqui para designar a mensagem cristã autêntica conforme é aplicada à conduta. Expressa sua convicção de que uma vida moralmente desregrada é, por assim dizer, doentia, e necessita de tratamento, viz, pela lei, ao passo que uma vida baseada no ensino do evangelho é limpa e sadia. Este é o tipo de convicção que decerto avultava-se na sua mente durante seus últimos anos.

3 Em meu caminho para Macedônia, insisti com você para que permanecesse em Éfeso,74 a fim de ordenar a certos indivíduos a não ensinarem diferentemente, 4 nem a dedicar-se a mitos e genealogias intermináveis, os quais antes suscitam disputas, em vez de promover a administração centrada na fé requerida por DEUS; 5 enquanto o propósito da responsabilidade é o amor [que emana] de um cora­ção puro e uma consciência sã, bem como uma fé sem hipocrisia; 6 objetivos dos quais alguns indivíduos, havendo se desviado, volveram-se a conversação fútil, 7 pretendendo ser doutores da lei, embora não entendam nem as palavras que eles mesmos falam, nem os temas sobre os quais discutem com tanta confiança. 8 Ora, nós sabemos que a lei é excelente se alguém faz dela uso legítimo, 9 tendo isto em mente, que a lei não foi promulgada para o justo, e, sim, para os transgressores e insubordinados, para os ímpios e pecadores, para os homens irreverentes c profanos, para os parricidas e matricidas, para os que matam seus semelhantes, 10 para os homens imorais, os sodomitas, os sequestradores, os mentirosos, os perjuros e para todos quantos se opõem à sã doutrina. 11 [a qual está] em harmonia com o glorioso evangelho do bendito DEUS, [o evangelho] que me foi confiado.
J. N. D. Kelly - Novo Testamento - Vida Nova - Série Cultura Cristã.

A PRIMEIRA EPISTOLA A TIMÓTEO - William Hendriksen, 1 Timóteo, 2 Timóteo e Tito, São Paulo: Cultura Cristã, 2001, p. 191-6 (Comentário do Novo Testamento) 
3. Em meu caminho para a Macedônia, insisti com você para que permanecesse em Éfeso. Escrevendo, pois, a seu confiável amigo, Paulo imediatamente expressa o que ele considera a mais premente necessidade, ou seja: que Timóteo, por todos os meios, continuasse trabalhando em Éfeso a fim de dar seguimento à batalha em prol da verdade. E quase desnecessário enfatizar que o apóstolo não estava interessado em que Timóteo simplesmente continuasse em Éfeso, mas que sua permanência ali fosse com o objetivo de corrigir o que estava errado. E preciso observar que Paulo insiste com Timóteo para continuar em Éfeso. É uma maneira mais forte de expressá-lo (mais forte que ficar) e provavelmente implique também que os dois tivessem estado juntos em Éfeso.25 “Timóteo”, diz Paulo, “você deve continuar em Éfeso”, e com este propósito: a fim de ordenar a certos indivíduos a não ensinarem diferentemente. “Certos indivíduos”, diz Paulo. Ele omite propositadamente os nomes com o intuito de poupá-los? O fato de mencionar nomes de forma definida no versículo 20, porém não no versículo 3, tem dado lugar à opinião de que esses “indivíduos” do versículo 3 não incluem homens tão avançados no erro como Himeneu e Alexandre. Aliás, é verdade que o apóstolo era uma pessoa de muito tato, e poderia ter-se expresso de forma definida pelas razões dadas por esses intérpretes. (Alguém poderia comparar 2Ts 3.11, 15, onde os “intrometidos”, acerca dos quais Paulo expressa o desejo de que sejam tratados como “irmãos”, são mencionados de um modo igualmente indefinido; ver C.N.T. sobre essa passagem.) Não obstante, o argumento em prol da exclusão de Himeneu e Alexandre está longe de ser conclusivo. Lendo repetidas vezes - regra exegética a que se fez referência insistentemente na presente série deste comentário, o leitor chega à conclusão de que a expressão “certos indivíduos”, no versículo 3, é suficientemente ampla e forte para incluir ainda os nomes mencionados no versículo 20. Porque é preciso que se note que o que se diz nos versículos 6 e 7 sobres esses “certos indivíduos” do versículo 3 não é de modo algum suave: “querendo ser mestres da lei, quando não compreendem nem o que dizem nem o que afirmam tão categoricamente.” Além do mais, no versículo 19, o apóstolo está ainda (ou novamente) falando de “alguns indivíduos.” E prossegue: “Entre eles estão Himeneu e Alexandre” (v. 20). É natural crer que a expressão “certos indivíduos” do versículo 3 e “certos indivíduos” do versículo 19 se refiram às mesmas pessoas, e que desse grupo Himeneu e Alexandre são os piores representantes, os lí­ deres. Com base nessa suposição, a referência indefinida (tanto no v. 4 quanto no v. 19) se deve provavelmente a um a ou mais das seguintes razões: a. O grupo inclui não só alguns que devem ser nomeados, mas também vários que não é necessário nomear ainda os casos menos graves. b. Timóteo, por viver justamente entre essas pessoas em Éfeso, naturalmente está mais capacitado que Paulo (que está na Macedônia) para dizer quem pertence ou não ao grupo. c. O grupo não é grande; por isso, “certos indivíduos”, ou simplesmente “alguns”, não “muitos”. d. Os que pertencem a esse grupo não são tão importantes como pensam. Não são “mandachuvas”, mas simplesmente “certos indivíduos” . Esta explicação concorda com o que o apóstolo diz deles no versí­culo 7. Ora, ainda que esses “certos indivíduos” queiram ser “doutores da lei” (v. 7), na realidade não passam de mestres de novidades. Estão ensinando diferentemente, ou seja, ensinando algo “diferente”, ou, traduzido um pouco mais livremente, “doutrina diferente” . (Cf. ITm 6.3; também Inácio, A Policarpo III.) Lembramo-nos imediatamente da severa mensagem de Paulo aos Gálatas: “Admiro-me de que vocês estejam abandonando tão depressa aquele que os chamou pela graça de CRISTO, para seguirem um evangelho diferente - o qual, na realidade, não é outro” (Gl 1.6, 7). Certas pessoas vivem sempre ansiosas para dar as boas-vindas a tudo o que é novo ou diferente. Como os atenienses de outrora que “de nenhuma outra coisa cuidavam senão em dizer ou em ouvir algo novo” (At 17.21). Deleitavam-se em medir sua força contra tudo aquilo que consideravam antigo ou fora de moda. As vezes ainda encontramos essa tendência nas universidades e seminários, onde algumas mentes imaturas, que apenas iniciaram um estudo sistemático do antigo e já estabelecido, proclamam estridentemente o novo, acerca do que nada sabem. Geralmente, o que eles consideram “novo” é heresia antiga vestida de trajos novos. É preciso estar alerta diante de toda nova desco­berta que sirva para progresso do conhecimento, e o anseio por preservar tudo o que há de bom e antigo. Os seguidores do erro em Éfeso careciam do senso de cuidadoso escrutínio e cautelosa ponderação. Para tais pessoas, pois, Paulo tem uma mensagem que Timóteo tinha de passar adiante para eles. Sua responsabilidade era acusá-los ou ordenar-lhes que desistissem. 4. Não só devem desistir de ensinar o erro, mas também de pensar de forma distorcida, porque o primeiro é resultante do segundo. Os indivíduos em questão ocupavam a mente com novidades nocivas. Por isso Paulo prossegue: a não dedicar-se a muitos e genealogias intermináveis. Esse era o problema. Tais pretensos doutores da lei estavam se dedicando à tarefa de volver (a mente) para (de TTpoaéxw com vovv implícito) “mitos e genealogias”. A expressão “mitos e genealogias” é una. Não deve ser dividida como se Paulo estivesse pensando nos mitos, de um lado, e nas genealogias, do outro. Indubitavelmente, o apóstolo está pensando nos suplementos da lei de DEUS (ver v. 7), meros mitos ou fábulas (2Tm 4.4), casos de velhas caducas (ITm 4.7) que eram definidamente de caráter judaico (Tt 1.14). Medido pela regra da verdade, o que esses seguidores do erro ensinavam merecia o nome de mitos. Quanto ao conteúdo material, esses mitos tinham que ver com relatos genealógicos que, em grande medida, eram fictícios. Prontamente sentimos que aqui nos introduzimos na esfera do saber tipicamente judaico. É um fato notório que desde os tempos mais antigos os rabinos “contavam suas histórias” - e quão intermináveis eram! - com base no que consideravam algum “sinal” fornecido pelo Antigo Testamento. Tomavam um nome de uma lista genealógica (por exemplo, de Gênesis, 1 Crônicas, Esdras ou Neemias) e a partir daí formavam uma bela história. Esses adornos intermináveis que agregavam ao relato sagrado eram parte do “menu” regular da sinagoga, e posteriormente foram postos na forma escrita na porção do Talmude que se conhece como Haggadah. O Livro dos Jubileus (também chamado O Pequeno Gênesis) oferece outro notável exemplo do que Paulo tinha em mente. É uma espécie de comentário haggádico sobre o Gênesis canônico; ou seja, uma exposição salpicada com uma abundante provisão de anedotas ilustrativas. Esse livro provavelmente tenha sido escrito em fins do 2.° século ou princípios do 1,° a.C. Abarca toda a era desde a criação até a entrada em Canaã. Essa extensa peça se divide em cinquenta jubileus de 49 anos (7x7) cada um. Aliás, toda a cronologia está baseada no número 7, e para esse arranjo se reivindica a autoridade celestial. Assim não só a semana tem 7 dias, o mês 4x7 dias, mas ainda o ano tem 52x7 = 364 dias, a semana de anos tem 7x7 anos e o jubileu tem 7x7 = 49 anos. Os acontecimentos em separado referentes aos patriarcas, e outros, são insignificantes de conformidade com esse esquema. A narrativa sagrada de nosso livro canônico de Gênesis é adornada, às vezes quase a ponto de ficar irreconhecível. E assim agora sabemos que o sábado era observado até pelos anjos; e que os anjos também praticavam a circuncisão; que Jacó nunca enganou a ninguém, etc. Em todas as épocas existem pessoas que se deleitam em entregar-se a tais misturas estranhas de verdade e erro. Chegam até mesmo a crer que essas adulterações são de suprema importância. Mantêm extensos debates sobre datas e definições. Em vez de pôr de lado todo esse refugo sincrético, descobrem finas distinções e se engalfinham em disputas minuciosas. Empilham mitos sobre mitos, fábulas sobre fábulas, e o fim se perde de vista. Assim a lei de DEUS é invalidada pela tradição humana (cf. Mt 15.6), e o quadro pintado no original sagrado é distorcido de forma grotesca. Em nossos dias, o mesmo erro se mostra em formas muito diversas. Em vez de estudar-se a Palavra infalível, alguns recorrem a toda sorte de fantasias milenistas, ou preferem ver na tela um embelezamento antibíblico da história de José, com ênfase especial, naturalmente, no famoso incidente em conexão com a mulher de Potifar; ou um suplemento igualmente antibíblico da história de Sansão, com ênfase exagerada, naturalmente, em sua Dalila. Ora, é verdade que há um lugar legítimo para o exercício do dom da imaginação. Há lugar para a dramatização, sim, até mesmo para as fábulas e os contos de fada. Os adultos, da mesma forma que as crian­ças, podem desfrutar do “Pinheiro” de Hans Andersen e levar a sério suas lições. Mas se alguém começa a misturar a história sagrada com a ficção, e isso para o efeito teatral, para um prazer grotesco, uma em ação inebriante, ou a satisfação da vão curiosidade, está distorcendo a própria essência e o propósito do registro sagrado. A lei de DEUS não foi dada com o fim de que, os que arrogam para si o título “doutores da lei”, possam “brilhar” aos olhos do público, ou com o fim de que o próprio público seja “entretido” com mitos intermináveis e histórias genealógicas e fictícias que antes geram disputas do que a administração centrada na fé requerida por DEUS (literalmente, “a mordomia de DEUS, a que é da fé”). Tem-se observado corretam ente que o ensino de um a pessoa deveria ser julgado por seus frutos. Tudo o que deixa de promover a administração deveria ser rejeitado ainda quando não tivesse outra falha. E tudo o que não gera outra coisa senão disputas merece dupla condenação.26 O verdadeiro objetivo de todo líder e mestre do evangelho, o propósito e meta de todas as suas lutas, tem de ser “a administração da fé requerida por DEUS”. Essa administração27 é o cuidado que o Senhor ordenou com respeito à casa ou a família de DEUS, a sábia administra­ção e distribuição dos mistérios do evangelho para a edificação da igreja. Não há dúvida de que a palavra administração é usada aqui no mesmo sentido de 1 Coríntios 9.17: “uma administração a mim confiada.” Ver também Tito 1.7, onde o bispo é chamado administrador de DEUS; e 1 Coríntios 4.1, 2, onde o apóstolo refere-se a si mesmo e a seus associados como “despenseiros dos mistérios de DEUS”, e afirma que a qualificação primordial de um despenseiro é que seja fiel. As passagens do Novo Testamento em que aparece a palavra administração são Lucas 16.2-4; 1 Coríntios 9.17; Efésios 1.10; 3.2, 9; Colossenses 1.25 e 1 Timóteo 1.4 (a que ora estamos considerando). A palavra parece referir-se ao ofício que se recomenda ao administrador e/ou à administração ativa dos negócios por uma pessoa que exerce o ofício. “Mordomo é literalmente o administrador de uma casa ou de um estado (Lc 12.42; 16.1, 3, 8; ICo 4.2; Gl 4.2). Não obstante, amiúde aparece o sentido figurado. No sentido mais elevado do termo, o mordomo é um administrador dos tesouros espirituais (IC o 4.1; Tt 1.7).28 5. Ora, essa administração divinamente ordenada, administração essa que tem sua origem em DEUS e, consequentemente, é demandada por ele, está centrada no exercício ativo da f é , cujos frutos ela procura multiplicar. Por isso sua meta é o amor e não uma demonstração fútil de conhecimento especulativo. Paulo prossegue: enquanto o propósito d a responsabilidade é o amor. Timóteo foi incumbido de transmitir uma responsabilidade à igreja de Éfeso, que transmitisse uma mensagem que tinha referência especial a “alguns indivíduos” (ver o v. 3). Essa responsabilidade, podemos estar certos, não se limitava estritamente a ordens negativas, tais como: “Não ensine o que difere do evangelho integral, e não perca tempo com fábulas e fantasias genealógicas.” Naturalmente que o negativo implicava o positivo: “Testifique do evangelho puro e exerça uma fé viva no Senhor JESUS CRISTO, um a fé opere por meio do amor”. Considerado assim, essa responsabilidade é de fato a suma e substância de toda exortação cristã, especificamente, de toda pregação optativa. O amor é o cumprimento da lei (de ambas as tábuas, Mc 12.30, 31) e a essência do evangelho. Por isso, o que se declara nessa passagem está em íntima harmonia com outra grande afirmação de Paulo: “Porque em CRISTO JESUS nem circuncisão nem incircuncisão tem efeito algum, mas a fé que atua pelo amor” (Gl 5.6). Note também a ênfase sobre o amor em outras passagens em 1 Timóteo, tais como 1.14; 2.15; 4.12; 6.11. Esse amor poderia ser acolhido como um deleite pessoal em DEUS, .uma grata entrega a ele de toda a personalidade, um profundo anelo pela prosperidade de seus redimidos, e um sincero desejo pelo bem estar temporal e eterno de suas criaturas. Não obstante, é muito melhor a exposição que Paulo faz de seu significado em 1 Coríntios 13 Ora, nem tudo o que se chama amor é realmente amor. Daí, o apóstolo especifica que está pensando no amor que procede de um coração puro, de uma sã consciência e de uma fé sem hipocrisia. Quando um pecador é atraído a CRISTO, o primeiro a ser regenerado é o coração. O resultado é que a consciência do homem começa a importuná-lo de tal modo que, dominado pela convicção, ele sente-se feliz por abraçar o Redentor por meio de um a f é viva e consciente. Daí ser plenamente natural a seqüência: coração, consciência, fé . Além do mais, é claramente evidente por que o apóstolo declara que esses três - e nesta ordem - dão origem ao amor. Quando o DEUS de amor (amor é seu próprio nome, l Jo 4.8) implanta sua nova vida no coração do homem, este chega de forma natural a ser um coração amoroso. Uma consciência isenta de culpa e obediente à lei de DEUS começará a aprovar somente aqueles pensamentos, palavras e ações, passados ou futuros, que estejam em harmonia com o propósito único que resume a lei, a saber: o amor. Uma fé genuína, que abraça a CRISTO e todos os seus benefícios, dará como resultado o amor genuíno para com o benfeitor e para com todos os que se acham incluídos em seu amor. Por isso, Paulo fala de “um amor (que procede) de um coração puro, uma sã consciência e um a fé sem hipocrisia” . O coração é a sede dos sentimentos e da fé, tanto quanto a mola mestra das palavras e ações (Rm 10.10; cf. Mt 12.34; 15.19; 22.37; e ver C.N.T. sobre João 14.1). E a medula e o cerne do ser humano, o ser íntimo do homem. “Porque dele procedem as fontes da vida” (Pv 4.23). “O homem vê o exterior, porém o Senhor vê o coração” (ISm 16.7). Ora, o propósito da responsabilidade que promana do evangelho é o amor que flui de um coração puro. O coração é puro quando experimenta a obra purificadora do ESPÍRITO SANTO (SI 51.10, 11). Quando isso ocorre, então começa a vir à tona um amor fervoroso (lP e 1.22). Consciência é a intuição moral do homem, seu ego moral no ato de julgar seu próprio estado, suas emoções e seus pensamentos, bem como suas palavras e ações, quer do passado, do presente e do futuro.29 É tanto positiva quanto negativa. Aprova e condena (Rm 2.14, 15).
A palavra usada no original e nos idiomas (estreita ou remotamente) relacionados tem o mesmo sentido quando analisada etimologicamente. Significa conhecimento juntamente com, conhecimento conjunto ou co-conhecimento: grego, auveíõi]OLç; latim, conscientia; inglês (do latim), conscience\ sueco, sam-vete; dinamarquês, sam-vittighed\ [português, consciência], Como, porém, esse co-entendimento deve ser interpretado? Alguns dizem: “E o conhecimento do homem unido ao conhecimento de DEUS, a voz interior do homem no ato de repetir a voz de DEUS, seu juízo pessoal que endossa o juízo de DEUS, seu espírito que testifica juntam ente com o ESPÍRITO de DEUS.” Outros arrazoam mais ou menos assim: “É o ego moral do homem que ecoa seu ego cognitivo Essa diferença de opinião não é tão importante a ponto de ser necessário ter em mente que, seja qual for a verdadeira história da maneira pela qual o termo se originou, seu significado, segundo a Escritura, de modo algum é obscuro. Não se pode ter dúvida de que “a consciência é a resposta do senso moral do homem à revelação divina acerca de si mesmo, de suas atitudes e atividades” (Rm 2.14, 15). E no crente que a consciência alcança sua meta mais elevada. Para o homem regenerado, a vontade de DEUS expressa em sua Palavra se torna “o Senhor da consciência, seu Guia e Diretor” (lP e 2.19). A “boa consciência”, da qual o apóstolo fala aqui em 1 Timóteo 1.5, é mais do que meramente uma “consciência nítida”, E antes a consciência que: a. é guiada pela revelação especial de DEUS como sua norma; b. pronuncia juízos que são aceitos e emite ordens que são obedecidas; c. produz “a tristeza segundo DEUS produz arrependimento que leva à salvação” (2Co 7.10), salvação essa por meio da qual “o amor de DEUS derramado em nosso coração, pelo ESPÍRITO SANTO que ele nos concedeu” (Rm 5.5). E o amor de DEUS evoca uma resposta de amor.
O aspecto positivo de um a consciência realmente “boa” é a fé, pois um a boa consciência não só abomina o erro, mas abraça o certo. Tal fé é verdadeira e genuína. Não é um a m era representação teatral, “um engano vil expresso com palavras pomposas”, uma mera máscara, como aquela sob a qual o ator se põe com intuito de ocultar sua verdadeira identidade. Estaria Paulo fazendo um contraste entre a fé viva com a “fé” (?) dos seguidores do erro? Seja como for, a fé em que ele está pensando é “um verdadeiro conhecimento de DEUS e de suas promessas reveladas no evangelho, e uma sincera confiança de que todos os meus pecados já foram perdoados por amor a CRISTO” (Compêndio ao Catecismo de Heidelberg, resposta 19). Essa fé resulta em amor. Em suma, a substância do versículo 5 é esta: a essência da responsabilidade que lhe dou, Timóteo, e que por meio da pregação pública e a admoestação privada você deve dar a conhecer aos efésios é: “Orem e se esforcem diariamente para que obtenham um coração puro, uma sã consciência e uma fé sem hipocrisia, a fim de que esses três, operando juntam ente em cooperação orgânica, produzam aquele amor que é a mais preciosa de todas as joias.” 6. Ora, sempre que este propósito primordial de toda pregação e de toda a obra do ministério cristão se perde de vista, produzem-se tristes resultados, como indica o apóstolo quando prossegue: objetivos dos quais certos indivíduos, havendo se extraviados, volveram -se à conversação fútil. Estes “certos indivíduos” são as pessoas a quem se faz referência no versículo 3 (ver comentário sobre essa passagem). Diz-se que se extraviaram ou se têm extraviado (ver também comentário sobre ITm 6.21 e sobre 2Tm 2.18) de seus objetivos adequados: um coração puro, uma sã consciência e uma fé sem hipocrisia. Naturalmente também erraram o verdadeiro destino, a meta final, a saber: o amor. São como atiradores que erram o alvo, como viajantes que nunca chegam a seu destino, porque se volveram para uma direção equivocada e não se preocuparam em observar a sinalização que se encontra ao longo da estrada. A vereda que tais pessoas têm seguido nem mesmo chega a ser um desvio que logo volta à estrada. Parece-se mais com um a rua sem saída além da qual existe um pântano de “conversação fútil”, raciocínio inútil, argumentação que não leva a lugar nenhum (cf. Tt 1.10), discussões áridas como o pó, arengas sobre fábulas fantásticas acerca de genealogias. Sim, sua jactanciosa sabedoria os fez cair, finalmente, na terra de ninguém, nas sutilezas cerimoniosas, no terrível pântano de ridícula minudência. E o dono desse lodaçal é... Satanás, que preside o comitê de boas-vindas (ITm 5.15). 7. E, por que esses homens se volveram para conversação fútil? Porque querem brilhar! Diz Paulo: querendo ser doutores da lei. Ora, em si mesmo o desejo de ser doutor do Antigo Testamento, particularmente da lei de Moisés, não é mau. O problema, porém, com esses homens, é que desejam alcançar o alvo ainda que não entendam as palavras [ou coisas] que usam nem os tem as sobre os quais discorrem com ta n ta confiança [ou, sobre os quais põem ta n ta ênfase]. Com satisfação, esses pseudodoutores esgrimiam suas palavras pomposas, seu vocabulário árido. Tudo isso, porém, não passava de mera altissonância, linguagem afetada e retumbante. Sempre que ouviam um a palavra impronunciável, logo a aprendiam de memória e a usavam para desfiar suas fábulas tediosas; eles mesmos, porém, não sabiam o sentido da última adição a seu vocabulário. Pior ainda, não entendiam os próprios temas sobre os quais dissertavam com absoluta segurança (cf. Tt 3.8). 8. Não obstante, para que ninguém pensasse que Paulo menosprezava o ensino e o estudo cotidiano da lei, ele acrescenta: Nós, porém , sabem os que a lei é excelente, se alguém faz uso legítimo dela. O melhor comentário disso é Romanos 7.7, 12: “Que diremos, pois? E a lei pecado? De modo nenhum. De fato, eu não saberia o que é pecado, a não ser por meio da lei. Pois, na realidade, eu não saberia o que é cobiça, se a lei não dissesse: Não cobiçarás... Portanto, a lei é santa, e o mandamento é santo, justo e bom”. “Sabemos”, diz Paulo. Em outros termos, ele quer deixar gravado em Timóteo - e por meio dele nos efésios, particularmente nos que promoviam as doutrinas errôneas - que a proposição: “O estudo constante da lei é algo excelente”, não é nova. “Esta proposição”, o apóstolo parece dizer, “é um princípio amplamente conhecido, algo que todos sabemos muito bem.” Ler Salmos 19 e 119; Mateus 5.17, 18. Por certo, Paulo não quer dizer “todo e qualquer” uso da lei é ad­mirável. Não, a lei é de grande valor prático somente “se alguém fizer dela uso legítimo”. Assim também alguém poderia dizer que a prega­ção é algo excelente, mas, naturalmente, nem toda pregação. Ela é algo excelente supondo-se que alguém saiba pregar. Quando a lei é sepultada sob um fardo de “tradições” que anulam seu próprio propósito (Mt 15.3, 6; Mc 17.9; então Mt 5.43), ou quando é usada como ponto de partida para contos fascinantes sobre os antepassados, ela perde seu poder. Como nos jogos públicos, recebe o prêmio somente quem competiu de acordo com as regras (cf. 2Tm 2.5), assim também a pessoa que a usa como deve ser usada. Daí Paulo prosseguir: 9a. Lembrando isto, que a lei não foi promulgada para o justo. Este era precisamente o ponto que os falsos mestres de Éfeso estavam ignorando. A razão por que gastavam o tempo com todo tipo de fábulas sobre os antepassados era que não haviam aprendido a reconhecer-se como pecadores diante de DEUS. Estavam “inchados”, eram arrogantes, jactanciosos, fúteis, confiantes em sua própria justiça (ver sobre o v. 7 acima; também sobre ITm 6.4, 20; 2Tm 3.2; e cf. Tt 1.10; 3.5). Este era o grande pecado deles, como Paulo indica reiteradas vezes. Eram carentes de humildade, do senso de culpa. Essas pessoas podiam estudar a santa lei de DEUS com seus preceitos e mandamentos básicos, e podiam permanecer muito serenas diante de tudo isso, como se não lhes tocasse. Simplesmente liam (ou recapitulavam) até que chegassem a um nome próprio ou, talvez, a algum detalhe cerimonial. Então, repentinamente, se entusiasmavam! Agora podiam brilhar com suas histórias e espiritualizações. Em vez disso, deveriam ter-se sentido quebrantados pela lei, como, por exemplo, aconteceu com Paulo (ver comentário sobre o v. 15, e ver também Rm 7, especialmente os versículos finais). Essas pessoas, porém, criam que eram boas por natureza, não se consideravam más. Eram “justas” a seus próprios olhos, como os fariseus, com referência aos quais JESUS disse: “Não vim chamar justos, e, sim, pecadores” (Mt 9.13; e cf. Lc 15.7 e 18.9). Aliás, é bem provável que o apóstolo estivesse pensando no dito do Salvador em Mateus 9.13, quando escreveu na forma que o fez (a data em que os Evangelhos foram escritos nada tem a ver com isso, é claro). A possível conclusão é de alguma maneira fortalecida pelo que ele disse no versículo 15 deste capítulo: “Esta afirmação é fiel e digna de toda aceitação: CRISTO JESUS veio ao mundo para salvar os pecadores, dos quais eu sou o pior.” Cf. também. Tito 3.5. Ora, é razoável que a lei - qualquer lei, naturalmente (ou seja, qualquer lei no tocante à moral), porém aqui com referência especial à lei de Moisés - não foi promulgada para o “justo”. Se sou tão bom que de forma natural guardo a lei, não necessito de lei (seja a lei de trânsito ou a lei dos dez mandamentos). Um dos propósitos primordiais, da lei de Moisés era levar os pecadores ao ponto de se sentirem totalmente quebrantados sob o fardo de seus pecados. Admitamos, porém, em prol do argumento, que esses pretensos líderes efésios e os que se agrupavam ao redor deles eram o que pretendiam ser, segundo a posição de Paulo; admitamos que em si mesmos fossem bons e justos, então com certeza a lei estaria sendo desperdiçada neles.30 Como pode ser ela um freio (Mc 10.20; SI 19.13) para quem pensa que não precisa ser refreado? Como pode ser ela um espelho que revela a imundícia (fonte do conhecimento do pecado, Rm 3.20 e Gl 3.24) para quem pensa que não tem mancha que precisa ser lavada? Como pode ser ela um guia (SI 119.105; 19.7, 8; cf. Rm 7.22) que aponte para as avenidas de gratidão para o livramento do pecado para quem em seu orgulho e arrogância (dos quais Paulo fala reiteradas vezes) está convencido de que não se extraviou? 9b, 10. Não, a lei não foi promulgada para esse gênero de pessoas mas para os transgressores e desobedientes, para os ímpios e pecadores, para os irreverentes e profanos, para os parricidas e matricidas, para os homicidas, para os imorais, os sodomitas, os sequestradores, mentirosos, perjuros e para todos quantos se opõem à sã doutrina. Era como se apóstolo, ao referir-se às pessoas para quem a lei foi promulgada (aqui com referência particular à lei moral e divina), primeiramente os encadeia em termos gerais como transgressores e desobedientes, ímpios e pecadores, e em seguida desce aos detalhes, seguindo aproximadamente a ordem dos dez mandamentos. Os efésios seguidores do erro deveriam perguntar a si mesmos: “Esse não é um retrato exato de nós mesmos?” Paulo admitia que ela era aplicável a ele mesmo. Os mestres da falsa doutrina, da região de Éfeso, não admitiam nada. Essa era a diferença! A primeira palavra apropriada que ele usa é transgressores. Os transgressores (plural de avo^oç), aqui, não são as pessoas que ignoram a lei, mas as que vivem como se não houvesse lei (ver C.N.T. sobre 2Ts 2.3). Simplesmente vivem fazendo o que agrada a si próprias. E assim vivem separadas da lei e são contrárias a suas exigências básicas. Estaria Paulo pensando em si mesmo (como pessoa incluída no grupo) e em sua vida pregressa? (Cf. Rm 7.9.) Para poder fazer uma exegese adequada dessa porção, deve-se ter em mente que nos versículos que vêm imediatamente em seguida o apóstolo faz reiterada referência a si próprio e a sua vida pecaminosa (vv. 13, 15, 16). Além do mais, um texto deve ser interpretado à luz de seu contexto. Do contrá­rio nossa interpretação perde a unidade. Ora, os transgressores são também insubordinados. Eles se negam a pôr-se sob (note a palavra: plural de ávuTTÓxaKToç) o governo do DEUS que promulgou a lei. Na vida cotidianamente prática, isso significa que, negativamente falando, tais pessoas são ímpias, irreverentes, profanas (plural de áoeprjç), uma palavra que no uso paulino se aplica até mesmo aos eleitos enquanto (ou até onde) ainda vivam em harmonia com o princípio da incredulidade. São, pois, “profanos”, ainda que pela graça soberana de DEUS tenham sido (ou em algum momento de sua vida serão) justificados (Rm 4.5; 5.6). Paulo, naturalmente, se colocaria entre eles. Positivamente falando, tais indivíduos são pecadores por natureza (plural de à|j,apTwA.óç) erraram o rumo ou o alvo de sua existência, a saber, a glorificação consciente de DEUS. Paulo de forma bem definida e explícita nos diz que se inclui nesse rol; note o versículo 15 (que provavelmente já estava no pensamento do autor, quando escreveu o versículo 9): “CRISTO JESUS veio ao mundo para salvar os pecadores, dos quais eu sou o principal.” A lei, pois, foi promulgada para os transgressores e insubordinados ou desobedientes, para os ímpios e pecadores, com o fim de sacudi-los até o mais profundo âmago de seu ser, e espantá-los de qualquer autocomplacência que porventura restasse neles. Ela foi. promulgada para que o homem inquieto sinta uma maior inquietude, de modo que clame desesperançado de si mesmo: “Miserável homem que eu sou.1 Quem me livrará?” (Rm 7.24; e cf. Rm 3.20). O apóstolo então faz uma síntese da lei dos Dez M andamentos. O resumo revela claramente que não há lugar em Sião para alguém sentar-se em repouso (menos ainda para os seguidores do erro que havia em Éfeso), dominado pelo senso de segurança, de tal modo que agora passe a usar a lei com perfeita compostura como uma espécie de palavras cruzadas ou como matéria-prima para a fabricação de interessantes histórias sobre os antepassados. Por conseguinte, primeiramente o apóstolo declara que a lei foi promulgada ài/ooíoLç Kcd pepiíAmç “para os homens irreverentes e profanos” . A palavra irreverente (ávóatoç), que no Novo Testamento só aparece aqui e em 2 Tessalonicenses 3.2, e aqui no versículo 9 está associada a profano, é muito adequada num contexto que descreve os que são negligentes em seus deveres para com DEUS. Em Gorgias (507B), Platão representa Sócrates como que dizendo: “E outra vez, quando alguém está fazendo o que é adequado em relação aos homens, faz o que é justo (õÍKcaa); (quando faz o que é correto) em relação aos deuses, (faz o que é) santo (ocua)”.31 Semelhantemente, em 2 Macabeus 7.34, Antíoco Epífanes, que por todos os meios tentou destruir a religião de Jeová, é chamado “homem profano”. O que se expressa negativamente no adjetivo “irreverente” se expressa positivamente no adjetivo profano (pépr)Àoç, de Patvco, caminhar, dar um passo, pisar). O que é profano pode ser pisado. É como em nosso idioma indica: “em frente do templo”, ou seja, ‘ fora do tem­plo” (pro = diante ou fora dt,fanum = templo, santuário). Uma pessoa profana é alguém que não se refreia ou não vacila em pisotear o que é santo. O adjetivo é usado em relação a coisas em 1 Timóteo 4.7; 6.20; 2 Timóteo 2.16 (ver comentário sobre essas passagens) e em relação a pessoas nessa passagem e em Hebreus 12.16. Essa passagem menciona a pessoa tipicamente/? roja na, a saber, Esaú, que por uma simples com ida vendeu sua primogenitura com suas implicações messiânicas. Portanto, é plenamente natural presumir que, quando Paulo faz menção de pessoas irreverentes e profanas, ele esteja pensando naqueles que ridicularizam a própria ideia de que há unicamente um DEUS verdadeiro, e naqueles que negam que esse DEUS é um ESPÍRITO de perfeição infinita, que seu nome, ou o nome de CRISTO, deve ser reverenciado e que seu dia deve ser observado. Os que são irreverentes e profanos escarnecem dos quatro mandamentos da primeira tábua da lei. Que ninguém diga que Paulo se excluiu desse rol (ver v. 13 e At 26.11) ou a qualquer outro pecador. Em segundo lugar, essa lei foi promulgada “para parricidas e matricidas”. O pecado assinalado aqui é um a flagrante violação do seguinte mandamento do decálogo: “Honre seu pai e sua mãe, para que se prolonguem seus dias na terra que o Senhor, seu DEUS, lhe dá” (Êx 20.12). Além disso, a lei declarava especificamente: “Quem ferir seu pai ou sua mãe será m orto” (Êx 21.15). Ora, se o simples golpear o pai ou a mãe levaria a pena de morte, quanto mais feri-los (dar-lhes um golpe destrutivo, matá-los)! Não obstante, o pecado maior, em cada caso, inclui o menor. Aqui se condena qualquer forma de negligência em honrar os pais. Nenhum pecador escapa.
Em terceiro lugar, a lei visava aos “homicidas” . Literalmente, o original aqui tem “para os homicidas involuntários”. Não obstante, a expressão em nosso idioma é ambígua, e poderia ser tomada como uma referência a quem mata sem intenção, embora ilicitamente. Contudo, o original se refere a todo aquele que tira a vida de outra pessoa. Tem referência a todo e qualquer homicídio. O mandamento violado é o sexto: “Não matarás” (Êx 20.13). Veja interpretação de CRISTO, Mateus 5.21-26. Como teria magoado Paulo escrever isso! Trouxe a sua mente lembranças do passado, de seu próprio passado (At 9.1, 4, 5; 22.4, 7; 26.10). Em quarto lugar, a lei foi estabelecida “para as pessoas imorais, sodomitas” . Isto se refere claramente aos que violam o sétimo mandamento: “Não adulterarás” (Êx 20.14). Note que aqui também (assim como as frases “para os ímpios e pecadores”, “para os irreverentes e profanos”) a descrição negativa (imorais) precede a positiva (sodomitas). A violação indicada é, primeiro, “fornicação” ou imoralidade, muito inclusiva; o segundo é “sodomia”, muito flagrante. Com respeito ao primeiro termo (fornicação), não é verdade que está sempre estritamente confinado à relação sexual ilícita entre pessoas solteiras. Como é verdade com respeito a nossa própria palavra fornicação, assim também com respeito à palavra grega, o sentido, ainda que a princípio restrito, gradualmente adquire um significado mais inclusivo, de modo que na presente passagem é simplesmente imoralidade sexual em toda e qualquer forma que ocorra. A luz de Mateus 5.32; 19.9, é evidente que pode ainda incluir adultério (relação sexual ilícita entre pessoas das quais pelo menos um a é casada com outra pessoa). Em Efésios 5.5, o fornicário ou imoral é mencionado junto com o imundo ou impuro. Cf. Também Hebreus 13.4. De acordo com Mateus 5.27, 28, qualquer pensamento impuro é um a forma de “adultério” . Que pecador não é culpado? Paulo menciona em 1 Coríntios 5.1 um caso horripilante de imoralidade. O mundo pagão estava repleto de tais vícios, porém o caso mencionado em Coríntios é de tal parte como algo que “nem mesmo se nomeia entre os pagãos” . Imediatamente depois de “imorais”, Paulo menciona os “sodomitas” . A palavra empregada no original é composta de duas partes: homem e leito (particularmente o leito matrimonial). Portanto, a referência é diretamente aos homossexuais masculinos; em outros termos, aos sodomitas (cf. Gn 19.15), “que cometem atos vergonhosos homens com homens” (Rm 1.27; 1 Co 6.9); indiretamente, a referência é a todos os homossexuais, masculinos e femininos. Em quinto lugar, a lei foi instituída “para os sequestradores” . No Novo Testamento, a palavra (ávõpaTTOÔLOTriç) ocorre somente aqui. Sua origem é bastante incerta, ainda que, considerando seus componentes, alguns a façam derivar da ideia verbal “apanhar um homem pelo pé”. Mas, seja qual for sua origem, ela se refere clara e primariamente a “mercadores de escravos” (a palavra àyõpáTToõov significa escravo) e assim, por extensão, a todos os “ladrões de homens” ou “sequestradores”. O apóstolo está pensando numa horrível violação do oitavo mandamento: “Não furtarás” (Êx 20.15; quanto ao roubo de homens, ver Êx 21.16; Dt 24.7). Certamente também os que entram nos lares de cristãos, levando presos os que são de “O Caminho”, quer homens quer mulheres, estão incluídos, a despeito do fato de que podem portar consigo cartas do sumo sacerdote (cf. At 9.1, 2)1 Sim, estão implícitos os ladrões de homens de todo matiz ou cor. Paulo está inclu­ído, e por uma legítima extensão da ideia, também está toda pessoa que tem infringido os direitos ou liberdades de seus semelhantes. Que pecador está livre? Em sexto lugar, essa lei foi feita “para os mentirosos e perjuros”. Certamente o apóstolo está pensando no nono mandamento: “Não dirás falso testemunho contra o teu próximo” (Êx 20.16). Não obstante, segundo a visão de Paulo, não só os cretenses são mentirosos (Tt 1.12), mas, por natureza, todo homem é mentiroso (Rm 3.4). De acordo com o uso bíblico do termo, mentiroso não é apenas o indivíduo que realmente expressa algo que não confere com a verdade, mas também aquele que cujas ações e atitudes não se harmonizam com sua confissão (IJo 2.4; 4.20). O arquimentiroso de todos é o diabo (ver C.N.T. sobre João 8.44, 55). Seu mais ardente discípulo, o anticristo, é também um mentiroso (1 Jo 2.22; e ver C.N.T. sobre 2Ts 2.9, 10). “Perjuros” são todos quantos são culpados de afirmar solenemente (“pelo meu nome”, Lv 19.12), o que é falso com a intenção de causar dano ao próximo; ou aqueles que, ao fazerem um voto solene, não têm a intenção de cumpri-lo. Essa é a mais espantosa forma de pecado contra o nono mandamento, assim como o sequestro é a mais vergonhosa manifestação de pecado contra o oitavo, e a sodomia, um horrível exemplo contra o sétimo. Naturalmente, como nos casos anteriores de viola­ções contra a lei moral, assim é aqui: o pecado mencionado inclui pecados que conduzem a este e a todos os pecados relacionados com ele. O Senhor denunciou o desígnio egoísta dos fariseus em restringir o sentido do mal de forma a achar-se culpado somente aquele que não cumpria uma promessa em relação à qual houvesse alguém pronunciado literalmente o nome de DEUS (Mt 5.33-37). Se nos lembrarmos de que o pecado de jurar falso às vezes era cometido com o fim de obter-se a posse da propriedade do próximo, é evidente que não é tão absurda a teoria de que, ao mencionar essa violação particular da lei moral, Paulo não só está pensando no pecado contra o nono, mas também contra o décimo mandamento: “Não cobiçarás a casa do teu próximo... nem coisa alguma que pertença ao teu próximo” (Êx 20.17). O perjúrio tem com frequência (talvez pudéssemos dizer sempre) sua raiz na cobiça. Uma vez dada uma atitude geral e mais detalhada das pessoas para as quais a lei foi promulgada, o apóstolo agora acrescenta “e para tudo quanto é contrário à sã doutrina”. Na forma como DEUS os vê, nenhum pecador e nenhum pecado pode escapar, e muito menos os efésios seguidores do erro. A única pessoa para quem a lei não tem vigor é o justo, o seguidor do erro tal como ele se vê. Ver comentário sobre 1.9a. Quanto aos demais, a lei condena a todos e a cada um, fazendo com que ele sinta a sentença de condenação. Ela está estabelecida (Keitca) para todo aquele que se põe contra (ávxÍKeiim) a sã doutrina. Esta doutrina corresponde à teoria e à prática. Portanto, todo pecado é um pecado contra a sã doutrina. E esta doutrina é qualificada de sã32 (i)YiaLvoúar|, donde vem nossa palavra higiênico), porque promove a saúde espiritual. Ver também 2 Timóteo 4.3; Tito l .9; 2.1; então Tito 1.13; finalmente, 1 Timóteo 6.3; 2 Timóteo 1.13. Isto não causa surpresa, porquanto seu ensino está em harmonia com o glorioso evangelho do DEUS bendito. A sã doutrina exige que o homem guarde a lei de DEUS. Também declara que por natureza ele não pode guardá-la. Portanto, ele revela sua total perdição, sua condição completamente pecaminosa. Naturalmente que isto nos lembra (é “de acordo com” ou “em harmonia com ”) o evangelho, porque a mensagem central deste é: “CRISTO JESUS veio ao mundo para salvar os pecadores” (v. 15). Que glorioso evangelho é este! É glorioso porque exibe a glória dos atributos divinos. (Ver C.N.T. sobre João 1.14.) Declara a justiça, a graça, o amor, etc. “do DEUS bendito.
William Hendriksen, 1 Timóteo, 2 Timóteo e Tito, São Paulo: Cultura Cristã, 2001, p. 191-6 (Comentário do Novo Testamento) 

Um dos propósitos da epístola - 1 Timoteo Hernandes Dias Lopes O  pastor sua vida e sua obra - COMENTÁR lOS EXPOSlTlVOS H A G N O S -

Combater os falsos mestres e suas falsas doutrinas
O ministro do evangelho deve pregar a verdade e também combater a mentira. Deve anunciar a sã doutrina e também reprovar as falsas doutrinas. Deve eleger presbíteros e diáconos, verdadeiros obreiros para cuidarem da igreja de Deus, e também combater os falsos mestres. Timóteo precisa combater esses falsos mestres por meio da pureza da doutrina, que seria a garantia de uma vida santa. John Kelly diz com razão que nas três cartas Paulo está grandemente preocupado com os hereges, conforme os considera, os quais mercadejam uma mensagem distinta, oposta ao evangelho verdadeiro, semeando contendas e dissensão e levando uma vida moralmente questionável.23
Qual é esta outra doutrina (1.3) que Paulo tanto teme e que já causou a queda espiritual de homens como Himeneu e Alexandre (1.19,20)? Seus expoentes professam ser mestres da lei (1.7). Um grupo deles era chamado de os da circuncisão (Tt 1.10). Dedicavam-se a disputas acerca da lei (Tt 3.9). Estavam muito ocupados com fábulas e genealogias (1.4), conhecidas também com o fábulasjudaicas (Tt 1.14). Negavam a criação (4.3-5) e a ressurreição (2Tm 2.18). Jactavam-se de possuírem uma gnose superior (6.20). Provavelmente chegavam a praticar a magia (2Tm 3.8,13). Por causa do seu colorido gnóstico, diz John Kelly, muitos identificam esse falso ensino com o gnosticismo plenamente desenvolvido contra o qual a igreja veio a lutar em meados do século II.
Quais eram as características dessa heresia qüe estava atacando a igreja? William Barclay nos dá algumas pistas, que comentamos a seguir.

Intelectualismo especulativo. A característica mais óbvia da heresia é sua combinação de ingredientes judaicos e gnósticos.
Mesmo em sua fase embrionária, o gnosticismo fazia uma junção espúria da filosofia grega com o judaísmo. O resultado dessa aliança heterodoxa foi um pseudointelectualismo que afirmava ser a salvação privilégio de uns poucos iluminados, que a alcançavampor meio de um conhecimento esotérico (1.4; 6.20; 2Tm 6.4; Tt 3.9). Paulo refuta essas ideias mostrando que a salvação é oferecida a todos (2.4) e que a graça de Deus se manifestou salvadora a todos os homens (Tt 2.11).

Soberba arrogante. Os hereges eram extremamente vaido­ sos, embora nada entendessem do que pregavam (6.4). A arrogância sempre é uma marca dos falsos mestres. Eles se colocam acima das outras pessoas e da revelação do próprio Deus.

Ascetismo rigoroso. Os hereges estabeleciam regras pesadas com respeito à comida e ao sexo, a ponto de proibirem o casamento (4.1-5). Enumeravam muitas coisas impuras, esquecendo-se de que todas as coisas são puras para os puros (Tt 1.15).

Imoralidade desbragada. O gnosticismo oscilava entre dois extremos: ascetismo de um lado e licenciosidade de outro. Por considerarem a matéria essencialmente má, negavam a criaçáo, a encarnação e a ressurreição. Ora afirmavam que devemos privar o corpo de qualquer prazer, caindo no ascetismo; ora declaravam que tudo o que fazemos com o corpo não tem nenhum valor ou importância, caindo então nas malhas da imoralidade. Os falsos mestres eram cheios de luxúria (2Tm 4.3), chegando ao extremo de entrarem nas casas para seduzir mulheres débeis na conduta (2Tm 3.6).

Ganância insaciável. Os falsos mestres usavam a religião para se locupletarem. Estavam interessados nos bens materiais das pessoas, e não em seu bem-estar (6.5;Tt 1.11). Ainda hoje, muitos obreiros mercadejam a Palavra. Fazem da igreja uma empresa, do púlpito um balcão, do evangelho um produto, dos crentes meros consumidores, do templo uma praça de negócios, e do ofício sagrado uma fonte de lucro.

Legalismo extremado. Os falsos mestres procediam das alas do judaísmo. Suja heresia estava vinculada ao legalismo judeu. Entre seus devotos encontravam-se os que pertenciam à circuncisão (Tt 1.10). A finalidade dos hereges era a de serem mestres da lei (1.7). Eles procuravam inculcar nas pessoas fábulas judaicas e mandamentos de homens (Tt 1.14).

Oferecer recomendações práticas para a vida na igreja
Cabe ao ministro do evangelho pregar a verdade, anunciar a sã doutrina e eleger obreiros para cuidarem da igreja de Deus. Paulo oferece recomendações relacionadas a essas tarefas ministeriais no que tange às práticas para a vida na igreja. Vejamos alguns pontos destacados por William Barclay a seguir.
Orientar a condução do culto público. Paulo dá a Timóteo prescrições claras acerca do culto público. Orienta como os homens devem orar e como as mulheres devem se portar tanto em termos do vestuário utilizado como das palavras proferidas (2.1-14).
Estabelecer critérios para a eleição de oficiais. Paulo normatiza os critérios para a eleição de oficiais, presbíteros e diáconos, oferecendo uma lista de predicados que essas pessoas deveriam ter para ocupar os ofícios sagrados (3.1- 13). Paulo ofereceu instruções especiais acerca da eleição, ordenação e disciplina de cada oficial. Vale destacar que Paulo dá mais ênfase às virtudes morais e familiares como requisitos para o oficialato.
Orientar o relacionamento pastoral com as ovelhas. Paulo ensina a Timóteo como tratar os homens e mulheres mais velhos, como tratar as pessoas da mesma idade e como lidar com as pessoas mais novas dentro da igreja.
Ensinar a form a correta de o pastor agir na igreja. Paulo entendia que a igreja de Deus é a coluna e o baluarte da verdade num mundo de relativismo. O pastor precisa saber, com clareza, como se comportar na igreja (3.15). Calvino diz, porém, que esta epístola foi escrita mais por causa de outros do que de Timóteo, o líder pastoral, uma vez que muitas coisas precisavam ser ajustadas na igreja de Efeso e necessitavam de sua orientação apostólica.28
Normatizar a assistência social às viúvas. A igreja de Deus associa a proclamação do evangelho com a ação social. As viúvas precisavam ser assistidas pela igreja, mas deveria haver critérios claros para essa assistência.
Corrigir aqueles quefazem a obra de Deus visando ao lucro. Desde osdias de Paulo, já existiamobreiros que mercadejavam a Palavra de Deus, visando não o bem do rebanho, mas

o lucro pessoal. O apóstolo é direto na condenação dessa prática, a ponto de talhar nesta carta a conhecida declaração: O amor ao dinheiro é a raiz de todos os males(6.10).

Nenhum comentário:

Postar um comentário