Lição 5 - Apostasia, Fidelidade e Diligência no Ministério
3º trimestre de 2015 - A Igreja E O Seu Testemunho - As Ordenanças De CRISTO Nas Cartas Pastorais
Comentarista da CPAD: Pr. Elinaldo Renovato de Lima
TEXTO ÁUREO
"Mas o ESPÍRITO expressamente diz que, nos últimos tempos, apostatarão alguns da fé, dando ouvidos a espíritos enganadores e a doutrinas de demônios." (1 Tm 4.1)
VERDADE PRÁTICA
A apostasia e a infidelidade a DEUS são características marcantes dos tempos do fim.
LEITURA DIÁRIA
Segunda - Mt 7.15 - O cuidado com os ensinos dos falsos profetas
Terça - Hb 3.12 - Que não haja em nós um coração infiel
Quarta - 1 Pe 2.2 - Desejando o "leite racional, não falsificado"
Quinta - 1 Pe 1.15 - Santos em toda a nossa maneira de viver
Sexta - Jr 48.10 - A maldição de se fazer a obra do Senhor relaxadamente
Sábado - Hb 12.14 - O cultivo da santificação na nossa vida diária
LEITURA BÍBLICA EM CLASSE - 1 Timóteo 4.1,2, 5-8; 12, 16.
1- Mas o ESPÍRITO expressamente diz que, nos últimos tempos, apostatarão alguns da fé, dando ouvidos a espíritos enganadores e a doutrinas de demônios,
2 - pela hipocrisia de homens que falam mentiras, tendo cauterizada a sua própria consciência,
5 - porque, pela palavra de DEUS e pela oração, é santificada.
6 - Propondo estas coisas aos irmãos, serás bom ministro de JESUS CRISTO, criado com as palavras da fé e da boa doutrina que tens seguido.
7 - Mas rejeita as fábulas profanas e de velhas e exercita-te a ti mesmo em piedade.
8 - Porque o exercício corporal para pouco aproveita, mas a piedade para tudo é proveitosa, tendo a promessa da vida presente e da que há de vir.
12 - Ninguém despreze a tua mocidade; mas sê o exemplo dos fiéis, na palavra, no trato, no amor, no espírito, na fé, na pureza.
16 - Tem cuidado de ti mesmo e da doutrina; persevera nestas coisas; porque, fazendo isto, te salvarás, tanto a ti mesmo como aos que te ouvem.
OBJETIVO GERAL
Mostrar que a apostasia e a infidelidade a DEUS são características do tempo do fim.
OBJETIVOS ESPECÍFICOS
Abaixo, os objetivos específicos referem-se ao que o professor deve atingir em cada tópico.
Tratar a respeito da apostasia dos homens.
Compreender que o bom ministro deve ser fiel ao Senhor.
Refletir a respeito da diligência no ministério.
INTERAGINDO COM O PROFESSOR
Na lição de hoje estudaremos a respeito da apostasia, fidelidade e diligência no ministério cristão. O termo apostasia vem do grego apostásis e significa o abandono premeditado e consciente da fé cristã. O pastor, não pode se calar diante da apostasia do nosso tempo. É preciso confrontar as pessoas mediante o ensino das Escrituras Sagradas. Paulo foi incisivo ao orientar Timóteo para que ele doutrinasse a igreja a fim de que os membros não fossem seduzidos pelos falsos ensinos, apostando da fé. Atualmente, por falta de ensino, muitos estão abandonando a fé genuína em JESUS CRISTO, caindo nas garras do Inimigo. Para combater a apostasia, a liderança precisa investir no ensino bíblico. JESUS certa vez, declarou: "Errais não conhecendo as Escrituras" (Mt 22.29).
PONTO CENTRAL
Na atualidade, muitos estão apostatando da fé genuína em JESUS CRISTO por falta de ensino das Sagradas Escrituras.
Resumo da Lição 5 - Apostasia, Fidelidade e Diligência no Ministério
I - A APOSTASIA DOS HOMENS
1. A apostasia. .
2. Doutrinas de demônios (v.1).
3. Espíritos enganadores.
II - A FIDELIDADE DOS MINISTROS
1. O bom ministro (v. 6).
2. Rejeitando as fábulas profanas.
3. O exercício físico e a piedade (v. 8).
III - A DILIGÊNCIA NO MINISTÉRIO
1. O ensino prescritivo.
2. O exemplo dos fiéis (v. 12).
3. O cuidado que o ministro deve ter com o aprendizado.
SÍNTESE DO TÓPICO I - Paulo advertiu a Timóteo para que ele combatesse os falsos mestres e seus ensinos que levavam as ovelhas à apostasia.
SÍNTESE DO TÓPICO II - A fidelidade do ministro no ensino da Palavra de DEUS e no combate as heresias.
SÍNTESE DO TÓPICO III - O ministro de DEUS deve ser diligente quanto ao aprendizado da Palavra de DEUS.
(O líder da seita Crescendo em Graça, José Luís de Jesús Miranda, autointitulado “JESUS CRISTO Homem”, faleceu na terça-feira, 13 de agosto de 2015, de acordo com informações do site Secretos de Impacto- adotava 666
como número perfeito - morreu após se declarar imortal).
CONHEÇA MAIS
*Consciência cauterizada” (1 Tm 4.2)
“A consciência é o sentimento moral do ser humano. Ela nos condena quando optamos em fazer o que sabemos ser errado. Sobre isso, Paulo sugere que o tecido de uma cicatriz se formará sobre a consciência quando esta for violada de maneira persistente. Nesse caso, a pessoa pode não mais se sentir culpada, mas, sem dúvida, o será”. Leia mais em Guia do Leitor da Bíblia, CPAD, p. 836.
PARA REFLETIR - A respeito das Cartas Pastorais:
Como DEUS vê a apostasia?
Como um adultério espiritual.
Segundo a lição, qual doutrina maligna que vem se tornando comum nos dias atuais?
A desvalorização do casamento hetero.
Quem é o bom ministro?
O bom ministro é aquele que serve a igreja, exortando, ensinando e discipulando suas ovelhas.
De acordo com a lição, o que o bom ministro precisa fazer constantemente?
Ele precisa estudar a Palavra de DEUS, ler bons livros e estar sempre aprendendo.
Qual o sentido da palavra "ensinar" no versículo 13?
O vocábulo ensinar tem o sentido de instruir doutrinariamente na verdade.
SUGESTÃO DE LEITURA
Reflexões para um Ministério Eficaz, Como Tornar-se uma Pessoa de Influência e A Excelência do Ministério
Comentários de vários autores com algumas modificações do Ev. Luiz Henrique
A seita sincrética do século 2° (ver pp. 30-31), na qual a profecia se cumpriu em parte, era o gnosticismo, o qual elevava a gnosis, ou seja, o conhecimento, a uma posição de proeminência acima da pistis, ou seja, a fé.
Isso acontece em nossos dias. O intelectual sendo colocado acima do espiritual. A sabedoria humana colocada em posição de superioridade à sabedoria divina.
Um braço do gnosticismo era combatido por Paulo - o de ensinar que o corpo era totalmente mal e deveria ser escravizado e colocado em prisão (embora mais para frente Paulo combata os dois tipos).
Outro braço do gnosticismo era combatido por João, Pedro e Judas - o de ensinar que não importava para a salvação o comportamento do corpo que deveria ser destruído com a total liberação do mesmo a toda sorte de carnalidade.
Isso acontece hoje em igrejas que não ensinam a doutrina da santificação no corpo, na alma e no espírito. Crentes que se vestem como o mundo, se alimentam como o mundo e se divertem como o mundo, nada fazendo com respeito à santificação do corpo.
Justamente como um jovem se desvencilha de todo e qualquer obstáculo ou peso para exercitar-se mais livremente, assim também você deve desvencilhar-se de tudo quanto prejudique seu progresso espiritual. O exercício espiritual deve ser visto como algo que agrada a DEUS e que nos concede coisas superiores às terrenas e humanas.
Oração é um exercício espiritual. Estudo da bíblia é um exercício espiritual. Evangelizar, ganhar almas, lutar contra satanás e seus demônios, são excelentes exercícios espirituais.
O jejum por motivo estético ou por motivo de merecer alguma coisa de DEUS é condenado por DEUS. Não passa de desejo carnal no primeiro caso e de uma obra morta no segundo caso. O jejum deve ser praticado pelo crente como "domador" do corpo e como esvaziamento dos desejos carnais para enchimento do Espírito. Para ser cheio o vaso precisa estar vazio (Lc 5.37,38; Ef 5.18).
Homem natural, ou espiritual ou carnal. Carnal é o que já foi natural, passou a ser espiritual e agora é carnal. É uma escolha. Apostatou da fé que o tornara espiritual. Os gálatas fizeram isso. Eram naturais, passaram a ser espirituais quando se converteram e agora eram judaizantes, passaram a guardar a lei. Apostataram da legitima fé.
Hebreus: 6. 4. Porque é impossível que os que uma vez foram iluminados, e provaram o dom celestial, e se fizeram participantes do Espírito Santo, 5. e provaram a boa palavra de Deus, e os poderes do mundo vindouro, 6. e depois caíram, sejam outra vez renovados para arrependimento; visto que, quanto a eles, estão crucificando de novo o Filho de Deus, e o expondo ao vitupério. 7. Pois a terra que embebe a chuva, que cai muitas vezes sobre ela, e produz erva proveitosa para aqueles por quem é lavrada, recebe a bênção da parte de Deus; 8. mas se produz espinhos e abrolhos, é rejeitada, e perto está da maldição; o seu fim é ser queimada.
Justificação pela lei, merecimento da salvação por causa de jejum e vida separada da sociedade, destruição do corpo ou libertinagem para destruição do corpo como instrumento do mal. Tudo isso é doutrina de demônios.
Vida cristã sem mudança de vida, descrédito e irreverência para com as coisas espirituais, também são doutrinas se demônios. Feminismo, pedofilismo, homossexualismo, lesbianismo. Também são doutrinas se demônios.
EXEMPLO PARA OS FIÉIS - BOAS OBRAS são resultado de uma vida consagrada a DEUS - Atos dos Apóstolos: 20.35. Em tudo vos dei o exemplo de que assim trabalhando, é necessário socorrer os enfermos, recordando as palavras do Senhor Jesus, porquanto ele mesmo disse: Coisa mais bem-aventurada é dar do que receber.
Tito: 2. 7. Em tudo te dá por exemplo de boas obras; na doutrina mostra integridade, sobriedade, 8. linguagem sã e irrepreensível, para que o adversário se confunda, não tendo nenhum mal que dizer de nós. 9. Exorta os servos a que sejam submissos a seus senhores em tudo, sendo-lhes agradáveis, não os contradizendo 10. nem defraudando, antes mostrando perfeita lealdade, para que em tudo sejam ornamento da doutrina de Deus nosso Salvador.
1 Timóteo: 4. 12. Ninguém despreze a tua mocidade, mas sê um exemplo para os fiéis na palavra, no procedimento, no amor, na fé, na pureza. 13. até que eu vá, aplica-te à leitura, à exortação, e ao ensino. 14. Não negligencies o dom que há em ti, o qual te foi dado por profecia, com a imposição das mãos do presbítero. 15. Ocupa-te destas coisas, dedica-te inteiramente a elas, para que o teu progresso seja manifesto a todos. 16. Tem cuidado de ti mesmo e do teu ensino; persevera nestas coisas; porque, fazendo isto, te salvarás, tanto a ti mesmo como aos que te ouvem.
Tiago: 5. 10. Irmãos, tomai como exemplo de sofrimento e paciência os profetas que falaram em nome do Senhor.
SEJA EXEMPLO NA FÉ, NA COMUNHÃO COM DEUS, NO SOFRIMENTO PELO EVANGELHO, NAS BOAS OBRAS.
Timóteo foi incumbido de ler e ensinar a Palavra de DEUS. Essa é nossa tarefa, ler e ensinar de modo que as pessoas compreendam com facilidade. Para isso necessitamos da unção do ESPÍRITO SANTO.
UMA ADVERTÊNCIA CONTRA O FALSO ASCETISMO. 4:1-5. - A PRIMEIRA EPÍSTOLA A TIMÓTEO - J. N. D. Kelly - Novo Testamento - Vida Nova - Série Cultura Cristã.
Depois da sua breve digressão, louvando o mistério cristão, Paulo dirige sua atenção mais uma vez aos mestres do erro, sendo que quase nem sequer tocou no caso deles desde o cap.1. Que um ataque haveria de ser lançado foi sugerido indiretamente em 3:15, com sua menção do comportamento correto na congregação cristã. Desta vez, fixa sua atenção nos conselhos práticos dos heréticos, com sua tendência a favor de um asceticismo basicamente não cristão, e contrasta com ele o tipo autenticamente cristão da autodisciplina.
1. Tais falsos ensinos poderiam ser um problema para a Igreja, se não fosse o caso de ter sido advertida de antemão: Ora, o ESPÍRITO afirma expressamente que, nos últimos tempos, alguns apostatarão da fé.
É, naturalmente, impossível identificar a profecia. Os críticos que negam a autoria paulina às vezes alegam que o escritor está pensando na predição de advertência feita pelo próprio Paulo diante dos presbíteros de Éfeso (At 20:29-30), mas mesmo conforme as pressuposições deles, tal coisa é desnecessária. A crença de que o falso ensino, que teria como resultado a apostasia, teria sido levada em conta no período em que a Parousia estava profundamente embutida no pensamento cristão primitivo. Temos exemplos no dito do Senhor registrado em Mc 13:22 e em 2 Ts 2:3, 11-12; cf. também 2 Tm 3:1 ss. A seita de Cunrã, segundo parece, participava do ponto de vista de que “no fim dos dias” surgiriam blasfemadores (ver Comentário sobre Habacuque 2:5-6). Passagens tais como Atos 11:27-28; 13:1-2; 1 Co 14 dão ilustrações da maneira segundo a qual o ESPÍRITO transmitia Suas advertências à comunidade. Para a fé no sentido objetivo, ver 3:9. O desvio, ou a apostasia, foi profetizado para os últimos tempos. A expressão é equivalente de “nos últimos (Gr. eschatais: aqui husterois) dias” em 2 Tm 3:1. O fato de que esta época crítica é considerada igual ao tempo presente indica que a esperança da Parousia iminente ainda está viva. A falha dos apóstatas, Paulo explica, é devida a obedecerem a espíritos enganadores e a ensinos de demônios; noutras palavras, detecta nela os estratagemas maléficos de Satanás e seus aliados, assim como discernira sua influência operante na oposição em Corinto (2 Co 2:11) e, de modo mais geral, na resistência que os homens opõem à verdade (2 Co 4:4; Ef 2:2). Estes demônios, no entanto, empregam agentes humanos; logo, a apostasia é realizada pela hipocrisia dos que falam mentiras, e que têm cauterizada a própria consciência. Estes são, naturalmente, os próprios falsos mestres, que, portanto, são descritos como os que falam mentiras. Ao acusá-los à hipocrisia Paulo está insinuando que seu ar de devoção e de rigor ético é apenas uma máscara ilusória. Além disto, são pessoas que estão a serviço de Satanás, e, como conseqüência, têm sua consciência ferreteada com a marca que indica que ele é dono deles. O verbo empregado (Gr. kaustêriazein: em nenhuma outra parte da Bíblia) significa “ferretear com um ferro quente.” Uma interpretação alternativa possível é que sua consciência foi cauterizada, i.é, tomada insensível à distinção entre o certo e o errado. Isto concordaria com a descrição de Paulo (Ef 4:19) dos pagãos que não têm conhecimento de CRISTO “mortos a todo o sentimento” (“insensíveis,” ARA). É difícil ter certeza qual é certo, mas as marcas do ferrete que indicavam o direito do dono eram ferreteadas na testa dos escravos, e esta ideia talvez harmonize melhor com a sugestão de que os mestres do erro são os instrumentos dos poderes demoníacos.
3. Paulo agora passa a definir um aspecto específico da doutrina deles: os mestres do erro proíbem o casamento, exigem abstinência de alimentos. . . (não há exigem no original: o infinitivo “abster” é ligado a proíbem por zeugma). No que diz respeito ao primeiro aspecto, a proibição do casamento, bem como do sexo de modo geral, era um traço nitidamente gnóstico, e passou para o primeiro plano nos grandes sistemas gnósticos do século II. Era baseado no dualismo que fazia parte integrante do gnosticismo, sendo que o princípio era que a matéria, inclusive o corpo humano e suas funções, era má, e que o homem religioso devia fazer o máximo que podia para viver emancipado dela. Tais idéias eram estranhas ao judaísmo de modo geral, embora Josefo relate {Bell. Iud. ii.8.2) que os essênios faziam pouco caso do casamento. Este fato tem tentado muitos a identificarem os hereges como gnósticos propriamente ditos, mas fazer assim é olvidar o fundo histórico judaico do seu ensino, e o fato de que todos os aspectos principais do gnosticismo desenvolvido estão ausentes dele (ver a Introdução, págs. 18—20). Há evidência de uma atitude negativa para com o sexo, não talvez tão radical como esta, na igreja de Corinto (1 Co 7:lss.;esp. 36ss.), e Paulo já tratara disto conforme seu modo sensato. O que temos aqui não é tanto um gnosticismo total quanto uma tendência incipiente naquela direção, manifestada por judeus convertidos num ambiente sincretista. Pode ser notado que Paulo, embora implicitamente a condene, não a refuta por argumento. A explicação provavelmente é que já deixara abundantemente claros seus conceitos da naturalidade e da propriedade do casamento no seu tratamento das qualidades requeridas nos detentores de cargos. Produz um argumento arrazoado, no entanto, contra os regulamentos hereges. A natureza exata da abstinência exigida não fica clara, embora talvez possamos deduzir de 5:23 que envolvia a abstinência do álcool, ao passo que Tt 1:10 ss. sugere que tivesse alguma conexão com as proibições alimentárias rituais judaicas. O vegetarianismo rigoroso discutido em Rm 14:1 ss. fornece um paralelo instruidor. Como naquela passagem, provavelmente estejamos justificados aqui em inferir uma fusão de elementos gnósticos e judaicos, embora pareça que Paulo está subentendendo que as proibições em Éfeso fossem baseadas num dualismo mais explícito que estigmatizava a matéria como sendo maligna. Talvez seja esta a razão da veemência do seu ataque aqui, em contraste, por exemplo, com sua relativa brandura em Rm 14:1 ss. Reconhece que o ascetismo que tira sua força motriz do dualismo pressupõe a salvação mediante os esforços do próprio homem, além de violar a doutrina da criação exposta em Gn 1 (“E viu DEUS que isso era bom”) e retomada em Eclo. 39:16, 25-27). À luz disto, argumenta que DEUS criou estes alimentos que eles proíbem, com o objetivo específico de serem recebidos, com ações de graça, pelos fiéis e por quantos conhecem plenamente a verdade. A insistência nas ações de graça ecoa o ensino de Paulo em Rm 14:6; 1 Co 10:30; Fp 4:6; ver abaixo sobre o versículo seguinte. As palavras são enfáticas e devem ser ligadas estreitamente com aquilo que se segue: o cristão que crê e que entrou na plenitude da revelação de DEUS (para a verdade como equivalente, nas Pastorais, ao evangelho cristão integral, ver sobre 2:4) tem uma razão especial para reconhecer com gratidão que todas as coisas materiais vêm da parte dEle.
4. O grande princípio que abole todas as leis alimentícias e os tabus sobre dieta passa agora a ser exposto: Pois tudo que DEUS criou é bom. Já tinha sido enunciado, no contexto de uma discussão de regulamentos rituais judaicos, pelo próprio CRISTO (Mc 7:19). Seu corolário inescapável é que nada é recusável, sendo que a única condição prévia é que seja recebido com ações de graça. Paulo está se referindo, não à gratidão em geral, mas, sim, à gratidão expressada nas ações de graças às refeições: cf. e.g., 1 Co 10:30. No judaísmo, fazer as orações às refeições não era considerado mera formalidade, e os evangelhos relatam como JESUS sempre bendizia a DEUS antes de uma refeição, e proferia ações de graças depois dela (e.g. Mc 6:41; 8:6; 14:22-23; Lc 24:30). As passagens alistadas no parágrafo anterior ilustram a importância, aos olhos de Paulo, de render ações de graças.
5. As palavras seguintes, porque pela palavra de DEUS, e pela oração, é santificado, visam contrabalançar os escrúpulos de quem talvez esteja em dúvida. Por mais comum ou impura que uma certa forma de comida possa ser convencionalmente considerada, o fato de que bendissemos a DEUS por ela, do fundo do nosso coração, reconhecendo, assim, que é Seu dom para nós, deve fazer com que seja certo aos olhos até mesmo dos mais escrupulosos. A frase não alega que uma santificação adicional, além e por cima da sua bondade intrínseca como criatura de DEUS, é transmitida ao alimento ao proferir ações de graças. O que declara é que a oração de gratidão coloca o alimento na sua perspectiva verdadeira, e, dessa maneira, capacita-nos a considerá-lo sagrado. Não devemos entender com pela palavra de DEUS, conforme alguns propõem, a palavra criadora de DEUS, como se a santificação tivesse uma fonte dupla: a palavra divina mediante a qual o alimento veio a existir, é a oração humana. A frase inteira, conforme indica porque, visa explicar recebido com ações de graça. Corretamente interpretadas, portanto, a palavra de DEUS e oração devem ser lidas em estreita conexão, como expressão de uma única ideia; a última é a oração de bênção e ações de graças propriamente dita, e a primeira diz respeito aos trechos da Escritura que, segundo o costume judaico, formavam seu conteúdo.
A ATITUDE POSITIVA ESPERADA DE TIMÓTEO. 4:6-16.
Paulo agora se dirige a Timóteo pessoalmente, e explica como deve cumprir as tarefas esboçadas e, em especial, como lidar com o falso ensino. O conselho é quase totalmente construtivo. Nenhuma tentativa é feita de denunciar ou refutar; toda a ênfase é colocada no dever de Timóteo de fazer-se um modelo para seu rebanho. Ao colocar diante deles um exemplo da fé, devoção e conduta cristãs, desviará a atenção deles da heresia, e, ao mesmo tempo, poderá dar vazão plena e frutífera ao dotamento espiritual que possui em virtude da sua ordenação.
6. Timóteo deve expor estas coisas aos irmãos. O verbo usado (Gr. hupotithesthai) não contém nenhuma nota de autoridade ou mandamento peremptório. Conforme observa João Crisóstomo:
“Não escreveu ‘ordenando,’ não escreveu ‘instruindo,’ mas, sim, ‘sugerindo,’ ou seja: como se desse conselho,” As “sugestões” (estas coisas) são os princípios resumidos em 1-5 e reafirmados em termos mais gerais em 7-10 abaixo. Os membros da igreja de Éfeso são chamados irmãos, palavra esta em que o sentimento de pertencer a uma família ainda fica vivo (cf. 5:1; 6:2; 2 Tm 4:21). Ao agir assim, Timóteo se comprovará bom ministro de CRISTO JESUS. O Grego para ministro (diakonos) é o mesmo de “diácono;” embora a palavra estivesse passando pelo processo de tomar-se especializada (ver 3:8), ainda retinha seu significado mais geral (e.g. 1 Co 3:5; 2 Co 11:23), e pode ser aplicada a qualquer apóstolo ou homem apostólico realizando a obra de CRISTO. A realização eficaz deste ministério, no entanto, pressupõe que ele está alimentado com as palavras da fé e da boa doutrina que tem seguido, i.é, estudado com diligência e praticado com perseverança. O particípio está no tempo presente (lit. “nutrindo-te com”), e sugere que alimentar-se com as verdades do evangelho deve ser a tarefa diária de Timóteo. Para a metáfora da comida ou da bebida aplicada ao ensino cristão, cf. 1 Co 3:2. Mais uma vez (ver 3:9) a fé representa a fé cristã objetivamente considerada; doutrina (Gr. didaskalia), também como em 1:10; 6:1, 3; possivelmente 2 Tm 3:10; 4:3; Tt 1:9; 2:1, 10, tem o sentido de o corpo objetivo do ensino cristão. Os críticos que consideram as cartas pseudonímicas interpretam a passagem no sentido de aconselhar a leal aderência à tradição paulina, agora canonizada e considerada como a versão autêntica do evangelho. Não há dificuldade, no entanto, em entender a palavra no seu sentido natural como um indício de que a melhor refutação do erro acha-se numa apresentação positiva da fé cristã.
7. Em antítese direta às palavras da fé, etc., há aquelas fábulas profanas e de velhinhas caducas que os hereges mascateiam para apoiar seu ascetismo mal-orientado bem como seus demais erros.
Para fábulas ver 1:4. Timóteo “nada deve ter a ver” com estas. São profanas (Gr. bebêlos), palavra esta que conota aquilo que é radicalmente separado daquilo que é santo, e oposto a ele; Paulo a usa nas Pastorais (cf. 1:9; 6:20; 2 Tm 2:16) para sugerir que o ensino dos hereges não tem base ou conteúdo religioso real. A realidade, só servem para velhas supersticiosas (Gr. graõdeis: um epíteto sarcástico que era frequente na polêmica filosófica e que transmite a ideia de credulidade ilimitada). Ao invés de atentar a tais estultícias, Timóteo deve Exercitar- se pessoalmente na piedade (Gr. eusebeia: ver 2:2), de maneira que possa crescer no cristianismo verdadeiro. A comparação entre a vida cristã e o exercido atlético ou o esporte é, naturalmente, uma das favoritas de Paulo: cf. esp. 1 Co 9:24-27. Sua escolha dela é induzida pelo pensamento de que, assim como os sectários se sujeitavam a formas mal pensadas de autodisciplina física, assim também há uma autodisciplina genuinamente cristã que Timóteo deve praticar. Consiste, porém, não em formas desnaturadas de abstinência, mas, sim, podemos supor, no controle-próprio geral, na devoção contínua à tradição do evangelho, e talvez mais do que tudo (conforme sugere 4:10), na aceitação com bom grado da cruz de sofrimento que todos os cristãos devem esperar.
8. O objetivo de Timóteo, conforme Paulo acaba de defini-lo, deve ser, não a subjugação meramente negativa da sua natureza física, mas, sim, o progresso na “religião sadia” (piedade). Apoiando esta ideia, dita o que parece, pela sua harmonia, ser um refrão proverbial: “Pois o exercido físico para pouco é proveitoso, mas a piedade para tudo é proveitosa.” Conforme era originalmente formulado, este apotegma deve ter sido dirigido contra o treinamento excessivo de atletas, que, segundo sabemos, era assunto de fortes críticas nos círculos estoicos e cínicos. Na presente passagem, naturalmente, o treinamento atlético como tal não está sendo discutido, e uma referência a ele é rigorosamente irrelevante. Paulo introduz a citação (a) por causa da justaposição de Exercitar (uma metáfora do atletismo) e piedade na frase anterior, que a sugerem; (b) porque a alusão à piedade com que a citação termina, comprova admiravelmente o valor do conselho que acaba de dar a Timóteo; e (c) porque a frase exercício físico, com sua falta completa de implicações, impressiona-o como uma caricatura apropriada para descrever a autodisciplina exclusivamente física praticada pelos sectários.
De modo geral, esta parece ser a maneira mais satisfatória de entender esta passagem difícil. Alguns propuseram que tanto "exercita-te" (Gr. gumnaze) no v. 7 e exercício físico (Gr. sõmatikè gumnasia) no presente versículo devam ser entendidos metaforicamente como referência à auto-mortificação ascética. Segundo esta interpretação, os dois versículos poderiam ser parafraseados: “Ocupa-te, sem dúvida, na mortificação do corpo, mas ao assim fazer seja seu alvo o progresso na religião verdadeira, e não meramente a subjugação dos seus impulsos naturais. Semelhante ascetismo exclusivamente físico tem seu lugar limitado na vida cristã, mas só a religião sadia em si mesma leva para a salvação.” Esta interpretação tem a vantagem de deixar de lado a alusão desajeitada e, à primeira vista, sem razão de ser, ao atletismo. Além disto, obtém apoio doutras passagens no N.T. onde a abnegação e o ascetismo por finalidades rigorosamente cristãs são encorajados (Mc 9:29; 1 Co 7:5; 8:13; 9:27). É duvidoso, no entanto, se as palavras gregas gumnaze e gumnasia possam, sem qualificação, suportar o significado requerido; e, além disto, parece incrível que, depois de denunciar o ascetismo dos sectários como sendo diabólico, Paulo acabasse reconhecendo que a mortificação física tem um valor limitado. As palavras finais, porque tem a promessa da vida que agora é e da que há de ser, definem as bênçãos que o homem que se dedica à piedade pode esperar. Parecem ecoar as palavras de nosso Senhor registrada na tradição dos Evangelhos que oferecem exatamente esta recompensa àqueles que renunciam a tudo por amor a Ele (Mt 19:29; Mc 10:30; Lc 18:30). Para a mesma promessa, cf. Tt 1:2. Podemos resumir a lição de Paulo ao dizer que a piedade (i.é, eusebeia) cristã verdadeira não envolve o ascetismo físico como um elemento necessário; onde é praticado, deve haver um propósito mais alto em mira, como nas passagens alistadas no parágrafo anterior. O cristianismo verdadeiro consiste, pelo contrário, em submissão sempre renovada ao controle do ESPÍRITO, com a aceitação bem disposta da labuta e do sofrimento (ver v. 10 abaixo) e a prática daquelas virtudes que são o fruto do ESPÍRITO. A vida eterna, tanto neste mundo quanto no mundo vindouro, é a coroa que pode ser esperada por aqueles que entram em semelhante caminho.
9. Se a primeira metade da frase é, conforme é proposto supra, um refrão corrente que critica o atletismo excessivo, que Paulo adotou para os propósitos dele, estas palavras finais acerca da promessa da vida não podem, naturalmente, ter formado parte dele. Devem ter sido acrescentadas de passagem pelo próprio Apóstolo, ou talvez tenham estado presentes na adaptação cristã do apotegma que ele cita. Elas, também, têm uma qualidade proverbial e, conforme vimos, cristalizam idéias acerca do galardão eterno do cristão fiel, idéias estas que derivam do ensino do nosso Senhor em pessoa. Paulo está quase certamente fazendo referência a elas quando interpõe: Fiel é a palavra e digna de inteira aceitação. Para a fórmula, ver 1:15. A segunda metade do v. 8 tem a qualidade epigramática bem como o peso da relevância cristã que procuramos numa das “palavras fiéis ” é fácil entender como a menção da promessa da vida induziu Paulo a fazer este comentário.
10. Depois da sua breve exclamação, resume o fio da meada, e as palavras seguintes: Ora, é para esse fim, relembram a promessa da vida eterna mencionada de leve no v. 8. É com o objetivo de obter aquela vida bendita, declara o Apóstolo, que labutamos e nos esforçamos sobremodo (cf. Cl 1:29: “para isso é que eu também me afadigo, esforçando- me o mais possível”). Certo número de MSS substituem “sofremos opróbrio” (Gr. oneidizometha) onde se lê: nos esforçamos sobremodo, e este muito bem pode ser o texto correto, tendo sido substituído por nos esforçamos sobremodo sob a influência de Cl 1:29; mas o texto tradicional tem o apoio mais maciço e se encaixa melhor no contexto. Paulo está continuando sua metáfora atlética (cf. esp. 1 Co 9:25, onde fala de correr para alcançar uma coroa que não murchará), mas seu interesse transferiu-se da luta espiritual de Timóteo para alcançar a piedade, para a labuta e esbofeteamento que ele e seus associados têm de aguentar (e aguentar com bom ânimo) nos seus esforços para propagar ó evangelho.
Se puderem suportar tudo isto com confiança e sem esmorecer, é porque temos posto a nossa esperança no DEUS vivo. Paulo a escolhe aqui porque DEUS, sendo Ele mesmo vivo e a fonte da vida, pode conferir a vida aos outros e, portanto, pode-se confiar nEle para cumprir a promessa do v. 8.
O perfeito do verbo temos posto a nossa esperança (cf. 1 Co 15:19; e 2 Co 1:10) deve ser notado; subentende um estado contínuo de esperança, não apenas um ato único. E outra base da nossa confiança é o conhecimento de que DEUS é Salvador de todos os homens, especialmente dos fiéis (ou: “dos que têm fé”).
A declaração, que significa muito mais do que DEUS é Preservador (D. Guthrie), repete o pensamento de 2:4, onde é afirmado que a vontade de DEUS é a salvação de todos os homens. Ao acrescentar: especialmente dos fiéis, Paulo sem dúvida está dando expressão à sua convicção de que a certeza da salvação pertence em grau especial àqueles que aceitaram a CRISTO: cf. Rm 8:29, onde declara que é para os que amam a DEUS e que são chamados conforme Seu propósito que todas as coisas cooperam para o bem. Mesmo assim, conforme nos relembra o advérbio especialmente, não está negando que outros possam obter a salvação. Seu objetivo principal nesta passagem, no entanto, não é discutir as questões profundas da predestinação e da graça, mas, sim, meramente tornar claro além de toda a dúvida que os que fazem um esforço genuíno para praticar a eusebeia (piedade) e viver uma vida plenamente cristã, colocando sua esperança no DEUS vivo, não ficarão decepcionados.
11,12. O conselho de Paulo, começando com as palavras peremptórias Ordena e ensina estas coisas, agora assume um tom extremamente pessoal enquanto encoraja seu representante a asseverar-se com vigor. O verbo Ordena é enfático, com implicações militares, e dá a entender que Timóteo deve falar de modo autorativo: ver sobre 1:3. Devemos inferir que o Apóstolo estava preocupado com a timidez de Timóteo, e que este último não se sentia muito seguro em ter que firmar-se sobre seus próprios pés. Como tal, a passagem é extremamente vívida, e confirma a impressão deixada por 1 Co 16:10-11 de que era uma pessoa temerosa de quem os outros tendiam a tirar vantagem. Aqueles que consideram a carta pseudonímica devem pressupor que o autor deliberadamente acrescentou estes toques pessoais para criar um ar de verossimilhança. Segundo o ponto de vista deles, suas instruções, embora fossem aparentemente dirigidas a Timóteo, realmente visam todos os jovens que talvez sejam chamados a cargos de semelhante responsabilidade na igreja. Esta explicação ilustra uma das dificuldades da teoria da pseudonimidade. Não é fácil perceber por que um escritor posterior tivesse escolhido os jovens para conselhos deste tipo, e muito menos por que imaginaria que jovens teriam a probabilidade de ocupar posições de responsabilidade tão incomum na congregação local. Do outro lado, a ênfase dada à juventude e timidez do endereçado é inteiramente natural se supusermos que é Paulo quem está escrevendo para Timóteo. Com estas coisas Paulo não tem em vista instruções específicas; está pensando em todos os conselhos dados na carta até aquela altura. Sua observação seguinte: “Que ninguém te menospreze porque és jovem” (lit. Ninguém despreze a tua mocidade), embora, naturalmente, visasse ser um encorajamento ao próprio Timóteo, também visava produzir um efeito salutar na congregação de Éfeso em geral. A data em que a carta a Timóteo foi escrita, este, que não teria nascido antes do ano 30 d.C., provavelmente não passara dos 35 anos. Segundo o uso antigo, a descrição “jovem” (Gr. neos, etc.) podia ser aplicada a um adulto de idade militar. Políbio (xviii.12.5) fala de Flamínio como sendo “jovem” porque tinha apenas trinta anos, e Irineu (Haer. ii. 22.5) explicitamente declara que alguém pode corretamente ser chamado de “jovem” até quarenta anos de idade. Relembramos que Lucas designa Paulo como jovem na ocasião da morte de Estêvão, quando deve ter tido cerca de trinta anos (At. 7:58). Como homem muito mais velho, provavelmente acima de sessenta anos, Paulo, portanto, tinha toda razão em dirigir-se a Timóteo desta maneira. Além disso, se a situação é histórica, um bom número dos membros da comunidade de Éfeso, inclusive, sem dúvida, alguns dos presbíteros, devem ter tido bastante mais idade do que Timóteo, e é muito provável se irritassem em receber preleções de um oficial tão relativamente jovem, e em ter sua conduta pautada por ele, quanto mais se ele não tinha uma personalidade forte e de auto-asseveração. Para contrabalançar a desvantagem da mocidade, Timóteo é convidado a tomar-se padrão dos fiéis. Este é um toque verdadeiramente paulino; o Apóstolo esperava que o líder cristão fosse um modelo aos outros (Fp 3:17; 2 Ts 3:9). São mencionadas cinco esferas em que é importante que ele assim fizesse. Primeiramente, na palavra se refere à sua conversa de todos os dias (sua pregação será mencionada mais tarde), e no procedimento diz respeito à conduta geral na sua vida; ambos devem, segundo se supõe, ser marcados por grande decoro e graça cristã. Os outros três termos denotam qualidades interiores que, mesmo assim, afetam o comportamento externo do homem — o amor, i.é, a caridade fraterna no pleno sentido cristão; a fé, que provavelmente significa a “fidelidade” (cf. Rm 3:3; G1 5:22); e a pureza (Gr. hagneia: também 5:2), que abrange não somente a castidade em questões de sexo, como também a inocência e integridade de coração que são denotadas pelo substantivo correlato hagnotés em 2 Co 6:6.
13. Já ficamos sabendo de 3:14 que Paulo está planejando uma visita a Éfeso; no ínterim, Até a minha chegada, Timóteo é conclamado a aplicar-se com energia às suas funções ministeriais públicas. A lista é interessante e importante, e sua brevidade possivelmente indica sua data muito antiga. Se tivesse sido compilada no século II como espelho para os líderes da igreja, quase certamente teria sido mais plena e mais precisa, e uma referência aos sacramentos teria sido natural. No Grego, as palavras traduzidas leitura, exortação, e ensino estão precedidas, cada uma, pelo artigo definido (como na ARA); demonstrasse assim que são itens reconhecidos na reunião congregacional para a adoração. A leitura (da Escritura) denota, primariamente a leitura pública do A.T., que neste tempo era a Bíblia da igreja. Este era um aspecto do culto na sinagoga (Lc 4:16; At 15:21; 2 Co 3:14), e foi imediatamente adotado pelas congregações cristãs. Esta é, na realidade, a referência mais antiga ao uso da Escritura na liturgia da Igreja. Documentos especificamente cristãos, no entanto, tais quais as cartas de Paulo e doutros líderes, ou as revelações dos profetas, também eram lidos em público (Cl 4:16; 1 Ts 5:27; Ap 1:3), e esta prática provavelmente também esteja em mira aqui. A leitura em público no mundo antigo exigia certa realização técnica, pois as palavras no códice não eram divididas. Desde os meados do século II, de qualquer maneira, a função era delegada a um oficial chamado lector ou anagnòstês (e.g. Hipólito, Trad. ap. xii; Tertuliano, De praescr. xli). A exortação significa a exposição e a aplicação da Escritura que seguia sua leitura pública, noutras palavras, o sermão. Assim lemos em At 13:15: “Depois da leitura da lei e dos profetas, os chefes da sinagoga mandaram dizer-lhes: ‘Irmãos, se tendes alguma palavra de exortação para o povo, dizei-a.’ ” Do outro lado, o ensino significa a instrução catequética na doutrina cristã; esta, também, tinha seu lugar em reuniões para a adoração desde os tempos mais antigos, e fica evidente que grande quantidade de matéria catequética está incorporada nos escritos do N.T., inclusive as cartas paulinas. Paulo menciona estas duas funções juntas em Rm 12:7, e dá a entender que seu exercício exigia um charisma, ou revestimento do ESPÍRITO, especial.
14. A pergunta com que Timóteo é confrontado, por ser tímido e inseguro quanto a si mesmo, deve ser se tem o conhecimento, a capacidade, e o são juízo necessários para realizar estas tarefas com sucesso. O Apóstolo responde às suas dúvidas não faladas com uma resposta franca e encorajadora: ele tem um dom especial, e na condição de não se fazer negligente para com ele, deve estar amplamente equipado para enfrentar quaisquer exigências. A referência, é claro, é à graça do ESPÍRITO SANTO que Timóteo recebera na ocasião da sua ordenação ou consagração ao seu cargo, e que ficará sem fruto se for negligenciada: cf, 2 Tm 1:6. Nas cartas de Paulo (e.g. Rm 12:6ss.; 1 Co 12:4ss.) charisma, ou “dom”, significa uma dotação especial do ESPÍRITO que capacita quem a receber a realizar alguma função na comunidade. Quando escreveu 1 Coríntios, seus correspondentes estavam inclinados a atribuir uma importância exagerada às dotações mais especificamente “pneumáticas,” tais como línguas, profecia (ou outro dom do ESPÍRITO SANTO - Obs. Ev. Henrique_. O restante do versículo é de grande importância para nossa compreensão tanto da carta como da emergência das instituições cristãs, e sua exegese levanta certos problemas. Não há dificuldade quanto à frase mediante profecia. Forma um paralelo com “as profecias de que antecipadamente foste objeto” em 1:18. Paulo está lembrando a confirmação da escolha de Timóteo pelos pronunciamentos, inspirados pelo ESPÍRITO, de homens proféticos (cf. At 13:1-3). Não há, tampouco, qualquer dificuldade com a imposição das mãos. A ordenação, ou a nomeação para um cargo na igreja apostólica estava modelada de conformidade com o rito judaico contemporâneo para a ordenação de rabinos. Este, por sua vez, achou sua inspiração na ordenação de Josué conforme é descrita em Nm 27:18-23 e Dt 34:9, em que Moisés “impôs suas mão” (“encostou” ou “pressionou” seria uma versão mais exata) sobre seu sucessor em perspectiva. Supunha-se que, como resultado da ação, a unção do Espírito SANTO sobre Moisés tinha sido transmitida a Josué e assim tornou-o seu substituto eficaz. Destarte, achamos os apóstolos, ou mais provavelmente o povo, impondo ou pressionando suas mãos sobre os Sete na sua nomeação (At 6:6), e os profetas e mestres impondo ou pressionando suas mãos em Barnabé e Saulo para consagrá-los como missionários (At 13:3). Esta ação de impor, ou melhor, de pressionar, as mãos sobre alguém (o verbo hebraico é samakh), deve ser notado, é inteiramente diferente do “colocar” (verbo hebraico sim ou shith) as mãos empregado para bênçãos e curas, embora os dois sejam comumente confundidos e estejam traduzidos pelo mesmo verbo grego tanto na LXX como no N.T. É acerca da interpretação da frase inteira, traduzida ‘juntamente com a imposição das mãos para a ordenação como um presbítero” que surge nosso problema. Literalmente traduzido, o Grego diz: com a imposição das mãos do presbitério, e esta é a versão que tem sido quase universalmente adotada. O quadro que propõe é que o grupo inteiro dos presbíteros em Éfeso, sem dúvida com Paulo como seu líder ou presidente, participou na consagração solene de Timóteo, e participou em pressionar suas mãos sobre sua cabeça.
15. A admoestação "Medita estas coisas, e nelas sê diligente", ajunta os vários aspectos abrangidos pelos três versículos anteriores. O primeiro verbo (Gr. meletán) pode significar “meditar sobre,” mas sua nota predominante é “levar adiante diligentemente” ou “praticar”, assim como um atleta treina; destarte, a metáfora esportiva de 7-10 é ecoada. O motivo continua sendo estabelecer a autoridade de Timóteo. Se prestar atenção a estas diretrizes, fará progresso, e este a todos será manifesto. A congregação tomará nota dele, e deixará de considerá-lo um jovem inexperiente cuja autoridade pode ser menosprezada. A palavra traduzida progresso (Gr. prokopê) era usada pelos estoicos para denotar os avanços feitos por um noviço na filosofia ou na ética; foi usada por Paulo em Fp 1:12 acerca do progresso feito em divulgar o evangelho, e em Fp 1:25 do desenvolvimento espiritual dos seus correspondentes.
16. Termina com uma admoestação dupla: Tem cuidado de ti mesmo e da
doutrina. Há um indício claro que a concentração exclusiva num ou noutra será perigoso. A cláusula seguinte é difícil; uma tradução literal seria: “Apega-te a eles (Gr. autois)." É intolerável entender o pronome “eles” como sendo uma referência a ti mesmo e da doutrina, e somos obrigados, portanto, a entender que se refere a estas coisas em 15. Assim obtemos o que é com efeito uma paráfrase um pouco frouxa: “Apega-te às direções dadas.”
A PRIMEIRA EPÍSTOLA A TIMÓTEO - J. N. D. Kelly - Novo Testamento - Vida Nova - Série Cultura Cristã.
ESBOÇO DO CAPÍTULO 4 - William Hendriksen, 1 Timóteo, 2 Timóteo e Tito, São Paulo: Cultura Cristã, 2001, p. 191-6 (Comentário do Novo Testamento).
Tema: O Apóstolo Paulo, Escrevendo a Timóteo, Ministra Diretrizes para a Administração da Igreja.
Diretrizes com Respeito à Apostasia
4 .1-5 A. Descrição dessa apostasia é prova de sua sinistra natureza.
4.6-16 B. Como Timóteo deve lidar com ela:
1. Nutrindo-se com as palavras de fé e preparando-se para a vida de piedade;
2. Rejeitando os mitos profanos e de velhas caducas;
3. Prosseguindo resolutamente na exortação e no ensino positivos, baseados na Palavra.
1 Timóteo 4.1 Mas o ESPÍRITO diz expressamente que nos últimos tempos alguns se apartarão da fé por dar ouvidos a espíritos sedutores e a doutrinas de demônios, 2 [incorporados] em [as] declarações hipócritas dos que falam mentiras, cuja própria consciência é cauterizada, 3 proibindo [as pessoas] de se casarem, e [impondo-lhes] a abstenção de alimentos que DEUS criou, a fim de que os que creem e reconhecem a verdade participem deles com ações de graças. 4 Pois tudo o que DEUS criou ébom, e nada deve ser descartado, se for recebido com ações de graças; 5 porque é consagrado pela palavra de DEUS e pela oração.
Ainda que a igreja seja tão gloriosa, refletindo a glória de seu precioso Senhor e Salvador (1 Tm 3.15, 16), a apostasia está sempre a mão, porque nem todos os que pertencem exteriormente à igreja lhe pertencem interiormente. O presente capítulo trata dessa apostasia.
1. Mas o ESPÍRITO diz expressamente que nos últimos tempos alguns se apartarão da fé.
“O ESPÍRITO diz”, ou seja, “está agora dizendo”. A quem estava o ESPÍRITO falando? Atos 20.29, 30 me leva a pensar que o apóstolo quer dizer “a mim mesmo” (talvez também a outros). O ESPÍRITO, pois, está dizendo que “nos últimos tempos” - eras desta nova dispensação, eras definidamente assinaladas na presciência de DEUS - alguns se apartarão ou apostatarão da fé (sentido objetivo), o corpo de verdade redentora, a religião cristã. O ESPÍRITO estava dizendo isso expressamente (“em termos claros”). Não havia dúvidas nem imprecisão a respeito. Doze anos antes, falando aos presbíteros das igrejas da mesma região em que Timóteo estava agora trabalhando, Paulo lhes havia dito: “Eu sei que depois de minha partida lobos vorazes entrarão no meio de vocês, não poupando o rebanho. E dentre vocês mesmos se levantarão homens falando coisas que não são corretas, com o fim de arrastar os discípulos após eles.” Uns poucos anos depois deste discurso registrado em Atos 20, ao escrever aos Colossenses de sua primeira prisão romana, o apóstolo os advertira contra a aceitação do erro de que a fé em CRISTO e sua obra expiatória tinha de ser suplementada por crenças ascéticas e praticas correspondentes (Cl 2). E agora, ao escrever a Timóteo da Macedônia, o ESPÍRITO SANTO o informa claramente que o erro, já presente em sua forma incipiente, crescera e se expandira na forma indicada no versículo 3. Os homens se apartarão da fé dando ouvidos a espíritos sedutores e a doutrinas de demônios. Como o contexto o indica (e ver também 1 Jo 4.6, onde “o espírito de sedução” e contrastado com “o espírito da verdade”), esses espíritos não são homens, mas demônios. Como planetas errantes entre as constelações, esses espíritos vagueiam; Além do mais, eles fazem os homens também errantes. Seduzem, desencaminham. Quando alguém lhes dá ouvidos, está dando ouvidos a doutrinas de demônios (cf. 2Co 4.4; Ap 13.11, 14).
2. Tais doutrinas são [incorporadas] em [as] declarações hipócritas (literalmente, com hipocrisia) de quem fala mentiras. Assim como Satanás fez uso de uma serpente para enganar Eva, e isso por meio de uma declaração hipócrita (Gn 3.1-5: estava escondendo seu verdadeiro objetivo; porque enquanto pretendia elevar Eva a um nível superior de glória, para que pudesse ser “como DEUS”, seu verdadeiro propósito era destronar DEUS e tomar ele mesmo o trono para si), assim esses espíritos sedutores ou demônios fazem uso de homens que falam mentiras, e que falam piedosa e fluentemente com o fim de esconder sua própria arrogância ou imoralidade. Tais hipócritas são julgados como tendo a consciência cauterizada (literalmente, “que estão cauterizados no tocante a sua própria consciência”). Ao argumentar constantemente com a consciência, ao rejeitar suas advertências, e ao abafar o som de sua campainha, por fim desligou ao ponto em que a consciência já não o molesta mais. Por ter entristecido o ESPÍRITO SANTO, foi levado a resistir-lhe; e, resistindo-lhe, o apagou. Então, mediante sua própria rebelião e obstinação, a consciência se tornara cauterizada (e isso será permanentemente). Cria calosidade. Um bom exemplo é Balaão (Nm 22.12, 19, 21, 22, 32; 25.1-3; 2Pe 2.15; Ap 2.14).
3. Seu ensino é, ou será tão nocivo como seu caráter: proibindo [as pessoas] de se casarem, e [impondo-lhes] a abstenção de alimentos. Princípios produzem frutos. Os falsos mestres aqui mencionados, provavelmente aceitam como um de seus pontos de partida a tese: Tudo o que é físico ou sensual contamina. Não é difícil ver a forma em que este princípio fez com que, ao longo do tempo, os seguidores do erro desaprovassem o matrimônio. Também os alimentos seriam condenados, embora, naturalmente, não de forma absoluta. O jejum seria enaltecido. Um cumprimento prematuro da profecia entrou em cena no século 2°. Não é difícil entender como os escrúpulos ritualísticos judaicos, já em evidência nas adjacências de Colossos e outros lugares (ver Cl 2 e cf. Rm 14), fizeram aliança com a filosofia dualista pagã. Tinham em comum o ascetismo, a renúncia às comodidades da vida com vistas a atingir a felicidade e a perfeição. A seita sincrética do século 2° (ver pp. 30-31), na qual a profecia se cumpriu em parte, era o gnosticismo, o qual elevava a gnosis, ou seja, o conhecimento, a uma posição de proeminência acima da pistis, ou seja, a fé. Segundo esse mesmo sistema, o bom DEUS - o DEUS da nova dispensação - não poderia ter criado o mundo, porque o mundo é material, e a matéria é a sede do mal. Foi o Jeová do Antigo Testamento, o Demiurgo, quem criou o mundo, o corpo humano, a matéria. Esses são nossos inimigos. Devem ser derrotados. Dai, todos os gnósticos favoreciam “o abuso da carne”. Mas tal abuso da carne pode ser expresso em dois imperativos diametralmente opostos: a. “afaste-se dela”;
b. “vença-a entregando-se a ela”. A primeira era defendida pelos gnósticos ascetas, entres os quais Marcião, Saturnino e Taciano (ver Tertuliano, Against Marcion, I. xxix; Irineu, Against Heresies, I. xxviii); a segunda forma era a dos gnósticos antinomianos ou licenciosos, tais como os nicolaitas. Aqui em 1 Timóteo 4, o apóstolo Paulo prediz e ao mesmo tempo adverte contra a heresia dos primeiros. O apóstolo João (Jo 3.4-10; Ap 2.15, 20, 24), o apóstolo Pedro (2Pe 2.12-19) e Judas (vv. 4, 8, 11 e 19) combatem a segunda. Contudo as duas nunca estão muito longe uma da outra. Paulo de fato combate as duas variedades, porque temos não só essas declarações aqui em 1 Timóteo 4, mas também a de 2 Timóteo 3.1-9. (Para a aplicação corintiana da tese básica do gnosticismo, ver CNT sobre João, Vol. I.) Mas esse é apenas um cumprimento. Outros se seguem; pois ainda que em suas formas antigas o gnosticismo já se foi, seu espírito tem estado em evidência repetidas vezes através dos séculos. Também em nossos dias, sempre que o Antigo Testamento não é encarado com seriedade, sempre que a razão humana é exaltada acima da fé cristã, sempre que se rejeite a tese: “O pecado é real e é, em sua essência, rebelião contra DEUS”, ou sempre que se proclame a capacidade do homem de salvar-se a si mesmo (que éa negação de CRISTO como o único e perfeito Salvador), o espectro do gnosticismo se faz sentir novamente. O gnosticismo despreza as ordenanças de DEUS, por exemplo, a do matrimônio (Gn 2.24) e a ordenança concernente aos alimentos (Gn 1.29, 30; e especialmente Gn 9.3). Esses seguidores do erro, cujo surgimento Paulo em certa medida anuncia, mas ainda mais prediz, ordena aos homens que se abstenham dos alimentos que DEUS criou para que, os que creem e reconhecem a verdade, possam participar deles com ações de graças (literalmente, que DEUS criou para participar deles com ações de graças pelos que creem e reconhecem a verdade). Estas palavras se referem aos alimentos, não ao matrimônio. Naturalmente, por implicação elas se aplicam a ambos; diretamente, porém, só aos alimentos. O apóstolo tem expressado seu ponto de vista favorável ao matrimônio e a família em passagens tais como 1 Timóteo 2.15; 3.2, 4, 12. Com respeito aos alimentos, pois, note que DEUS - o único DEUS verdadeiro, que é o mesmo em ambas as dispensações - os criou. Dai não poderem ser nocivos nem contaminantes. E os criou com um propósito definido, a saber: “para a participação com ações de graças” (ICo 10.31), de modo que o círculo se complete, e o que veio de DEUS possa, em forma de gratidão, ser-lhe devolvido. Mas o homem natural não pode derramar seu coração em gratidão a DEUS. Dai Paulo acrescentar: “os que creem e reconhecem a verdade.” A deleitosa aceitação da verdade conduz, não ao ascetismo, mas a participação com ações de graças. Este pensamento recebe uma ênfase maior quando Paulo prossegue:
4. Pois tudo o que DEUS criou é excelente, e nada deve ser descartado, caso seja recebido com ações de graças. Esta oração confirma a passagem precedente.Os alimentos que foram criados para o consumo com ações de graças são excelentes. Aliás, toda criatura de DEUS é excelente: “E viu DEUS tudo quanto havia feito, e eis que era muito bom” (Gn 1.31). Nada é para ser desprezado, como se fosse mau ou como se fosse a sede do mal. Ultimamente a ciência está começando a descobrir que o que se considerava sem valor para o homem pode provar ser a fonte de grande benção; aliás, pode vir a ser a solução do problema alimentar de futuras gerações; pense, por exemplo, em “alimento vegetal do oceano”. Toda criatura de DEUS é excelente: (a) Pela própria razão de DEUS a ter criado e (b) Porque ele também a consagrou. (evidente que DEUS criou coisas para servirem de alimento e criou coisas que não servem para alimento- Observação Ev. Henrique). Dai, Paulo continua:
5. Porque é consagrado pela palavra de DEUS e pela oração. Por intermédio da benção divina, e por intermédio de nossa oração confiante, tem sido consagrado (cf. 2Tm 2.21), ou seja, separado para uso santo, transportado para a esfera espiritual. Para o cristão, comer e beber não são atividades seculares (ICo 10.31). Quando, antes de participar do alimento, ele pronuncia sua petição e ação de graças, DEUS ao mesmo tempo pronuncia sua palavra de benção (cf. Dt 8.3). Ele se lembra do pacto da graça (Sl 11.5). (Não esquecendo do extremo perigoso de que, se eu orei antes, então posso comer de tudo, inclusive veneno - Observação do Ev. Henrique)
6 Submetendo essas questões aos irmãos, você será um excelente ministro de CRISTO JESUS, nutrido com as palavras da fé e da doutrina excelente que você vem seguindo. 7 Rejeite, porém, os mitos profanos e de velhas senhoras. Exercite-se para o viver piedoso. 8 Porque, embora o exercício físico seja de algum beneficio, esse viver piedoso é de todas as formas benéfico, visto que tem a promessa da vida, tanto a presente quanto a futura. 9 Confiável é essa afirmação e digna de plena aceitação. 10 Porque para esse fim é que labutamos e nos esforçamos, visto que temos posto nossa esperança no DEUS vivo, que é o Salvador de todos os homens, especialmente dos que creem. 11 Ordene essas coisas e ensine [-as]. 12 Que ninguém despreze sua juventude, porém tome-se o modelo dos crentes na linguagem, na conduta, no amor, na fé, na pureza. 13 Até eu chegar, aplique-se a leitura [publica da Escritura], a exortação e ao ensino. 14 Não negligencie o dom que está em você, que lhe foi concedido por meio de declaração profética com a imposição das mãos do presbitério. 15 Que essas coisas sejam sua preocupação constante. 16 Atente bem para sua própria vida e para o ensino, persevere neles, pois fazendo assim você salvará tanto a si mesmo quanto aos que o ouvem.
6. Submetendo essas coisas aos irmãos, você será um excelente ministro de CRISTO JESUS. O dever de Timóteo é advertir os irmãos do perigo por vir. Ele deve realçar qual será o produto de determinados erros que em sua forma inicial ainda agora estavam se manifestando, mas que, quanto a seu desenvolvimento, ainda pertenciam ao futuro. Ele deve deixar bem evidente para os líderes e para o povo de Éfeso e suas adjacências o que o ESPÍRITO revelara claramente quanto a natureza da falsidade que se aproximava e quanto a forma de combatê-la. Dai, a expressão “essas questões” se refere às coisas mencionadas nos versículos 1 a 5. Timóteo deve submeter essas coisas aos irmãos, ou seja, deve colocar um sólido fundamento sob seus pés (e em Rm 16.5). O apóstolo escreve que essas coisas devem ser submetidas a “os irmãos” (cf. 5.1; 6.2; 2Tm 4.21). Paulo gosta de usar esse termo (ver ( \N.T. sobre I Ts 1.4). Embora ele não receie asseverar sua autoridade como apóstolo de JESUS CRISTO, não obstante ele põe a ênfase sobre o amor. Os crentes na comunidade de Éfeso são irmãos, membros da família espiritual de Paulo (e de DEUS!). Paulo os ama. DEUS os ama. Ora, submetendo estas coisas aos irmãos, Timóteo provará ser “um excelente ministro de CRISTO JESUS”. O original usa para “ministro” o termo “diakonos”, do qual derivamos a palavra “diácono”. Em 1 Timóteo 3.8, 12, seu significado é “diácono”. Em 1 Timóteo 1.12, porém, a palavra estreitamente correlata, “diakonia”, não significa diaconato, mas ministro, e é provável que o verbo correlato, sempre que é usado no Novo Testamento (ver sobre 1 Tm 3.13), não significa “a função de diácono”, mas a de “ministro”, ou “suprir ministrando”. “Um ministro excelente” é alguém que, com amorável devoção à sua tarefa, ao seu povo e, acima de tudo, ao seu DEUS, adverte contra a apostasia da verdade, e mostra como se deve tratar o erro. Tal homem realmente representa (e pertence a) CRISTO JESUS. “Cumprindo seu dever, você, Timóteo”, diz Paulo, se adequara a este padrão, sendo nutrido nas palavras da fé e da doutrina excelente que vem seguindo. “As palavras” são as que incorporam “a fé” e “o ensino excelente” da igreja, à verdadeira doutrina cristã. O apóstolo poderia estar pensando em certos sumários de doutrina que (talvez na forma de “confissões confiáveis” correntes e outras formulações fixas de verdades) poderiam ser considerados boa nutrição espiritual. Timóteo tinha e ainda continuava seguindo essa doutrina ou ensino excelente. Se ele quiser continuar sendo um ministro qualificado de JESUS CRISTO, então deve ser constantemente nutrido por (ou “em”) esse tipo de alimento. Um ministro que negligencia o estudo de sua Bíblia, e a doutrina baseada nela, atrofia seus poderes pelo desuso.
7a. Timóteo deve nutrir-se. Naturalmente que deve usar os alimentos apropriados. Não deve alimentar-se de refugos. E assim Paulo prossegue: Rejeite, porém, os mitos profanos e de velhas senhoras. Note que o apóstolo definitivamente continua dizendo a Timóteo o que ele deve fazer para ser um ministro excelente. As expressões: “nutrido nas palavras da fé”, “mitos profanos e de velhas senhoras”, “exercite-se para o viver piedoso” se enfeitem. Praticar um e descartar o outro é, indubitavelmente, contraditório. Dai, a tradução “porém” , no inicio do versículo 7, se ajusta excelentemente. Os mitos profanos e de velhas senhoras que o apóstolo ordena a Timóteo descartar são os “mitos e genealogias infindáveis” mencionados em 1 Timóteo 1.4. Em contraste com a heresia contra a qual Paulo adverte a Timóteo na seção que acabamos de discutir (1 Tm 4.1-5), heresia essa que tinha ampla referência, ainda que não exclusivamente, ao futuro, essas fúteis anedotas judaicas por meio das quais os mestres do erro tentavam embelezar a lei, faziam parte do presente. Timóteo deve recusar-se a deixar-se aborrecer por elas (cf. 2Tm 2.23). Ele deve “ficar isento”. Esses mitos eram profanos, próprios para serem pisoteados sob a planta dos pés (ver sobre 1 Tm 1.9). Não passam de sandice, e pertencem a categoria de superstições disparatadas que velhas senhoras costumam esforçar-se por imprimir em seus vizinhos ou em seus netos.
7b, 8. Dando seguimento ao seu conselho com respeito ao progresso espiritual de Timóteo e os meios que ele deve usar para tal fim, Paulo diz: Exercite-se para o viver piedoso. Porque, ainda que o exercício físico seja de algum benefício, esse viver piedoso é de todas as formas benéfico.
A figura que serve de lastro a passagem é, naturalmente, a do ginásio grego (ou sua imitação popular), que compreendia pistas de corrida, de luta, etc. Era um lugar onde os jovens se despiam com o fim de promover a graça e o vigor do corpo por meio de treinamento físico. (Timóteo deveria instruir os jovens da igreja em Éfeso nesse sentido de considerarem o exercício espiritual superior ao físico - Ev. Henrique).Mas, em conformidade com o contexto precedente, que o recomenda a nutrir-se com as palavras da fé e a rejeitar os mitos profanos para poder ser (e prosseguir sendo) “um excelente ministro de CRISTO JESUS”, ele recebe ordem de exercitar-se com vistas a piedade ou ao viver santo. O exercício para o qual ele é exortado a praticar é de caráter espiritual. Por conseguinte, o que Paulo tinha em mente teria incluído uma ou mais das seguintes comparações: (a) Justamente como um jovem treina num ginásio o máximo que pode, assim você também, pela graça e poder de DEUS, não deve poupar esforços para alcançar o alvo. (b) Justamente como um jovem se desvencilha de todo e qualquer obstáculo ou peso para exercitar-se mais livremente, assim também você deve desvencilhar-se de tudo quanto prejudique seu progresso espiritual. (c) Justamente como um jovem tem seus olhos postos num alvo - talvez o de exibir habilidade superior no arremesso do disco, ou o de vencer a luta ou a pugna no boxe no ginásio, o de ser o primeiro a alcançar o poste que assinalava o lugar da vitória na pista de corrida, ou, pelo menos, o de melhor no físico -, assim você deve apontar constantemente para seu objetivo espiritual, a saber, o da plena dedicação pessoal a DEUS em CRISTO. Não surpreende de forma alguma que o apóstolo, com a figura do ginásio ou seus substitutos menos pretensiosos em seus pensamentos, agora estabeleça uma comparação entre o valor do exercício físico (literalmente, “ginástica corporal”) e o exercício para a vida piedosa. Ele afirma que o primeiro é de algum proveito. E útil para algo. Não obstante, o segundo é em todos os sentidos benéfico. E útil para todas as coisas. Ele está dizendo duas coisas: a. que a benção que procede do exercício físico, por maior que seja, é definitivamente inferior a recompensa que a vida piedosa promete. O primeiro, no melhor dos casos, promove a saúde, o vigor, a beleza física. (Estas coisas são passageiras - Ev. Henrique). O segundo, porém, promove a vida eterna; b. que a esfera em que o exercício físico é de proveito é muito mais restrita do que aquela em que a vida eterna concede sua recompensa. O primeiro tem que ver com o aqui e agora. O segundo, com o aqui e agora, mas também atinge o Além. Por certo que isto é o que ele tem em mente, como o demonstra claramente o que se segue ao versículo 8 depois das palavras “o viver piedoso e em todos os sentidos benéfico”, a saber: visto que tem a promessa da vida, tanto para o presente quanto para o futuro. A essência e o conteúdo da promessa é vida, comunhão com DEUS em CRISTO, o amor de DEUS derramado no coração, a paz que excede a todo o entendimento (ver também CNT sobre João, Vol., I). A devoção plena, a piedade ou o viver santo, fruto inerente da graça de DEUS, resultam na crescente posse ou desfruto dessa recompensa, em conformidade com o ensino das Escrituras em sua totalidade (Dt 4.29; 28.1- 3,9, 10; ISm 15.22; Sl 1.1-3; 24.3-6; 103.17, 18; Jo 1.6,7; 2.24, 25; Ap 2.10, 17; 3.5, 12, 21). DEUS prometeu isso, e ele sempre cumpre sua promessa. E essa vida que DEUS concede e que ultrapassa a todas as demais bênçãos em valor e tanto para o presente quanto para o futuro, para a presente era e para a vindoura. Ela jamais poderá cessar.
9. Em contraste com o valor amplamente proclamado do exercício físico, a igreja confessava sua fé no valor infinitamente superior do exercício espiritual. Daí que, em referência a importante declaração que acabamos de estudar - “ainda que o exercício físico seja de algum beneficio, o viver piedoso é, em todos os aspectos, mais benéfico, já que ele tem a promessa de vida tanto para o presente quanto para o futuro” - os crentes viveram constantemente afirmando: Confiável é essa afirmação e digna de plena aceitação (ver sobre 1 Tm 1.15, onde ocorre exatamente a mesma fórmula).
10. Do que Paulo e bem assim Timóteo estão deveras profundamente convencidos, acerca da confiabilidade da declaração concernente ao dom da vida, agora e no porvir, a ser desfrutado por todos os que vivem uma vida piedosa, deduz-se do que o apóstolo agora declara:
Pois para esse fim labutamos e nos esforçamos, visto que temos posto nossa esperança no DEUS vivo. É verdade que estamos profundamente convencidos da verdade expressa na confissão fiel, porque doutro modo nós, os missionários (eu, Paulo, e você, Timóteo), não estaríamos labutando nem nos esforçando tanto. Esta parece ser a conexão entre os versículos 7.b, 8 e 9, de um lado, e o 10, do outro. O fim ou propósito para o qual Paulo e Timóteo estão labutando e se esforçando é, indubitavelmente, este: para que os homens do mundo inteiro, quer judeus, quer gentios, ouçam o bendito evangelho de salvação e, melhor ainda, para que o recebam e adquiram a vida eterna. É essa vida, ou seja, a salvação, o que DEUS prometeu (v. 8). Esses missionários labutam ou trabalham. Esforçam-se ao máximo no labor de levar o evangelho, aplica-lo a situações concretas, advertindo, admoestando, ajudando e dando alento em meio a grandes dificuldades. Paulo usa a palavra labor ou trabalho em referência ao trabalho manual (ICo 4.12; Ef4.28; 2Tm 2.6; cf. o substantivo em ITs 1.3; 2.9; 2Ts 3.8) e também em conexão com a obra religiosa (Rm 16.12, duas vezes; ICo 5.10; Gl 4.11; Fp 2.16; ITs 5.12; 1 Tm 5.17; e nesta passagem). Esforçam-se, ou seja, na arena espiritual eles lutam contra as forcas das trevas, para arrancar os homens das trevas e leva-los para a luz. Sofrem agonias. Cf. 1 Timóteo 6.12; 2 Timóteo 4.7; em seguida, Colossenses 1.29; 4.12. Ver CNT sobre 1 Tessalonicenses 2.2. Alegremente levam a bom termo essa difícil tarefa, visto terem depositado sua esperança não nos ídolos, que não podem fazer nem cumprir promessa alguma, uma vez que estão mortos, mas no DEUS vivo (ver CNT sobre ITs 1.9, 10), que é o Salvador de todos os homens, especialmente dos que creem.
DEUS é o Salvador de todos os homens, mas de alguns homens, ou seja, dos crentes, ele é o Salvador num sentido mais profundo e glorioso que dos demais. Isso evidentemente implica que, quando ele é chamado o Salvador de todos os homens, isso não pode significar que a todos ele comunica a vida eterna como faz com os crentes. O termo Salvador, pois, deve ter um significado que nós, hoje, de um modo geral imediatamente lhe atribuímos. E essa é exatamente a causa de nossa dificuldade. É preciso estudar este termo à luz não só do Novo Testamento, mas também do Antigo Testamento e da Arqueologia.
Ora, na versão LXX do Antigo Testamento a palavra Soter que é usada aqui em 1 Timóteo 4.10, e que geralmente é traduzida Salvador, às vezes é empregada num sentido bem inferior ao que geralmente lhe atribuímos. Assim, por exemplo, o juiz Otniel é chamado Soter ou “salvador” ou “libertador” porque salvou os filhos de Israel das mãos de Cusa Risataim, rei da Mesopotâmia (Jz 3.9). Ver também 2 Reis 13.5: “O Senhor deu um salvador [libertador] a Israel, de modo que os filhos de Israel saíram de sob o poder dos sírios e habitaram, de novo, em seus lares, como dantes”. Em certo sentido, todos os juízes de Israel foram “salvadores” (libertadores), justamente como lemos em Neemias 9.27: “Pelo que os entregaste nas mãos de seus opressores, que os angustiaram; mas no tempo de sua angústia, clamando eles a ti, dos teus tú os ouviste; e, segundo tua grande misericórdia, lhes deste libertadores que os salvaram [ou seja, os libertaram] das mãos dos que os oprimiam”. Cf. também o uso um pouco semelhante da palavra em Obadias 21: “Salvadores [libertadores] hão de subir ao monte Sião, para julgarem o monte de Esaú; e o reino será do Senhor”. Não causa estranheza que especialmente Jeová seja chamado Salvador, porque foi ele quem repetidas vezes salvou seu povo (Dt 32.15; Sl 25.5). Ele “fez grandes coisas no Egito ... coisas formidáveis sobre o Mar Vermelho”, sendo, consequentemente, o “DEUS de sua salvação” (Sl ] 06.21). Havendo libertado Israel da opressão de Faraó, ele veio a ser o Salvador daquela multidão inteira que saiu do Egito. Todavia, “DEUS não se agradou da maioria deles” (ICo 10.5). Em certo sentido, pois, ele foi o Salvador ou o Soter de todos, mas especialmente dos que creram. Destes, é tao-somente destes, ele “se agradou”. Todos saíram do Egito; nem todos entraram em “Canaã”. Especialmente em certas passagens de muita beleza de Isaias e que se imprime um conteúdo rico e espiritual a palavra Soter: Jeová é o Salvador de Israel, e isto não só porque ele liberta seu povo da opressão, mas também porque coletivamente ele os ama. Todavia, mesmo nessas passagens exaltadas, o significado que hoje geralmente daríamos a palavra não havia sido alcançado. As passagens não podem ser interpretadas no sentido em que atribuímos vida eterna a todos os indivíduos do grupo. Note Isaias 63.8-10: “Porque ele dizia: Certamente, eles são meu povo, filhos que não mentirão; e se lhes tornou seu Salvador. Em toda a angústia deles, foi ele angustiado, e o Anjo de sua presença os salvou; por seu amor e por sua compaixão, ele os remiu, os tomou e os conduziu todos os dias da antiguidade. Mas eles foram rebeldes e contristaram seu ESPÍRITO SANTO, pelo que se lhes tornou em inimigo e ele mesmo pelejou contra eles.” Cf. Isaias 43.3, 11; 45.15, 21; 49.26; 60.16. Cf. Jeremias 14.8; Oséias 13.4. (Na última referência, note especialmente o contexto: “Além de mim não há salvador” precedido por “Jeová teu DEUS desde a terra do Egito”, e seguido de “Eu te conheci no deserto”.) Segundo o Antigo Testamento, pois, DEUS é Soter (salvador) não só dos que entram em seu reino eterno, mas, em certo sentido, também de outros; aliás, de todos aqueles a quem ele liberta de catástrofes temporais. Além disso, o Antigo Testamento ensina em outra parte aquele tipo de providência que DEUS estende a todos os homens, num sentido até mesmo as plantas e aos animais: Salmos 36.6; 104.27, 28; 145.9, 16, 17; Jonas 4.10, 11. Ele provê suas criaturas com alimento, as mantém vivas, está profundamente interessado nelas, amiúde as livra de doenças, calamidades, dor, fome, guerra, pobreza e perigo em qualquer forma. Ele é, por conseguinte, seu Soter (Preservador, Libertador e, nesse sentido, Salvador).
No Novo Testamento, este ensino é contínuo, como era de se esperar.
Em seu amor, bondade e misericórdia, o Pai celestial “faz seu sol nascer sobre o mau e o bom, e envia chuva sobre o justo e o injusto”... “é bom para com os ingratos e maus” (Mt 5.45; Lc 6.35). A perversidade dos homens maus consiste em parte no fato de que eles não dão graças a DEUS por sua bondade (Rm 1.21). É ele quem “dá a todos vida e fôlego e todas as coisas” (At 17.25). É ele “em quem vivemos e nos movemos e temos nosso ser” (At 17.28). Ele preserva, livra e, nesse sentido, salvação é essa atividade “salvifica” de modo algum se limita aos eleitos! Na viagem perigosa (a Roma), DEUS “salvou” não só a Paulo, mas a todos os que estavam com ele (At 27.22, 31, 44). Não houve perda de vida. Além do mais, DEUS também faz com que seu evangelho da salvação seja solicitamente proclamado a todos os homens, ou seja, aos homens de cada raça e nação. Verdadeiramente, a bondade de DEUS se estende a todos. Não há sequer um que de uma maneira ou outra não esteja ao alcance de sua benevolência, e ainda o círculo daqueles que ouvem a proclamação da mensagem de salvação é mais amplo que o círculo dos que a aceitam com verdadeira fé. Isso é realmente tudo o de que se necessita na classificação de nossa presente passagem, 1 Timóteo 4.10. Então, o que o apóstolo ensina equivale a isto: “Nós temos nossa fé posta no DEUS vivo, e nessa esperança não somos desapontados, pois ele não é apenas um DEUS bondoso, dai o Soter (Preservador, Libertador) de todos os homens, derramando bênçãos sobre eles, mas ele é, num sentido muito especial, o Soter (Salvador) dos que pela fé abraçam a ele e a sua promessa, pois a esses ele comunica salvação, vida eterna em toda sua plenitude (como em 1 Tm 1.15). É esse DEUS vivo que em JESUS CRISTO é o Salvador! No grego clássico e koinê, o termo Soter era usado como uma designação de vários deuses (Zeus, Apolo, Hermes, Asclepio), imperadores romanos e oficiais de alta estirpe, conquanto fossem vistos como libertadores dos homens desta ou daquela calamidade, suprindo esta ou aquela necessidade física ou outorgando saúde geral ou “bem-estar”. Segundo Paulo, porém, por trás de todo livramento real está DEUS, o DEUS vivo. O mais glorioso “bem-estar” de todos (para a alma, porém no fim também para o corpo), e eterno, ele promete e proporciona a todo aquele que crê. Para eles, e tão-somente para eles, DEUS é o Soter no sentido em que o termo é também usado em 1 Timóteo 1.1; 2.3; Tito 1.3; 2.10; 3.4. Ele os resgata do maior dos males, e a eles outorga o maior dos bens. É nesse sentido pleno e evangélico que a palavra se aplica a DEUS também em Judas 25 (e, segundo alguns, também em Lc 1.47). Embora como um título para DEUS, Paulo não tenha usado a palavra até escrever as Pastorais, a ideia de que DEUS é Soter está verdadeiramente presente em seus primeiros escritos, como já se demonstrou (ver sobre 1 Tm 1.1). É provável que quanto mais próximo esteve Paulo do contato com o mundo romano e com o epíteto Soter aplicado a deuses e líderes, mais ele passou (ele e também os demais crentes) a usar o mesmo termo Soter como designação para o DEUS vivo e verdadeiro, baseando o conteúdo dessa convicção não em algo que o mundo que os rodeava lhes oferecia, mas na revelação especial dada no Antigo Testamento e no ensino do Senhor.
11. Ordene e ensine essas coisas. Timóteo recebe a ordem para que ordene (ou: continue ordenando) e ensine (ou: continue ensinando; ambos os verbos estão no imperativo presente) essas coisas. Ele deve ordenar coisas tais como: “rejeitar mitos profanos e de velhas senhoras”, “Exercite-se [e a outros] para o viver piedoso” (v. 7). Ordens tais como essas se aplicam não só a Timóteo pessoalmente, mas a todos os presbíteros, sim, e ainda a todos os cristãos. É provável que a expressão “essas coisas”, em conexão com “ordene”, se refira também a mandamentos implícitos, tais como: “Nunca rejeite o que DEUS destinou ao uso, mas participe dele com ações de graças” (vv. 3, 4); “Nutra-se [e a outros] das palavras da fé e da sã doutrina” (v. 6); “Confie no DEUS vivo e em sua promessa a todos os que vivem vida piedosa e o aceitam com fé genuína” (vv. 8, 9). Timóteo deve ensinar coisas como: “A apostasia está chegando na forma de ascetismo” (vv. 1-3); “esse erro é um insulto a DEUS e a sua obra de criação” (vv. 4, 5); “um ministro excelente é aquele que se alimenta da sã doutrina que ele transmite a outros” (v. 6); “O beneficio que advém da vida piedosa transcende aquele que resulta do treinamento físico” (vv. 8-10).
12. Que ninguém despreze sua juventude. É possível presumir que cerca do ano 51, quando Timóteo juntou-se a Paulo, durante sua segunda viagem missionária, havia atingido a idade de 22-27 anos.
É pouco provável que o apóstolo tivesse permitido que um homem de menos idade ainda se juntasse a ele para uma tarefa tão difícil. Além do mais, sabemos que Timóteo deve ter atingido um grau de maturidade já durante a primeira viagem missionária de Paulo, porque foi então que ele “confessou sua fé”. Se esse cálculo é correto, agora Timóteo tem, cerca do ano 63, entre 34 e 39 anos. Segundo Irineu, a primeira etapa da vida abarca trinta anos e se estende até os quarenta (Against Heresies, Il.xxii). Portanto, Timóteo ainda era “um jovem”. Além disso, ele deve ter sido considerado muito jovem para o posição que ocupava: representante apostólico e, como tal, líder sobre todos os presbíteros nas igrejas de Éfeso e seus arredores. Esses presbíteros (como o próprio nome indica), no Israel antigo, na sinagoga dos tempos posteriores e também na igreja primitiva - que em muitos aspectos era cópia da sinagoga - eram geralmente idosos ou, pelo menos, de idade madura. E aqui está Timóteo, um homem muito mais jovem e, além do mais, pessoa naturalmente reservada e tímida, exercendo autoridade sobre quem era mais idoso talvez dez ou até mesmo quarenta anos! Dai o mandamento: “Que ninguém despreze sua juventude”. O idioma grego diz: “Que ninguém pense pouco de você”. Timóteo não deve permitir que alguém o menospreze por causa de sua juventude. Deve fazer com que o respeitem em consideração a seu ofício. Mas deve conseguir isso não “se fazendo grande” ou se vangloriando de suas credenciais, mas conduzindo-se como um homem de sábio conselho e consagrado, e de sabedoria prática. O respeito pelo homem equivale a respeito por seu ofício. Dai, Paulo continua: Mas torne-se modelo dos crentes na linguagem, na conduta, no amor, na fé, na pureza. De um modo totalmente natural e orgânico, ele deve conquistar o respeito de todos os crentes. Note que Paulo de fato não diz que Timóteo deve tornar-se um modelo para que os crentes o sigam (ver CNT sobre ITs 1.7; 2Ts 3.9), senão que cada vez mais, de uma forma crescente, deveria ser o modelo do que os crentes são, e isso em cinco aspectos:
a. na linguagem, ou seja, na conversação pessoal (quanto a pregação, ver o versículo seguinte).
b. na conduta, ou seja, nos costumes, hábitos, modo de tratar as pessoas, etc.
c. no amor, ou seja, no profundo apego pessoal a seus irmãos e uma genuína preocupação por seu próximo (inclusive seus inimigos), buscando sempre a promoção do bem-estar de todos.
d. na fé, ou seja, no exercício desse dom de DEUS, que e a raiz da qual brota o amor (note bem: aqui provavelmente o amor indique a relação horizontal; a fé, a relação vertical).
e. na pureza (ver também 1 Tm 5.2), ou seja, na completa conformidade, de pensamento e ato, com a lei moral de DEUS.
13. Reafirmando as diretrizes do versículo 11, Paulo prossegue: Até minha chegada, aplique-se à leitura [bíblica da Escritura], à exortação e ao ensino.
“Até minha chegada” é a tradução correta, e se harmoniza com 3.14 (“esperando ir ter com você em breve”). A ideia é esta: “Se, e quando eu regressar, lhe darei novas instruções”. Talvez Paulo tivesse em mente alguma outra missão na qual Timóteo pudesse então ser enviado. Durante a ausência do apóstolo, pois, seu representante recebe instruções acerca de seu dever com respeito ao culto público em todo o distrito. Ele deve providenciar para que em todas as igrejas de Éfeso e arredores três elementos recebessem devida proeminência, a saber:
a. a leitura pública, da Escritura, (justamente como na sinagoga, Lc 4.16; At 13.15; 2Co 3.14; agora, porém, não só a leitura da lei e dos profetas, mas adicionando porções do Novo Testamento em desenvolvimento, Cl 4.16; ITs 5.27; Ap 1.3).
b. a exortação. Isso inclui advertência (por exemplo, contra erro em doutrina e moral), conselho e encorajamento.
c. o ensino. O que alguém crê faz certa diferença. A atitude do coração não é tudo. Há certos fatos com respeito a doutrina e a moral que devem ser ensinados, e os quais alguém deve aceitar e abraçar de modo que a vida do mesmo se fundamente neles. Ver, por exemplo, João 3.16 e todo o ensino da presente epístola. Este não é um sumário completo das coisas essenciais que compreendem o culto público. A oração, por exemplo, não é mencionada. Mas não carece que seja mencionada, porque Paulo a discutiu detalhadamente no capítulo 2. Isto é tão claro: se não há leitura feita no púlpito, exortação e ensino, o titulo culto divino é uma denominação imprópria. Na igreja primitiva, quando bem poucos indivíduos possuíam exemplares próprios da Santa Escritura, e todos os materiais deviam ser copiados à mão, é possível imaginar-se a importância que tinha a leitura pública das Escrituras. Mesmo hoje, porém, a seleção criteriosa, a leitura clara e a interpretação de uma porção adequada da Santa Escritura é “a parte mais importante do culto publico”. E ainda hoje, se o coral toma todo o tempo e deixa pouco tempo para a exortação e o ensino, algo fica desencaixado. Timóteo, pois, deve continuar dedicando atenção a esses importantes assuntos. Porventura não há aqui outra indicação que seja de tanto valor para hoje quanto para os tempos de Paulo e Timóteo, a saber: que o ministro deva esforçar-se por alcançar equilíbrio adequado entre a leitura da Palavra, a exortação e o ensino? Alguns jamais exortam. Outros nunca ensinam. E a leitura das Escrituras as vezes ée considerada apenas como um prefácio necessário ao que o próprio pregador tem a dizer.
14. Timóteo fora dotado especialmente para sua tarefa. Dai Paulo prosseguir: Não negligencie o dom que há em você.
Timóteo precisa empregar com a máxima vantagem o dom do discernimento entre o verdadeiro e o falso e, consequentemente, de ser apto para exortar, ensinar e guiar. Precisa fazer uso dele quando administra a Palavra e precisa também exercê-lo quando diz a outros como devem pregar. Não deve jamais descuidar-se dele ou negligencia-lo. Ele e um carisma precioso, ou seja, um dom especial da graça de DEUS que lhe fora outorgado pelo ESPÍRITO SANTO. Por isso Paulo prossegue: o qual lhe foi concedido por meio de declarações proféticas das mãos do presbitério. Com toda probabilidade, isto se refere ao que ocorreu em Listra na segunda viagem missionária de Paulo. Foi então que Timóteo, pela operação do ESPÍRITO SANTO, foi dotado amplamente com esse dom. Por meio (oia) de declarações proféticas de circunstantes inspirados ele fora advertido sobre isso e o caráter de sua tarefa. Além do mais, tudo isso estava em associação com (ou acompanhado por: [ieta) a imposição das mãos do presbitério (usado noutros lugares para indicar o Sinédrio, Lc 22.66; At 22.5, porém aqui para o conselho de presbíteros ou, nesse sentido, o consistório da igreja). As próprias mãos de Paulo haviam repousado sobre ele (2Tm 1.6). Esta imposição de mãos simboliza a transferência de um dom do Doador para o recipiente. No presente caso, significa que o ato gracioso do ESPÍRITO SANTO por meio do qual ele confere seu favor especial a Timóteo, capacitando-o para levar a bom termo os deveres de seu importante ofício com representante apostólico (cf. também At 6.6; 8.17; 13.3, 4).
15. Que essas coisas lhe sejam uma preocupação constante. Em contraste com “não se descuide”, Paulo escreve: “Que essas coisas lhe sejam uma preocupação constante” (cf. vv. 14, 15). Pela expressão “essas coisas” ele está pensando em todo o conteúdo do capítulo 4 (que a apostasia está a caminho, e contra ela Timóteo precisa advertir a outros; que mesmo agora há quem pretenda substituir o verdadeiro evangelho pelos mitos profanos; que Timóteo precisa nutrir-se das palavras da fé e que precisa preparar-se para a vida piedosa; que precisa conduzir- se de tal modo que ninguém menospreze sua juventude; etc.). Que nessas coisas seja [absorvido], “Seja nelas”, diz o apóstolo, como se quisesse dizer: “Põe nelas todo seu coração, toda sua alma; envolva-se completamente nelas.” O resultado contemplado será para seu progresso seja evidente a todos. Aceitamos como correta e natural a interpretação usual dessas palavras, isto e, que se Timóteo se devotar completamente a sua tarefa, como indicado, todos (especialmente aqueles que pertencem a igreja, mas em alguma extensão até mesmo os de fora que entrarem em contato próximo com os crentes) irão notar seu progresso espiritual e profissional, para a gloria de DEUS. Cf. Fp 1.12, 25. As ultimas palavras do capítulo são:
16. Atente para si mesmo e para o ensino, persevere neles. O viver santo e o ensino integro devem ir juntos, caso Timóteo (ou, nesse sentido, qualquer representante apostólico, ministro ou presbítero, etc.) queira ser uma benção. Dai Paulo admoestar Timóteo a continuar atentando (implícito sua mente) para si mesmo, ou seja, para seus deveres, seus dons, seu privilégio de atingir as profundezas da promessa de DEUS; particularmente, também para a doutrina (a sua e a dos outros no distrito de Éfeso). Ele precisa permanecer ou perseverar nessas coisas, ou seja, na vida santa e na vigilância em referência ao ensino. A promessa é: “porque, fazendo isso você salvará. tanto a si mesmo quanto aos que o ouvem.” Por certo que uma pessoa é salva pela graça, mediante a fé; não por meio das obras (Tt 3.3; cf. Ef 2.6-8); todavia, uma vez que o viver santo e a sã doutrina são o fruto da fé, Paulo está apto a dizer que “ao agir assim” Timóteo salvará a si e aos ouvintes. E ao longo da vereda de um viver santo e da diligência no ensino e na vigilância sobre a vida e o ensino de outros que se obtém a salvação (tanto presente quanto futura; ver 1 Tm 1.15). Além do mais, DEUS promete uma recompensa especial para seus ministros fiéis, sim, para todas as suas testemunhas fieis (Dn 12.3; Mt 13.43; Tg 5.20); e ameaça com castigos severos os infiéis (Ez 33.7, 8).
Síntese do Capitulo 4:
Ainda que CRISTO sempre seja tão exaltado (veja final do capítulo 3), e a igreja seja sempre muitíssimo gloriosa, a apostasia se encontra sempre bem próxima. Os instigadores da apostasia são os espíritos sedutores que invadem o coração dos enganadores. Esses enganadores proibirão ao povo que se case, ordenarão que se abstenha de certos alimentos, como se a salvação pudesse ser obtida por meio de certas práticas como essas, práticas que, além do mais, levam CRISTO ao demérito como o único e suficiente Salvador. Quanto aos alimentos em questão, são eles excelentes porque DEUS os criou e porque, em resposta a nossas orações, ele os consagra. Timóteo, ao combater tais erros que proliferavam vicosamente, e os quais iriam desenvolver-se até ficarem cada vez piores, precisa ficar forte. Por isso ele deve usar armas positivas. Não deve concentrar sua atenção e energia nos mitos. Antes, deve nutrir-se das palavras de fé e continuar resoluto na leitura pública das Escrituras, na exortação e no ensino. Sim, que Timóteo se exercite para a vida piedosa. Uma vida positiva e um ensino positivo são os melhores meios para o autodesenvolvimento espiritual e também as melhores armas contra o erro. Quanto a esse exercício para a vida piedosa, ele confere uma benção muito maior do que o exercício físico pode conferir. Traz vida eterna, que eé uma benção para o presente e para o futuro. Se Paulo e seus colaboradores não estivessem plenamente convencidos disso, não teriam trabalhado tão arduamente. Puseram, porém, sua completa confiança em DEUS, que não os defraudara, porque ele é o DEUS de amor. Ele preserva não só o homem e o animal, mas especialmente seu povo. Que Timóteo, pois, atente fielmente para seus deveres ministeriais. Que ele se conduza de tal forma que ninguém o olhe com menosprezo, pensando: “Ele é ainda muito jovem.” Usando plenamente o dom que recebeu quando foi ordenado, e estando absorvido por coisas tais como a leitura publica das Escrituras, a exortação e o ensino, ele salvará a si próprio e aos que o ouvem. Note especialmente as palavras: “Embora o exercício físico seja de algum proveito, a vida piedosa é em todos os aspectos benéfica.” Os gregos rendiam culto a beleza e a cultura física. Muito antes dos dias de Paulo, eles já haviam estabelecido os jogos olímpicos, istmicos e piticos. Nos dias de Paulo celebravam-se competições desse caráter em muitas províncias romanas. Ora, nessa comparação entre o valor do exercício corporal e o valor do exercício que visa a piedade não se deve descuidar de um ponto importante. O exercício físico, especialmente com vistas a participação de competições públicas, estava intimamente conectado a religião pagã. De fato, na mente popular, as duas coisas eram inseparáveis. Os jogos olímpicos eram celebrados em honra de Zeus; os istmicos, em honra de Poseidon; e os piticos, em honra de Apolo. As competições atléticas romanas eram precedidas de procissões nas quais estátuas dos deuses eram levadas em belas carruagens. Suas mais importantes competições eram celebradas em honra de deuses tais como Júpiter, Apolo, Diana e outros. E ainda em conexão com a execução de criminosos no anfiteatro, punham-se em cena contos com referência as divindades pagãs e eram apresentadas de maneira vívida na forma em que se executava a sentença. Sobre este tema, ver Everyday Life in Ancient Times, publicado por National Geographic Magazine, pp. 209, 227; Além do mais, Erich Sauer, In the Arena o f Faith, Grand Rapids, 1955, pp. 30-68. Em vista de tudo isto, surpreende o fato de Paulo dizer: “O exercício físico é de algum proveito”? Certamente ele beneficia o corpo. Antes que pudesse contribuir mesmo que fosse em um pequeno pontopara o bem-estar da alma, era preciso colocá-lo num contexto completamente diferente.
William Hendriksen, 1 Timóteo, 2 Timóteo e Tito, São Paulo: Cultura Cristã, 2001, p. 191-6 (Comentário do Novo Testamento)
2 Pedro 2.1-9. - (BEP - CPAD)
1E também houve entre o povo falsos profetas, como entre vós haverá também falsos doutores, que introduzirão encobertamente heresias de perdição e negarão o Senhor que os resgatou, trazendo sobre si mesmos repentina perdição.2E muitos seguirão as suas dissoluções, pelos quais será blasfemado o caminho da verdade;3e, por avareza, farão de vós negócio com palavras fingidas; sobre os quais já de largo tempo não será tardia a sentença, e a sua perdição não dormita.4Porque, se DEUS não perdoou aos anjos que pecaram, mas, havendo-os lançado no inferno, os entregou às cadeias da escuridão, ficando reservados para o Juízo;5e não perdoou ao mundo antigo, mas guardou a Noé, pregoeiro da justiça, com mais sete pessoas, ao trazer o dilúvio sobre o mundo dos ímpios;6e condenou à subversão as cidades de Sodoma e Gomorra, reduzindo-as a cinza e pondo-as para exemplo aos que vivessem impiamente;7e livrou o justo Ló, enfadado da vida dissoluta dos homens abomináveis8(porque este justo, habitando entre eles, afligia todos os dias a sua alma justa, pelo que via e ouvia sobre as suas obras injustas).9Assim, sabe o Senhor livrar da tentação os piedosos e reservar os injustos para o Dia de Juízo, para serem castigados.
2.1 ENTRE VÓS HAVERÁ TAMBÉM FALSOS MESTRES O ESPÍRITO SANTO adverte repetidas vezes nas Escrituras que surgirão muitos falsos mestres dentro das igrejas. As advertências a respeito de mestres e líderes introduzindo heresias no meio do povo de DEUS foram feitas antes por JESUS (ver Mt 24.11 nota; 24.24,25), e o ESPÍRITO SANTO continuou advertindo através de Paulo (ver 2 Ts 2.7; 1 Tm 4.1; 2 Tm 3.1-5), de Pedro (vv. 1-22), de João (1 Jo 2.18; 4.1; 2 Jo 7,11), de Judas (Jd 3,4,12,18) e das cartas de CRISTO às sete igrejas (ver Ap 2.2,6)
2.1 NEGARÃO O SENHOR QUE OS RESGATOU. De conformidade com Pedro, os falsos mestres dentro da igreja que estavam "negando (gr. arneomai = repudiar ou renunciar) o Senhor que os resgatou" tinham abandonado o caminho certo e se desviado (v. 15), tornando-se "fontes sem água" (v. 17). Antes, eles tinham se livrado da maldade do mundo, mediante JESUS CRISTO, mas agora voltaram a emaranhar-se no pecado (v. 20).
2.2 SERÁ BLASFEMADO O CAMINHO DA VERDADE. Muitos crentes professos seguirão esses falsos pregadores, com suas "dissoluções" (i.e., imoralidades sexuais). Por causa da vida pecaminosa desses líderes e seus seguidores, DEUS e seu evangelho serão infamados (ver 2 Tm 4.3,4).
2.3 POR AVAREZA... PALAVRAS FINGIDAS. Os falsos mestres comercializarão o evangelho, sendo peritos na avareza e em conseguir dinheiro dos crentes, a fim de promover ainda mais seus ministérios e seus modos luxuosos de vida. (1) Os crentes devem estar a par de que um dos métodos principais dos falsos ministros é usar "palavras fingidas", ou seja, contar histórias impressionantes, mas inverídicas, ou publicar estatísticas exageradas a fim de motivar o povo de DEUS a contribuir com dinheiro. Glorificam a si mesmos e promovem seu próprio ministério com esses relatos inventados (cf. 2 Co 2.17). Deste modo, o crente sincero, mas desinformado,
torna-se um objeto de exploração. (2) Pelo fato de esses obreiros profanarem a verdade de DEUS e fraudarem o seu povo com sua cobiça e engano estão destinados à perdição e à destruição.
2.4 ANJOS... HAVENDO-OS LANÇADO NO INFERNO. Provavelmente, trata-se dos anjos que se rebelaram juntamente com Satanás, contra DEUS (Ez 28.15), e tornaram-se os espíritos maus referidos no NT. As Escrituras não explicam por que uns espíritos malignos estão em cadeias, enquanto outros estão livres para agir com Satanás na terra (cf. Jd 6)
2.8 AFLIGIA... A SUA ALMA JUSTA. Uma característica principal do homem de DEUS é que ele ama a justiça e detesta a iniqüidade (ver Hb 1.9). Sua alma se angústia e se aflige (vv. 7,8) pelo pecado, imoralidade e impiedade reinantes no mundo (ver Ez 9.4; Jo 2.13-17; At 17.16).
2.9 LIVRAR... OS PIEDOSOS. O modo de Ló reagir ante a iniqüidade e imoralidade ao seu redor (v. 8) tornou-se uma prova que determinou, tanto o seu próprio livramento, quanto seu destino na eternidade. (1) DEUS livrou Ló porque este rejeitava o mal e sentia repugnância na sua alma, diante "da vida dissoluta dos homens abomináveis" (v. 7). (2) Quando CRISTO voltar para levar seu povo (ver Jo 14.3) e manifestar a sua ira sobre os ímpios (3.10-12), Ele levará para si mesmo a sua igreja visível que, por causa da sua fé nEle e do seu amor por Ele, é, aqui, como Ló, afligida pela conduta carnal, pela vida imoral e pelos demais pecados clamorosos da sociedade ao seu redor. (3) DEUS sabe como libertar seus servos fiéis do meio ambiente imoral e corrupto, em cada geração (cf. Mt 6.13; 2 Tm 4.18; Ap 3.10)
A APOSTASIA PESSOAL
Hb 3.12 “Vede, irmãos, que nunca haja em qualquer de vós um coração mau e infiel, para se apartar do DEUS vivo”.
A apostasia (gr. apostásis) aparece duas vezes no NT como substantivo (At 21.21; 2Ts 2.3) e, aqui em Hb 3.12, como verbo (gr. aphistemi, traduzido “apartar”). O termo grego é definido como decaída, deserção, rebelião, abandono, retirada ou afastar-se daquilo a que antes se estava ligado; afastamento, abandono premeditado e consciente da fé cristã.
(1) Apostatar significa cortar o relacionamento salvífico com CRISTO, ou apartar-se da união vital com Ele e da verdadeira fé nEle. Sendo assim, a apostasia individual é possível somente para quem já experimentou a salvação, a regeneração e a renovação pelo ESPÍRITO SANTO (cf. Lc 8.13; Hb 6.4,5); não é simples negação das doutrinas do NT pelos inconversos dentro da igreja visível. A apostasia pode envolver dois aspectos distintos, embora relacionados entre si:
(a) a apostasia teológica, i.e., a rejeição de todos os ensinos originais de CRISTO e dos apóstolos ou dalguns deles (1Tm 4.1; 2Tm 4.3); e
(b) a apostasia moral, i.e., aquele que era crente deixa de permanecer em CRISTO e volta a ser escravo do pecado e da imoralidade (Is 29.13; Mt 23.25-28; Rm 6.15-23; 8.6-13).
(2) A Bíblia adverte fortemente quanto à possibilidade da apostasia, visando tanto nos alertar do perigo fatal de abandonar nossa união com CRISTO, como para nos motivar a perseverar na fé e na obediência. O propósito divino desses trechos bíblicos de advertência não deve ser enfraquecido pela idéia que afirma: “as advertências sobre a apostasia são reais, mas a sua possibilidade, não”. Antes, devemos entender que essas advertências são como uma realidade possível durante o nosso viver aqui, e devemos considerá-las um alerta, se quisermos alcançar a salvação final. Alguns dos muitos trechos do NT que contêm advertências são: Mt 24.4,5,11-13; Jo 15.1-6; At 11.21-23; 14.21,22; 1Co 15.1,2; Cl 1.21-23; 1Tm 4.1,16; 6.10-12; 2Tm 4.2-5; Hb 2.1-3; 3.6-8,12-14; 6.4-6; Tg 5.19,20; 2Pe 1.8-11; 1Jo 2.23-25.
(3) Exemplos da apostasia propriamente dita acham-se em Êx 32; 2Rs 17.7-23; Sl 106; Is 1.2-4; Jr 2.1-9; At 1.25; Gl 5.4; 1Tm 1.18-20; 2Pe 2.1,15,20-22; Jd 4,11-13; a apostasia, segundo a Bíblia, ocorrerá dentro da igreja professa nos últimos dias desta era:
Ocorrerá a “apostasia” (gr. apostasia), que literalmente significa “desvio’’, “afastamento’’, “abandono’’ (2.3). Nos últimos dias, um grande número de pessoas da igreja apartar-se-á da verdade bíblica.
(a) Tanto o apóstolo Paulo quanto CRISTO revelam um quadro difícil da condição de grande parte da igreja — moral, espiritual e doutrinariamente — à medida que a era presente chega ao seu fim (cf. Mt 24.5, 10-13, 24; 1Tm 4.1; 2Tm 4.3,4). Paulo, principalmente, ressalta que nos últimos dias elementos ímpios ingressarão nas igrejas em geral.
(b) Essa “apostasia” dentro da igreja terá duas dimensões.
(i) A apostasia teológica, que é o desvio de parte ou totalidade dos ensinos de CRISTO e dos apóstolos, ou a rejeição deles (1Tm 4.1; 2 Tm 4.3). Os falsos dirigentes apresentarão uma salvação fácil e uma graça divina sem valor, desprezando as exigências de CRISTO quanto ao arrependimento, à separação da imoralidade, e à lealdade a DEUS e seus padrões (2Pe 2.1-3,12-19). Os falsos evangelhos, voltados a interesses humanos, necessidades e alvos egoístas, gozarão de popularidade.
(ii) A apostasia moral, que é o abandono da comunhão salvífica com CRISTO e o envolvimento com o pecado e a imoralidade. Esses apóstatas poderão até anunciar a sã doutrina bíblica, e mesmo assim nada terem com os padrões morais de DEUS (Is 29.13; Mt 23.25-28).
Muitas igrejas permitirão quase tudo para terem muitos membros, dinheiro, sucesso e prestígio (ver 1Tm 4.1). O evangelho da cruz, com o desafio de sofrer por CRISTO (Fp 1.29), de renunciar todo pecado (Rm 8.13), de sacrificar-se pelo reino de DEUS e de renunciar a si mesmo será algo raro (Mt 24.12; 2Tm 3.1-5; 4.3).
(c) Tanto a história da igreja, como a apostasia predita para os últimos dias, advertem a todo crente a não pressupor que o progresso do reino de DEUS é infalível na sua continuidade, no decurso de todas as épocas e até o fim. Em determinado momento da história da igreja, a rebelião contra DEUS e sua Palavra assumirá proporções espantosas. No dia do Senhor, cairá a ira de DEUS contra os que rejeitarem a sua verdade (1Ts 5.2-9).
(d) O triunfo final do reino de DEUS e sua justiça no mundo, portanto, depende não do aumento gradual da igreja professa, mas da intervenção final de DEUS, quando Ele se manifestará ao mundo com justo juízo (Ap 19—22; ver 2Ts 2.7,8; 1Tm 4.1; 2Pe 3.10-13; Jd).
(4) Os passos que levam à apostasia são:
(a) O crente, por sua falta de fé, deixa de levar plenamente a sério as verdades, exortações, advertências, promessas e ensinos da Palavra de DEUS (Mc 1.15; Lc 8.13; Jo 5.44,47; 8.46).
(b) Quando as realidades do mundo chegam a ser maiores do que as do reino celestial de DEUS, o crente deixa paulatinamente de aproximar-se de DEUS através de CRISTO (4.16; 7.19,25; 11.6).
(c) Por causa da aparência enganosa do pecado, a pessoa se torna cada vez mais tolerante do pecado na sua própria vida (1Co 6.9,10; Ef 5.5; Hb 3.13). Já não ama a retidão nem odeia a iniquidade (ver 1.9).
(d) Por causa da dureza do seu coração (3.8,13) e da sua rejeição dos caminhos de DEUS (v. 10), não faz caso da repetida voz e repreensão do ESPÍRITO SANTO (Ef 4.30; 1Ts 5.19-22; Hb 3.7-11).
(e) O ESPÍRITO SANTO se entristece (Ef 4.30; cf. Hb 3.7,8); seu fogo se extingue (1Ts 5.19) e seu templo é profanado (1Co 3.16). Finalmente, Ele afasta-se daquele que antes era crente (Jz 16.20; Sl 51.11; Rm 8.13; 1Co 3.16,17; Hb 3.14).
(5) Se a apostasia continua sem refreio, o indivíduo pode, finalmente, chegar ao ponto em que não seja possível um recomeço.
(a) Isto é, a pessoa que no passado teve uma experiência de salvação com CRISTO, mas que deliberada e continuamente endurece seu coração para não atender à voz do ESPÍRITO SANTO (3.7-19), continua a pecar intencionalmente (10.26) e se recusa a arrepender-se e voltar para DEUS, pode chegar a um ponto sem retorno em que não há mais possibilidade de arrependimento e de salvação (6.4-6; Dt 29.18-21; 1 Sm 2.25; Pv 29.1). Há um limite para a paciência de DEUS (ver 1 Sm 3.11-14; Mt 12.31,32; 2 Ts 2.9-11; Hb 10.26-29,31; 1 Jo 5.16).
(b) Esse ponto de onde não há retorno, não se pode definir de antemão. Logo, a única salvaguarda contra o perigo de apostasia extrema está na admoestação do ESPÍRITO: Hoje, se ouvirdes a sua voz, não endureçais os vossos corações ( 3.7,8,15; 4.7).
(6) É próprio salientar que, embora a apostasia seja um perigo para todos os que vão se desviando da fé (2.1-3) e que se apartam de DEUS (6.6), ela não se consuma sem o constante e deliberado pecar contra a voz do ESPÍRITO SANTO (ver Mt 12.31, pecado contra o ESPÍRITO SANTO).
(7) Aqueles que, por terem um coração incrédulo, se afastam de DEUS (3.12), podem pensar que ainda são verdadeiros crentes, mas sua indiferença para com as exigências de CRISTO e do ESPÍRITO SANTO e para com as advertências das Escrituras indicam o contrário. Uma vez que alguém pode enganar-se a si mesmo, Paulo exorta todos aqueles que afirmam ser salvos: "Examinai-vos a vós mesmos se permaneceis na fé; provai-vos a vós mesmos" (ver 2 Co 13.5).
(8) Quem, sinceramente, preocupa-se com sua condição espiritual e sente no seu coração o desejo de voltar-se arrependido para DEUS, tem nisso uma clara evidência de que não cometeu a apostasia imperdoável. As Escrituras afirmam com clareza que DEUS não quer que ninguém pereça (2 Pe 3.9; cf. Is 1.18,19; 55.6,7) e declaram que DEUS receberá todos que já desfrutaram da graça salvadora, se arrependidos, voltarem a Ele (cf. Gl 5.4 com 4.19; 1 Co 5.1-5 com 2 Co 2.5-11; Lc 15.11-24; Rm 11.20-23; Tg 5.19,20; Ap 3.14-20; note o exemplo de Pedro, Mt 16.16; 26.74,75; Jo 21.15-22).