A
Criação da Mulher
(Gênesis 2:18-25 e Efésios 5:20-33)
(Gênesis 2:18-25 e Efésios 5:20-33)
Por
Dr. Joel Beeke
Querida
congregação, Gênesis 2:18-25 descreve de uma forma gráfica a criação da
primeira mulher realizada por Deus. Começa com uma declaração marcante do
Criador: "Não é bom que o homem esteja só". A negativa "não é
bom" é enfática. Até então Deus fizera tudo bom; Ele pronunciou Sua bênção
sobre toda Sua criação. Aqui, pela primeira vez, encontramos que algo está
faltando. Sem companhia feminina e uma parceira para a reprodução, o homem não
podia realizar totalmente sua humanidade. Dessa necessidade surge a criação da
mulher que será companheira e esposa de Adão.
A criação da mulher em Gênesis 2 tem consequências
de longo alcance. Ela estabelece a fundamentação para três áreas importantes no
relacionamento de um esposo e uma esposa dentro do casamento:
1) A
mulher como uma auxiliadora idônea para o homem.
2) A
mulher feita por Deus como Seu trabalho manual especial.
3) A
mulher feita para ser uma com o homem.
Nosso texto é Gênesis 2:18-24:
"Disse mais o SENHOR Deus: Não é bom que o
homem esteja só; far-lhe-ei uma auxiliadora que lhe seja idônea. Havendo, pois,
o SENHOR Deus formado da terra todo o animal do campo, e toda a ave dos céus,
os trouxe a Adão, para este ver como lhes chamaria; e tudo o que Adão chamou a
toda a alma vivente, isso foi o seu nome. E Adão pôs os nomes a todo o gado, e
às aves dos céus, e a todo o animal do campo; mas para o homem não se achava
auxiliadora que lhe fosse idônea. Então, o SENHOR Deus fez cair um sono pesado
sobre Adão, e este adormeceu; e tomou uma das suas costelas, e cerrou a carne
em seu lugar. E da costela que o SENHOR Deus tomou do homem, formou uma mulher,
e trouxe-a a Adão. E disse Adão: Esta é agora osso dos meus ossos, e carne da
minha carne; chamar-se-á varoa, porquanto do varão foi tomada. Por isso, deixa
o homem pai e mãe e se une à sua mulher, tornando-se os dois uma só carne".
Com a ajuda de Deus, desejamos considerar os temas
acima referidos:
1) A mulher como uma auxiliadora idônea para o homem. A criação de Eva por Deus está colocada dentro do
contexto da história da criação. A primeira parte desta história é a preparação
do homem para a chegada da mulher. Adão foi feito à imagem de Deus. Ele foi
preenchido com a glória dada inicialmente por Deus. E, contudo, Deus mostrou
para Adão que, em toda a ordem criada, com toda sua variedade, nenhuma criatura
adequada havia para ser sua companheira. Deus escolheu um modo fascinante para
ensinar esta lição a Adão. Deus ficou lado a lado com Adão enquanto uma grande
variedade de animas passava diante de Adão. Enquanto eles passavam - da anta à
zebra - Adão estudava cada animal e depois lhes dava nomes. Não foi uma
nomeação arbitrária. Adão observou a natureza e o relacionamento de cada
animal. No fundo de sua mente ele deve ter imaginado se algum poderia ser
apropriado para ser sua companheira. Contudo, nenhum havia. Como diz Gênesis
2:20: "Para o homem, todavia, não se achava uma
auxiliadora idônea". Depois que pôs nomes em todos
os animais, Adão verificou que nenhum havia sido criado à imagem de Deus. Todos
tinham um corpo e mesmo, em certo sentido, uma personalidade. Nenhum, porém,
tinha uma alma. Adão não poderia ter qualquer comunhão com qualquer um deles a
nível espiritual. Não importa quão bom fosse o relacionamento de Adão com um
animal, algo ficava faltando. Deixe-me ilustrar. Talvez você tenha um excelente
relacionamento com o seu cão. Tem com o animal um grande companheirismo. Você compartilha
com ele, mostra-lhe afeição. Mas, todo seu companheirismo tem que ser em nível
de um cão porque um cão pode comunicar-se apenas nesse nível. Sem dúvida Adão
imaginava que se fosse para ter uma companhia, o companheiro deveria ser
especialmente criado por Deus à Sua imagem, exatamente como ele próprio, Adão,
havia sido. Assim, Adão estava preparado para uma mulher e a mulher devia agora
ser preparada para ele. Ela deveria ser criada como sua réplica perfeita no
mundo. Homem e mulher foram feitos de modo diferente e, contudo, pelo ato
criativo de Deus, eles deveriam ser mais semelhantes do que qualquer outra
coisa na criação. Eva foi criada como uma mulher perfeita. Que mulher admirável
ela deve ter sido! Ao comentar sobre a criação do homem, Lutero disse que Adão
deve ter sido um espécime extraordinário. Pensava ele que Adão deve ter
superado os animais até mesmo nos detalhes em que eles eram insuperáveis; ele
devia ter uma força maior que a de um leão, uma visão mais aguçada que a da
águia. Se isso era verdade para Adão, que podemos dizer de Eva? Lutero pensava
que Eva teria sido tão forte, ágil, perspicaz e brilhante quanto Adão. E mais,
disse Lutero, ela deve tê-lo superado em beleza e graça. Isso podemos afirmar
com certeza: Eva também foi criada com a glória primeira de Deus. A despeito da
excelência física, mental e moral de Eva, o verso 18 diz ela foi feita “para” o
homem, “uma auxiliadora idônea [ou adequada] para ele”. Nesta condição perfeita
pré-queda, toda mulher tem um indício para sua posição única, dada por Deus, no
casamento. Ela deve ser uma “ajudadora idônea” para seu marido. Gênesis 2:18
enfurece grandemente as feministas radicais como também, algumas vezes, é
motivo de preocupação, senão de ansiedade, para outras mulheres. Falar de
mulher sendo feita para o homem, ou da sua necessidade de ser obediente ao
homem no casamento, é anátema. Muitas mulheres — e mesmo homens — acham tais ideias
ultrapassadas, injustas e preconceituosas contra as mulheres. Nossa natureza
humana decaída nunca se agrada de renunciar a sua desejada independência. O
homem não quer ser sujeito a Deus e a mulher não quer ser sujeita ao homem. O
Rev. J. Fraanje escreveu uma vez que “Independência” — hoje talvez devêssemos
dizer 'autonomia' — é a palavra escrita do lado de dentro do portão que leva
para fora do Paraíso”. Necessitamos de um pensamento claro nesta discussão
hoje. Nós precisamos compreender, primeiro que tudo, que a palavra ajudadora
não é um termo depreciativo. Deus nos criou para servi-lO e para ajudar o nosso
próximo. É uma honra para uma mulher ajudar seu esposo, pois ajuda é uma
palavra usada frequentemente, com referência ao próprio Deus nos Salmos (10:14;
22:11; 28:7; 46:1; 54:4; 72:12; 86:17; 119:173,175; 121:1-2 NIV). Se Deus não
está envergonhado de ser uma ajuda para pecadores decaídos, porque deveríamos
nós olhar com desdém para Eva por ser a “ajudadora” do seu não-decaído esposo?
Ser uma ajudadora idônea não é uma posição degradante. A forma verbal desta
palavra significa basicamente auxiliar ou suprir aquilo de que um indivíduo não
pode prover-se por si só. A Septuaginta a traduz com uma palavra que o Novo
Testamento usa com o sentido de “médico” (Mateus 15:25). Ela transmite a ideia
de socorrer alguém aflito. Certamente uma esposa piedosa se deleita em
satisfazer as necessidades do seu esposo. Idônea vem da palavra que em hebraico
significa “oposto”. Literalmente é “de acordo com o oposto dele”, significando
que uma mulher complementará e corresponderá ao seu marido. Ela deve ser igual
ao homem e ser adequada para ele. De que maneira ela deve ser igual? Devemos
pegar esta palavra igualdade que tanto ouvimos hoje em dia. Homens e mulheres
são realmente iguais? Sim e não. Há pontos importantes nos quais homens e
mulheres são iguais.
(1) Ambos
foram criados igualmente à imagem de Deus. Isto é que os fez companheiros
idôneos um para o outro. Isto explica porque os animais não são companheiros
adequados para nós.
(2) Eles
foram ambos, colocados sob o comando moral de Deus e, dessa maneira, lhes foram
dadas responsabilidades morais.
(3) Ambos
foram culpados de desobedecer ao comando de Deus e foram, por isso, julgados
por Deus por sua desobediência.
(4) Paulo
nos diz em Gálatas 3:28 que ambos, homens e mulheres, são igualmente objeto da
redenção graciosa de Deus em Cristo Jesus.
(5) Como
esposo e esposa, um homem e uma mulher são igualmente conclamados a deixar pai
e mãe para unir-se um ao outro e para amar um ao outro, como uma só carne. Contudo,
em outro sentido, homem e mulher não foram criados iguais. Porque a mulher foi
criada para o homem, eles não foram criados iguais em autoridade. Deus traçou
uma estrutura de autoridade para os homens, diferente das mulheres. No entanto,
a desigualdade desta estrutura de autoridade não quer dizer que um marido tem
vantagem sobre sua esposa ou que uma posição é melhor que outra. Nem significa
que uma posição é mais alta do que a outra. Nós temos que expurgar nossas
mentes desse modo de pensar que é muito comum no mundo dos negócios dos nossos
dias. Quanto mais alto estivermos na escada dos negócios da coletividade,
muitos pensam, em melhores condições estaremos. Não é isto que Deus tem mente
para o homem e a mulher. Na estrutura de autoridade dada por Deus, o marido e
sua esposa submetem-se mutuamente a Cristo (Efésios 5:21), então, sob Cristo,
um ao outro, preenchendo as necessidades um do outro. Já no paraíso há glória e
humildade tanto no homem quanto na mulher. A glória do homem é que ele é o
cabeça; sua humildade é que ele não está completo sem a mulher. A glória da
mulher é que só ela pode completar o homem; sua humildade é que ela é feita do
homem. Após a queda estes papéis complementares surgem até mais fortes,
especialmente para esposos e esposas que desejam modelar seu casamento em
Cristo de acordo com as diretrizes de Deus. Paulo nos elucida sobre estes
papéis em Efésios 5. O esposo deve amar sua esposa como Cristo ama a igreja —
de modo absoluto (Ele deu-se a Si mesmo, verso 25b), de modo real (Cristo
concebeu que a igreja em si mesma, necessitava de purificação, verso 26), de
modo intencional (i.e., para fazer a igreja santa e sem mácula (verso 27) e de
modo sacrificial (i.e., para cuidar da noiva como quem cuida do seu próprio
corpo, versos 28-29).Por seu lado, a esposa deve mostrar ao seu esposo
reverência e submissão, Paulo diz (versos 22,33). Em outro lugar Paulo nos dá
quatro razões por que:1) porque a mulher é feita do homem (1 Coríntios
11:3,8).2) porque a mulher é feita para o homem (1 Coríntios 11:9).3) porque o
homem foi criado primeiro (1 Timóteo 2:12-13) e4) porque o pecado entrou no
mundo pela mulher (1 Timóteo 2:14). Assim
como o homem deve mostrar liderança amorosa, também a mulher deve mostrar
submissão amorosa. A submissão não é degradação. Ela é encontrada mesmo entre
pessoas da Divindade; de fato, o casamento é um paralelo da Trindade divina, a
este respeito. Os teólogos falam da Trindade essencial, a qual a Confissão de
Westminster define como “três pessoas na Divindade, o mesmo em substância,
iguais em poder e glória”. Eles também falam da Trindade econômica, na qual os
vários membros da Divindade deliberada e voluntariamente submetem-se um ao
outro na obra da redenção. O Filho se submete ao Pai como Mediador e Servo. O
Espírito Santo se submete ao Pai e ao Filho em Sua obra salvífica. Paulo aponta
para o paralelismo entre tais submissões e a submissão marital quando diz: “O cabeça de todo homem é Cristo, e o cabeça da mulher é o homem e o
cabeça de Cristo de Deus” (1 Coríntios 11:3; ver também Efésios
5:22-24).Algumas feministas respondem a tais textos argumentando que a
submissão faz parte da maldição agora anulada pela expiação de Cristo. Seus
argumentos, contudo, não consideram a submissão entre as pessoas divinas, nem o
fato de que a relação subordinada da esposa para com o esposo, é baseada primeiro
em Gênesis 2, antes da queda e da maldição. A submissão dentro do casamento tem
paralelo também com a igreja que é a família de Deus. Embora as mulheres possam
e devam exercer numerosos papéis nos ministérios da igreja, Paulo deixa claro
que o princípio da autoridade impede-as de serem oficiais na igreja. Além
disso, esta submissão no casamento e na igreja deve ser voluntária. Resumindo,
se uma mulher não pode ser uma ajudadora submissa, amorosa para o homem que a
pede em casamento, não deveria desposá-lo e muito menos um homem deveria propor
casamento a uma mulher a quem ele não pretende mostrar uma autoridade
sacrificial, amorosa.
2) A mulher feita por Deus como Seu trabalho manual
especial. A mulher não é somente feita para o
homem; ela é também feita por Deus como um ato especial da criação. Tanto o
homem como a mulher foram criações especiais de Deus. Eles foram criados em
igual dignidade. Gênesis 2:21-22 diz: “E
o Senhor Deus fez cair pesado sono sobre o homem e este adormeceu; tomou uma
das costelas e fechou o lugar com carne”.
Deus causou um profundo sono em Adão como um passo inicial na criação da
mulher. Este “sono profundo” deve ter sido algo como uma anestesia hoje, e a
operação que Deus realizou, semelhante à cirurgia médica. Deus extraiu uma das
costelas do homem e preencheu o lugar vazio com carne, fechando a ferida. Da
costela, Deus então “fez” — literalmente, em hebraico, “edificou” ou
“construiu” uma mulher. Deus miraculosamente, meticulosamente, belamente,
laboriosamente, formou uma mulher com Suas próprias mãos, fazendo-a cada
pedacinho, tão especial quanto o homem que Ele havia criado antes. Existe algo
particularmente belo, até mesmo poético, sobre esta criação. A mulher é feita
para o homem e, por isso, poder-se-ia pensar nela como uma serva do homem.
Gênesis porém, não diz isto. Ao contrário, como coloca Matthew Henry: “A mulher
foi feita da costela do lado de Adão; não da sua cabeça, para não governá-lo;
nem de seus pés, para não ser pisada por ele; mas do seu lado, para ser igual a
ele, debaixo de seu braço, para ser protegida, e perto do seu coração, para ser
amada”. Então, o Pai amoroso apresentou ao homem a noiva que Suas próprias mãos
tinham cuidadosamente formado. Ele “a trouxe para o homem” (verso 22b), o que é
uma frase especial em hebraico que significa “apresentou-a ou conduziu-a ao
homem”. A palavra também implica na entrega solene, formal da mulher dentro dos
vínculos do pacto matrimonial, que Provérbios 2:17 chama “o pacto de Deus”.
Deus, como Criador e Pai da mulher, trouxe-a ao homem, como os puritanos
costumavam dizer: “como o seu segundo eu, para lhe ser uma auxiliadora idônea”.
Ao trazer a mulher para o homem, Deus estabeleceu o casamento como a primeira,
a mais fundamental das instituições humanas. Antes que houvessem governos ou igrejas
ou escolas ou quaisquer outras estruturas sociais, Deus estabeleceu uma família
baseada no respeito e no amor mútuos de um esposo e uma esposa. Todas as outras
instituições humanas derivam-se desta. Da autoridade do pai vieram os sistemas
patriarcais de governo humano, os quais eventualmente dariam origem às
monarquias e democracias. Da responsabilidade dos pais para educar seus filhos
vieram os sistemas de educação mais formais que chamamos escolas e colégios. Da
necessidade de cuidar da saúde da família vieram os médicos e os hospitais. Da
obrigação dos pais de treinarem seus filhos no conhecimento de Deus vieram
templos, sinagogas e igrejas. Todas as organizações humanas podem ser
acompanhadas retrospectivamente até o lar, a família e, finalmente, até o
casamento. Adão, a quem Deus despertou, reconheceu Eva imediatamente como sua
companheira — o complemente perfeito para a necessidade que havia sido
despertada nele. Em resposta ele explodiu numa espécie de canção nupcial,
celebrando sua similaridade e união com a mulher, ao dar-lhe um nome. Adão diz:
“Esta, afinal” (verso 23a) — i.e., “desta vez” — agora, finalmente, Adão
encontra aquela que lhe corresponde. A íntima associação é enfatizada pelos
seus nomes, desde que ela é chamada “varoa” [ishah] porque foi tirada do
varão [ish]. A palavra hebraica para “varoa” é formada pelo acréscimo da
terminação feminina “— ah” à palavra “varão”. Uma diferença
paralela seria leão e leoa, ou tigre e tigreza. Assim Adão, por revelação
divina, percebeu que a mulher havia sido tirada dele. Seu ato de dar o nome à
sua esposa reforçou sua liderança e autoridade sobre ela, mas seu nome indicou
também que ele compreendeu a igualdade dela com ele, como sua parceria. O
milagre divino testemunhado por Adão encheu-o de alegria inexprimível,
inspirando-lhe o lindo brado poético: “Esta
afinal, é osso dos meus ossos e carne da minha carne; chamar-se-á varoa,
porquanto do varão foi tomada”
(verso 23). Adão e Eva entraram, então, num casamento sem pecado. “O casamento
é honroso”, escreveu Matthew Henry, “mas este foi certamente o mais honroso
matrimônio que jamais houve, no qual o próprio Deus teve desde o começo uma
participação direta”. À canção nupcial de Adão, Deus acrescenta no verso 24 um
projeto sagrado para o casamento que envolve um deixar, um juntar, e uma
unidade: “Por isso, deixa o homem pai e mãe e se
une à sua mulher, tornando-se os dois uma só carne”. Estas são provavelmente as palavras de Moisés, o
inspirado autor de Gênesis, que nos provê com este preceito sagrado que Jesus
repete em Marcos 18 e Paulo repete em Efésios 5:31-32, dizendo: “Eis porque deixará o homem a seu pai e a sua mãe e se unirá à sua
mulher, e se tornarão os dois uma só carne. Grande é este mistério, mas eu me
refiro a Cristo e à Igreja”.
Estes três traços essenciais — deixar, unir [ou juntar] e unidade — ainda
existem depois da queda, num bom casamento, em Cristo.
3) A mulher feita para ser uma com o homem As três partes do projeto de Deus para o casamento
são marcas importantes de um bom casamento:
1) Deixar. Deixar
pai e mãe é um tremendo reajustamento. A intimidade da unidade familiar deve
ceder lugar para uma nova unidade familiar com uma nova cabeça. Esta nova
unidade tem prioridade sobre a relação pai-filho. Há uma corrente de pensamento
racional aqui: Um deve deixar a fim de juntar e dois devem juntar para se
tornaram um só ("uma só carne").
2) Juntar. Um
par recém-casado deve unir-se concomitantemente. A palavra grega original pode
ser traduzida como "cimentado ao mesmo tempo". O relacionamento
inseparável, um do outro. A mulher torna-se parte do homem e vice-versa. Eles
se tornam mais do que um companheiro íntimo, melhor amigo e parceiro fiel, um
do outro.
3) Unir (unidade). A expressão "uma só carne" é a construção
hebraica mais forte para indicar uma mudança de estado. Isto já está
subentendido no fato de ter Eva sido formada de Adão. O objetivo do casamento,
contudo, não é apenas tornar-se um fisicamente, não importando o quanto isso
seja importante e realizador, mas em cada aspecto do relacionamento: um só no
coração, um só no amor, um só em confiança, um só em propósito, em pensamento
e, acima de tudo, um só em Cristo. Uma unidade que não seja mais profunda do
que física, cedo dissipar-se-á e mais provavelmente terminará em um casamento
infeliz ou num processo de divórcio. Porém, um casamento que tenha uma unidade
global de coração, de mente e atitude terá igualmente uma unidade física
especial! A unidade física não produz um grande casamento, mas um grande
casamento, em Cristo, produz grande unidade física tanto quanto grande unidade
intelectual, emocional e espiritual. Unidade é o grande objetivo do casamento -
ser um com Deus através de Cristo, depois, por causa desta unidade, ser um, um
com o outro. Mas, como pode um pecador que se separou de Deus tornar-se um com
Deus? Unicamente através do Salvador, Jesus Cristo, que se comprometeu no
deixar, no juntar e na unidade em atrair e ganhar Sua noiva. Paulo coloca isto
dessa maneira: "Grande é o mistério, mas eu me refiro a
Cristo e à Igreja" (Ef 5:32). Aqui está como Ele
fez isto:
(1) Cristo
deixou Seu Pai voluntariamente. Ele deixou a coroa, o trono, a corte de glória
para vir a este mundo buscar Sua noiva. Ele suportou uma dilacerante separação
do Seu Pai, na cruz. Ele pagou assim o preço do dote por Sua noiva a fim de que
ela se tornasse parte do Seu corpo, Sua carne e Seus ossos.
(2) Na
cruz do Calvário, Cristo juntou-se à Sua noiva. Enquanto Ele estava morrendo,
ela foi misticamente formada nEle, como o Segundo Adão, exatamente como Eva foi
formada do primeiro Adão, enquanto esteve em profundo sono. Assim como a mulher
veio do lado de Adão para simbolizar o seu estar unido concomitantemente, assim
também do lado ferido, sangrando, agonizante do nosso Salvador, foi tirada a
Igreja, por assim dizer, para nascer, viver e ser unida com seu Salvador. Este
é, realmente, um grande mistério!
(3) A
maior parte deste mistério, no entanto, é: "Se
tornarão os dois uma só carne".
A igreja de Deus, diz Paulo, constitui a plenitude total de Cristo como
Mediador. Ele é a cabeça: a igreja é o corpo. "E, para ser o cabeça sobre todas as coisas, o deu à Igreja, a qual é o
seu corpo, a plenitude daquele que a tudo enche em todas as coisas" (Ef 1:22-23). Esta união mística será
aperfeiçoada um dia no céu, numa união ideal, indestrutível. Quando nascemos de
novo através do poder regenerador do Espírito Santo, nós nos tornamos
pessoalmente unidos com Jesus Cristo. Nos tornamos um "em Cristo".
Por isso é que Paulo jamais se cansou de descrever um cristão desse modo. Em
suas epístolas Paulo usa esta frase ou uma similar - em Cristo, em Cristo Jesus
ou nEle - pelo menos 164 vezes. Esta é a maneira favorita de Paulo para
descrever um cristão. Por exemplo, Paulo escreve: "Se alguém está em Cristo, é nova criatura",
ou como está no original "uma
nova criação" (2 Co 5:17). Por estar unida com
Cristo, uma pessoa se torna uma nova criação. Ela é uma em Cristo; ela está
unida com Cristo. Igualmente, Paulo diz em Efésios 1:3: "Bendito o Deus e Pai de Nosso Senhor Jesus Cristo que nos tem abençoado
com toda sorte de bênção espiritual nas regiões celestiais em Cristo". A união do crente com Cristo é
profundamente íntima. Quando Paulo fala de união com Cristo, ele usa um prefixo
especial, em grego, melhor traduzido como "co-", significando que o
laço é indissolúvel. Literalmente, ele diz em Gálatas 2:19: "Estou
co-crucificado com Cristo". Isto é, quando Ele morreu, num sentido eu também
morri. Em Romanos 6:4, quando Paulo fala de ser glorificado juntamente com
Cristo, ele está dizendo que a intimidade da união do crente com Cristo é tão
grande que há um sentido no qual, quando Ele foi crucificado, o crente foi
também crucificado; quando Ele morreu, o crente também morreu; quando Ele foi
sepultado, o crente também foi sepultado; quando Ele foi levantado de entre os
mortos, o crente também foi levantado; quando Ele ascendeu, o crente também
ascendeu. Quem pode compreender esta união mística? Um poeta disse: Um na tumba,
um quando Ele se levantou, Um quando Ele triunfou sobre Seus inimigos, Um
quando no céu Ele se sentou. Enquanto serafins cantavam que o inferno derrotou.
Com Ele, o nosso cabeça, prevalecemos ou caímos
Nossa vida, certeza, nosso tudo. Oh, que dignidade
existe em tudo isto - dignidade na criação de Eva, como uma mulher, uma com seu
marido, partilhando esta dignidade com ele! E agora, através da fé, dignidade
na recriação da noiva de Cristo, para ser feita uma com o esposo - para
partilhar Sua dignidade e glória, ser amada por Deus com uma parte daquele
mesmo amor com que Deus ama Seu próprio Filho! Verdadeiramente, não há
dignidade como a dignidade da recriação - de ser feito a verdadeira noiva de
Jesus Cristo.
Aplicações Conclusivas E o seu casamento - ele reflete unidade em Cristo?
Quando ele não está como você esperava que estivesse, você pergunta: Como posso
eu (não meu cônjuge) fazer uma unidade mais profunda? Você trabalha no sentido
de cultivar uma intimidade maior no seu casamento? Nos dias de hoje, o
casamento está sob ataque. O Hedonismo está exuberante. O adultério está
ganhando uma aceitação que espalha. Divórcios anti-bíblicos se concretizam via
internet. A estrutura básica da sociedade está se rompendo. Com certa frequência
os crentes estão em situação pouco melhor. Necessitamos desesperadamente
compreender o valor do casamento e fazer um grande esforço para atingir a
excelência no casamento através do Senhor Jesus. Devemos nos empenhar por
unidade de modo que nossos casamentos possam ser epístolas abertas da graça de
Deus em um mundo impiedoso. Não devemos nos render ao amor a nós mesmos, ainda
que seja isto fomentado pela nossa cultura. O único caminho para ter um
casamento realmente bem sucedido é colocar Cristo como primeiro, seu cônjuge
como segundo e você como terceiro. O amor de si próprio deve ser quebrado ao pé
da cruz de Cristo. Apenas quando nos vemos como pecadores em rebelião contra
Deus e nos prostramos diante dEle por perdão e ajuda para buscar a santidade, o
amor encherá nossos casamentos e transbordará sobre todos os nossos outros
relacionamentos. Então nós entenderemos que um casamento não existe para o eu
mas para o nós - para os filhos e a sociedade e, finalmente, para a glória de
Deus. Estamos buscando diariamente a glória de Deus em nosso casamento?
Esposos, estão se empenhando para ser o cabeça que ama, em seu casamento?
Esposas, estão se empenhando para mostrar submissão amorosa ao seu esposo? Num
casamento bíblico não lugar para patrões - apenas para liderança amorosa e submissão
amorosa quando um homem e uma mulher buscam vivenciar, pela graça de Deus, o
relacionamento Cristo-Igreja na terra. Finalizando, uma palavra para os jovens:
A unidade que Deus tenciona que o casamento seja, em Cristo, significa que você
não pode casar com um descrente. Se você casa com alguém que tem uma agenda
pessoa para o casamento diferente da agenda de Deus, você estará certamente
preparando para si mesmo anos de dor e coração partido. Em 2 Co 6:14 lemos:
"Não vos ponhais em jugo desigual com os incrédulos;
porquanto que sociedade pode haver entre a justiça e a iniquidade? Ou que
comunhão, da luz com as trevas?".
Procure um cônjuge que lhe seja dado pelo favor de Deus e das Suas mãos. E se
você deseja ser você mesmo um bom cônjuge, escreveu Thomas Manton,
"liquide seu direito e seu título por meio de Cristo" (Works 2:164).
Esteja convicto do seu chamado e eleição. Se você e seu cônjuge são tementes a
Deus, seu casamento se beneficiará grandemente porque você terá alguém para
ajudá-lo a se esforçar por viver para a glória de Deus, para viver uma vida
santa, a suportar as cruzes que Deus enviará ao seu caminho e a se aproximar de
Deus confiantemente, pela intermediação de Cristo, em oração e adoração. Ore
por direção, conselho e bênção de Deus enquanto você espera nEle para levá-lo a
um cônjuge temente a Deus, apropriado para você. Peça a Ele um que seja
ajudador idôneo para você. Caros amigos, vocês estão casados com Jesus Cristo?
Adão e Eva não se envergonharam porque estavam vestidos com a retidão original,
dada por Deus. Vocês também não estão envergonhados por estarem vestidos com a
retidão de Jesus Cristo, dada por Deus? Lembrem-se, este Salvador bendito
requer sua fidelidade. Ele tem ciúmes do seu amor de casado. Vocês não devem
extraviar-se dEle. O que acha desde Noivo perfeito? Você está cansado com um
outro senhor - com o príncipe desde mundo? As promessas de Satanás são
mentiras. Seu dote é angústia. Seu abraço é morte. Seu quarto é escuridão. Sua
cama está nas chamas do fogo.
Qualquer que possa ser o seu caso, vamos abandonar
todas as nossas negligências em nossa vida matrimonial natural e em nosso
casamento espiritual com o Noivo perfeito, Jesus Cristo. Vamos deixar a
impiedade deste mundo e nos juntar com Cristo para sermos um com Ele - agora e
sempre.
Amém.
Sermão
do Dr. Joel Beeke, presidente e professor de Teologia Sistemática e Homilética
no Seminário Teológico Reformado Puritano, e pastor da Heritage Netherlands
Reformed Congregation of Grand Rapids, Michigan.
(Revista
Os Puritanos, Ano XII, nº 02:2004)
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